12 | É isso o que quer?

Phillip me ajuda a caminhar, suas mãos envolvem meu corpo me segurando firme junto a ele. Subimos os degraus até o segundo andar e eu abro a porta que havia deixado destrancada. Phillip me ajuda até que eu chegue na cama, então me senta ali e se afasta, pronto para partir. Não quero que ele parta, não quero que se vá mais uma vez.
— Desculpe tirar você de sua festa — resmungo e ele se vira.
— Não peça desculpas jovem senhora, fiz questão de trazê-la até aqui, além disso, já estava vindo deitar de qualquer maneira. Festas longas não são o meu forte.
— Claro, seu forte é... — Me interrompo antes que eu possa fazer um comentário sarcástico que só vai piorar as coisas para mim.
Phillip fica em silêncio, olhando para mim, esperando que eu continue. Não o faço, isso não ajudaria ninguém, só me faria parecer infantil.
— Não acredito que arrumou outra pessoa tão rápido. — Falo simplesmente apesar de querer dizer mais. Como você conseguiu quando eu mal sei quem sou agora, quero dizer, mas de toda forma, que diferença faria? Ele nunca teve dúvidas sobre quem era.
— Perdão, jovem Senhora… Não sei do que está falando.
— Passei pelo seu quarto hoje de manhã — faço uma pausa olhando para ele, esperando um rubor em sua face que simplesmente não aparece — ouvi uma mulher… Te mandando ficar em silêncio.
— Não estive com ninguém essa noite, jovem senhora — o rosto de Phillip permanece repleto de confusão, até que ele arregala os olhos como quem faz uma descoberta — deve ter ouvido May, ela e Timothy estavam no meu quarto organizando os detalhes da festa de Holly. Ele não parava de falar e May estava com medo que Holly acabasse ouvindo algo. Ninguém me mandou ficar quieto e para falar a verdade nem mesmo queria eles ali. Foi apenas um mal-entendido.
— Então você está dizendo que…
— Não estava com ninguém, jovem senhora e não tenho a intenção de procurar alguém num futuro próximo. Não se preocupe com isso — Phillip desvia o olhar — agora, se me permite, preciso ir para o meu quarto…
— Fique aqui. Apenas essa noite, não me sinto bem.
— Não deveria ter bebido tanto, então — ele me repreende.
— Eu precisava beber, precisava… Apagar tudo o que estava preso… Aqui — coloco a mão fechada em cima de onde fica meu coração.
— Apagar com uma dose de bebida não adianta nada, jovem senhora.
— Então o que adianta Phillip? Me diga — falo alto e ele apenas me encara — se a bebida não pode apagar a dor, então o que pode? Me diga, eu preciso saber.
Phillip nada diz, ele apenas me fita, os olhos cheios de algo que não consigo definir, seria pena? Tristeza? Seus lábios apertados em uma linha fina.
— ME RESPONDE — grito — é a porra de uma ordem Phillip — desmorono.
As lágrimas caem dos meus olhos em uma enxurrada, meu coração parece esmagado dentro do meu peito. Sinto essa dor me rasgando por dentro, a bebida apenas tornando tudo mais intenso. Com sorte amanhã não me lembrarei de nada disso.
Levo minha mão ao peito e cravo minhas unhas ali, enquanto tento respirar. Sou uma visão patética de uma mulher completamente frágil e desestruturada. Phillip apenas observa enquanto eu me obrigo a voltar ao normal.
— Senhora… Rainha… Eu… Não posso fazer isso — Phillip se vira, dá passos ágeis em direção à porta e agarra a maçaneta no momento em que eu falo.
— Eu te amo.
Phillip trava, ali com a mão na porta, observo seus ombros subirem e descer enquanto ele não diz nada. Os segundos passam e Phillip não se move sequer um milimetro. Fecho os olhos, esperando que ele saia, esperando ouvir a qualquer momento o baque da porta se fechando por trás dele. Minhas pálpebras fechadas não impedem as lágrimas de rolar.
— Eu também te amo, Agatha.
Ouço as palavras depois de um tempo considerável de silêncio. Quando abro os olhos, Phillip já não está mais no quarto. Me pergunto se isso tudo foi apenas uma grande alucinação, ouvi o que eu queria, como um presentinho deturpado do grande teor alcoólico correndo por minhas veias. Me agarro as palavras mesmo assim, fazendo-as embalar meu sono e me levar para outro mundo.

Acordo com alguém martelando minha cabeça infernalmente, com vozes altas e pulos por cima da minha cama.
— Helena, desce dai, que droga. Vai acordar ela desse jeito — ouço a voz da minha chefe dizer.
Abro vagarosamente os olhos e vejo Helena, empoleirada na minha cama, pulando como uma criança, enquanto Ruby a fuzila com os olhos, furiosa.
— Tarde demais — resmungo e me sento na cama — o que estão fazendo aqui?
— No seu quarto ou na casa? — Ruby pergunta, tentando avaliar quão ruim estou, imagino.
— No quarto, eu ainda me lembro de trazê-las aqui e das suas caras de espanto.
— Viemos ver se não se engasgou com o próprio vomito e morreu durante a noite — Helena responde com um ânimo ligeiramente macabro, ao mesmo tempo, em que Ruby diz — viemos ver se está bem.
— Estou bem e não engasguei com meu vômito como podem ver. Felizes? — Pergunto então me levanto.
— Totalmente — Helena responde — escuta, isso é tudo seu mesmo? Essa casa é enorme!
— Foi a herança do meu tio para mim — respondo enquanto pego uma roupa e me encaminho para o chuveiro.
Tomo um banho longo, esperando que a água quente possa tirar um pouco a dor que pulsa na minha cabeça. Me visto com uma camiseta básica, uma jaqueta oversized e uma calça jeans justa. Então volto ao quarto. Ruby e Helena continuam por lá, admirando a vista da janela.
— Escute Agatha, não que eu esteja reclamando, mas porque mesmo você trabalha para mim? — Ruby pergunta quando me junto a elas.
— Pelo privilégio das folgas as terças? — Digo brincando e Ruby estreita os olhos — porque não tenho um tostão. Não posso vender a casa e tenho que viver aqui pelos próximos dois anos. Ainda terá que me aguentar por um tempo Ruby. Agora vamos, preciso de café.
— Devia experimentar o bolo, guardaram um pedaço para você e está simplesmente divino, além disso, açúcar faz bem para ressaca — Helena diz enquanto descemos as escadas.
Tomamos um grande café com tudo o que temos direito, os funcionários cumprimentam Helena como se a conhecessem há muito tempo e tudo parece correr bem. Mostro a casa para elas e deixo que elas se percam no labirinto. Até que em algum momento Helena finalmente pergunta.
— Phillip e você, o que aconteceu quando ele te deixou no quarto? — Ruby a fuzila com os olhos — que foi? Estou curiosa, ela passou tanto tempo falando dele ontem afinal.
— Nada aconteceu, tentei conversar, ele me dispensou… Fim da história, mais uma vez — respondo, me lembrando das palavras, minha pequena alucinação.
— Quando ele subiu com você e não desceu mais… Achamos que tinham se resolvido.
— Ele disse que ia dormir — esclareço.
— Ele deve ter ido dormir em outro lugar então, porque um dos empregados, Dimitri, o procurou em seu quarto. Ele foi perguntar a Phillip se você estava bem e ele não estava no quarto — Helena solta.
Ruby a fulmina com o olhar, e Helena se apressa a se justificar. Não sinto ciúmes dessa vez, Phillip disse que não tinha outra pessoa e eu acredito nele. Mesmo assim me sinto incomodada, por que ele me disse que ia dormir? Por que ele só não me contou que ia para outro lugar?
Durante o resto do dia ninguém mais faz perguntas, enquanto elas passam o dia comigo, conversando e contando histórias sobre suas vidas, Phillip também não aparece. Meu peito ainda dói ao pensar nele, w por isso tento evitar qualquer pensamento, qualquer coisa que pode envolver ele. Para isso, é útil ter minhas amigas aqui. No fim do dia, no entanto, elas finalmente se vão.
— Tem certeza que não querem ficar? — insisto uma última vez, apesar do táxi esperando do lado de fora. Elas negam, mais uma vez.
— Descanse amanhã Agatha, vou abrir a loja apenas durante a manhã. Tenho alguns assuntos para resolver a tarde — Ruby diz enquanto acompanho-as até a porta.
— Tem certeza? Estou ficando mimada assim — reclamo.
— Claro. Já ia te dispensar do trabalho amanhã de qualquer jeito. Não é um privilégio, acredite em mim.
— Ok, já que insiste o que mais eu poderia fazer — dou de ombros de brincadeira — tchau meninas.
Elas partem e eu volto para dentro, subo as escadas e antes que consiga me impedir, bato na porta de Phillip. Ninguém responde, então subo mais um andar e vou até o sótão. Chamo por ele, mas, mais uma vez, ninguém responde. Entretanto, quando tento virar a maçaneta a porta se abre.
— Você deveria trancar a porta quando está aqui. Alguém pode entrar se ver a porta aberta — digo assim que entro.
Olho pelo quarto e sou espancada por memórias, Phillip e eu, agarrados, beijando e fodendo por tantas partes desse cômodo. Phillip está na janela, olhando para fora. Me pergunto se ele também se lembra de nós quando pisa aqui. Talvez não, tantas pessoas antes de mim já devem ter passado por esse quarto, sou apenas mais uma memória.
— O que está fazendo aqui, Senhora? — Ele pergunta, sem usar meu nome. Ele não usaria meu nome, claro que não. Phillip nunca me chamou de Agatha.
— Tenho algo para te mostrar, algo que pode te ajudar com a sua… Pesquisa.
Phillip me olha, finalmente, seus olhos parecem vermelhos, quero perguntar o motivo, mas tenho medo da resposta, então como a covarde que sou, não o faço.
— Está dizendo sobre seu tio?
— Sim, eu achei uma coisa. Acho que pode estar certo Phillip. Não acho que meu tio morreu naturalmente.
— Certo, o que achou? Me mostre — Phillip parece quase cético quando vem até mim e estende a mão.
— Está no meu quarto, na minha bolsa.
— Certo, vamos até lá — ele nem tenta esconder sua descrença dessa vez.
Agarro seu braço quando ele passa por mim e encaro seus olhos com um olhar firme.
— Não duvide de mim, Phillip, porra, eu nunca menti para você. Não te levaria até meu quarto se não tivesse um motivo real. Não sou esse tipo de pessoa.
— Só é engraçado como a senhora não acreditou em mim e logo depois de tudo o que aconteceu você coincidentemente achou algo na casa que eu em minhas muitas procuras nunca achei.
— Não achei nada na casa, achei no carro, no audi. Vim te dizer porque prometi que te ajudaria com isso, mas se não acredita. Tudo bem, continue aí sendo a porra de um babaca, não precisa ir até meu quarto, fique aqui se lamentando enquanto resolvo isso sozinha. É isso o que quer?
Phillip me encara por um momento sem dizer nada, minha mão ainda segura firme seu braço. Meus olhos seguem até sua boca, estamos próximos demais. Eu não teria dificuldade me jogar sobre ele e beijar sua boca, mas seria consensual? Phillip ia gostar caso eu o beijasse aqui e agora?
— Não — Phillip diz.
— O que está dizendo? — Pergunto quase gaguejando, o sangue subindo para o rosto, como ele sabia o que eu estava pensando?
— Eu disse que não Senhora, não quero ficar aqui me lamentando. Desculpe ter duvidado de você. Fui um babaca, você tem razão.
Abro a boca, surpresa e aliviada. Como pude ser tão ridícula. Claro que ele não leu meus pensamentos. Suspiro, nesse momento vejo Phillip engolir em seco enquanto olha para minha boca. Me aproximo um pouco mais dele e ele nada diz, mais um pouco e ouço sua respiração acelerada. Puxo seu braço levemente em minha direção e Phillip caminha até mim, poucos milímetros impedem que meu corpo encoste no seu. Consigo sentir sua respiração em minha pele, como ele deve conseguir sentir a minha.
— Quero te beijar Phillip — digo num sussurro — quero tão desesperadamente beijar você. Você quer isso?
— Eu… Não posso fazer isso, independente de querer ou não. Já não tenho mais… confiança.
— Não foi minha culpa, Phillip… Eu não podia prever o que ele faria. Eu não quero ele, deixei isso bem claro. Eu disse que chamaria a polícia.
Phillip me encara, parecendo pesar minhas palavras. Dividido sobre o que dizer em seguida, que atitude tomar, então eu continuo.
— Deixe-me reconquistar sua confiança. Por favor — peço, com um carinho em sua face.
— Um beijo não vai restaurar minha confiança Senhora.
— Sei que não, mas vai restaurar algo em mim. Algo que se partiu, aqui — coloco sua mão em meu coração e ele sente enquanto meu coração bate mais forte do que deveria.
Phillip tira sua mão do meu peito, e por um momento sou tomada pela tristeza, a dor de ser recusada mais uma vez.
No entanto, Phillip passa as mãos pelas minhas costas e encosta meu corpo no seu. Em seguida, ele se inclina e sua língua invade minha boca.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top