XXII
Helene recebeu a notícia da morte de Albert pela madrugada, através da sua fiel amiga. Ela não sentiu absolutamente nada em relação a morte dele; nem felicidade, nem tristeza. Talvez um pouco de alívio, mas nada mais que isso. Estava tão neutralizada com os dias que antecederam sua atual situação, que Albert pouco importava, era apenas uma nova situação.
Não teria como evitar o velório, vestiria sua roupa preta e ficaria ao lado da sua sogra até o sepultamento do corpo. O problema seria apenas um: encarar Karl.
Tinha evitado por todos aqueles dias dizer alguma coisa para ele. Não conseguiria encarar nos olhos dele, explicar o que havia acontecido. Por vezes, pensou em ir até o quarto dele e se jogar nos braços dele, pedir perdão pelo que não tinha dito. Mas toda vez perdia a coragem e se encolhia debaixo das suas cobertas.
Arrumou-se rapidamente e foi para o encontro da sua sogra para velar o corpo daquele que tanto a maltratou. Aquele que a fez perder seu primeiro filho.
Segurou as lágrimas em seus olhos, mantendo sua cabeça erguida, não demonstraria nenhuma fraqueza na frente das pessoas. Não naquele momento em específico.
Quando se aproximou do salão, alguém tocou em seu antebraço.
— Alteza?
Helene reconheceu a voz da amante de Albert.
— Você. — virou-se para encará-la.
A mulher encolheu os ombros, piscando os olhos diversas vezes.
Helene achou uma grande ousadia da parte dela estar ali, no entanto, era a amante de Albert, e de alguma forma deve ter feito ele feliz. Ingrid Feinberg merecia e deveria estar naquele palácio. Muito mais do que ela, inclusive.
— Foi vê-lo?
— Ainda não. — a voz dela vacilou. — Não tive coragem suficiente.
— Entendo. Você gostava dele, Ingrid?
— Ele me tratava bem, Alteza.
— Não foi essa a minha pergunta.
— Sim, eu gostava dele.
— Mas não o amava.
— Não, eu não o amava.
— Certo. — Helene anuiu com a cabeça. — Pode ficar à vontade, ninguém vai incomodá-la, eu acho. No máximo, ouvirá alguns comentários maldosos, não dê ouvidos, não são importantes.
— Gostaria de lhe pedir perdão por aquele dia, Alteza.
— Está perdoada.
— Obrigada, Alteza.
— Agora, preciso encontrar a imperatriz, licença.
Ingrid fez uma reverência enquanto Helene se afastava dela.
O velório estava sendo realizado em um grande salão. Conseguiu identificar vários membros da aristocracia austríaca, todos cochichavam em voz baixa, olhando para o enorme caixão rodeado de velas. Helene enxergou o imperador solitário diante da janela, estava com a cabeça baixa, os ombros tremiam, provavelmente estava chorando. Era estranho vê-lo chorando, porque achava que aquele homem era feito de ferro.
— Minha filha. — a mão enluvada da sua mão tocou em seu braço.
— Mãe.
— Pensei que não viria.
— Eu precisava vir. Não por ele, pela imperatriz.
— Seraphine está ao lado do caixão. Raramente deixa alguém se aproximar dela.
— Ela não está mais lá, mãe.
A baronesa olhou para a direção do caixão surpresa ao não ver a presença da imperatriz.
— Estranho.
— Karl esteve aqui?
— Ele presenciou a morte do irmão, Helene. E sim, esteve aqui, mas não ficou por muito tempo. Ele e o pai quase tiveram uma discussão no meio de todos, Seraphine conseguiu animar os ânimos, por isso ele saiu daqui.
— Qual o motivo da discussão?
— Nem mesmo ele morto deixa os ânimos deles em paz. Karl é oficialmente o herdeiro do trono.
— O imperador nunca quis Karl como herdeiro do trono dele, agora não tem uma alternativa.
— Não, não tem.
Seraphine voltou ao salão, com a cabeça baixa, esfregando os braços freneticamente.
— Vou ficar com ela, mãe.
— Tudo bem.
Helene assentiu e caminhou até sua sogra.
Durante o percurso, algumas pessoas a pararam, prestaram suas condolências. Helene apenas agradecia e assentia, sem muita paciência para aquilo tudo. Apenas queria conversar com a sogra dela, seguir o velório e o cortejo fúnebre.
— Seraphine. — tocou o ombro dela. — Sinto muito.
— Oh minha querida, eu sei que não sente. Mas obrigada por suas palavras e por estar aqui. Outra pessoa não viria, digo isso por mim. Está sendo difícil enterrar o meu primeiro filho, sabe? Ele que deveria me velar e enterrar. Essa é a ordem natural das coisas, Helene. — lágrimas começaram a descer pelo rosto dela. — Albert adiantou a morte dele, tomou veneno. Daqueles venenos que demora aos poucos para matar. Ele escolheu justamente Karl para presenciar tudo.
— Não esperava menos dele.
— Karl está um pouco transtornado. Albert contou tudo a ele antes de morrer.
— Ele não tinha esse direito. — Helene fechou o punho com força. — Não tinha.
— Querida, acalme-se. Um dia teria que conversar sobre isso com Karl. Não acha que ele esqueceu, não é mesmo? Ele é muito teimoso quando quer alguma coisa. Infelizmente, Albert adiantou-se.
— Vai ser complicado revê-lo.
— Talvez não. Ele a ama muito.
— Não sei se ele vai me perdoar por ter escondido essa situação dele.
— Perdeu um filho, foi humilhada, agredida, é compreensível. Vocês passaram dez anos longe um do outro, e nada mudou. Muito pelo contrário, aumentou a chama que existia entre vocês. A vida não foi justa.
— A vida? — Helene perguntou ironicamente. — A senhora sabe que não foi a vida, e sim, pessoas que interferiram em nossas vidas sem pudor algum. Nunca perguntaram o que queríamos, apenas fizeram. Sobrevivemos, lutamos, e estamos aqui.
— Pergunto-me quando vão fugir de Viena.
— Espero que não demore muito.
— Será bom para a sanidade mental de ambos. Terei que aguentar o humor do meu marido, todos os seus julgamentos e críticas. Até ele aceitar toda essa situação... Ele é muito bipolar com seus sentimentos, não consigo entender muitas vezes. Pediu perdão para Karl, disse que se arrependia do que havia feito, depois age como uma pessoa ruim. Graças ao bom Deus não estava aqui quando eles começaram a discutir. Tive que impedi-los, não sei como poderia terminar.
— Coisa boa não seria, tenho certeza.
— Helene.
Karl agarrou o corpo dela e deu um abraço apertado.
Era uma demonstração de afeto perigosa.
Mas ela não se importava, porque estar dentro daqueles braços novamente era muito bom. Era impressionante como ele tinha um poder de fazer com que ela se sentisse bem, mesmo que tudo estivesse desmoronando ao seu lado.
— Meu amor, meu amor, deveria ter me procurado. Passaríamos por tudo juntos, absolutamente. Não confia em mim?
— Confio minha vida. — sussurrou.
— Como está se sentindo? — soltou-se dela devagar, olhando cada detalhe do rosto dela com atenção.
— Não saberia lhe responder, mas estar perto de você já está me fazendo muito bem.
Beijou a mão dela.
— Nunca mais me deixe tantos dias longe de você, é horrível.
— Vou tentar.
— Faça disso uma promessa, Helene.
— Eu prometo.
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