O Campeão de Lorual

Eles já seguiam há algum tempo pelo túnel escuro, úmido e com teias de aranha, aqui e ali.

— Afinal, que é esse tal de Kímel? — indagou Tassip.

Will disse o que sabia.

— Um mago da Escola de Alta Magia. Foi ajudante de um dos líderes do golpe necromante que depôs o Rei Corélius. Então, era um verme sem poderes que era conhecido como Kurzeki.

— Mas como assim? Isso não faz sentido. — emendou Josselyn.

— Não mesmo, querida. — veio a voz áspera de Hendrish. — Kímel foi meu colega na Escola, estudamos juntos há mais de cinquenta anos atrás. O moleque era um maldito gênio. O mais habilidoso mago daquela geração. Poderia ter se tornado o Grão Mestre, líder de todos os magos de Lacoresh, mas ao invés disso, partiu numa jornada, sozinho, para explorar ruínas dos antigos em busca de conhecimentos de magia perdidos. Foi ele que encontrou Arávner e o libertou. Mas aconteceu alguma coisa que o fez enlouquecer. Até onde sabemos, Arávner suprimiu os poderes de Kímel por muitos anos, mas após sua morte, há cerca de vinte anos, os poderes deles retornaram.

— Então vamos enfrentar um feiticeiro louco, maravilha! — reclamou Zane.

— O desgraçado veio para a Necrópole e subjugou a maioria dos remanescentes. Apenas eu e mais alguns conseguimos escapar. A verdade é que muitos de nós fomos enganados por Arávner e Thoudervon. As coisas vão mal e o idiota ainda está querendo piorar tudo.

— Do que está falando? — demandou Will.

— A escada — disse Hendrish. Não haveria tempo para maiores explicações.

— Escada?

— Sim, está logo ali. Apontou para uma região no breu adiante que nenhum deles podia enxergar. Exceto por Ted, que via tudo claro como se fosse meio-dia.

Com mais alguns passos a luz do cajado de Zane revelou os primeiros degraus.

— Isso vai dar aonde? — quis saber Rulf.

Tassip respondeu — Segundo o mapa, na praça principal.

— A Capitã é mantida na torre. — explicou Will. — Teremos que agir rápido. Estejam prontos para problemas.

Quando saíram na praça, a luz das luas, quatro delas no céu, deixava tudo razoavelmente iluminado. Estava tudo muito quieto.

— Isso está cheirando a uma emboscada — Tassip resmungou baixinho.

— Pode apostar! — uma voz sinistra e potente como um gongo preencheu o local.

Do meio de uma prédio arruinado, a luz quente como de brasas revelou a presença de um demônio. Tinha quase o dobro do tamanho de Rulf e sua pele foi ficando vermelha e luminosa até que chamas irregulares cobriram seu corpanzil aqui e ali. Uma enorme bola de fogo cresceu muito rápido entre as mãos do demônio e zuniu na direção do grupo. Zane se adiantou e apontou o cajado contra o projétil. Sua magia foi ativada a tempo desviando a bola para a lateral. Ela rodopiou e atingiu um templo no fim da praça fazendo soar uma forte explosão.

— Isso é um Vetzlan? Ou Marlakiano? — Zane olhou para Josselyn com os olhos arregalados.

O demônio saltou para fora caindo há poucos metros deles e deformando o chão com seu peso.

— Vou consumí-los! — bramiu o demônio.

Rulf disparou uma flecha no susto, mirando no olho esquerdo, mas ela se cravou na bochecha.

— Merda, errei!

O demônio rugiu, virando o rosto de lado por um instante e em seguida a flecha já havia virado pó.

— Errou? — Tassip não entendeu.

Ted avançou com a espada contra as pernas do demônio. O corte da espada na coxa fez escorrer sangue quente e que faiscava como lava. Rulf armou outra flecha alvejando novamente o olho esquerdo do demônio, mas antes de disparar, o corpo de Ted veio em cima dele chutado como se fosse um bola. Os dois se chocaram e caíram rolando, tamanha a violência do chute dado pelo demônio.

Tassip estudava o inimigo e como não havia nada a fazer, ele recuou procurando se esconder nas sombras. Hendrish também se afastava com cautela, deixando apenas Will, Zane, Yaren e Josselyn de pé e próximos ao local do confronto.

Zane se tremia todo. Suas magias de ataque eram todas baseadas em fogo. O que fazer? O que fazer? Ele perguntava a si mesmo, indeciso.

"Alguma ideia, Jô?" a comunicação mental entre Will e Josselyn era veloz.

"Vou tentar um ataque psíquico, e o senhor poderia tentar um golpe distante." ela respondeu sem olhar para ele e apertando a bandagem do seu ferimento no braço.

"Combinado!"

Josselyn olhou nos olhos do demônio, eram malignos e amarelos. Ele tinha terminado de chutar o Ted em cima do Rulf. Ela concentrou-se elevando a potência de seu Jii e disparou um ataque contra a mente do demônio. Ele foi atingido e piscou e fungou, irritado. Ao mesmo tempo, Will concentrou o Jii e girou no ar para fazê-lo fluir impulsionado por um chute dado no ar. O golpe distante fez o ar vibrar e atingiu o demônio no peito, provocando um estalo e fazendo aparecer uma mancha escura, a brasa e o fogo fugindo daquele ponto da pele.

"Está funcionando!" transmitiu Josselyn para Will.

Mas o efeito não foi o suficiente para impedir um contra-ataque. A mão do demônio queimou e ele atirou uma bola de fogo certeira em Josselyn. Ela ainda teve o reflexo de subir um escudo, mas a explosão que a engolfou acabou penetrando suas defesas. Ela foi projetada e caiu rolando em chamas. Yaren correu para acudi-la. Retirou seu manto e a cobriu para apagar as chamas.

Will seguiu com uma sequência rápida de movimentos disparando mais dois golpes distantes contra o demônio e se colocando perigosamente perto do oponente.

O demônio grunhiu ao receber os golpes, mas sorriu ao ver que o humano estava agora a seu alcance. Socou contra Will, mas acertou apenas o ar. Will rolou sobre o soco, tomou impulso e voou com dos dois pés contra o joelho do demônio. Will concentrou o Jii nos pés, conferindo dureza e peso de pedra a eles. O osso do demônio estalou e ele caiu furioso, girando e gritando.

O demônio estava com a perna quebrada, a fratura externa era feia e dela vazava o sangue quente e luminoso. Will estava rolando no chão para se levantar quando o demônio pegou sua perna e girou-o no ar, com violência, até completar o arco contra o chão pavimentado da praça. O som de estalos e do baque foram terríveis de se ouvir. Certamente mais de um osso havia se quebrado.

O demônio ficou sentado e daquela posição atirou uma bola de fogo contra Yaren. O ex-monge jogou-se no chão, ralando as palmas das mãos e escapou por pouco.

O demônio olhou zangado para Zane, que estava congelado, enjoado e sem ação. O mago deu um gritinho e saiu correndo.

— Covarde! — o demônio reuniu energia para mais um ataque, mas antes de disparar, gritou quando uma flecha certeira penetrou o olho direito. Hendrish achou que o disparo havia sido feito por Rulf, mas viu que ele ainda tentava ficar de pé e seu arco, estava caído a alguns passos de distância. Quem fez esse disparo? Olhava de um lado a outro.

— Vamos, de pé! — Yaren ajudava Josselyn a se erguer.

Rulf e Ted, também estavam de pé agora, mas Ted mancava muito de uma das pernas. Antes que mais alguém pudesse tirar proveito da situação e atacar o demônio, o zunido de outra flecha sendo disparada foi ouvido. Desta vez, o olho esquerdo do demônio foi atingido.

Uma torrente de xingamentos veio por parte do demônio em sua própria língua maldita. Ele estava cego.

Rulf foi para cima dele com sua espada e num golpe bem calculado, talhou o pescoço da criatura. O sangue fervente jorrou, e respingou em Rulf.

— Porra! Que merda! Esse coisa queima, Caraleo!

A cabeça do demônio pendeu para trás e o peso o puxou para cair deitado. Estava liquidado.

— Mestre Will! — gritou Josselyn ao perder o contato mental. Ela correu e quando chegou perto dele, virou o rosto. Estava todo destroçado. Acabara de dar seu último suspiro de vida.

— Quem nos salvou? — indagou Yaren, voltando-se para a região escura de onde teriam vindo as flechas.

Yaren escutou uma voz conhecida — Padreco? O que faz num lugar perigoso como este?

— Hégio?

— Quem mais?

— Conhece esse cara? — indagou Rulf.

— Bem, sim. Mas Hégio, você...

— Não é hora para conversarmos sobre isso.

— Ah, não é? hehehe — veio uma voz sebosa de algum lugar no alto. E em seguidas aplausos, sem muita empolgação.

— Meus parabéns! Conseguiram derrotar meu campeão. Eu poderia derramar um mar de mortos-vivos sobre vocês... Mas que graça teria isso, hã? Mesmo com a ajuda do zé dos alfinetes, seriam derrotados, não é?

— Devolva a Capitã, Lorual.

— Ora, cale essa boca, Greyhill! Você acabou com minha diversão, não é seu estraga prazeres desgraçado? Você devia sentir-se grato pelo que fiz e nunca mais voltar aqui. Mas não... Tinha que voltar! — a voz de Kímel estava cheia de ódio, mas logo mudou para escárnio. — E você Hendrish, devia se envergonhar... Se juntar a um grupo de cavaleiros que nem largaram as fraldas?

A flecha de Rulf zuniu para o alto, certeira contra a cabeça de Kímel Lorual, que aparecia do alto da sacada da torre alta e sombria. Mas simplesmente resvalou numa barreira invisível a poucos centímetros do alvo.

— Hehehe! Ridículo. — zombou. Subiu no parapeito e desafiou a todos — Vamos ver como vocês se saem contra um oponente de verdade! Hehehe...

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