XV
Karl não voltou a ver Helene em Bad Ischl. Ela simplesmente lhe enviou uma carta comunicando que voltaria para Viena, e o esperava para comemorar o natal. Não entendeu o motivo da ida dela tão repentina para Viena, alguma coisa tinha acontecido com ela, ainda mais com Albert na cidade. Descobriria assim que chegasse em Hofburg.
A neve tinha cessado, o que ele tinha agradecido imensamente a Deus, porque não atrasaria ainda mais. Já era 24 de dezembro, seu pai ficaria irado com sua chegada repentina, ele não tinha avisado sobre sua ida. Não podia negar que adorava provocar o imperador.
Avistou a entrada do palácio, dando um sorriso de alívio por ter finalmente chegado. Quando a carruagem parou, se arrumou e abriu a porta.
Empregados corriam de um lado para o outro, provavelmente para dar os últimos ajustes na festa. Como todo ano, seria apenas a família dele e de Helene, deveria ser um completo tédio.
— Vossa Alteza, não sabíamos que o senhor viria. — um empregado se aproximou fazendo uma reverência.
— Perdoe-me por isso. — deu um pequeno sorriso. — Poderia me dizer a hora?
— Quase meia-noite, Vossa Alteza.
— Perfeito. Por favor, não comunique aos meus pais, ou qualquer outra pessoa que estou aqui. Apenas poucos empregados. Entendeu-me?
— Sim, Vossa Alteza.
— Ótimo. Meu secretário e meu valete vão lhe dar as instruções. — começou a caminhar, quando voltou em direção ao empregado. — Seu nome?
— Jens Saks, Vossa Alteza.
— Estão no salão principal?
— Sim...
— Sem o tratamento especial, Sr. Saks.
— Sim, Vos... Senhor.
— Melhor.
Karl deu um sorriso para Jens e andou de volta para o palácio.
O lugar estava completamente iluminado, enfeitado com coisas natalinas, gostava daquela época do ano, apesar de não lembrar de momentos felizes no natal com sua família. Na verdade, ele sempre ficava de castigo naquela época do ano, proibido de passar a ceia com os pais e o irmão; Albert sempre provocava sua ira, consequentemente ele tinha suas punições. Com isso, descobriu que os empregados comemoravam de maneira simples o natal na cozinha, e foi acolhido com amor por todos. Muito do amor que possuía, tinha sido os empregados que lhe ofereceram, e seria eternamente grato por toda dedicação deles.
Passou por diversos empregados, que faziam reverências, e depois ficavam cochichavam. Karl deu uma risada, era sempre assim quando ele retornava para casa, parecia que nada mudava.
— Karl? Quero dizer, Alteza?
Virou-se para a dama de Helene.
— Olá Anne.
— Fico tão feliz que tenha vindo. — fez uma reverência. — Preciso conversar com o senhor.
— Alguma coisa com Helene? — ficou alarmado.
— Podemos ir andando e conversando?
— Claro.
Começaram a andar devagar.
— Helene não veio para Viena por livre espontânea vontade dela.
— Desconfiava.
— Vai além disso.
— O que quer dizer com isso?
— Albert voltou lá naquele dia.
— Como? — parou abruptamente.
— Eles discutiram novamente, dessa vez passou dos limites.
— Passou dos limites? — sentiu uma enorme ira se apossar dele.
— Helene acabou dizendo que vocês passaram a noite juntos, ele acabou acertando um tapa no rosto dela, que acabou caindo e batendo a cabeça na mesa. Ela ficou desacordada por horas, quase mandei chamá-lo, mas eu não fazia ideia da sua localização. Quando Helene acordou, pediu para eu não o comunicar, e mandou arrumar tudo para retornarmos.
— Por que ela fez isso? — Karl ficou atordoado. — Ela não podia ter escondido isso de mim! Maldição! Eu a amo tanto, faria qualquer coisa por ela. Vou acabar com Albert!
— Exatamente por isso ela não quis contar. Não percebe, senhor? Helene falou mais do que devia, podem ficar arruinados!
— Eu não me importo! Fui privado de tantas coisas por causa do meu pai e Albert, que nada mais me importa, Anne. Eu pude sentir os braços dela, o beijo dela, a entrega de Helene. Santo Deus, não posso simplesmente fechar os meus olhos para isso.
— O senhor se comportará pelo bem dela.
Karl pensou a respeito, e para seu infortúnio, Anne estava completamente certa.
— Está bem.
— Vai chegar bem meia-noite, senhor.
— Serei o presente deles.
— O senhor realmente gosta de causar desconforto em sua família.
— Agora entendo o motivo de Helene gostar tanto da senhora.
— Por quê? — um pequeno sorriso se formou no rosto dela.
— Fala o que pensa. E, sim, gosto de causar desconforto nos meus pais. Mas, nada me agrada mais do que incomodar Albert. Sou a maior pedra do sapato dele, gosto dessa sensação de ser pedra.
— O senhor não vale nada. — Anne deu uma pequena gargalhada, voltando a andar novamente ao lado dele até o salão em que estavam comemorando o Natal.
— Talvez seja meu charme. — brincou.
— Talvez.
Começaram a rir até chegarem até a porta que dava para o salão.
— Colocaram um lindo pinheiro esse ano.
— Imagino, minha mãe ama ostentar enormes árvores.
— Gostará da decoração.
— Prefiro gostar da comida.
— Essa está ainda melhor.
— Se tem uma coisa pela qual tenho orgulho nesse palácio é a cozinha.
— Excelente.
— Bem, preciso entrar.
— Boa sorte.
— Ah, vou precisar. Entrarei em uma cela com feras selvagens.
Anne deu um sorriso e afastou-se dele.
Os guardas fizeram uma reverência e abriram a porta para ele.
Então, vários olhares caíram sobre ele.
Seus pais e os pais de Helene surpresos.
Albert completamente irado.
Até então Helene não tinha notado sua presença, estava cabisbaixa, passando o dedo pela borda da taça distraidamente. O relógio soou meia-noite, fazendo com que ela saísse do seu torpor.
Finalmente ela o viu, dando o que parecia ser seu primeiro sorriso da noite.
Um empregado passou por ele, lhe oferecendo uma taça de vinho, que Karl aceitou prontamente.
— Feliz Natal!
Ergueu a taça no ar e bebeu todo o líquido.
— O que está fazendo aqui? — Albert levantou-se rapidamente.
— Juro que recebi o convite de nossa mãe para eu vir.
— Ela fez isso todos esses anos, nunca veio. — deu um murro na mesa, fazendo Helene cochichar alguma coisa no ouvido do irmão mais velho, que deu uma pequena risada.
— Perdoe-me, Vossa Majestade. Não queria incomodá-lo.
— Karl, fico feliz que tenha vindo. — seu pai falou depois de fuzilar Albert com o olhar, fazendo-o com que ficasse calado. — Junte-se a nós.
— Seria uma honra papai.
Karl foi até a mesa completamente relaxado, como se nada estivesse acontecendo.
— Mãe. — beijou a mão dela.
— Bem-vindo. — sorriu, dando-lhe um beijo no rosto.
— Pai. — fez uma reverência e depois apertou sua mão. — Fico feliz que não tenha me expulsado como nas outras vezes.
— Karl...
— Sra. Wittgenstein.
— Vossa Alteza. — a mulher fez uma reverência.
— Que bobagem, pertence a nossa família.
— Sr. Wittgenstein.
— Vossa Alteza. — Karl o segurou antes de completar a reverência.
— Realmente não é necessário. — voltou-se para o irmão mais velho de Helene. — Adam Wittgenstein?
— Sim, senhor.
— Um prazer finalmente conhecê-lo.
— Igualmente. — o homem abriu um sorriso.
Quando chegou a vez de cumprimentar Helene, seu coração começou a acelerar.
— Helene.
— Karl.
— Belíssima como sempre.
— Estou feliz que tenha vindo.
— Jamais quebraria uma promessa nossa. — beijou a mão dela demoradamente, olhando-a bem nos olhos. Depois sussurrou, para que somente ela ouvisse. — Eu a amo.
— Eu também o amo.
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