XVIII
Estava tremendo de raiva quando saiu do teatro. Gostaria que o percurso até o palácio fosse bastante longo para poder se acalmar o suficiente. Nunca sabia quando alguma coisa de ruim poderia acontecer a ela quando pisava em um palácio onde residia Albert. Mesmo que ele estivesse machucado, de cama, poderia ser capaz de aprontar alguma coisa.
— Vossa Alteza está bem?
— Não, Emily.
Naquela noite, Anne pediu licença para visitar o sogro que há muito tempo ela não visitava. O barão não era o sogro ideal para sua melhor amiga, mas tinha prometido ao seu falecido marido que cuidaria dele de alguma forma, então não pensou duas vezes em conceder essa folga para ela.
Odiava todos os protocolos.
Inicialmente, sua sogra mandava suas damas vigiá-la. Descobriu através de Anne, que também tinha recebido essa proposta. A conversa que teve com a imperatriz sobre esse assunto foi completamente desconfortável e acalorado. Jamais deixaria mais uma pessoa interferir tão diretamente em sua vida, mesmo que ela fosse uma imperatriz.
Quando chegou no palácio, desceu com a ajuda do lacaio e andou até os jardins, impedindo qualquer pessoa de acompanhá-la. Nem mesmo esperou Karl descer da carruagem, não queria ver o olhar de repreensão dele; ele tinha pedido para Helene não ir, na verdade, implorado. Mas, teimosa como era, foi assim mesmo.
Não sabia como tinha chegado tão rapidamente ao jardim, talvez fosse o desespero de ficar sozinha, ou raiva.
Na verdade, era as duas coisas.
Tirou a tiara da sua cabeça, colocando em cima do banco. Apesar de ser uma das mais simples, pesava muito. Fora seu cabelo que ficava enorme a cada dia, e consequentemente seus penteados tornavam-se mais pesados.
— Helene!
Escondeu-se atrás de uma árvore larga quando ouviu Karl chamar por ela. Precisava realmente ficar sozinha por uns instantes. Por mais que o amasse, queria aquele momento em silêncio, apenas com seus pensamentos.
— Guarda, por favor, leve essa tiara da arquiduquesa Helene.
— Sim, Alteza.
Passaram-se alguns minutos até Helene não ouvir mais nenhum passo, nenhuma voz.
Deu um suspiro profundo, saindo de trás da árvore.
— Seu vestido é volumoso o bastante para ser visto atrás de uma árvore, Helene.
Helene tomou um susto ao ouvir a voz de Karl.
Ele estava sentado no banco onde tinha deixado sua tiara, que como ela tinha ouvido, tinha sido mandada de volta ao palácio para ser guardada.
— Preciso ficar um pouco sozinha.
— Por quê?
— Preciso disso.
— Helene, o que aconteceu...
— Não quero lembrar do que aconteceu. — o interrompeu imediatamente. — Por favor, não diga que me avisou sobre Ingrid.
Ele fez uma careta, negando com a cabeça.
— Apenas ia dizer para esquecer o que aconteceu essa noite.
— Não posso esquecer a audácia daquela mulher.
— Ela é insignificante.
Helene meneou a cabeça para o lado, considerando a fala dele.
— Creio que Albert é um estorvo suficiente. — Karl fez um gesto com a mão, chamando-a para se sentar. — Seus pés vão ficar doloridos se permanecer muito tempo em pé. Tenho plena convicção que seus sapatos não são muito confortáveis, mas devem ser lindos. Bem, Barbara dizia isso.
— Que meus sapatos eram lindos e desconfortáveis? — Helene se sentiu desconfortável ao falar da falecida esposa de Karl.
— Não. — um pequeno sorriso brotou nos lábios dele. — Você entendeu.
— Nunca perguntei como era o casamento de vocês.
— Era bom.
— Bom? — arqueou a sobrancelha.
— Bárbara era uma boa esposa. Eu gostava muito dela, apesar de não a amar. Tínhamos uma convivência boa, sem muitas discussões. Costumávamos caminhar pela tarde, quando eu estava livre. Então veio a notícia da gravidez, fiquei extremamente feliz com a ideia de ser pai, sabe? Queria ser completamente diferente com ele do que meus pais foram comigo. Eu não o criaria nessa corte maldita, seria bem longe. Se meu pai e minha mãe quisesse conhecê-lo, que fosse até nós.
— O bebê era um menino?
— Sim. Morreu estrangulado com o próprio cordão umbilical. — seu rosto foi tomado pela dor. Helene se aproximou, colocando a mão no ombro dele. — Ainda tenho pesadelos com aquela cena.
— Não deve ter sido nada fácil para você.
— Era meu filho e minha esposa. Aquela cama cheia de sangue, com pessoas pálidas de medo e tristeza.
Helene encostou sua cabeça no ombro dele.
— Ainda tenho você. Por enquanto, pela metade. Algum dia terei por inteira.
— Você me tem por inteira.
— Quero uma aliança minha no seu dedo, assim como eu quero uma sua no meu dedo. — desceu a mão nas costas dela. — Não quero uma cerimônia grandiosa, uma coisa simples. Somente nós e alguns amigos.
— Acha que isso seria possível?
— Por que não?
— Caso Albert morresse, seria automaticamente o herdeiro do trono. Ou seja, precisaria de toda aquela pompa que foi o meu casamento.
— Não, porque ninguém precisaria saber. Seríamos um segredo. — apertou a cintura dela. — Um segredo que eu adoraria guardar.
— Casaríamos em segredo? — deu o primeiro sorriso sincero daquela noite. Pensou que ele ter insistido para ficar não tinha sido uma má ideia.
— Exatamente. — sussurrou no ouvido dela, beijando seu pescoço lentamente. — Deus abençoaria nossa união, os anjos fariam uma bela festa no céu.
— Karl... — arrepiou-se com o beijo que ele deu em sua clavícula. — Devemos parar.
Karl grunhiu.
— Não reclame. — beijou a bochecha dele. — Lembre-se que somos um segredo.
— Claro, mas isso não me impede de chamá-la para uma valsa.
— Valsa?
— Sim, uma valsa. — levantou-se do banco oferecendo a mão para ela.
— Sem música? — pegou na mão dele.
— Somente a música dos nossos corações.
Helene deu uma pequena gargalhada e colocou a mão no ombro dele.
— Espero que saiba dançar valsa, senhor.
— Nós, austríacos, nascemos dançando valsa, minha senhora.
— Oh, fico feliz que não terei meu pé pisoteado.
— Muito engraçada, Helene.
— Eu sei.
Valsaram como se estivessem em um baile. Helene sentia-se tão bem, que não poderia explicar aquela sensação para ninguém. Era uma coisa única, pura e rara.
— Acho que essa está sendo a melhor valsa que tive em anos. Na verdade, em vida.
— Exagerado. — Helene rodopiou, voltando a ficar colada no corpo dele novamente.
— Estamos tão bem aqui, não gostaria de voltar para dentro desse palácio.
— Como se eu quisesse.
— Temos que fazer isso.
— Sim.
— Podemos ficar mais um tempo...
Helene o interrompeu com um beijo.
— Sim, podemos.
Voltou a beijá-lo novamente, ouvindo apenas o som dos corações batendo como um só.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top