Drácula loiro

A música do estabelecimento vai me dar dor de cabeça. Estou ajeitando os molhos de tomate porque uma criança endemoniada bagunçou tudo no corredor três. Eu odeio a música de elevador que não muda nunca no mercado. Ela está implorando pra você ir embora. Vou ter que conversar com a gerente, puta que pariu.

Apesar de estar estressada com o trabalho, isso é o de menos. Minha mente está bem longe daqui. Bem... não tão longe assim.

Nunca fui de bancar a compreensiva e talvez eu não devesse me ofender tanto porque Jasper Hale me chamou de intrometida.

Eu estou sendo muito irracional? Eu deveria me afastar e apenas ficar calada? Posso usar da desculpa que estou querendo saber mais afundo porque Edward está rondando minha gêmea, mas eu estaria mentindo se esse fosse o caso. Eu quero saber mais porque eu estou curiosa.

Que adolescente de dezessete anos descobre que um colega de turma é um ser sobrenatural e não se sente levado a investigar? Poupe-me!

Quando finalmente meu horário de serviço acaba, eu vou para casa movida a base de ódio, caminhando sozinha na rua para pensar melhor. Fico me remoendo, pensando em respostas que poderia ter dado para Jasper na hora do desaforo. Que ridículo. Não vai ficar assim. Ele tentando me afastar só vai fazer com que eu queira mais! Irei atrás de Jasper Hale e verei do que ele é feito. Insistirei por um tempo, caso não dê em nada, irei buscar minhas respostas com Edward Cullen. Quero saber de um jeito ou de outro.

Provavelmente a essa altura eles sabem o que eu estou querendo. Me pergunto se eles fazem parte de todo tipo de clichê possível. Queimam no sol? Se transformam em morcegos? Tem medo de pão de alho? Eu poderia matá-los com uma estaca no coração?

Bom, eles não dormem durante o dia, isso pode ser cortado da lista devido sua presença na escola.

Estou sofrendo uma tentação enorme de puxar mais um cigarro da mochila, mas estou perto demais de casa e não quero falar com Charlie sobre o bem que isso faz ou não ao meu pulmão. Entro na residência já sentindo o cheiro do jantar. Bato os pés no tapete e jogo minha mochila no chão, Bella está de pé mexendo na carne moída no fogão e me olha previamente para me lançar um sorriso amarelo.

— Caterine, por que veio a pé?— papai pergunta assim que coloca a cabeça para fora da cozinha. Me aproximo e me sento á mesa com ele, preguiçosa.

— Precisava me exercitar— sorrio e me sinto terrivelmente sonolenta. O dia parece estar durando uma eternidade.

— Desde quando você se exercita?— meu pai abre um energético na minha frente, eu agarro a latinha e a puxo para fora de seu alcance— Ei!

— O que você está fazendo?

— Tentando me abastecer.

— Tome água.

— Ora!— meu velho fecha a cara, se zangando— Caterine, eu paguei por isso, eu vou beber.

— Homem, você não vai deitar agora?

— Uma coisa não impede a outra!— ele se levanta e pega o energético de minha mão indo para a sala— Traga meu prato, por favor— ele pede a Bella antes de sair de nossa vista.

Suspiro e me encaminho para a bancada, querendo perturbar minha irmã menos Bella. .

— O que?— ela perguntou, eu só a encarei por uns minutos, de braços cruzados e sentada na bancada.

— Como vai indo com seu moreno?— pergunto, levantando a sobrancelha. Bella balança a cabeça.

— Ele não é meu moreno.

— Aham, e como tá indo?— continuo.

— Ainda não falei pra ele que eu sei o que ele é— ela sussurra.

— Bem, eu falei para o irmão dele, então ele já deve saber que nós sabemos nessa altura do campeonato.— baixo o tom e tento pegar um pouco de molho da panela, mas Bella dá um tapa nas costas da minha mão. Eu a olho torto.

— O Hale?— ela franze o cenho e me aponta o seca louças assim que a mesma apita. Reviro os olhos e desço da bancada indo guardar a louça.

— Sim.— suspiro.

— E como ele reagiu?

— Ele me chamou de intrometida e, praticamente, disse que não vamos mais nos falar.

— Como se vocês se falassem antes— ela resmunga e nós duas olhamos para nosso pai na sala de estar virando a latinha de energético e soltando um arroto. O jornal passava em volume alto na TV, ele está bem entretido.

— Nós vamos nos falar agora.

— O que é que você vai fazer?— Bella pergunta, curiosa.

— Vou me intrometer. Dessa vez, pra valer— sorrio e ela retribui balançando a cabeça em negativa.

— Nós estamos nos aproximando de vampiros— ela une as sobrancelhas e encara o nada, distraída— Que estranho.

— Eu que o diga— sussurro e nós terminamos o jantar em silêncio. Não há muito o que falar. Mas pelo menos temos a certeza que se for um surto, é coletivo.

Não consigo dormir direito, fico encarando o teto enrolando o indicador nos meus cabelos e ouvindo música nos fones ligados á caixa de som. Ouço a garoa do lado de fora por causa do volume baixo da música, a sensação é gostosa e eu não posso dizer que foi uma noite ruim porque perdi o sono. Mal reparo quando a luz pálida da manhã vem preenchendo meu quarto e não me sinto com muita vontade de sair da cama, mas que escolha tenho? Quero falar com Jasper. Quero que ele tire minhas dúvidas e deixe que eu sacie minha sede.

Que irônico pensamento...

Depois que tomo coragem de tomar conta da minha higiene, Bella e eu vamos para o colégio sem falar muito. Nada do assunto delicado de que eu iria cutucar onça com uma vara curta.

A determinação e a implicância são as melhores armas que eu arranjo no meu arsenal assim que deixamos nosso monstro laranja na vaga de sempre. Respiro fundo e caminho em passos determinados na direção de Jasper Hale do outro lado do estacionamento, sentado no capô de seu carro prateado, ladeado por Emmett e Edward Cullen. Os dois morenos sorriem para mim com gentileza ao notarem minha aproximação, o loiro fica inexpressivo.

— Cullen's— cumprimento olhando o rosto de cada um. Está um chuvisco leve com uma brisa fria que me fez pegar o casaco grosso do meu pai emprestado. Um casaco desbotado e muito confortável. Eu aperto a alça da minha mochila no ombro e encaro Jasper fixamente— Hale.— ele apenas faz um aceno com a cabeça.

— Olá, Swan— Edward diz.

— E aí, pequena Swan— Emmett cumprimentou me arrancando um pequeno sorriso— Jasper falou muito de você! E olha que ele não reclama de quase ninguém!— diz o grandalhão, eu levanto as sobrancelhas, surpresa pela revelação. Edward revirou os olhos para a atitude do irmão e o puxou para o lado murmurando desculpas para mim, eles acenaram e se afastaram.

— Eles sabem que eu sei, não é?— pergunto ao loiro quando perco os rapazes de vista.

— O que a senhorita acha?— ele ergue uma sobrancelha. Tem uma pose um tanto quanto arrogante, não tem outro tom no seu guarda-roupa além de preto, aparentemente. Temos algo em comum.

Dou de ombros.

— Podemos prosseguir com nossa conversa, senhor Hale?

— Eu disse que nós acabamos.

— Pois eu disse que não.

— Não pode me obrigar a falar, sabe disso, não sabe?— ele enfia as mãos nos bolsos da sua jaqueta de couro preta e se inclina na minha direção com a cabeça tombada de lado. Os cachos balançam com o movimento. Meu sorrisinho cresce.

— Se nem ao menos uma parte de você quisesse falar comigo, você teria saído de perto com seus irmãos— argumento. Ele cerra os olhos e segura um sorriso ladino recolhendo os lábios.

— A educação me prende— rebate. O olho com desconfiança.

— Tá, e a verdade? O que o faz não se afastar de mim? Nós dois sabemos que você pode ser escroto.

Ele me mede de cima a baixo, sério e com calma, meu estômago se enche daquelas borboletas estranhas.

— Você não quer saber.— ele dá de ombros e se levanta do capô, ergo os olhos seguindo seu rosto esculpido e fico intimidada com sua altura e porte. Não sei explicar. Parece que ele me deixa nervosa de propósito.— Está na hora de entrar, senhorita Swan.

— A gente pode matar aula. Sei que você é um aluno exemplar, não vão reclamar— digo. Queria que ele parasse de segurar seus sorrisos.

— Quer matar aula? Comigo?— ele balança a cabeça em negativa quando não respondo— E ainda diz que sabe o que eu sou.

— Ouvi que você não é do tipo de vilão dos filmes...

— Que bom que eu nunca achei que era o vilão— debocha. Não contenho o revirar de olhos.

— Você me entendeu.

— Acha que eu não vou te fazer mal por causa do que ouviu por aí?

— Não fez nada até agora.

— Testemunhas demais— ele levanta as sobrancelhas e aponta o entorno com o queixo sem desviar o olhar do meu. Mordo o lábio e olho para baixo, pensativa. Hm.

— Justo.

— Obrigado.

— Não dividimos muitas aulas.

— Ufa— ele resmunga. Eu o ignoro.

— Vou falar com você no intervalo.— determino.

— E se eu não quiser falar com você?— ele provoca. Eu o fulmino com o olhar e ele dá um sorrisinho lindo. Urgh, ele é muito lindo de um jeito muito irritante. Ele é todo irritante.

— Você quer.

— Por que acha isso?

Ergo a sobrancelha e dou um sorriso metido.

— Eu não estou te segurando, estou?

Ele aperta os lábios e revira os olhos desviando o rosto. Ele quer falar comigo, eu sei que sim, poderia ir embora se quisesse pra valer. Sei que não quer falar comigo pelo mesmo motivo que eu e fico bem curiosa no seu porquê, mas deixarei para mais tarde. As testemunhas estão ficando cada minuto em menor número.

— Te vejo no intervalo, Drácula loiro— debocho e faço uma reverência. Jasper sopra uma risada e eu entro na escola segurando-me para não olhar para trás. Gostaria de saber se ele continuou me olhando.

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