13 | sem mais segredos
Foi a pior semana da vida de Alex.
Durante todo o processo de IML, enterro e velório, Tate se tornou inacessível, estava do lado dela, mas não podia estar mais distante. Não falava uma palavra que fosse, era visível que estava borbulhando em ódio para enfrentar o luto, e Alex notou que não deveria forçar nada, sabia que ele estava se controlando.
Ao menos quando ela estava perto.
Tate transformou a vida de Larry impossível, assustando-o, agredindo-o ou sumindo com suas coisas e as vandalizando. Larry e Constance acordaram várias vezes com Tate sentado aos pés da sua cama, apenas os assistindo com um semblante assustadoramente indecifrável. Ele estava pensando em como matar. A única coisa que o estava fazendo pensar duas vezes era Alex.
Ele precisava vingar seu irmão, será que ela entenderia?
Não... provavelmente não, ela não tinha irmãos, nem chegou a conhecer Beau. Ela não enxergaria do mesmo jeito... enxergaria?
Ela sempre estava lá, mas ela nunca compreenderia. Agora ele nem pensava em quanto tempo ela passava na sua casa. Tudo estava silencioso demais para ele. Um silêncio gritante que não o deixava se concentrar em outra coisa. Beau estava lá, é claro, e Tate ainda o visitava, mas não era isso, não era esse fim que seu irmão merecia. Muitas pessoas mereciam a morte, mas ele não... Beau não era como todas aquelas pessoas podres vivendo do bom e do melhor.
Ele era inocente e doce, nunca notaria a injustiça que passou. Ele só queria brincar! O ódio acumulado de Tate estava ansiando mais do que nunca por vingança.
Alex andava presenciando não apenas o quão horrenda e deformada era a família de Tate, mas também sendo importunada por medos inexplicáveis a cada momento que ficava naquela casa. Arrepios, impressão de que estava sendo observada ou de que sempre tinha alguém atrás dela não importava o quanto suas costas estivessem perto de uma parede. Várias vezes ouvia alguém a chamar, mas a voz fazia tanto eco e era tão sofrida que ela não sabia se era masculina ou feminina.
Mas Alex ignorava isso o máximo que podia, preocupada com a sanidade mental do namorado sempre que passava tempo demais na presença de Constance e Larry. Ela quase nunca comia lá praticamente porque Tate se recusava a se alimentar direito, ainda mais na mesma mesa do suposto assassino de seu irmão mais velho.
Ela sabia o que Tate estava pensando, ele geralmente era difícil de entender, mas quando ele olhava para Larry, seus pensamentos e emoções ficavam claros como água cristalina. Estava começando a se preocupar, mas nenhum momento ficou com medo dele, imaginava que a raiva seria aplacada em um momento.
Quando Alex era educada apenas para se servir de um pouco de comida, não conseguia deixar de ficar incomodada e irritada com o olhar de Constance e Larry sempre em si, a cada movimento que fazia, os desprezava, mas ainda não conseguia ser firme o suficiente para ser mal educada, a última coisa que precisava era que a mãe de Tate a proibisse de ir até sua casa. Não queria que ele começasse a se isolar de novo. Constance e Larry jantavam à mesa todo dia com Addie que ficou inabalada com a morte de Beau já que ele sempre estaria ali para brincar com ela, como de costume, enquanto Alex e Tate ficavam na sala de estar, Alex tentava o fazer comer, mas só conseguia tirar uma reação dele quando conseguia fazê-lo a olhar nos olhos.
Ele evitava olhar para ela, porque sentia que poderia desmoronar todas as vezes que ela o olhasse com pena. Apesar disso, o contato físico era completamente necessário. Ele sempre estava com uma mão na perna dela, ou a puxando para um abraço enquanto estavam sentados no sofá.
Os beijos eram apenas no rosto ou pescoço, rápidos, Tate não queria que ela o distraísse, sabia que se ela insistisse mais um pouco, o desviaria temporariamente dos seus sonhos homicidas.
Ela não deixaria isso passar por muito tempo.
Voltaram a ser perturbados na escola, mas Tate não corria mais e isso fazia os rapazes hesitarem em se aproximar. Bastava olhar na direção dos outros rapazes que eles se calavam, amargurados. Só ia ainda para aquele lugar por insistência de sua namorada e também a sensação de que tinha que protegê-la, sabia o que os rapazes fariam se a pegassem sozinha.
Voltavam da escola na segunda-feira e foram direto para a casa de Tate, o que não era de costume, mas Alex viu o carro de Larry na entrada e preferiu acompanhar o namorado. Não via um garoto perdido quando olhava nos olhos dele mais. Tate parecia apenas focado, ela queria que ele não focasse nas coisas erradas.
Larry foi mandado para casa por causa de um cheiro podre no seu escritório. Era um gato morto embaixo do piso sob a cadeira de Larry. Tate visitou seu escritório na noite anterior após colocar remédio para dormir na bebida de Alex e a levar cambaleando para casa. Uma parte de si gostava do terror que impunha no mais velho, essa parte estava crescendo cada vez mais.
Os três se encontraram na entrada da casa, o clima pesado se instalou, e Tate grudou o olhar assassino na nuca de Larry conforme o mais velho abria a porta com as mãos tremendo.
Os três entraram em fila, sem falar uma palavra.
Alex sentiu uma tontura inexplicável ao passar pela porta segurando a mão de Tate, o loiro seguindo o mais velho de forma intimidadora, entendeu errado o puxão que ela lhe, deu tentando se equilibrar. A visão da garota ficou embaçada e ela sentiu que vomitaria. Ela se soltou de Tate se apoiando na maçaneta da porta e se ajoelhando devagar, o ar parecia escapar dos seus pulmões, mas Tate estava focado demais em amedrontar Larry ao subirem escadas acima para notar a falta de Alex, cego de raiva ele empurrou o mais velho ao chegarem no segundo andar e eles começaram a discutir.
Alex não ouvia nada, sentia que estava sendo esmagada. Uma sombra humana passou por ela, indo em direção a porta dos fundos.
- Tate - ela arfou, tentando enxergar, mas não distinguia um palmo a sua frente. Cambaleou ficando de pé e fechou a porta atrás de si com força indo atrás da sombra que parecia muito com Tate.
- Alex - uma voz distante sussurrou, a porta do porão se abriu devagar. - Me ajuda - pedia a voz. Alex franziu a testa, confusa, mas suas pernas já faziam caminho em direção ao porão, como se ela fosse um fantoche, sem controle do próprio corpo.
- Tate? - ela chamou, sua respiração foi se tornando estável novamente, mas ainda não enxergava bem. Coçou os olhos com uma mão enquanto com a outra se segurava no corrimão. - Tate, eu não estou me sentindo bem...
Ela terminou de descer as escadas e então sua visão voltou e ela notou a escuridão que havia se metido, olhou para a porta do porão, confusa sem saber como tinha chegado ali.
- Tate? - ela se abraçou, sentindo um arrepio subir sua espinha, procurou por um interruptor, mas não viu nada, era como se não estivesse de dia do lado de fora. Ela bufou, desconfortável com aquele lugar e fez menção de voltar pelas escadas. - Porra, eu vou ficar louca - resmungou, e no momento que pisou no primeiro degrau em direção a saída, a porta se fechou num estrondo, a deixando cega na escuridão. Alex congelou por um momento, sem entender porque estava parada sendo que o único pensamento que lhe ocorreu foi o vento.
A paralisia fez sentido quando ela sentiu uma respiração ofegante em sua nuca arrepiando-a por completamente. Dedos asquerosos roçaram a pele do pescoço dela, e a presença ficou mais próxima. Alex não conseguia se mover.
De repente, sem mais nem menos Alex foi arremessada para trás. Suas costas bateram com força na parede, e suas mãos não foram um amparo muito útil quando ela voltou a tocar o chão, ela gemeu de dor pela costela fraturada e seus olhos lacrimejaram.
Ela sabia que não estava na presença de nada humano, mas não processou a informação o suficiente para reagir com medo, queria apenas sair dali. A coisa a virou de barriga para cima e montou nela segurando sua cabeça e puxando os cabelos de Alex fazendo grunhidos animalescos, Alex tentou agredir a coisa, socando-a, mas se sentia sem forças ao notar que não tinha qualquer efeito naquilo.
Foi quando ela gritou que a coisa a mordeu no ombro, Alex se debateu desesperada sentindo os dentes afiados entrarem na sua pele. Seu grito ficou mais agudo e atraiu mais tensão pela casa.
Tate enfim notou a falta de Alex ao ouvir o grito da garota. Soltou o colarinho de Larry e o abandonou jogado na frente da porta de seu quarto, desceu as escadas aos pulos, a porta da frente estava fechada e a bolsa de Alex estava no chão de qualquer jeito.
- Não, não, não... - ele olhou ao redor sentindo seu coração se acelerar enquanto caçava pela garota. - ALEX! - ele gritou, Larry o seguiu preocupado, mas parou quando Tate lhe lançou um olhar mortífero por cima do ombro. - ALEX! - ele chamou caçando-a pela casa, cozinha e sala de estar.
- TATE! - a garota gritou de novo desesperada e lutando contra o monstro tentando enforca-la- TATE!
O loiro abriu depressa a porta do porão, e quando a luz invadiu o porão, Alex estava no chão com a mão no ombro, sozinha. Ela se levantou depressa, quando Tate desceu as escadas a puxando para si.
- O que foi? - ele perguntou, ansioso, a abraçou olhando para os lados.
- Alguma coisa me atacou - ela gemeu o puxando para a luz, Tate a seguiu olhando para trás nervoso, os dois cambalearam até o sofá se jogando ali.
- O que aconteceu? - Tate perguntou vendo-a massagear o ombro. Alex não respondeu, incomodada com a dor no ombro, ela puxou a blusa arregaçando a gola para ver seu ombro, sangrando ao redor da marca da mordida.
- Tinha alguma coisa lá, Tate - ela disse séria, encarando o ombro e então o namorado, ela olhou ao redor nervosa. O medo enfim começou a agir em seu corpo.
- O que você estava fazendo lá? - Tate segurou o rosto dela, preocupado, fazendo careta para o sangue escuro se misturando ao dela em seu ombro.
- Eu... não sei - ela franziu a testa, era uma resposta que lhe escapou num passe de mágica. - N-não me lembro - ela e Tate se encararam longamente. - Tinha alguma coisa lá - ela repetiu - não era humano, Tate, o que eu senti... nunca vi nada assim antes - ela disse trêmula. Tate baixou o olhar, assentindo. Alex franziu a testa, confusa. - Você sabia? O que era aquilo, Tate?
- É complicado. - Tate sussurrou. - Eu não te queria nessa casa por causa disso.
- Disso o quê? - Alex pressionou, estressada, olhando para os lados, cismada. Tate limpou a garganta, não esperava falar disso, o assunto o pegou completamente desprevenido.
- Eu não queria que você soubesse disso agora - Tate balançou a cabeça, soltando o rosto de Alex.
- O que foi aquilo, Tate? - Alex perguntou, angustiada.
Tate hesitou, respirando fundo, por onde começar? Ele baixou o olhar para as próprias mãos.
- Vamos para a sua casa, está bem? - ele sugeriu, Alex concordou imediatamente e se levantou sentindo uma ardência no ombro, olhou severa para Tate.
- Não me esconda nada. Eu não quero ter segredos com você.
- Me desculpa. - Tate murmurou. - Não sabia se acreditaria em mim e também não queria que nada disso acontecesse - ele apontou para o ombro dela.
- Eu acreditaria em você, Tate, agora me prometa que não vai me poupar detalhes - ela cobrou puxando o garoto para fora pela orelha.
- Está bem, eu prometo, sem mais segredos - ele disse se rendendo.
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