18 | A verdade no diário

Volto para o meu quarto, confusa e totalmente abalada com a minha descoberta. Phillip era o homem com quem Ísis estava traindo meu tio esse tempo todo.

Agora as coisas começam a fazer sentido. Era por isso que ela tinha tantas fotos dele em sua mesa de cabeceira. Só não entendo onde foi que tudo se perdeu, será que Ísis matou tio Edmund para ficar com Phillip e quando Phillip descobriu terminou com ela? Ou foi tudo uma questão de dinheiro? Faz todo o sentido no fim das contas, Phillip estava interessado na herança, como a única herdeira que ele conhecia era Ísis ele estava dormindo com ela, então quando apareci…

Não quero acreditar nisso. Quero acreditar que Phillip é o jovem inocente que conheci até agora, mas como posso duvidar de provas? De fotos? Meu coração arde, partido em pedaços dentro do meu peito. Quero gritar, quero acabar com a dor que me invade e...

— Senhora? Está tudo bem? — Phillip pergunta, tendo aparecido na porta, dou um pulo com o susto, meu coração queima no meu peito.

— Estou bem Phillip — respondo, torcendo para que ele não questione a frieza em minha voz.

 Dois podem jogar esse jogo dr fingimento Phillip, e eu não estou no escuro mais.

— Está ocupada? Preparei uma surpresa para você, Senhora — questiona olhando os papéis espalhados pela cama.

Meu instinto me faz querer sumir com tudo aquilo, recolher todos os papeis as pressas e com ar amedrontado, mas isso apenas me faria parecer ridícula e suspeita. Sendo assim, apenas me levanto e sigo até ele, esperando que ao menos essa surpresa me deixe menos abalada que minha descoberta de manhã.

— O que são todos esses papéis, Senhora? 

— Documentos que encontrei no quarto de Ísis, vou dar uma olhada neles mais tarde, mas em sua maioria se tratam de recibos. Pode ter uma pista relevante em algum deles — alguma pista maior do que a que eu já achei, completo mentalmente. 

— Me conte se a senhora achar alguma coisa. Mestra — Phillip dá um pequeno sorriso e suas bochechas ficam vermelhas.

Sinto a dúvida martelar meu peito, um lado de mim achando suas reações tão insuportavelmente fofas, enquanto outra parte só quer quebrá-lo por tudo o que fez, comigo, com meu tio.

Sigo ele até o lado de fora da casa, até o labirinto de arbustos onde Phillip para e me estende uma venda.

— Isso é para mim ou para você? — Pergunto insegura, neste momento sou incapaz de ficar vendada ao lado de Phillip. 

— Para que prenda em mim mestra. Algo lhe aguarda no centro do labirinto. Só precisa chegar lá. 

— Essa parece uma tarefa fácil. Não é o único que passou tempo demais por aqui, Phillip.

Prendo a venda ao redor dos olhos de Phillip e ele me estende mais alguma coisa. A coleira. A coleira que dei para ele. Meu coração se aperta e por um segundo sou incapaz de fazer qualquer coisa, muito menos colocar o objeto ao redor de sua garganta. 

Demoro alguns segundos para retomar minha concentração e por fim acabo o fazendo. Preso a coleira, uma guia, similar a de um cachorro, se estende e eu a agarro. 

Seguro forte a guia e puxo Phillip pelos corredores de arbustos. Estou nervosa, meu coração bate acelerado e isso dificulta minha chegada ao centro. 

Acabo levando o dobro do tempo que eu levaria num dia normal, e quando chego lá é como se fosse outro lugar. Uma lona preta está estendida por cima da grama, uma mesa de madeira foi posta no canto e por cima dela diversos tipos de brinquedos sexuais, coisas que já usamos antes e coisas que eu nunca pensei em arriscar. Não deixo de notar que a vela que dei para ele está ali, e também alguns plugs anais. No centro de tudo uma cruz em formato de X, com algemas em cada uma das pontas. Meu coração se acelera ainda mais.

Empurro Phillip de modo que ele cai no chão, droga, não quero estar apaixonada por ele. Não quero viver isso depois do que vi, mas então porque meu coração dói de tanta necessidade por ele? Não falo nenhuma palavra conforme tiro a roupa de Phillip e prendo seus braços e pernas na cruz, dou graças a deus por ele estar vendado, assim não pode ver enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Quando Phillip está preso, me aproximo da mesa e pego um chicote, estalo-o primeiro em minhas mãos fazendo o barulho ressoar e vejo o corpo de Phillip estremecer pela antecipação. Passo o couro suave por sua pele e o atinjo, primeiro na perna e depois na barriga. Meus movimentos são fortes, brutais. Phillip se contorce e um “o” é formado em sua boca enquanto ele busca por ar.

Não dou tempo para que ele reaja, mais algumas vezes atinjo-o com o chicote, cobrindo seu corpo de linhas vermelhas onde o couro o atingiu. É uma cena linda de ver, não há como negar, Phillip realmente é um homem maravilhoso de ver. 

Impeço meus pensamentos de seguir por essa linha, me aproximo da mesa e pego um dos plugs, o maior que tem ali, pego também um par de prendedores de mamilos e volto para onde ele continua preso. Prendo os seus mamilos e Phillip arfa, em seguida enfio o plug em sua bunda. Sem preparação, sem exitar. Enfio sem dó o objeto de metal em seu corpo e Phillip grita alto.

— Cale a merda da sua boca, seu monte de bosta — reclamo numa voz ardilosa e volto para frente dele.

Phillip está mordendo com força seu lábio inferior, posso ver que ele está chorando, pois as lágrimas escorrem por baixo da venda. Meu peito dói, a vontade de consolá-lo ardendo dentro de mim. Fecho os olhos e a imagem de Phillip beijando Ísis volta a minha mente, a possibilidade dele estar comigo apenas por dinheiro me mata por dentro.

Me aproximo mais uma vez, em frente a Phillip pego suas bolas em minhas mãos e aperto-as com força enquanto me inclino o bastante para mordê-lo na altura das costelas. No momento que sinto o gosto metálico invadir minha boca, a voz de Phillip sua, trêmula, dolorosa.

— Vermelho. 

Não sei o que fazer, me afasto dele e observo o estrago que fiz, os furos que meus dentes fizeram em sua pele que agora vaza sangue. Meu peito arde, confuso e em choque. Que tipo de monstro sou eu? Sou a porra de uma casca vazia? Que merda foi essa que eu fiz? Por mais raiva que eu sentisse, eu não tinha o direito de fazer isso, não tinha o direito de torturá-lo dessa forma. “São, seguro e consensual” me lembro, aparentemente enfiei isso na droga da minha bunda.

— Me desculpe — digo quase sem ar, a realidade do que fiz me espancando na cara.

Phillip não responde, me aproximo dele e me pergunto se ele terá medo se eu o tocar de novo. Suspiro, não posso deixar as coisas assim. Tiro os prendedores e o plug, solto as algemas e Phillip praticamente cai por cima de mim. Por fim tiro a venda, a dor nos seus olhos me fazendo arrepender na mesma hora.

— Me desculpe — repito. 

— Me diga o que está havendo Senhora. Não é assim que costuma agir — Phillip diz, em uma voz trêmula e dolorida, passando os dedos pela barriga.

— Eu… Perdi a noção. Não me sinto bem, não deveria ter concordado em fazer nada hoje. Sou uma pessoa horrível, merda, olha o que fiz — suspiro.

Phillip fecha os olhos e respira fundo, em seguida olha profundamente para mim, é como se seu olhar estivesse encarando diretamente a minha alma de merda. Seus dedos correm por minhas bochechas e ele dá um sorriso frouxo.

— Não se culpe tanto, Senhora. Não me olhe como se eu fosse uma boneca quebrada ou um cachorro prestes a morrer. Estou bem, mas cheguei no meu limite. É para isso que temos uma palavra de segurança — sua voz é tão doce e cuidadosa que termina de quebrar meu coração machucado e eu simplesmente desabo — me conte o que aconteceu, Senhora. O que foi que te deixou assim?

— Ruby descobriu que Helena a estava traindo com seu ex — digo, apesar dessa não ser toda a verdade.

— Suas amigas do outro dia… — assinto, apesar de não ter sido uma pergunta e Phillip continua — não precisa se preocupar com isso, eu nunca trairia você. Estive com muitas pessoas antes Senhora, não negarei. Mas isso me ensinou muito, eu sei muito bem quem sou e do que gosto, ainda assim, nenhum dos parceiros que tive, fossem eles homens ou mulheres, nunca houve uma verdadeira conexão. A maioria nem ao menos vi uma segunda vez. É complicado achar alguém com quem se tenha uma verdadeira conexão…  

— Vi as fotos — interrompo Phillip que me olha com ar confuso — enquanto você preparava tudo isso aqui, eu entrei no quarto da Ísis, em sua mesa de cabeceira tinha uma caixa de madeira preta e dentro dela, inúmeras fotos suas, fotos em momentos íntimos. Me senti… Inexperiente, olhando para algumas delas. 

— Não tem problema nenhum em ser inexperiente, Senhora, todo mundo já foi inexperiente em algum momento da vida. Isso não é motivo para se envergonhar, como eu disse, não me conectei com nenhuma daquelas pessoas. Você é a única com quem eu estive por tanto tempo e isso é só o começo…

— Se tudo isso é verdade, por que tem uma foto sua beijando a Ísis no computador do meu tio? — Disparo sem conseguir evitar.

— Senhora, com todo o respeito, eu não tenho ideia de que merda você está falando. Nem em um milhão de anos eu me sujeitaria a beijar Ísis. Nem mesmo se me ordenassem. Odeio aquela mulher — Phillip tem um olhar convicto, que não deixa dúvidas de que ele está falando a verdade. — Converse comigo da próxima vez, jovem senhora, por favor, minhas bolas agradeceriam muito.

Dou uma risada e logo sinto meu rosto corar de vergonha.

— Me desculpe Phillip. 

— Já está desculpada senhora. Eu só… Não entendo nada disso, as fotos que a senhora diz ter achado no quarto, essa foto em que eu estaria beijando a Ísis, do que se trata tudo isso? 

— Eu não sei Phillip, mas juro que vou descobrir.

Volto com Phillip para dentro da casa e ele pede para ver as tais fotos, mas insisto em cuidar dele primeiro, é o mínimo que posso — que devo — fazer. Aplico um curativo no lugar onde meus dentes perfuraram sua carne, passo um gel calmamente nos lugares nos quais o acertei com o chicote e em suas bolas, massageio e acaricio sua pele até que o vermelho comece a se tornar cor de rosa e eu sinto sua pele acalmar. Quando tudo está bem novamente, entrego a caixa com as fotos para Phillip. Por um momento penso em ficar ali com ele enquanto ele olha, foto por foto, mas acho que Phillip pode apreciar um pouco de privacidade nesse momento, mesmo que eu já tenha visto cada uma das imagens, de toda forma a algo mais que posso fazer.

Volto até o quarto de Ísis, que continua exatamente da mesma forma que antes, olho dentro de cada gaveta de sua penteadeira, reviro seu closet, olho nos bolsos das roupas caras e dentro da gaveta de calcinhas — é ali que encontro algo realmente interessante.

No fundo da gaveta, escondido por baixo de várias das peças íntimas de Ísis, repousa um caderno de capa preta estofada e uma tranca. Na capa a palavra “Diário” está escrita. No momento que encontro o tal diário, eu sei, ali estará toda a maldita verdade. 

Me sento no chão e quebro a fechadura do diário com um pouco de esforço. Começo a ler o conteúdo e sou praticamente esmurrada pelas palavras. Ísis é obcecada por Phillip, o diário não é um registro, apenas trechos de pensamentos escritos a próprio punho por ela, e muitas das entradas são descrevendo gestos e atitudes de Phillip, meu estômago revira a cada nova nota que leio, coisas como “hoje Phillip me olhou de uma forma estranha, me avaliando de cima a baixo. Seus olhos correram por minha pele e eu quis dizer a ele exatamente como eu deveria ser avaliada, conheço seus gostos senhor Alferez e eu seria tão boa para você.” 

Como alguém pode ter um tom de voz tão calmo e, ao mesmo tempo, tão avassalador? Como seria sua voz gemendo meu nome e implorando enquanto eu te pego pela garganta e enfio minha linguagem sua boca?” depois disso a coisa parece piorar ainda mais, estou sem fôlego conforme sou espancada com trechos dizendo coisas como “Com quantas pessoas você ainda precisa dormir para perceber que sou a pessoa certa para você? Sou a droga da única que vai realmente te satisfazer e estou me cansando de esperar senhor Alferez.” 

Por fim, leio o trecho que arranca verdadeiras náuseas de mim “Se eu matasse Edmund e herdasse tudo isso aqui, você finalmente seria completamente meu. Estou ansiosa aguardando pelo momento certo, amor, veneno pode ser realmente muito útil.”

Fico perplexa, olhando as palavras, eu releio algumas vezes e tenho medo de continuar, não sei se consigo suportar ler as entradas seguintes. Respiro fundo e fecho meus olhos, depois de alguns segundos os abro novamente e viro a página. 

“Tudo está preparado, Dimitry tem sido um pobre coitado útil, uma boa companhia para aquecer os dias frios, uma boa fonte de conhecimento, apesar de não chegar aos seus deliciosos e delicados pés. Dimitry conhece alguém que tem contatos, ele me falou sobre um veneno chamado Cerbera odollam, aparentemente se trata de uma semente dada em um tipo de árvore na Índia. O consumo de apenas uma semente consegue matar um ser humano adulto. A semente age no coração e será fácil administrar, uma vez que misturada a uma boa comida apimentada seu sabor praticamente some. E o melhor de tudo, aparentemente ela passa despercebida em autopsias, é minha chance de ouro, amor, é a nossa chance de ouro.

Dimitri me falou sobre elas algumas semanas atrás, o pobre coitado realmente acredita que ficaremos juntos depois que Edmund morrer, ele tem uma cabecinha muito iludida e sonhadora. O amor faz realmente os homens acreditarem em coisas malucas. Ele disse que conseguia algumas sementes para mim, direto do mercado clandestino indiano, eu não acreditei, é claro, mesmo assim dei o dinheiro para ele, apenas algumas migalhas para alguém desesperado, foi o que pensei, mas hoje ele chegou com o pacote e o recibo — que tipo de mercado clandestino é esse que entrega recibos? 

Ainda hoje pedirei a cozinha para preparar curry bem apimentado para Edmund e colocar a semente triturada em seu prato, não deve ser muito difícil. No fim, Edmund sofrerá e morrer, mas eu finalmente estarei livre para você Alferez. Você não escapará de mim.”

Seguro o diário com as mãos tremulas e me levanto, vou para o quarto onde Phillip guarda as fotos de volta da caixa. Seu rosto vermelho. Não tenho tempo para processar como ele se sente. Apenas anúncio. 

— Precisamos ir para a polícia, acabei de descobrir o que aconteceu com meu tio e tenho provas disso.

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