Brilhante
Tá comentando, vadia?
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Outono é a estação em que as árvores mudam de cor. Tomam tons mais suaves de vermelho, amarelo e laranja, as ruas estão lindas e caminhar para o trabalho de braços dados com Jasper me traz uma paz de espiríto sem igual.
Com o mês de agosto chegando ao fim, eu poderia fazer muitas anotações sobre como foram minhas férias de verão. Talvez enchesse várias páginas de um diário com momentos que tive com Jasper Whitlock. Sejam eles aflorados ou simples, foram tudo de bom. Em encontros descontraídos, a gente ficava em paz. Pegamos o barquinho de pesca do meu pai emprestado multiplas vezes e ficamos flutuando atoa naquele lago, olhando o céu e falando sobre tudo e qualquer coisa. Sonhos de criança, visões para o futuro, amigos que não vemos mais e por aí ia. Jasper me falou de Peter e Charlotte, como sentia falta deles e como eles também eram como sua família, mas evitou falar mais do exército que comandava.
Eu pegava algumas migalhas de seu passado e me contentava em esperar até que ele me contasse tudo de acordo com sua vontade. Eu sabia que suas incontáveis cicatrizes foram causadas por outros vampiros com quem ele havia lutado. Todos eles perderam. Jasper matou cada um deles e eu ainda não tenho muita certeza sobre como deveria me sentir sobre isso sem saber a história toda. Sei que ele não se lembra bem de seus pais, mas não demonstra muito se sente falta de sua família. As vezes age como se eles fossem estranhos e isso me deixa remexida, mas se Jasper não quer falar deles, eu imediatamente mudo de assunto.
Jasper me contou histórias do seu mundo - aquelas que não lhe pertenciam. Me falou de sua realeza, os Volturi, e os classificou como lobos vestidos de cordeiros porque o sonho deles era separar sua família. Me falou da lenda que eles eram e que eu não iria querer conhecê-los. Eu também não faria questão. Jasper me contou um pouco mais sobre a história de vida dos Cullen. Quem Carlisle era, como ele nunca bebeu uma gota de sangue humano sequer. Como seu pai fora rígido e como Carlisle teve que aprender sobre esse mundo completamente sozinho. Contou-me um pouco sobre como Edward foi trazido a essa vida e a sua época de revolta incompreendida por não poder se saciar da forma que queria. Contou-me como Esme entrou na vida deles, depois Rosalie. Como aquela loira linda e de olhar aniquilador chegou onde está hoje. O que seu noivo e outros homens bêbados fizeram com ela. Jasper não entrou em detalhes, obviamente desconfortável em falar disso sem o consentimento de sua irmã, mas não foi difícil adivinhar. Sinto frio na espinha sempre que penso no quanto a morte de Rosalie foi assustadora. Se Carlisle tivesse chegado antes... bem. Aconteceu.
— Ainda bem que ela os matou— eu cochichei com Jasper no meu quarto, era meio da noite e eu não conseguia dormir. Pedi para ele ficar um pouco mais e ele se sentou no chão do lado de minha cama para continuar falando— Eu não acho que teria feito diferente.— admiti. Jasper pegou minha mão e suspirou.
— Se eu estivesse na família aquela época, com certeza a teria ajudado. E jamais pense que eu vou deixar qualquer coisa similar a isso acontecer com você— ele disse. Depois me contou que Rosalie salvou Emmett e assim o grandalhão complementou a vida de Rosalie de um jeito maravilhoso. Como Emmett parecia ter salvado a família só por estar ali com seu senso de humor e competitividade.— E aí... Alice me encontrou.— ele disse— Nós não sabemos de onde ela veio, ou porquê, mas é graças a ela que eu não estou completamente sozinho, perdido pelo mundo sem poder me controlar.— ele disse com carinho— Ela é minha melhor amiga, sabe? Eu amo minha irmã.— eu sorri. Eram excelentes os momentos que Jasper tomava o microfone de mim e falava e falava e falava. Ele me contou como foi estranho, no começo, ao se enfiarem no meio dos Cullen sem ter tido qualquer convite, mas ninguém demorou a se acostumar. Logo se tornaram uma família e Jasper admitiu que não sabia o quanto sentia a falta de fazer parte de uma família. Depois de um certo tempo, Sabine fora a próxima alma penada que Alice foi salvar. Tão nova e incontrolável quanto Jasper no quesito de autocontrole com sangue humano. Sabine fora transformada pelos Volturi, mas tampouco lhe agradava o ritmo daqueles vampiros com milhares de anos de idade.
Sempre era medíocre contar minhas histórias depois que ele terminava de falar. Usei do humor para preencher as lacunas e era muito bom ver ele sorrir e assentir, incentivando-me a continuar. Tão adorável. Eu o contei praticamente tudo sobre mim. Falei de garotos e garotas com quem eu me divertia em Phoenix, atrás do ginásio de minha antiga escola. Contei como estava feliz com minha evolução na relação com minha irmã e que meio que devia isso a eles porque foi literalmente descobrirmos sobre o mundo dos vampiros que nós nos unimos. Contei sobre minha relação com meus pais, mas me contive a maior parte do tempo. É extremamente pessoal para mim e fiquei feliz que Jasper não insistiu. Reclamei da escola, do trabalho, da vida. Falei como queria e não queria ter uma vida grandiosa. Como sou preguiçosa e como me sinto perdida a maior parte do tempo não importa o que eu faça. Ele me disse que se identificava e eu não canso de gostar disso.
Minha rotina era sair para trabalhar, voltar para casa para tomar um banho e comer e sair de novo, fosse com Jasper ou com meu pai e minha irmã. Minha vida está perfeita. Nada fora do lugar.
Ah, claro, eu o vi brilhar sob a luz do sol um dia desses. Jasper estava afastando o barco da margem quando um raio de luz saiu por entre as núvens e atingiu seu rosto.
— Espera, para!— eu gritei, ele congelou no lugar, confuso, fiquei meio aliviada por ele não virar cinzas nem nada do tipo, mas não iria admitir. Seu rosto brilhava como se sua pele fosse feita de diamantes, eu fiquei abismada. Aproximei-me do loiro o escondendo com minha sombra— Você brilha?!— indaguei, indignada.
— Ah, isso não é muito importante.— ele deu de ombros, indiferente, me sentei na sua frente só para ver mais um pouco do que a luz do sol refletia em sua pele— Só serve para nos diferenciar da sua espécie. É bem incômodo, na verdade.
— Cacete— foi o que eu disse, mas então as núvens de Forks domaram os céus mais uma vez e Jasper voltou ao normal.— Cacete.
Ele sorriu e beijou minhas mãos.
— Tudo bem, Vanellope?— quis saber.
— Você brilha, porra.
— Estou ciente, obrigado, querida— ele debochou. Eu fiquei cismada com isso por uns três dias, mas não haviam testes que eu poderia fazer. Só a luz do sol mostrava o que Jasper é de verdade. Foi como um estranho lembrete de que algo ainda estava entre nós. Não quis pensar demais no quê.
Ele também me deu presentes fingindo ter encontrado uma coisa ou outra em sua casa por acidente, embora o cheiro de novo denunciasse o contrário. Jasper me entupiu de livros que alegava valerem a pena ou que eu simplesmente odiaria mas tinha que ler até o final. Não consegui ler nem o primeiro ainda, mas gosto que ele não pare de me trazer. Ele me compra o chiclete azedo que eu gosto e vive me distraindo para que eu não fume. Por conta de seu dom, Jasper está desfocando minha abstinência, nunca precisarei de reabilitação indo nesse ritmo.
Descobri que na verdade a cor favorita do Jasper é azul. Ele não gosta de borboletas, nem do cheiro de baunilha. As músicas dos dias atuais lhe são uma ofensa. Ele gosta mesmo de me tratar como uma dama e gosta também que eu não faça muita questão já que ele adora pegar na minha bunda sempre que lhe dou a oportunidade. Jasper gosta de bateria, mas tocar lhe dá uma dor enorme nos tímpanos. Ele gosta de museus e de filmes policiais com reviravoltas intrigantes. Jasper gosta de dançar.
Cacete, eu estou apaixonada por ele.
E, lógico que é bom conversar, mas melhor ainda são os momentos que ele cala minha boca me beijando. Quando Jasper me beija ou me toca com um nível de audácia elevado, sinto que vou derreter por entre seus dedos e fica difícil respirar. Fico louca para tirar sua roupa, mas ele não deixa porque não tem como levarmos isso muito longe, como cada parte do meu ser almeja. Sempre que fico corada ou meu coração fica tempo demais fora de controle, Jasper praticamente evapora e o que não fazemos na vida real, fazemos nos meus sonhos. O tesão cresce tanto dentro de mim quando estou no seu colo que eu poderia jurar que viro outra pessoa. Já levantei minha saia de propósito ou usei um short mais curto para provocá-lo e quando ele ia embora, ficava me perguntando a noite toda que porra que eu estava fazendo.
As aulas voltam amanhã e eu não estou nada contente. Jasper estava meio aéreo, olhava ao redor e eu sei que ele está assim porque precisa caçar. As olheiras marcando seu rosto e seu ar distante eram os sinais que eu já estava me acostumando.
— Ei— eu chamei, o loiro me olhou, seus olhos estavam ficando escuros, é melhor mesmo que ele caçe— Está pensando no que?— perguntei, sorrindo-lhe.
— Em você. Você gosta de prata ou ouro?— perguntou, eu sorri, confusa.
— Por que a pergunta?
— Alice me avisou que seu aniversário é dia treze de setembro. Quero estar pronto.
— Epa, opa— arregalo os olhos— Não quero que me dê nenhuma jóia. Não preciso.— Jasper apenas cerrou os olhos, ignorando minha fala.
— Acho que prata— ele concluiu, sorri internamente. Ele não está errado.
— Jasper, sério— eu balanço a cabeça em negação— Não gaste comigo, eu não ligo tanto assim para presentes, só quero ser carregada como uma rainha!— debocho. Ele dá um sorrisinho e revira os olhos.
— Parada aí— ele manda, eu obedeço. Jasper se coloca na minha frente e se abaixa, me olhando por cima do ombro. Eu solto uma risada de escárnio.
— Sério?
— Sério. Sobe logo— dou de ombros e abraço seu pescoço, Jasper segura minhas pernas e começa a me carregar como se eu fosse uma mochila vazia, super leve.
— Sério que você não se incomoda com o meu peso?— pergunto no seu ouvido.
— Você tem o mesmo peso que uma sacolinha para mim, Vanellope.
— Filho da... Não, sério, uma sacola cheia.
— Não. Vazia mesmo— ele ri quando eu dou um tapa em seu peito. Afundo o rosto na curva de seu pescoço e inspiro seu cheiro doce e inebriante. Ficar abraçada nele é uma terapia. Fico chapada de serotonina.
— Jasper..— eu chamo, um tanto imersa nos questionamentos do que poderia ser essa sensação no meu peito toda vez que eu o abraço.
— O que, querida?— ele pergunta, soa calmo, como sempre. Jasper sempre está me oferecendo uma estabilidade que eu não costumo ter. Nunca tive.
— Eu... gosto muito mesmo de estar com você.— sussurro muito baixinho, mas tinha certeza de que ele me ouviu com muita clareza.
— Eu também, Caterine.— ele disse num tom que me deixou desconfiada de que estava sorrindo embora eu não fosse checar. Abracei-o um pouco mais forte.
Precisava mesmo assumir em voz alta o quanto eu estou apaixonada por ele sendo que ele literalmente sente tudo o que eu sinto? Não é só agora que eu penso nisso, é com cada pequeno movimento que ele faz, cada sorriso que ele dá. Eu acredito que Jasper é a única pessoa que eu não vou enjoar. Que eu posso me permitir sentir alguma coisa sem medo. Isso é assustador pra caralho por que eu estarei o mostrando mais ainda meu lado carinhoso. O lado que ninguém fora de minha casa conheceu.
Talvez eu fale para ele amanhã. Talvez depois. Sei que ele vai me dar o tempo que eu nem estou pedindo. Talvez a gente não precise mesmo. Ah, não sei. Só quero que ele fique mais um dia e nunca desapareça. Como falar isso em voz alta?
Por favor, fica só mais um pouco.
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