07 | amigos

— Tate — Alex sacudiu o amigo, ele ficava uma graça dormindo, mas realmente estava ficando tarde. Ele acordou confuso, olhando ao redor e respirando pesadamente. — Vem, nós temos que ir — ela se levantou puxando ele junto com dificuldade. O garoto era maior e mais pesado.

— O quê...? — ele coçou os olhos, se arrependendo em seguida por suas mãos estarem cheias de areia. Fez careta, estava escuro, mal enxergava Alex, mas o escuro não o assustava mais... isso quando ele não estava em casa.

— Vamos para casa — ela o puxou pelo caminho que vieram, fizeram uma parada para pegarem os seus calçados, mas desistiram de vesti-los prevendo o incômodo que seria por conta da areia e voltaram a andar, de mãos dadas. Alex puxou Tate para frente para que ele a guiasse na saída. — Minha mãe vai me matar!

Tate suspirou, cansado. Não tinha dormido o suficiente, mas se sentia muito melhor.

— Eu não posso — ele resmungou baixinho.

— Você vai para minha casa — ela o cortou, puxando-o para correr. — Vai subir pela janela como sempre, eu vou levar a bronca da minha mãe e provavelmente vai demorar se ela não estiver cansada, mas você pode deitar na minha cama e relaxar, se bem que... espere eu voltar, quando eu subir mais tarde vou te dar algo do meu pai para vestir, não vai sujar minha cama de areia, está bem? — ela o acelerou, com pressa.

— Eu vou dormir com você? — Tate questionou de repente bem acordado. Certo que tinha dormido no colo dela até agora, mas no quarto dela seria completamente diferente. Alex corou violentamente e escondeu o rosto tentando manter a voz firme.

— A gente... e-eu... nós veremos como se desenrola, ok? Eu talvez vá dormir com minha mãe e te tranco no meu quarto... — ela deu de ombros, tremendo sem ser por causa do frio.

Tate sorriu timidamente sem que ela visse e se sacudiu tentando manter-se acordado. Correram o mais rápido que conseguiram descalços pelas ruas de asfalto, vários cachorros latiram com sua passada apressada, fazendo os dois rirem um pouco.

Ao estarem perto o suficiente, fizeram uma parada para calçarem os tênis e recuperarem o fôlego, a parada durou menos graças ao costume de correr do time de basquete. Se separaram, Alex o viu serpear pelos fundos da casa dela, para ir para seu quarto. Ela sorriu nervosa, e arrumou os cabelos vendo as luzes da sala acesas.

Constance respirou fundo, observando-os no escuro da janela da frente, aquela garota havia conseguido tirá-lo do quarto e agora ele estava indo para sua casa tão tarde. As coisas iam melhor do que o imaginado. Ela sorriu, andando de volta para o quarto onde Larry a esperava, apaixonado, apenas de cueca, sentado na cama.

Alex tomou coragem e entrou em casa, onde sua mãe esperava na poltrona ao lado da lareira. A senhora Trevor se levantou furiosa.

— Ah, decidiu mostrar a cara! Que graça! Posso me perguntar a que devo a honra? — ela vociferou, Alex fez careta fechando a porta atrás de si.

— Desculpa — ela murmurou, baixando a cabeça.

— Onde é que você esteve? Eu quase chamei a polícia!

— Eu estava andando com um amigo, perdi a noção do tempo — Alex balançou a cabeça.

— De novo esse amigo! E eu sequer sei quem ele é, onde vocês foram? — ela repetiu, vermelha de raiva.

— Por aí — Alex deu de ombros.

— Por aí seria o quarto dele, Alex!? Com quem você estava!?

— Eu não fui ao quarto de ninguém! — Alex olhou a mãe, ofendida pela insinuação.

— Então para onde foram?

— Lugar nenhum! A gente só ficou andando à toa! Paramos e sentamos no meio fio de uma calçada qualquer para conversar e eu perdi a noção do tempo, foi só isso! — Alex elevou o tom de voz. Tate ouvia tudo com atenção atrás da porta do quarto dela.

— Quem é esse amigo, Alex? — a senhora Trevor repetiu. A mais jovem hesitou por um momento, e então suspirou.

— O vizinho da frente. Tate Langdon — ela disse em tom monótono, cruzando os braços e evitando o contato visual com a mãe.

— Foi difícil!? — a senhora Trevor perguntou, irônica. — Por que você não me contou sobre ele desde o começo!?

— Eu não queria que você deixasse as coisas estranhas entre eu e ele — Alex respondeu, desconfortável.

— Você não acha que esconder sua amizadezinha com ele acaba deixando as coisas estranhas por si só?

— Não é como se eu fosse esconder isso para sempre, eu só não queria que você me perturbasse tão cedo sobre como eu não devo confiar em homem e em como todos eles só querem me comer!

— Eu falo isso pro seu bem!

— Eu sei! Eu sei que é a verdade, mas...

— Mas o quê? — a mãe interrompeu a filha. — Ele é diferente? Corta essa, isso é história para boi dormir!

— Ele não quer me usar, mãe!

A senhora Trevor riu maléfica.

— Por que eu sinto tanta familiaridade nisso? — ela perguntou retórica. — Garota burra de dezessete anos peita a mãe por causa de um garoto que acabou de conhecer! Eu devo ter apedrejado Jesus na cruz para pagar com a língua!

— Eu não estou te peitando! — Alex rebateu. — Só estou falando que as coisas não são assim! Tate é meu amigo.

— Que te mantém fora de casa até tarde e te faz sorrir como uma idiota quando volta da escola! É, eu sei quem o Tate é! Igualzinho o seu pai!

— Ele não é assim! — Alex gritou furiosa.

— Pode apostar que ele é! Ele vai te usar como ninguém e vai te abandonar com um bebê no colo para ir atrás de outra tão fácil quanto você foi! Vai foder sua mente e vir para seus braços toda vez que não ter mais ninguém para recorrer, porque é isso que os homens fazem! E garotas tolas como você sempre aceitam essas migalhas, porque é isso que se faz quando se ama alguém mais do que si mesma!

— Ele é meu amigo. Tate é um bom garoto!

Amigo... Quero saber até quando ele vai te enrolar com essa — a senhora Trevor cambaleou, Alex a olhou confusa e olhou ao redor notando enfim a garrafa de vinho no chão ao lado da poltrona. — Ele é bonzinho até conseguir tirar sua virgindade — ela sorriu amarga — e você acha que vai demorar quanto tempo para você querer se entregar para ele? Já está apaixonada, ele já está na sua cabeça.

— Eu não vou falar com você nesse estado — Alex balançou a cabeça, incomodada em se lembrar como sua mãe se transformava quando tinha recaídas. — Está bêbada.

— Seu papai ligou — a senhora Trevor disse. — Aquele babaca vai enfim se casar — ela se sentou na poltrona e ergueu a taça. — Estou comemorando por ele. Ao menos um de nós vai ter o final feliz com uma gostosona de Miami. E eu? Eu vou acabar com uma filha grávida e desempregada assim como eu era na sua idade! A maçã nunca cai muito longe da árvore, não é mesmo?

Alex fechou a cara, furiosa, mas se manteve quieta por um momento longo, procurando se acalmar enquanto via a mãe se afundando na bebida.

— Quando você estiver sóbria, eu vou ficar feliz em falar com você. Até lá.... Boa noite, mãe — Alex lhe deu as costas e subiu para o quarto ouvindo a mãe estalar a língua de descaso. Alex não estava no seu melhor humor ao se deparar com Tate a encarando com certa pena. Ele pareceu notar a raiva dela e baixou o olhar. — Eu vou tomar um banho, pode procurar nas últimas gavetas da minha cômoda por um casaco do meu pai, é velho, mas acho que vai servir. Talvez minha mãe tenha uma calça moletom... — Alex disse saindo do quarto dela e invadindo o da mãe remexendo o closet da mesma, estressada.

Ela achou uma calça moletom larga, talvez ficasse curta, na altura das panturrilhas de Tate, mas pelo menos não ficaria justa. Voltou para o quarto depressa, onde Tate estava ajoelhado na frente da gaveta aberta, vendo que blusas caberiam melhor nele, lhe cobrindo os pulsos por completo. Achou um casaco grosso, mas logo fez careta sem ver necessidade de trocar de blusa, essa casa era mais quente que a sua, apenas o seu casaco seria o suficiente.

— Acho que só vou trocar de calça — ele disse em voz baixa para ela, fechando a gaveta devagar. Alex assentiu.

— É, tem razão.

— Quer que eu... vá embora? — Tate perguntou inseguro. No lugar dela, achava melhor se isolar quando estava com raiva.

— Não, não posso deixar você voltar para aquela casa sem dormir bem, e... e eu preciso de você aqui — ela o olhou séria, balançando a cabeça. E então bufou escolhendo um short folgado e de tecido vagabundo para seu pijama e um blusão do seu pai já que Tate optara por não usar. Pegou uma calcinha nova o mais discretamente que conseguiu, amassando o tecido na mão com os olhos fixos no rosto de Tate. — Tudo bem por você?

Ele balançou a cabeça.

— Sim, claro — ele suspirou, a ideia de ficar mais tempo com ela não era nada incômoda.

— Ok, eu já volto, feche a porta — ela recomendou, indo para o banheiro.

Não demorou lá dentro, ansiosa para ir se deitar, não lavou o cabelo e se vestiu dentro do banheiro rapidinho. Ao entrar no quarto, acabou batendo a porta com muita força e a trancou. Tate despertou, dormindo sentado a beira da cama dela, já vestindo a calça limpa e confortável que ficou folgada na barriga e curta nas pernas, como Alex previra. Tate não pode se impedir de apreciar as pernas da garota por um momento, mas logo desviou o rosto, envergonhado.

— Pode se deitar, Tate — ela disse, batendo no ombro dele de leve ao passar por ele e chegar na cortina da sua janela, fechando-a, deixando o clima no quarto ainda mais como um casulo.

Não precisou pedir duas vezes. Tate recuou na cama dela, se sentindo tonto de sono e se enfiou debaixo das cobertas conforme Alex se movimentava no quarto, verificando se a porta estava mesmo trancada e apagando a luz. Ela correu para a cama, pulando na mesma e se enfiando embaixo das cobertas, ficando virada de frente para Tate.

Os dois ficaram tensos enquanto ela se ajeitava, segurando a respiração sem perceberem.

— Obrigado por me deixar ficar aqui essa noite — ele sussurrou, quebrando o gelo, a cama dela era tão confortável quanto o colo dela, o sono veio ainda mais forte graças as cobertas. Tate e Alex colocaram as mãos no espaço entre si, se tocando suavemente, mas hesitantes em completar o pensamento que os dois queriam.

— Não tem problema — ela limpou a garganta, nervosa. — Me desculpa por ter ouvido a minha mãe agora...

— Está tudo bem, não me ofendeu em nada — Tate a interrompeu, os dois fecharam os olhos, estava escuro demais para tentarem se enxergar de qualquer maneira.

— Que bom — Alex suspirou, sonolenta, se acomodando na cama. — Boa noite, Tate — ela desejou, aproximando sua mão da dele devagarinho. Tate sorriu de olhos fechados, aproximando os pés dos dela.

— Boa noite, Alex — ele se aproximou cegamente, tateando o rosto dela com a mão, a fazendo rir baixinho pelas cócegas e arrepios inoportunos. Ele beijou a testa dela. Sentia que podia fazer isso a noite toda.

Hesitou pelo longo minuto seguinte antes de enfim abraça-la, a puxando para seu peito. Alex sorriu e se encolheu, acomodada, se controlando em não colocar sua perna sobre a cintura dele.

— Durma bem — ela desejou de novo, contente. Tate respirou pesadamente, com sono demais para responder, o braço nos ombros dela foi ficando mais pesado conforme ele adormecia de novo. Alex suspirou e passou o braço por debaixo do moletom dele e por cima camisa, abraçando a cintura do loiro.

Ele estremeceu inconsciente, mas não tentou se afastar.

— Alex — ele murmurou enquanto sonhava. Ela também já dormira, então não ouviu nada — minha... — o garoto sussurrou — minha Alex...

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