2 • Última vez.


- Porra, você não pode estar falando sério!

- Estou falando seríssimo. - afirmei enquanto levava mais um garfo cheio até a boca. Céus, a comida desse restaurante era divina! Ainda bem que esperei ele me trazer aqui antes de terminar com ele.

- O que? Não! Maeve, eu te apresentei para meus pais! Minha família inteira te conhece. - ouvi sua voz soar trêmula e não demorou muito para o garoto tocar minha mão que estava sobre a mesa e eu notei o quão fria a sua estava - Eu fiz algo que você não gostou? Se for esse o caso, vamos conversar meu amor, a gente pode resolver.

Ergui o olhar para encarar o garoto com tédio, diferente dele que parecia que iria arrancar os cabelos de tão forte que ele apertava os fios entre os dedos. Ele estava com o olhar agitado como se estivesse se perguntando silenciosamente o que havia feito de errado.

Você não fez nada de errado bebê, eu que sou o problema aqui.

Lee Heeseung era um garoto legal, ele era bem mais novo que eu, mas isso não me impediu de eu me aproximar dele e não pareceu ser um problema para o garoto já que em menos de três semanas que nós havíamos nos conhecido ele já estava me beijando e pedindo para eu namorar com ele.

O que foi até uma surpresa, tanto para mim quanto para a garota que me contratou. Ela me disse que Heeseung demorou 6 meses para pedir ela em namoro e nunca sequer cogitou a ideia de apresentar ela para seus pais.

O garoto gostava de manter a ex namorada dele escondida do mundo, agia como se fosse solteiro até um ponto onde sua namorada não aguentou mais e terminou com ele, o garoto fez pouco caso o que deixou ela com mais raiva ainda.

E é aí que eu entro.

Ela me procurou e pediu para que eu fizesse exatamente o que ele fez com ela e eu fiz. No começo me tornei a garota dos seus sonhos, os primeiros dois meses namorando ele estavam ótimos e quando eu percebi que ele estava envolvido até demais.

O processo do karma começou.

Comecei a sumir de pouco em pouco da sua vida, demorava para responder suas mensagens, não dava satisfação para onde ia e dava um jeito de sempre aparecer de surpresa em um lugar que ele estava fingindo não saber que ele estava ali, quando saímos juntos eu fazia questão de manter distância a ponto que o garoto não aguentou e com medo de me perder decidiu me encurralar me apresentando para a família dele.

Ele achou que dessa forma eu me prenderia a ele, que não iria mais me afastar mas foi exatamente o oposto do que eu fiz. Depois de conhecer sua família e fazer questão de conquistar eles, para eles sempre lembrarem de mim e perguntarem de mim para o Heeseung, fiquei uma semana inteira sem dar notícias.

E hoje fui surpreendida com Heeseung na minha porta, nervoso, vestindo um terno e segurando um buquê lindo de rosas em suas mãos, ele praticamente implorou para que eu jantasse com ele para conversarmos.

E eu escolhi esse restaurante para jantarmos, o restaurante onde havia acontecido o término com a ex dele e decidi que seria aqui que meu trabalho acabaria... Eu sempre fui meia fã de um drama poético.

- Você me apresentou porque quis, eu não pedi para conhecer eles. - falei afastando sua mão da minha e o Heeseung me olhou chocado como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir.

Não o julgo, eu acabei de matar a personagem doce e submissa que eu havia criado para o conquistar. Agora ele estava lidando com quem eu realmente era, com a verdadeira Maeve.

- Mas o que foi que deu em você? Por que está agindo assim comigo? Você tem noção de que você é a primeira garota que eu levei lá para casa? - ele perguntou parecendo magoado, céus, ele esta aumentando o tom de voz isso não é bom, não quero mesmo chamar atenção para nós - Você é a primeira garota que eu disse um "eu te amo"! Você sabe o que eu sinto por você!

- E você tem noção de que você é meio emocionado? - perguntei cruzando os braços e observei a boca do Heeseung abrir, acho que agora sim eu toquei no ponto fraco, ele chamava minha cliente de emocionada o tempo todo - Não tem nem 5 meses que a gente está ficando e você já disse que me ama umas mil vezes, você me sufoca, sabia?

Sorri com desdém e notei os olhos do garoto se encherem de lágrimas, ele iria chorar, ele queria chorar, mas jamais faria isso na minha frente, conhecendo os homens como eu conheço, eu sei que ele vai me xingar, me ameaçar e só vai chorar quando estiver longe dos meus olhos.

Eu sei disso porque não é a primeira vez que faço isso com um homem.

- Você é uma vadia. - ele falou com os dentes cerrados e eu dei de ombros já imaginando que iria ouvir isso. Homens são tão previsíveis.

- Ai, nossa, quebrou meu coração. - falei irônica e voltei a me concentrar na minha comida.

Heeseung ainda me olhava chocado, como se não acreditasse no que estava vendo, como se não entendesse como eu ainda conseguia ter um apetite depois de terminar com ele. Mas o que ele esperava? Que eu me debruçar-se contra essa mesa e chorasse como uma condenada?

Bem, foi isso o que a sua ex fez quando terminou com ele. Ela implorou para ele dizer que ele iria mudar, se ele falasse que estava disposto a tentar, ela não terminaria com ele, mas Heeseung apenas continuou comendo dizendo que era melhor que eles terminassem mesmo.

E enquanto ela chorava por ele, o garoto jantava como se aquele término não fosse nada demais. E cá estou eu, 6 meses depois fazendo com ele a mesma coisa que ele fez com ela.

- Isso não vai ficar assim! Você não pode terminar comigo. - ele exclamou dando um soco na mesa e eu revirei os olhos já imaginando o show que ele iria armar. Bom, acho que chegamos na parte das ameaças. - Não pode terminar comigo como se eu não significasse nada! Eu não vou aceitar isso! Você é a minha namorada!

Por isso eu sempre opto em terminar com eles em um lugar público e sempre depois de um término proibo a entrada deles no meu apartamento. Um homem com raiva nunca é uma coisa agradável de se presenciar, ainda mais se ele estiver com raiva por causa de um término que não está sabendo aceitar e lidar bem.

E sem contar que eu também sempre tenho uma carta na manga para conseguir distância deles.

Peguei meu celular sobre a mesa e procurei pela filmagem que eu havia feito há uns dias atrás. Sim, eu sei que sou uma filha da puta por ter gravado uma cena íntima nossa sem ele saber, mas preciso garantir a minha segurança, eu nunca postava nada, mas mantinha essas filmagens comigo para garantir que eles ficasse longe de mim.

- Não só posso como vou, acabou tudo mauricinho e se você me procurar, eu vou fazer questão de deixar isso vazar. - avisei e coloquei meu celular sobre a mesa deixando rolar o nosso vídeo.

Heeseung arregalou os olhos encarando a filmagem e logo me olhou com uma expressão tão desolada que se ele não fosse homem eu até tinha acreditado nele. Mas infelizmente, eu nem lembrava qual havia sido a última vez que acreditei em algum homem na minha vida.

Talvez eu seja mesmo a porra de uma vadia sem coração. Mas eu prefiro mil vezes ser o que eu sou hoje, do que ser aquela garota que pisaram nela como se ela fosse a droga de um inseto.

Eu sei que nem todos os homens são iguais e que eu não deveria fazer todos pagarem pelo erro de três. Mas eu não conseguia evitar, meu ódio por eles e o desejo de ver eles se arrastando pelos meus pés era ainda maior que o meu bom senso.

- Me aguarde. - Heeseung falou me olhando com ódio e se levantou rápido quase derrubando a cadeira com a força que ele fez para a empurrar.

Respirei fundo ouvindo seus passos se distanciarem de mim, mas eu sabia que não tinha acabado ainda.

- 3... 2... - contei baixinho mexendo com o garfo na minha comida e logo ouvi ele sentar novamente na cadeira.

- Você realmente não tem mais nada a dizer? - ele perguntou com a voz embargada e ali estava.

Depois de todo ódio, raiva, ali estava o que alimentava o meu ego, o que me deixava com a sensação de superioridade... A mágoa, eu havia o machucado, eu havia quebrado ele, quebrado a ponto dele estar disposto a fazer o que eu quiser para me ter de volta.

Mas ainda não havia o quebrado suficiente, já que também havia esperança em seu olhar, o que não poderia acontecer. Ele não pode ter esperanças, isso tem que acabar com ele me odiando, se ele tiver esperança ele vai querer me procurar, mas se ele me odiar, ele não vai querer me ver nem pintada de ouro na sua frente.

Eu preciso do seu ódio e apenas dele.

- Na verdade eu tenho sim, Hee... - falei e notei o alivio chegar ao seus olhos quando o chamei pelo seu apelido - Pratique mais o sexo oral, você tem uma dificuldade enorme em encontrar o clitóris de uma mulher, já estava cansada de fingir sentir algum prazer com você.

Heeseung fechou as mãos e me olhou com tanto ódio que por alguns segundos quase cogitei a ideia de me encolher, quase, porque eu não abaixava a cabeça para homem nenhum.  E foi o que eu fiz, ergui o queixo e o encarei com desafio.

Obviamente eu estava mentindo, o garoto mesmo sendo mais novo do que a maioria dos caras com quem eu já havia me relacionado, me levava aos céus com a sua língua, e eu com certeza sentiria falta do seu oral.

- Eu espero que você queime no inferno. - ele falou por fim e levantou novamente para ir embora e eu sabia que dessa vez seria de vez.

- Ei, e a conta? - perguntei alto mas ele fingiu que nem me ouviu - Babaca.

Voltei a me concentrar na minha refeição mesmo tento a consciência de que havia algumas pessoas me encarando ali, mas eu sinceramente estava me fodendo para elas.

Ouvi a cadeira na minha frente se arrastar novamente e nem precisei erguer o olhar para ver quem estava se sentando ali.

- E o show? - perguntei com a boca cheia e ouvi uma risada animada.

- Ele está chorando lá fora, chutou o poste de luz tão forte que eu acho que ele até machucou o pé.

- E como você se sente? - encarei a garota que parecia que havia ganhado um presente de Natal, ela estava nos observando desde que havíamos chegado já que antes de sair com ele, eu mandei mensagem para ela avisando meus planos para essa noite.

- Bem, muito bem na verdade. - a ex do Heeseung falou soltando um suspiro como se estivesse aliviada - Ele está pagando pelo que me fez.

- É assim que funciona o karma. - ri dando de ombros, mas logo apontei o garfo para ela - A propósito, você paga a conta.

(...)

- Quando você vai parar com isso? - Namjoon, meu melhor amigo desde a época da faculdade perguntou assim que eu cheguei no apartamento que a gente dividia.

O olhei confusa e pela sua expressão eu já imaginei do que se tratava. Ele já sabe sobre meu término, por isso está me olhando com essa expressão de desapontamento.

Eu e o Namjoon nos conhecemos no nosso primeiro ano de faculdade, assim como eu, o garoto também cursava letras e depois que nos formamos, conseguimos contrato na mesma editora e decidimos dividir um apartamento perto dela.

Enquanto ele se focou em trabalhar com a correção e diagramação dos livros, eu fiquei encarregada em escrever eles. Mas como ser escritor ainda não é uma profissão que possa fazer com que eu tenha uma vida financeira alta, eu precisei achar algum serviço extra.

E foi quando eu decidi me tornar o "karma" novamente. Eu já fazia isso na época da escola, mas quando eu entrei na faculdade, houve um problema e eu precisei parar, mas então quando tive que enfrentar um bloqueio criativo que me parou por quase 1 ano, eu resolvi voltar a trabalhar com isso.

Namjoon odiava, ele estava comigo quando o problema aconteceu, quando um garoto ficou tão obcecado comigo que eu precisei envolver a polícia quando ele tentou me atropelar por não aceitar o nosso término. Namjoon tem medo que isso volte a acontecer, ele tem medo que eu acabe morrendo por causa desse meu "trabalho sujo".

- Como você...

- Heeseung passou 10 minutos chorando no meu ouvindo implorando para que eu te convença a dar mais uma chance para ele. - Namjoon resmungou erguendo seu celular e eu gemi frustrada me jogando no sofá.

Merda, não deixei ele com ódio o suficiente!

- Bloqueia ele logo.

- Por que você continua fazendo isso? - Namjoon começou seu discurso moral e eu cobri o rosto com uma das almofadas, já ouvi isso tantas vezes que já consigo até imaginar o que ele vai dizer a seguir. "Não deveria brincar com os sentimentos dos outros assim" - Não deveria brincar com os sentimentos dos outros assim.

Não disse?

- Namjoon, isso é trabalho. - falei com a voz abafada por conta da almofada - Já te expliquei isso várias vezes.

- Não, isso é sadismo. - ele resmungou e eu tirei a almofada do rosto para o olhar. Ele estava sentado no outro sofá e me olhava sério - Você sente prazer em machucar os homens, isso não é normal.

Abri um sorriso brincalhão para ele enquanto me esticava mais no sofá.

- Isso não é verdade, eu nunca machuquei você.

- Porque graças a Deus eu nunca me apaixonei por você. - ele resmungou e voltou a encarar o computador ao seu colo o que me fez lembrar que eu precisava anotar as coisas que aconteceram hoje antes que eu acabasse esquecendo.

- E continue assim, ao menos que você queira virar um best saller. - falei pegando meu celular entrando no arquivo "Heeseung" - E eu já sei até o título para esse próximo romance "Young and intense love", o que você acha?

- Acho que você é um monstro.

- Não, eu sou uma escritora que usa seus relacionamentos como inspiração para histórias novas. - corrigi e olhei para ele vendo o Namjoon revirar os olhos - Heeseung deveria se sentir honrado por se envolver comigo, logo logo estará nas bancas.

- Sabia que o Jeon está no hospital? De novo? - Namjoon perguntou ignorando minha brincadeira - Estou fazendo a diagramação do livro de vocês inclusive.

- Jungkook sempre foi meio dramático, não me surpreende ele estar lá. - resmunguei não dando muito assunto para aquele caso. Jungkook não estava no hospital por causa de mim! Ele estava no hospital por causa do meio de vida que ele leva! Eu não tenho nada haver com isso.

- Desde que você terminou com ele, ele não perde uma luta, chegou ao limite do seu corpo. - Namjoon falou e eu olhei com uma das sobrancelhas erguidas. Ele acha que a culpa disso é minha? Sério? Jungkook está lutando porque ele quer.

- E o que você quer que eu faça? O impeça de lutar? Ele é um lutador de boxe Kim, o trabalho dele é se machucar.

Jungkook havia sido meu trabalho antes do Heeseung, eu havia ficado quase 8 meses com o garoto, ele foi um pouco difícil de conquistar, mas como qualquer homem, ele acabou caindo no meu papo.

E como os outros, eu havia quebrado ele. Jungkook tinha muito ódio de mim, não era atoa já que eu fiz questão de ficar com seu técnico na academia que ele treinava, calculando a hora exata que o Jungkook apareceria e me veria com seu treinador.

O plano era só flertar com ele, mas Kim Mingyu era uma perdição e quando percebi eu já estava no colo dele o beijando como se quisesse nos fundir. Mas infelizmente nossa pegação não durou muito já que o Jungkook apareceu e bateu em seu treinador.

Jungkook costumava trair sua ex com as suas "fãs", ele usava o boxe como desculpa, que elas agarravam ele de surpresa e ele ficava sem "reação" e agia por impulso, impulso esse que era retribuir os beijos, e foi essa mesma história que eu contei para ele, a história que ele sempre contava para sua namorada.

"- Ele me agarrou amor, eu fiquei sem reação! O que você queria que eu fizesse?"

Já disse que eu adoro um final dramático? Um final poético? Faço questão de sempre repetir o que eles falam, afinal, eu sou a porra do karma da vida deles.

Mesmo com muita raiva, o Jungkook me perdoou, foi até patético já que ele até mesmo chorou abraçado na minha cintura me dizendo que já não imaginava a vida dele sem eu ao seu lado...Então eu o trai de novo, e de novo, e de novo.

Eu fazia questão das traições serem durante as suas lutas nos campeonatos, porque eu sabia que ele acabaria vendo pelas câmeras depois da luta.

E sempre que ele descobria, eu dava a mesma desculpa, o cara me agarrou e eu fiquei sem reação, achei que ele iria terminar comigo, mas ele sempre insistia em tentar de novo, no fundo ele tinha esperança de se tornar o suficiente para mim.

Mas como eu já estava cansada daquilo, eu terminei, ele ficou um bom tempo tentando reatar, até que desistiu de vez e começou a lutar como um condenado.

- E o seu é machucar os outros. - Namjoon atacou novamente e eu me sentei no sofá o olhando irritada.

- Nossa, mas o que foi que te deu hoje hein?

- Eu li seu próximo trabalho. - ele falou e eu me lembrei que ele também tinha acesso ao meu e-mail para esses trabalhos, eu estava trocando mensagens com uma garota sobre um futuro trabalho novo - Eu conheço ele.

- Kim Taehyung? - perguntei voltando a me jogar no sofá.

Eu tinha lido a mensagem dela somente por cima, eu nem tinha prestado atenção no caso, acho que a quantidade de números que tinha no pagamento que ela me daria acabou me distraindo. Era muito dinheiro, tanto que eu não pensei duas vezes em marcar um encontro para a conhecer melhor.

- A gente se conheceu na época da escola, ele é um cara legal Maeve. - Namjoon advertiu e eu ri fraco encarando o teto.

- Se ele fosse um cara legal sua namorada não teria entrado em contato comigo.

- Maeve...

- Olha Nam, eu marquei de me encontrar com ela amanhã, se eu achar que o caso é "simples", eu vou recusar. - falei e olhei meu melhor amigo vendo que ele parecia duvidar do que eu falava.

- E se não for?

- Vai ser a última vez que vou trabalhar com isso, ok? - avisei e ergui a mão tentando provar que estava sendo sincera - Eu tenho ideias demais sobrando para escrever uns 20 livros, não preciso procurar mais nenhuma aventura romântica inspiradora.

- A última? Você me promete?

Ainda com a mão direita erguida, eu aproveitei que a esquerda estava longe dos seus olhos e cruzei os dedos.

- Prometo.

Mas o que posso fazer? Uma vez filha da puta, sempre uma filha da puta.

Eu gosto de machucar os homens, posso ser a vadia mais sádica que eles irão conhecer e não quero mudar.

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