02 | ela
O que ela quer? Por que está sendo gentil?
Tate não parava de se perguntar o que poderia haver de errado com aquela garota, ela andou do lado dele e desabafou como odiava ser a novata e como ele estava lhe fazendo um favor enorme ao acompanhá-la para as aulas.
Ela não via o óbvio? Não sentia nada diferente nele?
As mãos de Tate sangravam de tanto que ele questionava se estava mesmo acordado.
— Qual sua parte favorita da escola? — ela quis saber, Tate entendia os olhares confusos que outros alunos lhes lançavam. Não entendia o que estava acontecendo ainda também.
— A saída, com certeza — ele disse, suspirando pesadamente. Alex não pôde conter o riso.
— Certamente não está errado — ela deu um empurrão leve nele, uma brincadeira. Tate a olhou de canto, curioso com o sorriso dela. Parecia real, sincero. Por Deus, como ele queria que fosse real. Se pudesse, iria encapsular esse momento para que o depois não chegasse.
Em algum momento ela iria embora. Ouviria as coisas sobre ele e o acharia estranho como todos os outros.
— De onde você vem? — Tate perguntou, genuinamente curioso.
— Atlanta — ela bufou. — Meus pais se divorciaram e agora é a fase de adaptação, sabe?
— Na verdade, sim — ele aquiesceu — Meu pai me abandonou quando eu tinha seis anos. Ainda não passei da fase de adaptação.
Alex ficou surpresa com a revelação, e tocou o ombro de Tate como que para apoiá-lo. Ele se encolheu, confuso pelo toque. Não era muito acostumado com demonstrações de carinho. O fato não passou despercebido por ela.
— Sinto muito — disse a garota, recolhendo a mão depressa, com medo de estar deixando o garoto desconfortável.
— Não, tudo bem — Tate deu de ombros, com pressa para se redimir. Decidiu mudar de assunto. — Mas eu preferia que ele tivesse me levado — ele sorriu fraco, por poucos segundos.
— Quer conversar sobre isso? — ela perguntou, preocupada. Tate parou de andar e a encarou sem compreender onde estaria a piada de mal gosto. Ela também parou, três passos à frente, o olhando por cima do ombro.
— O quê? — ele sussurrou. O sinal bateu antes que Alex pudesse responder. Ela andou até ele, saindo do meio do fluxo de alunos que se dirigiam para o refeitório.
— Se bem que... parece pessoal, talvez você não vá querer — Alex falou, nervosa, estalando os dedos. — Desculpe por me meter. É que você não parece bem e às vezes falar ajuda... — ela deu de ombros, irritada com a sua vergonha. Costumava falar de um jeito desenfreado quando ficava ansiosa.
— Mas você... acabou de me conhecer. — Tate disse.
— Eu sei, me desculpa — ela repetiu, corando e desviando o olhar para o chão.
Tate queria tocar as bochechas vermelhas dela. Se sentia perdido pela garota, não queria que ela ficasse desconfortável.
— Está tudo bem — afirmou. — Podemos conversar sobre isso... mais tarde — ele franziu a testa, nunca tinha falado de seus problemas com ninguém, às vezes pareciam tão banais para ele que perdiam a importância com tudo o que ele passava.
Estranho. Era tudo o que ele conseguia pensar.
Alex sorriu, controlando-se para não continuar falando sem pensar.
— Eu ainda não te mostrei o refeitório — ele a lembrou, apontando para a porta ampla e aberta atrás dela onde o barulho dos outros adolescentes estava mais concentrado.
— Se incomoda se eu ficar com você? — ela perguntou, finalmente reerguendo o olhar. Ele sorriu de canto mostrando uma covinha leve na bochecha esquerda e negou balançando a cabeça.
— Vai ser minha única companhia — ele deu de ombros. Ela sorriu mais um pouco. Ele declarou internamente que gostava daquele sorriso, mas nada se comparava as mãos dela, eram delicadas e finas, como as mãos de uma garota deveriam ser. Deixavam-no interessado ao se contorcer na frente do peito dela, a timidez a deixava pequena.
— Tudo bem por mim — ela disse, por fim. Tate conteve o sorriso e foi para o lado dela, para guiá-la adiante.
Eles se sentaram frente a frente numa mesa mais isolada após pagarem por seu almoço.
— Há quanto tempo mora na região, Tate? — Alex puxou assunto, abrindo a embalagem do seu sanduíche.
— A vida toda — ele abriu a sua garrafinha com suco de morango.
— Gostaria de viver em outro lugar?
— Qualquer outro — admitiu sem protelar. — Começar do zero seria uma boa.
— Qual o primeiro lugar que te vêm em mente? — ela perguntou controlando-se em não fazer daquilo uma conversa de porquês.
— Los Angeles — ele respondeu após pensar. — Eu gosto de calor — explicou.
— Um bom lugar — Alex admitiu, fazendo beicinho. — Mas sou seu oposto, ao que parece — riu — eu iria para o Alaska.
— Por quê? — Tate sorriu a encarando enquanto bebia um pouco do seu suco doce.
— Ficar sozinha no meio do nada — ela divagou. — Sonho de consumo.
— Gosta de ficar sozinha também?
— Com certeza, a introspecção é uma coisa a ser apreciada, às vezes não precisamos de ninguém além de nós mesmos — comentou orgulhosa.
— É... você deve estar certa — Tate disse, parecendo repentinamente fora de órbita, se lembrava de como ficar sozinho também podia ser assustador.
— Tate? — ela chamou, preocupada com a cara de derrota do loiro desgrenhado. — Tate, tudo bem? — ela tocou o braço dele brevemente o trazendo de volta a si.
— Vai estar ocupada depois da escola? — ele perguntou, desviando-se. Não queria voltar pra casa tão cedo e realmente estava gostando da companhia de Alex.
— Na verdade, sim — ela fez careta, o desânimo fez os ombros de Tate caírem. — Estou numa casa nova, desempacotar e tirar o pó vai ser o resumo do meu dia. Mas amanhã não.... — ela acrescentou.
Tate começou a tremer a perna debaixo da mesa, nervoso. Tentou arrumar os cabelos, sem sucesso.
— Por quê? — Ela insistiu, achando que ele ficaria quieto deixando o assunto por aquilo mesmo. — Para onde iríamos?
Tate a olhou com a desconfiança de sempre, não querendo gostar da vontade dela de permanecer falando, mas sem poder impedir. Ela claramente estava tentando. Por quê? Por quê?
— Eu... só queria dar uma volta, não sei, talvez te mostrar a cidade — ele disse, se inclinando sobre a mesa na direção dela. Sabia que não teria outra chance como essa. Uma novata, ela não tinha que ser como todo o resto que o via apenas como esquisito da casa assombrada. Ela parecia disposta a conhecê-lo, o que não era uma coisa a ser ignorada e talvez ele devesse tentar mesmo fazer novos amigos.
— Claro, eu adoraria — ela sorriu gentil e deu uma mordida no sanduiche. — Mas só amanhã — alertou. Tate assentiu tremendo a perna com feracidade, a ansiedade lhe apertando o peito.
Ela era boa. Era tão errado quanto parece ele querer se aproximar?
— Olha, mas o que é isso? — Tate reconheceu a voz do odioso Simon Cooper, o capitão do time de basquete, o mais babaca do bando. O loiro fechou os olhos fechando as mãos com força no ódio e respirou fundo conforme os sussurros se tornavam mais altos. — Tentando pegar a novata, esquisitão? — Simon se aproximou do casal, bagunçando ainda mais os cabelos de Tate, o garoto trincou a mandíbula, abrindo os olhos para encarar o garoto acompanhado de três amigos que riram como porcos, dementes.
Mate-os, livre-se deles, mate-os, mate-os! Exigiam as vozes.
— Qual a porra do seu problema? — Alex disse, atraindo a atenção dos rapazes para si. Simon ergueu as sobrancelhas ao passo que Tate se sentia aliviado por ela não estar falando dele — o quê? Está com ciúmes?
— Ui — ele riu com os amigos. — A gatinha tem garras?
— Você se acha tão engraçado que chega a dar pena. — Alex concluiu após medir o rapaz de cima a baixo. Simon se inclinou na direção dela, ameaçador.
— Melhor tomar cuidado com o que fala, querida, eu posso fazer a sua vida bem difícil aqui — ele alertou.
— Que medinho — ela disse. — Tem que botar os outros pra baixo pra se sentir melhor com sua vidinha de merda — ela se ergueu batendo na mesa fazendo Tate sorrir. Ela só se tornava mais interessante. — Quer mesmo apostar a vida de quem vai ser um inferno se você mexer comigo de novo?
— Ah, eu pago pra ver — Simon a fuzilou com o olhar, perdendo o sorriso. Alex voltou a se sentar, agindo como se os garotos não estivessem ali. Sorriu para Tate roubando o suco dele.
Era definitivo, ele estava muito interessado nela agora.
Os rapazes foram embora, não poderiam se vingar de imediato, mas ainda não demorariam.
— Uau — foi tudo o que Tate disse, sorrindo lindamente. Alex riu, chutando-o na brincadeira por debaixo da mesa.
— Vamos ter que correr pra caralho na hora da saída — ela disse.
— Eu sou bem rápido — ele deu de ombros concordando, sabiam o que aconteceria caso não fossem rápidos.
— Aposto que eu te passo — ela levantou as sobrancelhas maliciosa. Tate riu.
— Ah, eu pago pra ver — ele imitou Simon engrossando sua voz. Alex teve uma crise de riso enquanto bebia o suco do garoto.
[...]
Na saída, os dois andaram de ombros lado a lado, olhando tudo em volta em meio ao fluxo de alunos, rindo.
— Shh — Alex agarrou o braço de Tate. — Parecemos dois masoquistas.
— Eu estou rindo porque você está rindo! — Tate se defendeu.
— Copião — ela sorriu admirada com o sorriso encantador do garoto. Ele não parava de pensar nas mãos dela envolvendo seu braço.
Como o esperado, no pátio, alguém deu um puxão brusco na mochila de Alex, que acabou por se soltar de Tate, se esbarrando com outros alunos mais para trás. Simon ficou no meio de Tate e Alex, de repente parecia muito grande, Alex arregalou os olhos para Tate.
O garoto não era de brigar, mas o fazia quando estava cansado de apanhar. E ele era muito bom em se defender.
Com Simon desprevenido, ele se aproximou e chutou a parte de trás dos joelhos do garoto, fazendo-o cair de joelhos por ser pego sem aviso. Alex, sendo empurrada por outros alunos com quem havia se esbarrado, pegou impulso e deu um gancho de direita em Simon com toda a sua força, o garoto caiu de lado e os amigos dele hesitaram, confusos.
Alex sorriu para Tate, os cabelos bagunçados a deixavam ainda mais radiante, ela foi para o lado dele depressa.
— Foi um belo soco — Tate disse recuando junto dela dos parceiros de Simon.
— Uma garota tem que saber se defender — ela riu, agarrando o pulso de Tate e acelerando o passo, se preparando para uma corrida.
— E essa garota sabe correr?
— Tente me acompanhar! — ela disse e os dois dispararam. Ela na liderança.
De mãos dadas e com as mochilas batendo nas costas, Tate não podia estar se divertindo mais, com um olho sempre nas costas.
Ele havia gostado muito de Alex, agora não havia mais volta. Ele não podia perdê-la de vista.
Não a partir de amanhã...
— Aqui a gente se separa — ele gritou para ela a quase quatro quadras da escola. Conferindo que não havia ninguém atrás deles, frearam a corrida, ofegantes e fazendo careta pela dor na costela.
— Já vai? — ela franziu a testa. Tate respirava pesadamente e não pôde deixar de rir.
— Mas eu te vejo amanhã, não vejo? — ele quis saber.
— Tenta me encontrar antes daqueles brochas — ela riu, soltando a mão quente do garoto. — Te vejo por aí, Langdon! — ela correu sem olhar para trás. Tate a observou tomando um pouco de ar por um momento, mas logo mudou de rota, precisava ficar sozinho antes de voltar para o inferno que chamava de casa.
Eles se separaram cedo, mas ela não saiu dos seus pensamentos.
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