3 • Conhecendo o caso.
- Você quer uma água? Suco? Refrigerante? Alguma coisa? - Sooya, a garota que havia me contrato, perguntou com o tom meio ansioso quando chegamos na cozinha - Eu tenho bebidas também, se bem que ainda é de manhã.
Desde que cheguei na casa dela notei que a garota estava visivelmente nervosa, ela provavelmente estava naquele conflito "será que isso é uma boa ideia?" "Será que realmente devo fazer isso?", algumas garotas que me contratavam sempre enfrentavam o mesmo conflito, por isso hoje eu já reconheço ele e sei como fazer com que ela se sinta mais a vontade com isso tudo.
- Não, eu estou bem, obrigada. - agradeci enquanto me sentava em uma cadeira, deixando minha bolsa em cima da mesa - Sua casa é linda.
- Ah, obrigada, na verdade é a casa do meu irmão, eu morava com meu namorado, daí depois que terminamos eu vim para cá. - ela explicou se sentando na minha frente, observei seu rosto com mais atenção e notei que ela estava se segurando para não chorar, acho que só falar sobre isso já deixa ela magoada - Não tive coragem de voltar para a casa dos meus pais, não quero decepcionar eles, eles gostavam muito do Tae, quer dizer, do Taehyung.
Talvez a maioria das pessoas possam me considerar como uma mulher escrota que não tem um pingo de empatia pelo próximo por fazer o que eu faço, mas elas simplesmente não entendem que eu não faço isso apenas para amaciar meu ego, eu sei o quão homens conseguem ser cruéis com as mulheres e sei como elas se sentem aliviadas ao verem eles pagarem com a mesma moeda.
Eu só faço justiça e ainda ganho por isso.
E como eu sei disso? Bom, pelo meu pai, talvez seja aquela porra que chamam de daddy issues ou como queiram chamar, mas meu genitor é responsável por eu não conseguir confiar nos homens, responsável por eu sempre evitar me deixar levar pela emoção quando o assunto é pau.
Ele traiu minha mãe desde que eu me entendo por gente e ainda fazia chantagem emocional a fazendo se sentir culpada pelas traições dele. "Você não me toca como eu quero" "Não se arruma como eu gosto" "Eu procuro na rua o que você não me dá em casa, é culpa sua isso!" e noite após noite eu ouvi minha mãe chorar, noite após noite eu vi ela beber vinho até apagar de tão alcoolizada.
Lembro que muitas vezes quando eu dava banho nela completamente alcoolizada, eu precisava aguentar a mulher me culpando da mesma forma que ele culpava ela, que se ela não era mais desejável a culpa era minha, porque desde que ela me deu a luz, seu corpo nunca mais foi o mesmo.
Ele fazia da vida dela um inferno e ela fazia a minha, como a porra de uma pirâmide.
Eu achei que a minha vida sempre seria aquele inferno repetitivo, até que um dia o meu pai se apaixonou de verdade por uma de suas amantes e nos abandonou. Minha mãe ficou ainda pior, foi quando eu precisei começar a trabalhar para não morrermos de fome, já que ela virou uma alcoolatra depressiva... Meu pai havia destruído minha mãe.
Eu comecei a trabalhar em um mercado perto da nossa casa quando tinha 15 anos e foi com essa idade que conheci o que era o karma.
Eu havia chegado em casa cansada, já imaginando que encontraria minha mãe jogada em algum canto da casa fedendo a vinho barato, mas estranhei quando encontrei ela cozinhando parecendo contente com algo, eu nem lembrava como era o cheiro da comida dela.
Quando perguntei o que havia deixado ela feliz, ela me contou que meu pai apareceu chorando pedindo uma nova chance, que sua amante havia traído ele e que eles percebeu o quão doloroso aquilo era, ele sentiu na pele o karma de uma traição.
A glória do meu pai trouxe dor a minha mãe, mas a sua queda fez com que ela voltasse a vida.
Desde esse dia, percebi que jamais deixaria um homem fazer aquilo comigo, jamais deixaria um homem me quebrar, eu iria fazer questão de quebrar eles primeiro e foi o que eu fiz dois anos depois. Aos 17 anos comecei a ser o "karma" quando um garoto magoou uma amiga minha e eu o magoei também.
Não era para eu tornar aquilo um trabalho, mas a sensação doentia de satisfação que eu senti ao ver aquele garoto ajoelhado aos meus pés, abraçando minhas pernas enquanto implorava para eu não o deixar, foi tão boa, tão excitante que eu logo percebi que havia algo de errado comigo.
Eu havia me tornado a doente de uma sádica que sentia prazer em ver os homens se humilhando dessa forma.
- Me fala sobre vocês, me fala sobre o que houve entre você e o Taehyung. - pedi apoiando o rosto entre as mãos.
Era visivelmente o quanto ela estava triste com aquilo tudo, ele machucou a garota e agora eu iria machucar ele. Não quero nunca mais ter que ver uma mulher se destruindo por um homem como a minha mãe se destruiu... Afinal, eu tenho daddy issues ou mommy issues? Foda-se, isso não importa mais, o que importa é que eu sempre vou ficar do lado das mulheres.
- Como eu te falei por e-mail, ele me traiu e me deixou arrasada, ele ao menos pareceu se importar com a forma que me machucou, não tentou se explicar e nem nada do tipo e o pior é que ele ainda tentou colocar a culpa em mim, eu queria fazer o mesmo com ele, quero que ele sinta na pele o que eu senti. - notei seus olhos se tornarem mais frios e quase sorri com aquilo, ver frieza nela era melhor do que ver tristeza.
- Uma traição, então? - perguntei e abri as notas do meu celular para escrever sobre isso, traições já eram quase que um caso clichê para mim - Não vai ser tão difícil assim.
- E como vai funcionar isso? Você com ele? - ela perguntou ansiosa e eu notei seu olhar me encarar de cima a baixo, por mais que ela queira ver ele sofrer, sei que ela ainda sentirá ciúmes dele, então preciso fazer com que ela entenda que jamais haverá relacionamento amoroso entre nós.
Eu não era também o tipo de dormia com qualquer, muitas vezes que eu fazia esse trabalho, eu nem transava com eles, só dormia se algum despertava desejo em mim. Heeseung foi um que eu transei várias vezes, mas isso porque o garoto me levava aos céus com seu oral.
Mas eu prefiro sempre perguntar o limite para as minhas clientes, se Sooya não se sentir bem por saber que irei dormir com seu ex, eu não irei dormir.
- Bom, a gente...
Ouvi barulho de passos pesados pela casa e quando notei que alguém estava entrando na cozinha, eu parei de falar. Me virei para trás e quase arfei com a visão de um deus grego se aproximando de nós... Alto, ombros largos, um rosto que parece que foi esculpido por anjos. Caralho, eu queria que ele fosse o meu trabalho da vez, o tanto que eu sentaria nesse homem não é brincadeira.
- O que está fazendo em casa? - a garota perguntou e eu ao menos tentei disfarçar meu olhar.
O garoto usava uma regata branca, short e tênis de corrida e seus cabelos estavam úmidos, havia também fones em seu ouvido e pela forma ofegante que ele respirava dava para adivinhar que ele estava correndo antes de vir aqui... Gosta de cardio? Eu não me importaria de realizar algumas com ele.
- Eu não posso? - o homem perguntou abrindo um sorriso de canto para sua irmã e eu quase babei com a visão, seu rosto estava levemente corado e ele ainda respirava pesado fazendo com que a minha imaginação fosse longe com a visão dele ofegante desse jeito embaixo de mim, e finalmente seus olhos me alcançaram - Olá.
- Oi. - sorri para ele inclinou a cabeça para o lado me encarando com curiosidade. Por que ele está me olhando assim? Bom, não importa o motivo, eu gostei de ser examinada desse jeito por ele.
- Achei que estaria no restaurante. - a irmã dele falou parecendo confusa e eu olhei entre eles curiosa.
- Restaurante?
- Meu irmão é chefe de cozinha.
Uau, bonito e ainda sabe cozinhar? Ok, te aquieta Maeve! Ele não é o primeiro homem bonito que você vê! Não esquece que homens são apenas homens, não vale a pena dar mais atenção do que deveria, fora que eu estou aqui para trabalhar para a irmã dele! Não posso relacionar as coisas.
Por mais que esse cara seja atraente, eu estou proibida de querer sentar nele!
- Eu conheço você. - o cara murmurou ainda me encarando e eu o olhei curiosa.
- Me conhece? De onde?
- Você não lembra? - ele sorriu se escorando no balcão atrás dele e eu o examinei de cima a baixo.
Não, eu não lembrava dele, acho que jamais esqueceria alguém bonito como ele. De onde será que ele me conhece?
- Desculpa, eu não consigo me lembrar. - falei sincera e jurei ter visto uma expressão de desgosto no rosto do homem, mas acho que só foi coisa da minha cabeça, porque ele logo abriu um sorriso para mim.
- Você esteve no meu restaurante ontem, se não me engano, seu namorado chutou o poste de luz e quase causou um blecaute.
Abri a boca surpresa sentindo meu rosto corar. Ele é chefe de cozinha daquele restaurante? O restaurante que tem uma das melhores comidas que eu já provei? Eu não acredito nisso! Eu sabia que o Heeseung havia chutado um poste, mas não imaginei que aquilo quase causaria um blecaute, imagina que vergonha.
- Nossa, eu acho que não vi você, me desculpe. - falei sem graça escondendo as bochechas, eu odiava corar, ainda mais por sentir vergonha de algo, eu não era assim - Ele não é meu namorado.
- Era um trabalho? - Sooya me perguntou curiosa e eu concordei com uma aceno.
- Era.
- Trabalho? O mesmo que ela vai fazer com o Taehyung? - o garoto perguntou e eu o olhei com os olhos arregalados. Como ele sabe disso?
- Meu irmão sabe. - Sooya explicou e eu a olhei ainda surpresa com o fato dele saber sobre isso - Eu contei para ele sobre você, espero que você não se importe.
| Kim Seokjin |
- Não, não me importo. - a garota falou depois de alguns segundos em silêncio, mas pelo olhar gélido dava para notar que ela havia sim se importado.
Uma coisa era óbvia, ela não me reconheceu, ela não fazia ideia de quem eu era e isso me irritou de uma forma quase que irracional. Por anos o rosto dela, sua voz e até mesmo seu cheiro me perseguiram como a porra de um castigo enquanto ela ao menos lembrava do meu rosto.
Eu mudei desde a época da escola, mas ela também mudou e eu a reconheci no segundo que vi sua foto e ela mesmo estando frente a frente de mim, não lembrou quem eu era, não lembrou do garoto que praticamente implorou de joelhos para ela não me deixar... Porra, eu era tão patético.
Ela praticamente me tinha nas mãos como a droga de um cachorrinho, mas isso mudou, eu não seria mais assim, não mesmo. Maeve jamais iria me machucar de novo, eu me recuso a deixar essa diaba voltar a entrar na minha vida.
- Nossa, está um calor aqui. - Maeve murmurou puxando seus cabelos para trás para conseguir se abanar e foi automático meu olhar cair sobre o decote generoso que ela estava praticamente esfregando na nossa cara.
Não sei explicar o que eu senti ao entrar aqui e encontrar os olhos da garota que foi meu primeiro amor, ela estava mais bonita do que eu me lembrava e essa constatação quase tirou o meu foco. Até que eu me lembrei que por mais que ela seja bonita por fora, por dentro ela é a pessoa mais horrorosa que eu já conheci.
Ela é paga para brincar com os outros.
Eu não posso me deixar levar por sua aparência ou até mesmo pelas lembranças da garota que eu conheci... Ela nunca foi aquela garota, aquela garota era um personagem, um personagem que ela criou para eu me apaixonar.
- Nem fala. - minha irmã exclamou e se levantou da mesa - Quer sentar lá fora para conversar?
- Claro.
Perfeito.
Observei elas caminharem até o quintal da casa e quase me agredi mentalmente quando percebi que estava com os olhos fechados sentindo o perfume da garota. É, nem isso ela fez questão de mudar, ainda com o mesmo cheiro doce, o cheiro que me atormentou esses anos todos, aquele que me tirava do sério sempre que apoiava meu rosto em seu pescoço quando entrava nela.
Merda, eu preciso mesmo esquecer essas coisas! Meu foco é destruir ela, não transar com ela.
Decidido a começar meu plano, eu tirei meus tênis deixando ao lado da porta e aproveitei para deixar meu celular por ali mesmo junto com a minha camisa. Eu precisava fazer com que ela me visse.
- Você vão se importar se eu nadar um pouco? - perguntei me aproximando delas que estavam sentada no quiosque perto da piscina.
Quase sorri vitorioso quando observei o olhar da Maeve em mim, ela ao menos disfarçava, e eu quase a xinguei quando ela inclinou o rosto para o lado e mordeu o canto dos seus lábios. Merda, por que ela não podia ser uma mulher tímida que finge que não está olhando? Essa mulher é tão descarada que me dá vontade de dar umas boas palmadas nela e para foder ainda mais meu psicológico... Eu sei que ela gostaria disso.
Porque eu lembro das nossas transas... Inferno! Eu não posso lembrar! Não posso lembrar do que ela me causava, eu não posso querer transar com ela de novo. Coloca na merda da sua cabeça Seokjin! Essa mulher praticamente devorou seu coração! Você não deve sentir tesão por ela e sim ódio.
- Não, imagina, a casa é sua, faz o que você quiser. - Maeve quem respondeu e eu quase ri da minha desgraça quando ela cruzou os braços sobre a mesa quase fazendo seus seios saltarem para fora do seu decote fazendo com que novamente meu olhar caísse sobre eles.
Demoníaca, ela está tentando virar o jogo. Foco, Kim! Foco!
- Como eu estava te falando. - minha irmã chamou a atenção da garota e eu aproveitei para entrar na água e nadar até estar próximo delas, eu precisava ouvir seu planinho - Daí nessa festa você se aproxima dele, elogia o relógio dele, ele fica bobo se qualquer pessoa o nota, já que tem um significado especial para ele.
- Ok, elogiar o relógio. - a garota anotou algo no seu celular e eu engoli em seco sentindo um gosto amargo - Tem algo que ele odeie? Que eu não deva falar sobre?
Será que foi assim também comigo? Ela perguntou essas coisas para a minha ex? Óbvio que sim, eu fui só mais um de suas vítimas.
- Ele não gosta muito de perguntas invasivas sobre a família dele, eles não tem um bom relacionamento.
- Sem falar sobre a família, ok. - ela continuou anotando e sem conseguir aguentar ouvir aquilo eu nadei para longe delas. A vontade que eu tinha era de sair dessa piscina e gritar com ela, gritar todas as frustrações que eu guardei todos esses anos.
Ela age como se fosse tão natural fazer isso, tão normal, ela ao menos se importar com a catástrofe que o bater das suas asas causa. Ela ao menos liga para o "depois", eu vivi o "depois", o depois dela, o depois dela ter me quebrado, o depois de mesmo querendo a odiar com tudo que eu tinha, eu ainda a desejava... Eu ainda a amava.
Mas agora mudou, tudo mudou desde que eu descobri do seu trabalho sujo. Se as circunstâncias fossem outras, se eu tivesse encontrado ela por acaso, eu tentaria algo de novo com ela, mas agora que sei sobre isso, sobre o porquê dela ter me machucado daquela forma, eu só consigo sentir nojo dela.
- Por enquanto eu acho que tenho o que preciso. - fui tirado dos meus pensamentos pela voz da mulher que me fez de idiota - Se eu precisar de mais alguma coisa entrarei em contato.
- Ok. - minha irmã se levantou junto com ela e eu voltei a nadar para perto do quiosque - Te levo até a porta.
- Tchau... - Maeve se virou para mim e franziu o cenho com um sorriso pequeno nos lábios - Desculpa, que grosseria a minha, eu não perguntei seu nome.
- Seokjin. - falei sério, esperando que ao menos ela achasse ele familiar - Kim Seokjin.
Mas me senti ainda mais irado quando ela apenas sorriu, não demonstrando surpresa e nem nada. Será que até mesmo meu nome ela havia esquecido? E por que isso está me irritando tanto?
- Tchau Seokjin.
- Até breve, Maeve. - murmurei apertando minhas mãos em punho embaixo da água, embora ainda estivesse com um sorriso nos lábios. Essa mulher me tirava dos eixos com tão pouco.
Eu irei sondar minha irmã, vou descobrir onde vai ser essa festa e vou fazer questão de estragar a diversão sádica dessa garota, a partir de hoje, ela vai ser a minha diversão sádica... Vou fazer questão de fazer ela lembrar de mim, nem que precise me enterrar dentro dela para isso.
Porque por mais que eu tente me convencer que só sinto ódio por ela, uma parte irracional de mim ainda deseja ter ela novamente, nem que seja pela última vez, a última para fazer questão dela nunca voltar a me esquecer de novo.
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