18 | bom demais

Larry não ligou quando viu que seu carro estava sem gasolina pela manhã de domingo, mesmo que tivesse certeza que tinha enchido o tanque não havia dois dias. Sabia que Tate tinha feito aquilo, o jovem o aterrorizava e complicava sua vida sem descanso desde o incidente com o irmão mais velho. Ele estava se acostumando.

Larry não se importou de ir de táxi para o trabalho.

Mas teve complicação em ver a carteira vazia. Pediu para um colega o pagar e mais tarde iria repôr, prometeu. Foi tudo bem até o meio dia, quando ele devia estar almoçando, mas ao invés disso se enfiou no escritório.

Tate havia dito a Alex para não se preocupar, que ele logo melhoraria de sua crise de tosse repentina. Ela foi fazer compras com sua mãe para o Halloween, mesmo preocupada e tentada em lhe fazer companhia, Tate a fez mudar de ideia, a convenceu a aproveitar seu dia.

Ele teria um dia longo, era hora de livrar a vida de Alex de pessoas que a perturbavam, ele estava cansado de a ver sofrer, e não havia nada que Tate não fizesse para deixá-la feliz e confortável.

O mal se impregnou no garoto como nunca antes. O pensamento dele era claro e direto, ele não cometeria erros.

Primeiro os mais velhos. Era regra.

Tate pegou o galão de gasolina, e sem o esconder um minuto que fosse de toda sua caminhada até onde o mais velho trabalhava, ele subiu até o quinto andar onde sabia que Larry estava e atravessou o escritório com passos firmes e determinados, pouca gente trabalhava em dia de domingo, e ninguém o notou. Ele passou pela porta de vidro da cabine exclusiva de Larry, chamando a atenção do mais velho.

— Ah, olá, Tate — ele cumprimentou olhando ao redor, confuso — O que está fazendo aqui?

— Não devia ter tocado na Alex — Tate disse, com uma voz sem emoção alguma. O reconhecimento do homem não passou despercebido. Ele enfim notou o galão vermelho na mão do rapaz, Tate se livrou da tampa rapidamente e começou a despejar o líquido amarelado no corpo de Larry que ficou sem reação, sem entender o que se passava na mente do mais novo até reconhecer o cheiro de gasolina. Olhou para Tate de olhos arregalados enquanto via o garoto pegar uma caixa de fósforos no bolso do seu casaco preto.

— Tate, não — Larry disse. — Você entendeu errado... Não aconteceu nada, do que está falando? Eu nunca toquei naquela garota.

Tate não falou nada, a frieza que sentia era quase a mesma como se estivesse ligando o fogão, acendeu o fósforo e o jogou na direção de Larry sem hesitação, já havia dito o que queria.

Se demorou ali um momento, assistindo as chamas cobrirem o corpo daquele homem que tanto desprezava. Não sentiu nada. Deu as costas quando Larry começou a gritar em desespero e outros vieram socorre-lo. Saiu do escritório, andando calmamente. Já estava feito.

Menos um.

Alex suspirou alto, deixando claro que estava entediada, mal conseguiu escolher suas roupas, queria ver Tate e o humor dela misturado ao de sua mãe não estava dando certo. Ela sabia que a senhora Trevor estava escondendo alguma coisa, algo novo tinha acontecido e ela estava mais mal humorada que nunca.

Ela suspirou alto de novo. A mãe parou de mexer nos vestidos que analisava com a testa franzida ao ver os preços.

— O que é? — ela perguntou, rudemente.

— Isso não vai acabar não? Eu quero ir para casa — Alex reclamou.

— Para a nossa casa ou a casa do vizinho? — a senhora Trevor perguntou, levantando as sobrancelhas. — Você tem uma vida longe daquele garoto, Alex.

— Eu sei, nossa — Alex olhou a mãe torto. — Tate está meio mal hoje, eu não iria lá, só quero minha casa.

— Eu sei bem o que você quer, Alex — a senhora Trevor falou entre dentes, as duas ficaram quietas um momento ao notar olhares indesejados e críticos de outras mulheres na loja.

— O que é que está acontecendo? — Alex perguntou depois de um tempo, irritada. — Dá pra parar de descontar em mim o que quer que esteja passando? Isso é cansativo!

— Cansativo! — a senhora Trevor repetiu. — Você não faz ideia do que é cansativo! Cansativo é ter uma filha ingrata que agora que tem um namoradinho, saí sem avisar porque se acha grande o suficiente para se virar sozinha. Cansativo é ser desrespeitada todo santo dia no trabalho e ainda ganhar uma miséria. Cansativo é ter um ex-marido que suga toda sua alma e fode sua saúde mental apenas por lazer, porque não tem mais nada para fazer. Cansativo é esse ex-marido achar que tem o mínimo direito sobre a filha que você criou sozinha. Cansativo é tentar explicar para uma garota fútil de dezessete anos o que é cansativo!

Ela tinha se sobressaltado no meio da fala, e agora gritava no meio da loja atraindo mais olhares ainda de outras clientes. Alex a encarou com raiva e envergonhada, seus olhos cheios de lágrimas, ela ficou furiosa e largou suas coisas no chão, saindo da loja sem olhar para trás.

— Que se foda, que se foda! — ela resmungava. Iria atrás de Tate agora mesmo. A pé levaria tempo, mas ela poderia esfriar a cabeça até lá.

Tate enfim chegou à parte desejada, agora estava começando a se animar. Ainda era dia, claro e comum lá do lado de fora. Ele estava na casa de Simon, toda a família do garoto acabou pagando o preço. Foram silenciados antes mesmo de gritar.

Tate apenas apareceu com sangue nas suas roupas, a mãe de Simon que atendeu, mas antes que entendesse o que se passava, uma bala atravessou sua cabeça, entre as sobrancelhas, ela caiu sem vida e Tate passou por cima do seu corpo a puxando para dentro e fechando a porta. O pai de Simon veio em seguida, os dois alertados pelo barulho de tiro, estavam na sala de estar, o pai de Simon mandou ele ficar ali. O garoto, sem saber o que fazer e assustado, obedeceu. Antes mesmo que perdesse o pai de vista o viu cair, dois tiros no peito.

Simon congelou no lugar ouvindo o som de passos pesados se aproximando, seu pai gemeu, e logo Tate apareceu na porta aberta, apontou friamente a arma para a cabeça do homem e sequer piscou ao puxar o gatilho.

De alguma forma, Simon viu que aquele não era Tate.

Simon não conseguiu se mover quando os olhos escuros do loiro encontraram os seus e ele sorriu, perverso.

— Lembra de mim, não é? — Tate perguntou, a voz grossa demais para ele, seus olhos se tornaram mais escuros quando ele se aproximou de Simon. O garoto tremeu se encolhendo no sofá, o olhar fissurado de Tate o deixando ainda mais assustado.

— O-o que você está fazendo? Por que...? — Simon indagou, a voz fraca. Tate se aproximou por trás e puxou o garoto pela gola por cima do sofá, o jogando no chão como se ele não pesasse mais que um saco de lixo, Tate respirou fundo, Simon viu que as mãos dele tremiam, cheias de sangue, segurando aquela arma de cano curto.

— Você sabe o porquê — Tate respondeu, os olhos arregalados. Ele ainda não tinha acordado. — Você... você machucou Alex — ele riu como um lunático se abaixando ao lado de Simon, cutucou-o com a arma, o garoto se encolheu, começando a chorar embora ainda não tivesse processado a informação. — Não devia ter tocado nela, não devia.... não, ninguém nunca mais vai machucar ela. — Tate disse, parecia insano, se sentia insano. — Seus amigos sabiam, no momento que me viram, o porque eu estava lá. Por que você se nega?— o loiro tombou a cabeça de lado, cerrando os olhos negros, curioso — Você mexeu com a Alex, não devia ter feito isso — o loiro balançou a cabeça fechando os olhos com força. — Ela é minha, vai ser minha para sempre.

— Eu não quero ela, Langdon — Simon chorou, balançando a cabeça.

— Bom, você a tocou, você machucou ela mais do que os outros, como acha que eu vou acreditar em você? — Tate perguntou, o garoto deitado no chão não respondeu, isso deixou Tate enfurecido, ele queria a verdade, e a teria de qualquer jeito — VOCÊ JÁ ESTÁ COM MEDO, FILHO DA PUTA? — Tate gritou, batendo em Simon.

— Por favor, por favor — Simon soluçou. Tate o olhou com nojo, ofegante, agarrou a perna do garoto e se levantou, arrastando-o até o corpo do pai, chutou o mais velho do caminho e levou o garoto até o ultimo cômodo da casa.

Ele nem começou. Tate assobiou pelo caminho, como em todos seus outros pesadelos, ele não tinha nenhum controle ali.

Ao chegar na sua rua, Alex declarou que estava muito suada, e decidiu tomar um banho antes de encontrar Tate, entrou em casa subindo pela trepadeira da sua janela já que sua mãe estava com a chave.

Tomou um banho rápido e vestiu uma camiseta simples e um short folgado. Saiu por onde entrou, sua mãe não voltaria tão cedo, ela sabia, a mulher é orgulhosa demais, faria questão de demorar.

Alex correu para a casa de Tate e apertou a campainha, ao menos poderia tomar conta dele.

Constance foi quem atendeu para a infelicidade de ambas. A mulher mediu a mais nova de cima a baixo com um sorrisinho arrogante.

— Não tive a chance de perguntar, ontem você e Tate se divertiram? — perguntou, Alex se conteve para não revirar os olhos. Respeite os mais velhos, respeite os mais velhos!

— Ãh-hã — Alex deu de ombros. — Ele está aí?

— Na verdade, ele me disse que... não, espera, ele saiu sem me dizer nada, como sempre — a loira revirou os olhos. — Pensei que ele estivesse com você.

Alex franziu a testa confusa.

— E eu pensei que ele estivesse mal demais para sair de casa, eu estava com minha mãe — ela pensou em voz alta, olhando para os saltos vermelhos de Constance. A mais velha levantou as sobrancelhas, surpresa, respirou fundo.

— Entre, podemos saber o que aconteceu quando ele aparecer de novo — ela disse, levemente irritada e deu as costas para Alex deixando a porta aberta — Bom, ele certamente vai responder uma de nós.

Alex hesitou na porta, o clima e Constance lhe pareciam muito hostis naquele momento, mas ela esperaria, pelo menos pela hora seguinte, o que já seria exigir muito de si com tamanho agrado que é a companhia da mãe de Tate. Ela entrou na casa, sem saber muito o que fazer, se sentou no sofá da sala ampla.

— Adelaide está? — Alex perguntou, em voz alta já que Constance deu meia volta ao notar que a adolescente se instalaria ali. Nenhuma das duas queria se encarar demais, quem dirá conversar.

— Ela estava mexendo nas minhas coisas de novo, está aprendendo sua lição — Constance respondeu num tom de não-é-da-sua-conta.

Alex bufou, irritada com o quanto aquela mulher era uma vadia, como qualquer um podia fazer mal para alguém como Addie. Se levantou olhando ao redor, como se conseguisse enxergar através das paredes, talvez pudesse ajudar Adelaide se a encontrasse.

Saiu da sala, indo para o corredor principal, olhou na direção da porta do porão, à sua esquerda, no final do corredor, a porta se abriu com certa cumplicidade, como se lesse os pensamentos de Alex. Ela ficou parada, Tate não gostava que ela fosse lá embaixo, mas e se Adelaide estava lá?

Ela pensou em como a casa ajudava a menina, talvez a estivesse chamando para fazer o mesmo? Valia a pena arriscar? Nas duas vezes que esteve naquele porão, se sentiu péssima e correu risco de vida.

Alex balançou a cabeça, descartando a ideia e recuou, subiu as escadas correndo, procuraria no sótão. 

Assim que subiu as escadas do sótão, Tate entrou pelos fundos da casa.

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