XXVII

Muitos meses se passaram até o imperador tomar conhecimento do casamento de Karl com Helene. E apenas soube por causa da imperatriz, porque Helene não poderia deixar de contar a sua sogra que ela teria um neto em breve.

Não demorou muito para o imperador enviar uma carta completamente irado destinada ao seu filho. Ela jamais esqueceria a fúria nos olhos dele ao ler cada palavra que o pai tinha escrito para ele. Helene tentou tranquilizar as coisas, mas pouco adiantou, sua raiva era maior.

Pouco se importava com seu sogro, nunca haviam construído nenhum tipo de amizade ou simpatia. Apenas eram educados um com o outro, e no resto do tempo ignoravam-se, o que era melhor para ambos.

E não demorou muito para seus pais enviarem diversas cartas, dizendo que eles eram irresponsáveis, que não se importavam com nada, apenas com eles mesmos; que eram egoístas. Helene deu tanta risada quando leu aquelas palavras, principalmente quando foi chamada de egoísta. Se tinha uma coisa que nunca havia sido, era egoísta. Durante todos aqueles anos acatou tudo o que era dito para se fazer, agora, quando resolveu ser dona de si, era julgada. Mas agora não se importava, estava feliz ao lado do homem que amava.

— Não acredito que ele ainda teve a audácia de exigir que o nascimento do nosso filho seja no palácio! — passou a mão pelo cabelo. — Olha o tamanho da sua barriga, a qualquer momento dará à luz. Não correrei o risco de fazer uma viagem até Viena para agradar Sua Majestade.

Saiu do seu devaneio com a frase de Karl, que estava com uma carta recém-chegada de Viena.

— Karl, acalme-se, por favor. — mordeu o lábio inferior, pensando alguma forma de fazê-lo se sentar e ficar calmo. Mas não havia jeito, ele parecia um furacão. — Podemos arrumar logo nossas coisas para partirmos. Querido, eu não me importo em ter nossa criança no palácio, sua mãe ficaria feliz em acompanhar tudo.

— Minha mãe pode perfeitamente vir para cá.

— Sabe muito bem que ela está em tratamento, sendo acompanhada pelos médicos. Por favor, seja compreensível.

— Não entendo o motivo de estar concordando com meu pai. — olhou para ela desconfiado.

— Em Viena terei os melhores médicos, melhor auxílio, sabe muito bem disso. Meu querido, eu tenho medo do parto, não posso negar. Muitas mulheres morrem, sabe melhor disso do que eu. — usou a falecida esposa dele para convencê-lo. — Entendo que seja difícil, também será para mim. Teremos os olhares da corte, tenho medo de discussões entre você e o imperador...

— Sabe que terá. — Karl a interrompeu e ajoelhou-se ao lado dela. — Meu amor, estou tentando pensar com mais calma, para tomar essa decisão sabiamente.

— Não temos muito tempo. — Helene passou a mão pela enorme barriga, com um sorriso carinhoso no rosto. — Nosso filho ou filha nascerá logo. Podemos mandar arrumar nossas coisas imediatamente, para partimos amanhã pela manhã.

— Helene...

— Por favor. — olhou para ele com um olhar de súplica, sabia que funcionava sempre.

Ela observou que a expressão dele começou a se suavizar lentamente, até que ele balançou a cabeça positivamente.

— Por que é tão difícil negar alguma coisa para você?

— Porque me ama, torna as coisas mais difíceis. — deu uma pequena risada. — Se aproxime mais um pouco. — entrelaçou os braços no pescoço dele, beijando o lóbulo da orelha dele. — Estou feliz que tenha concordado em ir.

— Por livre espontânea pressão. São seus olhos, parece que possuem feitiço.

— Acha que sou Medusa? — perguntou indignada.

— Quase, em vez de transformar as pessoas em pedra, convence a fazer coisas.

— Desconfio que esteja um pouco dramático hoje.

— Talvez. — pendeu a cabeça de lado. — Quando Anne e Adam retornarão?

— Ainda não sei, por quê?

— Para eles não virem para cá, já que estaremos em Viena.

— Antes de partirmos podemos enviar uma carta comunicando nossa decisão.

Apenas assentiu com a cabeça.

— Sei que está pensando em todos os contras dessa viagem.

Karl começou a rir.

— Não, não.

Helene estreitou os olhos.

— Não?

— Absolutamente não.

— Então...

— Em nomes, ainda não discutimos isso.

Ficou levemente surpresa com a mudança de assunto.

— Gosto do nome Laura. Sinto que teremos uma menina.

— Acha? — encostou a cabeça no ombro dela. — Vai herdar sua beleza, certamente.

— Não seja bobo. — corou levemente.

— Estou sendo bobo por elogiar minha esposa?

— Sim. — começou a fazer carinho na cabeça dele. — E caso minha intuição esteja errada, o que acha de Otto?

— Gosto de Otto. Mas ainda temos que decidir os outros nomes.

— Santo Deus, um nome deveria ser o suficiente.

Começaram a rir.

— Bom, vai ser divertido. — Helene levantou-se do sofá. — Vamos começar a nos preparar.

Karl bufou irritado.

— Ora, não seja tão rabugento.

— Está bem. — revirou os olhos.

Helene deu uma pequena risada e saiu da sala.

Todo trajeto para Viena foi insuportável, bastava olhar para Helene. Algumas vezes a carruagem sacolejava, o que fazia ela ficar com uma expressão de dor no rosto. Karl estava atormentado com aquela situação, se arrependendo a cada instante por ter cedido aos argumentos da esposa.

Quando chegaram em Viena, sentiu um alívio tão grande, pois finalmente sairiam daquela carruagem e Helene poderia descansar em paz. De todas as suas viagens, aquela tinha sido a mais longa.

Pegou a mão dela e afagou com carinho.

— Estou bem, não se preocupe meu amor. — deu um pequeno sorriso. — É só que Laura ou Otto, resolveu ficar bastante agitado durante a viagem. Será que quer conhecer o palácio?

— Santo Deus, somente você mesma para fazer brincadeira mesmo não se sentindo tão bem.

— Sabíamos que ia ser desconfortável.

— Não tanto.

— Fique calmo.

— Estou calmo.

— É um péssimo mentiroso.

— Sei disso. — apoiou a cabeça na janela. — O palácio está longe, não é mesmo?

— Não, você que está agoniado, e como consequência, me deixando agoniada também.

Karl olhou para Helene indignado.

— Ficarei calado.

— Melhor.

Permaneceram calados até o palácio.

— Finalmente meu Deus. — murmurou enquanto carruagem passava pelos jardins. — Nunca pensei que eu fosse ficar tão feliz em ver Schönbrunn.

— O palácio é belíssimo, ao contrário das pessoas que frequentam ele.

— Finalmente resolveu falar. — disse com ironia.

— Fiquei mais calma, pois estou sentindo dores.

— Como? — gritou.

— Estava escondendo de você, querido. Nosso filho nascerá ainda hoje, sem sombra de dúvidas.

— Pelo amor de Deus, só me diz isso agora!

— Não disse antes justamente por causa do seu comportamento.

Ele mal esperou a carruagem parar, desceu enlouquecido chamando os guardas para comunicarem ao médico que Helene teria a criança a qualquer momento. Nem tinha percebido que seus pais estavam descendo as escadarias ao encontro deles.

— Meu filho, está muito agitado, alguma coisa...

— Helene está sentindo dores!

— Oh Deus, meu neto!

Dois guardas foram ajudar Helene a sair da carruagem.

— Karl, acalme-se...

Então ela deu um grito.

Correu até ela e a pegou no colo.

— Vou levá-la para seu antigo quarto. Tudo vai ficar bem.

Helene assentiu antes de dar outro grito.

Não como conseguiu subir aquelas escadarias com tanta pressa, talvez o seu desespero ao ver Helene daquele jeito. Faria qualquer coisa por ela, principalmente para que ficasse bem.

Chegando no quarto dela, o médico e outras pessoas já aguardavam por ela.

— Vossa Alteza, fique tranquilo. Tudo ocorrerá bem, apenas peço que aguarde do lado de fora. Precisamos fazer nosso trabalho sem distrações.

— Quero meu marido ao meu lado. — Helene disse entredentes.

— Alteza, seja razoável.

— Estou sendo... — gritou mais uma vez. — Como dói. — lágrimas desciam por seu rosto. — Querido...

— Vou obedecer ao médico, ficarei do lado de fora esperando.

Ela segurou a mão dele.

— Eu amo você.

— Eu também amo você. — beijou os lábios dela.

Saiu do quarto sem vontade alguma, mas precisava obedecer ao médico.

— Meu filho, finalmente consegui alcançá-lo.

— Mamãe. — abraçou a mulher com força.

— Estou feliz que esteja aqui. — sussurrou em seu ouvido.

— Agradeça a Helene depois, por mim, não estaríamos aqui.

— Entendo. — afastou-se dele. — Parece mais feliz.

— Nunca estive tão feliz, mamãe.

— Tudo aquilo que sempre sonhou.

— Exatamente.

A imperatriz deu um sorriso e pegou a mão dele.

— Queria ter ido ao seu casamento.

— Foi tão lindo, um dos melhores dias da minha vida, absolutamente.

— Certamente.

Karl não queria perguntar, mas não pôde se conter.

— Meu pai não veio?

— Seu pai está velho e lento, chegará logo.

— E os pais de Helene?

— Viajaram, faz uns três dias. Foram a pedido do seu pai representar a Áustria na Alemanha.

— Oh sim.

— Sabe meu filho, não consigo expressar em palavras a imensa alegria que está me dando juntamente com Helene. Sempre quis ter um neto correndo por esse palácio, trazendo alegria para esse ambiente enorme e muitas vezes vazio. Tenho absoluta certeza de que ela trará muita paz também.

— Assim espero, mamãe.

Algumas horas se passaram, Karl andava de um lado para o outro bastante nervoso. Seu pai chegou, contudo, permaneceu em silêncio, o que ele achou excelente, afinal sempre discutia com o imperador.

— Está demorando muito.

— Alguns partos são demorados.

No instante em que sua mãe terminou a frase, a porta do quarto foi aberta, e uma enfermeira saiu de lá com um bebê no colo.

— Majestades, Alteza, a nova arquiduquesa da Áustria.

— Santo Deus! — andou até a enfermeira. — Não posso acreditar! Minha filha!

— Quer pegá-la, Alteza?

— Não, ainda não tenho jeito. Posso machucá-la.

— Por favor, dê-me minha neta. — sua mãe pegou a menina nos braços e deu um enorme sorriso. — É tão linda. Vamos entrar, levá-la para sua mãe.

Karl logo adiantou-se e entrou no quarto correndo até a cama onde Helene estava.

Seu rosto estava pálido, porém, era notável o brilho de felicidade em seus olhos.

— Meu amor, nossa filha é linda.

— Estou tão feliz, que mal posso respirar. — beijou a testa dela. — Estava certa, era uma menina.

— Intuição de mãe.

A imperatriz chegou perto da cama e entregou o bebê para Helene.

— Qual será o nome dela? — o imperador perguntou, deixando todos assustados com sua presença.

— Laura. — respondeu Helene.

— Era o segundo nome da minha mãe, ela adorava. — seu pai deu um sorriso, o que deixou ele completamente assustado.

— Gostou do nome, pai?

— Não poderiam ter escolhido nome melhor.

Karl olhou para Helene, que estava tão assustada quanto ele.

— Perfeito, Laura Anschütz.

Deu um sorriso, e começou a admirar a filha mais uma vez.

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