Egoísmo
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Quando o dia seguinte chega, estamos Bella e eu sozinhas em casa, esperando pelas nossas donzelas darem as caras e explicarem o que está acontecendo.
— O que você acha que é?— eu perguntei, rompendo o silêncio. É sábado, papai está trabalhando e nós comemos bolo no café da manhã para tentar dizer à nossos corpos que está tudo bem.
— Não tenho ideia— Bella admitiu, o olhar perdido apontando a frente— Tipo, não aconteceu nada né? Mas o Edward está tão distante... não consigo falar com ele.
— Jasper agiu muito estranho ontem, falando que tinha coisas para resolver e que arrumaria tudo, mas tudo o que?— eu pensei em voz alta e peguei mais um pouco da cobertura de chantili.
— Não sei— Bella respira fundo— Mas esse clima está me deixando tensa. Eu.. estou com medo.
Volto meus olhos para minha sósia e franzo a testa.
— Eu também estou.— admiti em um sussurro, ela me olhou de canto— Mas pelo menos eu tenho você.
— Pelo menos— Bella sorri e eu me aproximo mais dela no sofá para deitar a cabeça em seu ombro. É a unica certeza que eu sempre vou ter é que minha irmã está comigo.
Os rapazes não aparecem no sábado nem no domingo, tampouco na segunda feira. Tento manter alguma dignidade em nossa família e proíbo Bella de ligar para a casa deles. Se eles querem tanto espaço assim, o melhor a se fazer é dar esse maldito espaço. Estou começando a ficar com raiva na segunda a noite quando eu o espero depois do jantar e ele não aparece. Tranco a janela e vou dormir com raiva.
Quando terça-feira chega, Edward vem nos buscar e age como se nada estivesse acontecendo. Quero esmurrar esse filho da puta, mas deixo que Bella se vire com isso. A única pessoa que me deve – e que eu vou aceitar qualquer explicação – é Jasper. O dia passa correndo, Angela me chamou para sair e eu topei já que aparentemente não farei nada melhor nesse final de semana. Bella não confirmou nada, mas prometi que a arrastaria, se necessário.
O silêncio no carro de volta para casa é torturante. Ninguém sequer tenta ligar o rádio ou qualquer merda. Eu olho pela janela e me recuso a perguntar de Jasper. Estou puta por ele sumir dessa forma e não posso fazer nada, ele foi, ele volta, se quiser.
Queria dizer que estou pouco me fodendo, mas seria uma mentira descarada. No momento que eu sequer penso que o amo, tudo desanda. O universo deve estar querendo fazer uma piadinha sem graça para cima de mim. Pelo menos tenho o trabalho. Coisas para arrumar porque nem tudo está fora de controle, só o que eu mais me importo. Ah.
Antes que eu saísse para o trabalho, Edward chamou Bella para conversarem no bosque. Desejei que ela me contasse tudo quando estava voltando a pé para casa.
As ruas estão frias e não sei de onde tiro energia para me mover nesse clima, mas eu gosto de caminhar sozinha. As vezes.
O vento deixou meu nariz congelado assim como meus dedos, mas o casaco protegeu bem meu peito, então não me importei tanto. Podia ver o carro de meu pai estacionado na frente de casa a uns dez metros de mim quando, em um piscar de olhos, parei de andar porque Jasper simplesmente apareceu na minha frente. Soltei um suspiro aliviado de vê-lo depois de tanto tempo, mas o alívio foi embora quando prestei mais atenção no seu semblante rígido.
— Oi— falei, o tom de voz baixo. Sei lá.
— Olá, Caterine— ele respondeu, dando três passos na minha direção, ainda deixando um metro de distância entre nós. Não sabia como reagir, se podia abraçá-lo ou beijá-lo. Fiquei congelada no lugar, olhando em seus olhos, tentando adivinhar o que se passava em sua mente.
— A gente vai conversar agora ou só daqui três dias?— perguntei, amarga. Ele vestia o de sempre. Uma camisa preta de manga comprida e gola alta, jeans escuros e tênis de marca. Eu estou descabelada, uso um casaco azul escuro, leggins e meus tênis surrados de corrida. Amarrei os cabelos como pude e Jasper baixou a cabeça, se encaminhando para o bosque, da mesma forma que Edward fizera com Bella mais cedo. Hesitei em seguí-lo, olhei para a rua vazia e para o céu escurecendo e então respirei fundo buscando ter paciência. Adentrei o bosque e esperei que meu pai não ficasse muito preocupado caso eu demore para voltar. Jasper improvisou uma trilha, quebrando diversos galhos de arvore no caminho e deixando passos pesados marcando a terra molhada, sujando seus tênis sem dar a mínima. O segui em silêncio e, quando olhei para trás após alguns minutos, já não podia mais ver a rua. Jasper parou em um ponto onde as árvores não eram tão juntas e respirou fundo antes de se virar para mim. Mantive uma distância fria entre nós, havia uma parede crescendo e isso me deixa nervosa pra caralho.— Então?— incentivei.
— Sabine pediu para eu te dizer que ela sente muito por ter te assustado daquela forma— ele começa, meio diplomático.
— Está tudo bem.— assenti.— Foi só um momento.
— É. Um momento bem decisivo— ele resmungou.
— Decisivo pra quê?
Ele olhou para os meus pés e cruzou os braços. O silêncio se alongou mediante à sua hesitação. Esperei. Nem tinha certeza se gostaria do que estava vindo.
— Minha família e eu... estamos deixando Forks.— ele disse, enfim. Demorei uns segundos para processar a informação. Meu equilíbrio deu uma balançada e eu cambaleei para o lado, me contendo.
— O que?— indaguei, descrente.
— Eu estou indo embora, Caterine.— ele levantou os olhos dourados para mim e foi minha vez de virar o rosto. Respirei fundo enquanto os sinais de uma tempestade iminente agitavam meu âmago.
— Por que?— incapaz de evitar, fiz uma careta de desgosto.
— Edward e eu conversamos. Não dá para levar essa vida, Caterine.
— Que vida, Jasper?— me abracei e o olhei com relutância de que isso doesse também.
— Uma em que vocês sempre estarão em perigo na nossa presença— ele levanta os ombros balançando a cabeça em negação. Meus olhos ardem e eu seguro as lágrimas que enchem meus olhos.
— Então você vai me chutar porque eu cortei o dedo?— minha voz saiu mais embargada do que eu gostaria. Jasper deu um sorriso, sem humor. Não durou mais que três segundos.
— Não é só isso, você sabe.
— Não. Não sei, por favor, me fala, Jasper!— vou elevando o tom, ficando mais agressiva a cada silaba. Quero chorar e isso é vergonhoso.
— Nós... nós vivemos em mundos diferentes, Caterine. Gostei de pensar que poderia dar certo, mas sequer posso te tocar como bem quero sem ter medo de te machucar. Sem ter medo de perder o controle. Eu não posso mais te ver— ele disse e baixou a cabeça. Os seus ombros tensos como se estivesse carregando algum peso do qual não pudesse dar conta, o que é muito engraçado para alguém que tem uma força sobrenatural.
— Você se controlou. Foi você quem me salvou, Jasper.
— Por pouco.— ele suspirou, tornando a erguer o rosto. Olhou para todas as direções, menos para mim.— Não posso fazer isso, tenho medo de acabar com sua vida.
— E o que eu sinto? Não importa?— uma lágrima caiu e eu a sequei bruscamente com as costas da mão.
— Você é jovem, Caterine. Pode se apaixonar de novo.
— Eu quero você, porra!— vociferei, mas isso não fez com que minha raiva passasse.
— E eu preciso ir— ele falou baixinho. Ele não conseguia me encarar de volta e isso só me dava mais raiva.
— Claro. Claro. E tudo vai melhorar quando vocês forem embora!— grito.
— Eu vou cuidar para que você fique segura, mas não nos veremos mais— ele diz em tom firme, desviando-se.— Dessa forma vocês poderão ter uma vida normal.
— Não. Vai se foder!— eu explodo me aproximando dele— Como você acha que eu vou ficar normal depois de saber que você existe!? Você faz com que eu me apaixone por você e vai embora? Isso que eu chamo de egoísmo!
— Eu estou tentando te manter a salvo!— ele rebate, também elevando o tom.
— Você está tentando se salvar porque está com tanto medo de nós dois quanto eu!
— Eu estou com medo de acabar te matando, Caterine!— ele gritou, perdendo as estribeiras— Eu tenho medo de te perder e ainda vai ser culpa minha porque eu sei que poderia ter evitado tudo isso!
— Você está deixando o medo te controlar, Jasper, você não vê?— me indigno.
O loiro ficou calado, me encarou com um olhar indecifrável.
— Você está pensando demais— continuo, anulando a distância, seguro o rosto dele e o encaro de perto, suplicante— Por favor, não vai.
Senti algo ruim dentro do peito. É uma dor nova que eu não poderia comparar com nenhuma outra. Acho que meu coração de vidro rachou um pouco.
— Você tá me sentindo agora?— pergunto-lhe, unindo as sobrancelhas. Perco-me nos seus olhos dourados e vejo a dor neles— Está me sentindo, Jasper?— sussurro— Não quero ficar sem sentir você— nós colamos nossas testas, Jasper segura meu rosto e nós fechamos os olhos.
Algumas lágrimas me escapam e eu quero saber se está doendo nele tanto quanto em mim.
— Me desculpa, querida— ele sussurrou e me beijou antes que eu tentasse mais qualquer coisa. Foi doloroso porque eu queria continuar esse beijo mas, em questão de segundos, Jasper escapa de minhas mãos e, quando abro os olhos, é como se ele nunca tivesse estado lá.
Perco o fôlego ao me ver sozinha no meio do bosque e começo a chorar. Porque me sinto ridícula, porque quero que ele volte agora mesmo, porque eu nem tive a chance de falar que o amo e ele partiu. Queria saber se ele sequer olhou para trás. Levo a mão ao peito e quero que esse aperto saia, está me machucando demais.
Cambaleio de volta para a estrada pois não consigo ficar mais sozinha ali e o escuro da noite reinando me apavorou. Quero correr para minha cama e quando invado minha casa escancarando a porta, papai sai da cozinha e vem me receber.
— Caterine!— ele vocifera me fazendo congelar no meio da escada, de costas para ele. Estou ofegante, mas não quero que meu pai me veja chorando por quem ele sequer chegou a conhecer.— Você pode me explicar o que é isso?— ele perguntou, zangado. Pensei em ignorá-lo. Pensei em continuar minha corrida para meu quarto e me trancar lá até o dia seguinte, mas me virei cambaleante e ele erguia minha carteira de cigarros vazia que eu esqueci sobre a porra da minha mesa de cabiceira. Ofeguei e chorei mais. Sentei-me na escada e escondi o rosto entre as mãos— Caterine?— papai me chamou, confuso com meu desmoronamento.
— Ele foi embora!— eu digo, sem me explicar nem mais um pouco. Caralho, isso tá doendo muito.
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O que estão achando, vadias?
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