21 | no inferno

Eles ficam trancados até o anoitecer.

Tate não para de tentar sair de seu quarto, anda de um lado para o outro, se joga contra a porta, cai no chão, se levanta e tenta tudo de novo.

A senhora Trevor fica sem ter para onde ir, com todas as portas fechadas, andar pelos corredores perde o sentido. Ela se senta de frente para a porta do Tate, e observa, sem entender, sem saber onde Alex pode estar. A garota não fez mais qualquer ruído.

— Onde ela está, Tate? — a senhora Trevor pergunta mais uma vez.

— Eu não sei, eles a levaram — Tate responde com a voz embargada.

— Eles quem? — a senhora Trevor franze a testa — O que foi aquela voz?

Tate hesita, respira fundo e se ajoelha diante da porta.

— Tem coisas nessa casa, coisas que você não acredita até ver — o garoto fala. — É a segunda vez que eles a pegam — Tate balança a cabeça.

— Eles quem?! — a senhora Trevor soca a porta — Eu quero a minha filha!

— Eu também — Tate responde, mas fala tão baixo que a mulher não ouve. Ele se lembra de uma coisa. O machado. — Tem como você me ajudar a sair — ele se levanta — nós temos um machado para emergências na cozinha, ele fica escondido atrás da geladeira, a senhora acha que consegue quebrar essa porta?

— Onde está minha filha, Tate? — a senhora Trevor insiste.

— Nós vamos achá-la, só... me tire daqui! Eu preciso encontrá-la também!

A senhora Trevor hesita, mas logo vai atrás do que o garoto indica. Ele se assusta quando ela retorna arregaçando a maçaneta em apenas duas machadadas, a porta de abre e eles se encaram, Tate estende a mão na direção dela, pedindo silenciosamente o machado.

— Eu fico com isso — ela diz, e aponta o machado para o corredor — Agora me ajude a achar minha filha. 

Tate abaixa a cabeça e obedece, indo na frente. Os dois correm até a porta do porão. Tate testa a maçaneta.

— Ela estava com você? — a mais velha pergunta. A porta está trancada, ele recua para a mulher ter espaço para se mover.

— Estava, mas a levaram — ele responde, irritado.

— Quando você vai me dizer quem? — a mulher afunda o machado na porta, os gritos de Alex ecoam pela casa, os dois congelam por completo por um momento com o longo grito da garota, aquilo não era natural.

Ele logo foi substituído por uma gargalhada, doentia e engasgada. Era a risada de Alex.

Tate pegou o machado da mão da mulher e foi arrombando a porta. Ela não, ela não, ele fica murmurando. Não podem tê-la pego desse jeito. 

Assim não.

A porta se abre com muita insistência. Alex ainda está rindo, eles apenas veem o rastro de sangue ao acharem o interruptor, mas o mesmo pisca e falha, deixando-os no escuro.

— Alex! — a senhora Trevor não se dá tempo de questionar o rastro de sangue no chão, apenas o segue, cegamente. Alex gargalha como se não conseguisse parar. Tate está completamente sem esperanças quando tateia as paredes para chegar onde a risada da garota está mais alta.

A luz se acende. Alex está encostada na parede, ri como uma criança se balançando ao ser pega. Seus olhos estão escuros e ela está coberta de sangue.

— Você me disse que eu ficava bem de vermelho uma vez, se lembra mamãe? — ela pergunta com um sorriso largo e olhar doentio. Mostra os pulsos, ambos com cortes profundos, a senhora Trevor se desespera, ela e Tate correm para a garota, para tentar estancar o sangue. 

Mas não há o que fazer. Ela morreria em breve, Tate sabia disso.

— Não, por favor, aqui não — ele chora. Lágrimas começam a escorrer pelo rosto de Alex, mas ela ainda ri.

— Ah, sim, sim, sim! — ela repete.

— Alex, por que fez isso? — a senhora Trevor a puxa para perto. — Vamos, você tem que ir ao hospital.

Alex para de rir subitamente se voltando para a mãe, os olhos escurecem.

— VOCÊ NÃO VAI ME IMPEDIR DE FICAR COM ELE! — ela grita, furiosa, a senhora Trevor  é arremessada para o outro lado do cômodo, bate a cabeça e é levada imediatamente a inconsciência. Tate se ajoelha e começa a chorar.

— Não, não, ela não, por favor — ele implora com a dor invadindo o seu peito. Ele olha para aquele olhar demoníaco de Alex — ME LEVA NO LUGAR DELA!

Alex sorri, solidária, se abaixa ficando de frente para o loiro. Com as mãos sangrando, ela segura o rosto dele, manchando a blusa do garoto com seu sangue.

— Você não quer ficar comigo? — ela indaga fazendo bico, magoada. — Pensei que tinha dito que me queria para sempre.

— Assim não, assim não — ele chora tentando se afastar dela, está com muito medo.

A raiva possui o semblante de Alex e a casa treme.

— VOCÊ DISSE QUE ME AMAVA! — ela berra, ela empurra Tate para o chão e sobe no colo do garoto, com as duas mãos começa a enforcá-lo com uma força sobrenatural para quem perdera tanto sangue — VOCÊ ME AMA! VOCÊ ME AMA! VOCÊ ME AMA! — ela o sacode furiosa, Tate muda de cor rápido, sem conseguir escapar daquele aperto. 

Alex solta o aperto quando Tate já está beirando a inconsciência. Se deita no peito dele enquanto a mente dele tomba entre apagar de vez ou se concentrar na lâmpada cintilando no teto.

— A gente vai ficar junto — Alex afirma, Tate geme e tosse. — Para sempre.

Ela ergue o rosto para admirar o garoto. A visão de Tate foca aos poucos no rosto dela, ele tem um vislumbre do olhar dela, meigo e gentil. Ela sorri.

— Eu não gosto de brigar com você — ela diz, aproximando seu rosto do dele — Agora, diz para mim que vai não me deixar, Tate — ela sussurra, o encarando séria.

— Você não é minha Alex. — Tate rosna, Alex fecha a cara e dá um tapa forte no rosto do garoto, fazendo-o virar o rosto. — Onde ela está? Onde ela está?

— Eu estou bem aqui! — Alex grita, socando o peito do garoto, tendo um ataque compulsivo de raiva. — Eu sou a Alex!

— Não, isso é um pesadelo — Tate não quer acreditar, ele fecha os olhos esperando acordar, Alex soluça, chorando de raiva.

— Você disse que me queria! — ela sai de cima dele, se encolhe e se arrasta para a parede. Está completamente pálida. — Mentiroso, mentiroso!

— ALEX! — Tate grita.

— EU ESTOU BEM AQUI! — ela grita de volta. Ele não quer aceitar isso, é só um truque, essa não é Alex.

Ele não quer que esta seja ela.

Não, ela não merecia isso.

Por que, por que? Ele olha para a garota, que se entregou ao choro por completo, está fraca e ofegando, o olhar se torna desesperado.

— Tate, não me deixa sozinha, por favor — ela implora. — Eu não gosto desse lugar.

Tate a encara com pesar, não queria que aquele fosse o fim.

Mas era.

Ele rasteja para perto dela, a morte vai a deixando mais fraca já que a casa para de usa-la.

Tate a puxa para seu colo, o corpo dela já está frio.

— Tate... — ela soluça — eu não quero morrer — ela chora, Tate a acompanha.

As vozes sussurram sem parar.

Você sabe o que fazer, dizem a ele. Faça.

Por favor, não me deixa sozinha — Alex pede, a respiração vai ficando fraca e ela vai parando de se mover.

Tate olha ao redor, com lágrimas nos olhos. Estava tudo acabado. Ele não viveria sem ela. Não havia nada que ele não fizesse por ela.

Faça, faça, faça! Sibilavam as vozes, cada vez mais alto.

Ele avistou a faca que Alex usou para cortar os pulsos perto do corpo da senhora Trevor. A mão de Alex bate no chão frio, sem vida.

Tate soluça, e beija o topo da cabeça dela. Os olhos dela encaram a parede de tijolos sem ver.

— Eu não vou te deixar — ele promete, a coloca com cuidado de lado e rasteja até a faca ensanguentada. A segura pelo cabo, apontando-a direto para o peito.

Fica ofegante. Está apavorado.

Mas não hesita, nem por um segundo, em cravar a faca em seu coração.

Como Romeo e Julieta. Mas nesta versão, eles vão se encontrar ainda no inferno.

____________________________________
Eai vadias, já me seguiram?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top