III - O aniversário do Capitão Malvado
Palavras: 3397
Miss Do Vale
15/06/2020
SALVA PELO GONGO.
Só essa expressão poderia definir o que os gritos e passos apressados pela divisão poderiam significar. Ataque de hollow no Rukongai! Ataque no Rukongai!
Antes que Matsumoto pudesse falar mais alguma coisa, Mashiro pulou pela janela e, com um shunpo, desapareceu da Nona Divisão.
Agora, já de noite, retornava mais cansada do que previra. As luzes estavam todas acesas e o som de música alta era ouvido de longe. De onde estava, avistou Kensei a conversar com Hisagi e outros integrantes da Divisão.
Esticou os braços e estalou o pescoço. A missão havia sido mais cansativa do que imaginara a princípio. Não apenas alguns hollows invadiram a Soul Society dessa vez, mas vários deles. No Rukongai, onde as almas eram indefesas e o estrago de uma luta descuidada — sua maior habilidade, admitia — era sempre multiplicado; Mashiro sabia que todo cuidado era pouco.
A verdade é que por anos dependera de sua parte hollow; agora que não podia usá-la — não sem os devidos preparos e cuidados — se sentia drenada.
No fim, enfrentara mais do que hollows comuns, como Adjuchas famintos e tão aterrorizados que a morte lhes parecia um prêmio — o qual Mashiro lhes concedeu de bom grado. Não podia reclamar da luta. Fora boa. Melhor do que esperava, na verdade, mas não podia negar que estava esgotada.
Estava tão cansada que nem parecia ter dormido a maior parte do dia, escondida, obviamente, no escritório de Kensei enquanto ele estava fora, numa Reunião de Capitães.
Perguntava-se se conseguiria escapar direto para seu quarto, mas seu estômago roncou na mesma hora. Ficaria mortificada se tivesse um pingo de vergonha na cara.
Com um suspiro, caminhou até a cozinha, evitando, graciosa, trombar em quem quer que fosse. Ansiava por bolinhos de arroz, mas, para seu desespero, tudo que encontrou foram petiscos insalubres e muito saquê, além de cerveja. Cara enfiada na geladeira, pegou uma cerveja e virou-a com tudo na boca, matando a sede de uma vez por todas.
Exceto que cerveja não mata a sede. Ela descobrira isso rapidamente no Mundo Real quando, pela primeira vez, ficara bêbada.
E então bocejou, cansada. Estava prestes a sair da cozinha e correr para seu quarto. Sabia que trombar com Kensei não seria uma boa ideia — ele ainda parecia disposto a matá-la desde o encontro em seu quarto —, quando se chocou com Matsumoto e seus enormes peitos enfiados em sua cara.
"Agora não vai ter ninguém pra te salvar!"
"SOCORRO!!!"
九
Se Kensei tivesse alguma escolha, certamente optaria por não ter uma festa de aniversário, ou, se fosse possível, não participar dela.
Não era como se alguém estivesse ali por ele — e se o mais do que bêbado Capitão da Oitava Divisão estivesse certo como comumente estava —, ou se importasse de verdade para saber quantos anos estava comemorando.
Nem ele sabia mais. Quando se vive tanto tempo, comemorar cada aniversário é uma inutilidade: só faz o tempo passar mais devagar. Também não era como se Kensei estivesse nostálgico. Só não tinha saco mesmo.
Viu-se cercado por mais gente do que poderia reconhecer, graças ao trio maravilhoso de fofoqueiros da Soul Society. Os tenentes Matsumoto e Abarai juntamente com o Capitão Kyouraku eram os responsáveis pelo fato de sua divisão estar mais lotada do que o comum — abarrotada, na verdade.
"Ah não faça essa cara, Kensei-kun." Shunsui escorou-se nos ombros do Capitão e entornou a garrafa de saquê de uma vez. Limpou os lábios com as costas da mão apenas para, logo em seguida, soltar um nada educado ou aromático Ah. "Já deu uns beijinhos hoje?"
A pergunta nada respeitosa do Capitão fez com que o grupo ao redor de Kensei risse. A ninguém escapou o duplo sentido por trás de beijinhos.
A verdade é que não se engajava em tal atividade há um bom tempo. Desde que começara a calar Mashiro, sentia-se incrivelmente necessitado. Estava frustrado. Não poderia colocar de outra maneira.
Não que não gostasse de seus beijos de tirar o fôlego. O problema residia exatamente nisso. Gostava demais. Em sua mente, três vozes batalhavam pelo controle. Seu hollow a desejava como nunca — e se Kensei fosse honesto com seus desejos, admitiria que seu hollow sempre a desejara. Sempre. Era importante frisar —, o espírito de sua Zanpakutou achava que ainda era cedo — temia que sua relação com Mashiro fosse permanentemente arruinada. Mashiro era, afinal, mais do que alguém por quem nutria impulsos e desejos sexuais: era uma companheira de vida, irritante, verdade, mas ainda a única que sempre estivera ao seu lado — e Kensei, pessoalmente, achava que o preço a se pagar era muito alto.
"Pela sua cara eu vou assumir que não. Pobre Kensei!" Deu uma palmadinha em suas costas num gesto de quem sentia pena.
"Ele tem essa cara desde sempre. Nunca beija." O comentário veio de Lisa, que adentrava a varanda. Estava espiando a conversa alheia. De novo.
Se não estivessem cercados por tantas pessoas, talvez tivesse tentado acertar a cerveja que bebia na cabeça dela. Só pra observar se suas expressões faciais mudariam tanto assim.
"Oh, Lisa-chan! Quanto tempo! Sentiu minha falta?"
"Nunca!"
Kyouraku tentou abraçá-la, mas ela se afastou, fazendo com que ele tropeçasse. Um sorriso adornava seus lábios.
"Cadê a Mashiro?"
A pergunta, ainda que inocente, fez com que Kensei se enchesse de raiva.
"Por que diabos eu deveria saber onde ela está?"
"Ui! Calma, valentão!" Lisa ergueu as mãos em sinal de quem vinha em paz. "Só estava perguntando! E não necessariamente pra você, que fique registrado."
Foi então que ouviram o grito apavorado de Mashiro ecoar pelo jardim da Nona Divisão.
Ao que parecia, a marmota conseguira atrair a atenção de todos para si. Kensei virou-se para encará-la, braços cruzados sobre o peitoral.
Ela corria de uma endiabrada Matsumoto, que gritava, demandando explicações sobre vai-saber-lá-Kami-o-quê, e de uma preocupada Hinamori, que tentava defendê-la.
"Já achei. Valeu." Lisa estava pronta para saltar da varanda quando olhou para trás e apontou um dedo para o seu ex-capitão, "Você!"
Kyouraku removeu o gargalo do saquê da boca e a encarou. Uma expressão assustada, muito falsa obviamente, estampava sua face.
"Se ousar magoar sua tenente eu volto aqui e te dou uma surra."
"Pode deixar, Lisa-chan!"
"Comporte-se, viu!"
九
Mashiro fechou os olhos ao finalmente ser apanhada por Matsumoto e sua gangue.
Estava lascada.
Sabia que havia apenas uma quantidade limitada de vezes que poderia fugir de um assunto ou contar com a sorte sem levantar maiores suspeitas.
Essa não seria uma delas.
Ou inventava uma desculpa, por mais esfarrapada que fosse, ou... só que não havia ou. Kuna Mashiro era uma péssima mentirosa. Se escapava de Kensei era mais porque o irritava do que ele caía em suas mentiras. Nunca era porque conseguira inventar uma desculpa boa o suficiente para alguém acreditar.
"E então, Kuna Fukutaichou..." Matsumoto se aproximou, mãos apoiadas nos quadris. "Pode contar o que está rolando entre você e o seu Taichou. Agora."
Mashiro engoliu em seco.
"Do que você está falando?" Teria mordido o dedo em nervosismo, mas tinha os braços presos por Nemu. Ela ainda não sabia se era pior ser pega por Nemu ou Soi Fong. "Ai!"
"Que merda vocês tão..." Hiyori gritava ao se aproximar do grupo bem no fundo do jardim. Lisa chegava pelo outro lado, menos surpresa do que a amiga.
"Quanto tempo, Hiyori-chan! Lisa-chan!" Hinamori exclamou ao aproximar da dupla. "Nós estamos... Hm... É, bem... Eu nem sei como explicar." Sentia-se bastante envergonhada e, ao contrário de Matsumoto, parecia incomodada com o bullying coletivo.
"Oi pra vocês também, Hyiori-san e Lisa-san!" A tenente as cumprimentou de longe, ainda focada na face apavorada de Mashiro.
"Vocês estão torturando a Mashiro por quê?"
"Torturando? Nós?" Nemu questionou, seus olhos focados nas duas vizards. "Não se pode qualificar uma pergunta não respondida sobre uma missão arruinada como método de tortura. Pra isso..."
"Obrigada pela explicação, Nemu-san," Matsumoto a interrompeu, voz pingando com sarcasmo. "A gente nem sabia a diferença."
"E aí, vão explicar que merda é essa ou não?" Hiyori cobrou, cruzando os braços sob os seios e batendo o pé autoritariamente no chão.
"Explicar que merda?"
九
"Se você quiser," Hitsugaya começou, logo após alguns convidados saíram de perto, "eu obrigo a minha tenente a se afastar da sua."
Kensei se voltou para o diminuto Capitão ao seu lado. Hitsugaya Toushirou não media mais do que 1.35 — era menor do que Mashiro — e, no entanto, exalava autoridade. Embora soubesse que não se tratava de uma criança, a aparência e os modos muitas vezes infantis o faziam se questionar se Hitsugaya não deveria estar na escola ao invés de comandando uma divisão inteira.
Mais do que rapidamente sacudiu a cabeça em negativa.
De primeira, questionara-se se talvez não fosse melhor ajudá-la, assim poderia escapar também da roda maçante e da companhia mais do que desagradável de Shunsui. Décadas se passaram e seu comportamento abusado não mudara em nada — se é que não piorara. Mas logo percebeu o quão louco deveria estar por sequer pensar em ajudar a papagaia brega.
Se ele podia aguentar uma festa inteira e pessoas que nem conhecia a lhe cumprimentar, Mashiro também podia dar conta de algumas tenentes em sua cola.
"Hm..." Hitsugaya assentiu. "Matsumoto pode ser bem malvada de vez em quando. Kuchiki Taichou bem sabe disso..."
Kensei arriscou um olhar para o Capitão da Sexta Divisão ao seu lado direito. Nenhuma resposta foi ouvida.
"Matsumoto espalhou por aí que o Capitão Kuchiki um dia teria de dar a mão de Rukia para o Kurosaki ou Abarai em casamento."
Ainda assim, diante da menção do escândalo que sacudiu a Soul Society por semanas a fio e que lhe rendera boas horas explicando aos Anciões de que tudo não passava de um engano — com uma Rukia muito transtornada ao seu lado ao resmungar pedidos de desculpas e a se abaixar pateticamente em reverências que até ele considerava desnecessárias —, o estoico Capitão se manteve quieto.
Kensei parecia pasmo diante da atitude irreconhecível do moleque de cem anos atrás que ficava irritado por ter sua fita de cabelo arrancada pela então Capitã da Segunda Divisão.
"A verdade é que Matsumoto estava tentando saber se o Capitão aceitava alguém sem recursos em sua família. Sempre teve interesse em se casar com o Kuchiki Taichou."
Se Byakuya estava incomodado pela sugestão de Toushirou não deixara transparecer.
"E vender a revista cujo homenageado era o Byakuya-san!"
Kyouraku os lembrou, aproximando-se novamente. Dessa vez jogou os braços sobre os ombros de ambos os Capitães da Sexta e da Nona Divisão. O Kuchiki se livrou dele com elegância e rapidez, enquanto Kensei o empurrou para o lado com certa brutalidade.
Ajeitou as luvas alaranjadas em suas mãos com aparente desinteresse, mas a verdade é que a conversa sobre a revista capturara sua atenção.
"Ai ai... Nem falem dessa edição especial pro Byakuya-san... Tsc." Shunsui se aproximou mais uma vez. Ao ver os dois Capitães se afastando ergueu as mãos num sinal de quem não os tocaria de novo. "A honrada família Kuchiki foi a fofoca da vez de novo... E isso que você nem gosta de chamar a atenção como eu, não é, Byakuya-san?"
"A comparação dos motivos pelos quais nos tornamos o centro das atenções é infundada e ridícula. Você faria bem em se lembrar disso, Capitão Kyouraku."
A resposta fez com que Kensei sorrisse de canto. Bem... Ninguém muda tanto assim. O mesmo pivete arrogante estava lá, ainda que escondido sob uma faceta de autocontrole e estoicismo.
A patada não teve o efeito esperado e, ao invés de ficar quieto, Shunsui riu, se pelo álcool em seu organismo ou pelo quão previsível o Capitão Kuchiki poderia ser, ninguém saberia dizer. Talvez um misto dos dois.
Em silêncio, os quatro ingeriram suas bebidas até que Hisagi se aproximasse e, um pouco alterado pelo álcool, pedisse para falar com seu Capitão e com Shunsui.
九
"Hein?" Shinji questionou ao se aproximar do grupo de mulheres no jardim. "Ah, Lisa-san!"
Hiyori bateu com o pé no chão novamente.
"Hiyori-san..." O loiro respondeu quase revirando os olhos. Sabia muito bem que tomaria uma surra caso a ignorasse mais uma vez.
"E então...?" Lisa comentou, muito embora soubesse exatamente do que se tratava aquele bullying coletivo no jardim.
Matsumoto indicou com a cabeça para que Nemu soltasse Mashiro e se voltou para os três vizards, um sorriso encantador em seus lábios.
"Só pressionando a tenente Kuna a respeito das fotos do Taichou Muguruma."
"Mas que droga de desculpa esfarrapada, Matsumoto Fukutaichou," Hiyori atalhou, claramente não convencida com a justificativa oferecida.
"É só isso mesmo?" Lisa questionou, olhos focados na tenente da Décima Divisão.
Obviamente não acreditara em Matsumoto, mas, ao contrário de Hiyori, que ainda parecia estar no escuro acerca da real razão, Lisa já sabia exatamente do que se tratava.
Entretanto, não podia concordar com o método da tenente. Mashiro era facilmente assustável quanto a certos assuntos, sendo esse um deles. Lisa duvidava que ela própria entendesse o que estava de fato acontecendo entre Kensei e ela.
Olhou para Mashiro que ainda era encarada por uma assustadora Nemu de perto.
"Deixa eu ver se entendi..." Shinji tocou o queixo como se precisasse pensar muito a respeito. "Vocês precisam de fotos do Kensei pra edição especial desse mês..."
"Sim," Hinamori respondeu. "Corremos o risco de perder a sede da Associação caso isso aconteça, Taichou..."
"E vocês foram pedir ajuda pra Mashiro? Pra Mashiro? Essa Mashiro?" Hiyori questionou como se a ideia fosse a coisa mais estúpida que já ouvira.
"Bom, o Muguruma Taichou negou ser modelo tantas vezes que nós..." Matsumoto começou, mas foi interrompida por Nemu.
"Fora de cogitação. O Capitão simplesmente se nega a tirar as fotos. Acreditamos que a tenente Kuna fosse a melhor opção por sempre estar ao redor dele."
"Que ideia de merda!" Hiyori exclamou. "O Kensei nunca concordaria em dar essas fotos pra Mashiro."
A tenente de cabelos verdes concordou com a cabeça.
Finalmente alguém lhe entendia!
"Tecnicamente pensamos em fotografá-lo às escondidas," Nemu explicou.
"Nemu!" Matsumoto quase gritou, puxando a temente para si com um solavanco. "Fica quietinha vai..."
"Cara, vocês têm noção da merda que estavam fazendo? O Kensei vai matar a coitada quando descobrir!"
"Olha, dessa vez sou obrigado a concordar com ela," Shinji comentou.
"Exagerados..." Lisa soltou, revirando os olhos. Como se Kensei pudesse um dia encostar um dedo em Mashiro. Se mesmo quando estavam aprendendo a controlar seus novos poderes, ele nunca a ferira — ainda que tivesse machucado todo mundo durante os treinos, Mashiro parecia ser a única a sair ilesa.
"Como assim é obrigado a concordar comigo dessa vez?"
Hiyori arregaçou a manga da jaqueta e o puxou para si. Quando ele estava suficientemente próximo, acertou-lhe com a mão esquerda na cabeça; com a de baixo, meteu-lhe um golpe doloroso no estômago.
Shinji gritou, mas não deixou barato. Puxou os fios loiros de Hiyori enquanto tentava desequilibrá-la com as pernas.
Preocupada, Hinamori avançou até eles tentando separá-los, mas de nada adiantou.
"Pronto... começou!" Lisa suspirou, sabendo que a briga dos dois duraria uma eternidade. Virou-se para o lado, à procura de Mashiro, que não podia ser vista em lugar algum.
"De novo não!" Matsumoto grunhiu em desespero. "Ai que droga!"
九
Mashiro respirou aliviada quando finalmente conseguiu escapar das garras da tenente da Décima-segunda divisão. Se já não era fácil lidar com a Capitã Soi Fong, o que poderia dizer de Nemu?
Graças a Kami, Soi Fong estava longe, muito ocupada tietando Yoruichi e tretando com Urahara para prestar atenção ao grupo.
Mas enquanto não sentira falta da Capitã, certamente sentira de Nanao. Ela era a única que se atrevia a defendê-la. Havia Rukia, também — mas ela estava ocupada, provavelmente batendo no tenente Abarai —, e Hinamori, mas suas súplicas fracas e nada eram a mesma coisa. De acordo com Shunsui, Nanao ficara trabalhando — a eterna workholic. Até mesmo alguém desligada e preguiçosa como Mashiro sabia que Shunsui ultrapassava qualquer limite da preguiça. Se sua tenente precisava trabalhar enquanto todos comemoravam é porque ele não fizera nem metade do que deveria.
Mas Mashiro não poderia estar mais agradecida ao fato de Hiyori e Shinji serem mais escandalosos do que ela — e admitia que, às vezes, pesava a mão nos escândalos.
De qualquer forma, graças aos dois, conseguira escapar.
Dessa vez correria direto para seu quarto antes que trombasse em mais alguém — ou antes que desmaiasse; a excelente combinação de álcool e nada de comida começava a surtir efeito.
Caminhou pelos corredores da Divisão, pensando em pegar um remédio para dor de cabeça no escritório que dividia com Hisagi quando ouviu três vozes abafadas vindo do cômodo ao lado.
Uma delas pertencia ao próprio Hisagi, a outra a um muito bêbado Capitão Kyouraku e a de Kensei.
Um pouco zonza, encostou-se perto da porta e começou a ouvir o que falavam. Sabia que virar meio litro de cerveja — misturado com saquê, que fique claro — de uma vez não fora muito inteligente de sua parte. Mas quando é que fazia algo realmente digno de ser reconhecido como inteligente?
Se Kensei era prova de algo, ele certamente vivia a chamá-la de burra.
Hic! Hic! Hic!
Cobriu a boca com as mãos e controlou a vontade de rir. Ops! Parecia que o álcool já começava a fazer efeito. Mais do que deveria.
"Se você quer conquistá-la..." Shunsui dizia com um toque divertido em sua voz. "Você precisa entender o que ela quer."
"Como assim?" Hisagi respondeu, sua voz tão soava tão afetada quanto a dela própria.
Pelo visto Hisagi-kun bebeu tanto quanto eu. He he! Hic! Hic!
"Você é burro ou só se faz?" A reprimenda só poderia vir de Kensei, o que fez com que Mashiro risse baixo, graças ao fato de ter suas mãos enluvadas a abafar o som costumeiramente estridente de sua risada.
"Hisagi-san... Já ouviu falarem que todo mundo tem seu preço?"
E então só havia silêncio, o que fez com que a co-tenente franzisse as sobrancelhas em confusão. Até que ela percebeu que, na verdade, havia aberto a porta ao se apoiar demais na superfície.
Ops!
"O que diabos você faz aqui, Mashiro?" Kensei perguntou; irritação começando a tomar conta de si. Não conseguia distinguir se pelo fato de que a vira novamente sem que ela lhe oferecesse uma desculpa plausível para seus atos, ou porque ela estava bêbada. Quem é que havia lhe deixado beber tanto?
"Abrindo a porta?" respondeu em tom de pergunta. "Kensei bobo!"
E então estava caída no chão, seu corpo tremendo levemente com uma avalanche de soluços.
"Kuna Fukutaichou!" Hisagi exclamou, correndo até ela.
Kensei estreitou os olhos. Não permitiria que ninguém tocasse em Mashiro em tal estado.
"Saiam!"
"Mas Taichou..."
"Agora!"
Quando foi obedecido e se viu sozinho no cômodo com a marmota, caminhou até ela, ajudando-a a se levantar. A respiração já pesada raspava contra abertura de suas vestes. Ele podia distinguir um aroma de cerveja e saquê a exalar de seus lábios entreabertos — a papagaia louca não apenas bebera demais, mas bebera algo misturado! Por Kami! Mashiro ainda enlouqueceria Kensei completamente.
Apoiou os braços dela ao redor de seu pescoço, os corpos levemente pressionados contra o outro. Quando falou, sua voz tocou o pescoço dela, fazendo com que Mashiro suspirasse em deleite.
"Quanto você bebeu?"
"Óbvio que uma garrafa inteira, Kensei bobo!" Ela levantou os dedos da mão para indicar a quantidade, mas ao invés de mostrar apenas um, mostrava o indicador e o dedo do meio. Franziu o cenho. "Talvez suas, he he he!"
Ele queria responder e chamá-la de tola, mas sabia que tinha sido o único a ensiná-la que não se abria uma cerveja para deixá-la de lado. Se havia aberto, que a terminasse. Se abrira mais de uma, que terminasse todas.
Sentiu os braços ao redor de seu pescoço se apertarem mais, como se ela estivesse lutando para ficar acordada. Estava prestes a guiá-la até a cadeira quando sua voz sonolenta o fez congelar no lugar.
"Feliz Aniversário, Kensei malvado!"
E então o barulho nada agradável ou sensual de seu ronco se fez ouvir no cômodo. Revirando os olhos, o Capitão não pode deixar de se questionar porque não a detestava mais do que deveria.
Ah, e como a detestava!
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