XVI

Helene sentiu uma enorme alegria ao ver Karl naquele salão. Seu coração estava em ritmo acelerado, e sua boca não conseguia fazer outra coisa além de sorrir. Teve muitas dúvidas se ele realmente iria para o natal em Viena, porque sabia que sempre havia conflitos quando os Anschütz se reuniam.

— Seus olhos estão brilhando mais que seus diamantes. — seu irmão bebeu o vinho que estava na taça e deu um sorriso travesso olhando para Karl, que conversava alguma coisa com a imperatriz. — Raramente os vejo assim, na maioria das vezes são lágrimas. — pegou a mão de Helene por debaixo da mesa. — Espero que um dia seja livre para ser feliz ao lado dele.

— Não sei quando serei livre para isso, meu irmão. — apertou a mão dele. — Vou me contentar com o que temos.

— Deveriam fugir.

— Não podemos, sabe disso.

— Ele consegue apoio com outro país.

— Adam, vamos parar com suas ideias? — olhou em direção aos imperadores. — Não quero ser punida.

— Seu marido está bebendo além da conta. Alguma coisa acontecerá, sabe muito bem. Karl parece irredutível para qualquer coisa. Arrisco dizer que se ambos fossem monarcas de países diferentes, estariam em guerra.

— Com absoluta certeza duraria mais tempo que a guerra de Tróia.

— Seu nome é perfeito, Helene. — Adam deu um sorriso sarcástico. — Temos aqui como Menelau o seu amado Albert.

— Engraçadinho. — empurrou o irmão devagar.

— E para roubá-la das garras desse terrível marido, Páris, o seu amado Karl.

— Adam!

Começaram a rir, chamando a atenção de todos na mesa, principalmente de Albert, que já parecia bastante bêbado. Ficou receosa que ele começasse uma confusão naquele momento para estragar a noite de todos. Mas todos estavam acostumados com as crises agressivas dele.

Helene tamborilou os dedos sobre a mesa e bebeu o vinho que estava em sua taça.

— Fica extremamente linda apreciando vinho, minha esposa. — Albert ergueu sua taça em direção dela, fazendo seu estômago revirar com a probabilidade de o teatro começar naquele momento.

— Acho que vou me retirar, Majestade. — encarou Karl. — Não estou me sentindo muito bem.

Então uma gargalhada estridente surgiu.

Era Albert.

O teatro havia começado.

— Não percebem que ela está mentindo?

— Albert, querido, por favor... — a imperatriz começou a falar, mas logo foi interrompida pelo filho mais velho.

— Mamãe, a senhora não vai conseguir colocar seu filho para dormir mais uma vez.

— Pare de uma vez com isso, Albert! — o imperador se levantou alterando a voz. — Saia daqui imediatamente.

— Não sairei! — seu rosto começou a ficar vermelho. — Enquanto eu não disser as malditas coisas que tenho a dizer, não sairei desse salão! Parem de tentar me impedir sempre! — gritou. — Estou farto de ver a minha mulher me traindo com meu próprio irmão!

Helene empalideceu.

— Esses malditos dez anos, ela nunca o esqueceu! Essa maldita mulher nunca se deitou comigo, agora, com ele, — apontou para Karl, que mantinha a expressão neutra, mas olhos brilhavam de raiva. — fez questão de abrir as pernas em pouco tempo.

— Vossa Alteza passou dos limites. — Adam grunhiu.

— Passei dos limites cunhado? — perguntou debochadamente. — Eu realmente passei dos limites? Ou foi a vagabunda da sua irmã?

Helene nunca tinha se sentido tão humilhada em toda sua vida. Não se lembrava de quando havia prendido a respiração, até soltá-la com dificuldade. Lágrimas rolaram por seu rosto sem parar, era terrível aquela sensação de vulnerabilidade.

— Eu vou matá-lo!

Tudo estava acontecendo tão rapidamente, que quando percebeu, Albert já estava no chão com Karl por cima dele dando-lhe uma mistura de bofetadas, murros, chutes. Sentia-se em um campo de guerra, aquilo a estava matando.

Sentiu os braços do seu irmão a envolvendo, afagando seu cabelo com carinho.

— Por favor, me tira daqui. — começou a chorar ainda mais. — Não estou aguentando mais permanecer nesse salão, sou capaz de vomitar.

— Vou tirá-la daqui Helene. Apesar de gostar de ver o que o arquiduque Karl está fazendo com esse completo idiota! — cuspiu as palavras como veneno. — Se não fosse ele, quem estaria em cima daquele verme seria eu!

— Meu filho, leve sua irmã daqui. — a baronesa olhou para o filho com lágrimas nos olhos.

— Tudo isso é culpa sua. — sibilou afastando-se do irmão, olhando com mágoa para a mãe. — Eu nunca deveria ter me casado com esse crápula. Eu nunca deveria ter entrado naquela catedral. Eu nunca deveria ter dito "sim" naquele altar. Eu odeio a senhora!

— Helene... — mal ouviu a voz da sua mãe.

— Odeio. — sua voz começou a ficar embargada. — Odeio!

E saiu correndo daquele fatídico natal.

Foi muito difícil dormir naquela noite. Parecia que uma carruagem tinha atropelado ela várias vezes, sem nenhuma piedade. Sua cabeça doía, seu corpo não parava de tremer, e as lágrimas não paravam de descer por seu rosto. Anne chegou rapidamente para ajudá-la com qualquer coisa que fosse, e a única coisa que ela pediu foi um abraço e silêncio, não queria falar sobre aquele assunto.

Acordou com o barulho de empregados andando pelo quarto. Anne não estava mais ao seu lado, provavelmente tinha saído para resolver alguma coisa, ou saber mais informações do que tinha acontecido naquele salão com a família imperial, já que ela não tinha falo nada.

— Eu preciso falar com ela, Anne. — ouviu a voz alterada de Karl.

— Alteza, por favor, volte em outra hora.

— Maldição! Preciso vê-la, ou vou enlouquecer.

Helene levantou-se da cama, meio cambaleando e abriu a porta.

— Venha Karl.

— Helene, precisa descansar do que aconteceu ontem.

— Preciso ficar com ele a sós.

— Acredito que não seja uma boa ideia.

Deu um pequeno sorriso.

— Nada que venha desse palácio ultimamente está parecendo uma boa ideia, Anne. — respirou fundo. — Venha Karl. — pegou a mão dele, puxando-o para dentro do quarto. — Garanta que ninguém nos interrompa.

— Sim. — ela assentiu receosa, fechando a porta logo em seguida.

Karl pegou o rosto dela com as duas mãos. Helene sentiu os olhos dele percorrer todo seu rosto devagar, verificando se estava tudo bem. Ambos sabiam que não estava; a cicatriz era interna, era na alma, nos sentimentos.

— Nunca vou aceitar as palavras que aquele homem disse para você, meu amor. Jamais esquecerei a maneira como ele a humilhou perante a sua família. Essas lágrimas que derramou ontem, não consigo aceitar. — passou o polegar pela bochecha dela delicadamente. — Não a procurei ontem mesmo, porque eu sabia que precisava de um tempo sozinha. Mas, agora, sinto que devo ficar ao seu lado.

— Não consigo expressar quão humilhada me sinto. — sentiu que as lágrimas estavam chegando com força total. — De todas as coisas que seu irmão tinha feito, essa foi a pior de todas. Se eu continuar mais um dia casada com esse homem, ou vivendo no mesmo lugar, não sei do que sou capaz de fazer. Prefiro ser enforcada, do que passar mais um dia com essa maldita aliança. — tirou o anel do seu dedo e jogou em algum do quarto.

— Meu pai...

— Não quero falar sobre eles agora.

— Não posso garantir nada. — encostou a testa na dela. — Porém, sinto que ainda vamos ser felizes juntos.

— Ainda tenho essa esperança.

Karl levantou o queixo dela e a beijou ternamente.

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