XIX

Mesmo que a noite tenha começado bastante estanha, seguindo de momentos constrangedores e chatos, tudo terminou bem. Ou, parcialmente bem. Nada ficava bem por muito tempo naquele lugar, pois mais que tentasse.

Karl acordou com um ótimo humor, disposto a caminhar um pouco antes do seu desjejum. Gostava do clima frio, era o seu preferido porque gostava da sensação que ele causava em seu corpo.

— Alteza, Sua Majestade exige sua presença para o desjejum imediatamente. — a mãe de Helene estava ao lado do seu valete, que olhava para ela com desdém.

— Bom dia baronesa. — Karl estava terminando de abotoar os últimos botões do seu casaco. — Não me recordo de ter marcado esse compromisso com minha mãe. — levantou a cabeça, encarando a mulher nos olhos. — Mas, acho que de acordo com os protocolos não devemos dar não para uma imperatriz.

— Não, Alteza.

— Por que ela mandou a senhora?

— Desconheço as razões de Sua Majestade.

— Imagino que sim. — crispou os lábios. — Vejo que terei que adiar minha caminhada, uma lástima. Gosta do inverno Sra. Wittgenstein?

— Prefiro a primavera, Alteza.

Karl passou a mão no cabelo, para arrumá-lo de maneira mais descontraída.

— Vai ser no quarto dela?

— Sim, Alteza.

— Pode se retirar, senhora.

A mulher estreitou os olhos e fez uma reverência antes de sair. Não gostava da mãe de Helene, transpirava falsidade e superficialidade. Fora a quantidade de culpa que a baronesa tinha na separação dos dois. Definitivamente não gostava da mulher, ao contrário da sua mãe que parecia idolatrá-la.

Suspirou fundo e foi ao encontro da sua mãe. Não sabia o que esperar de uma conversa com a imperatriz tão cedo, sentia que era algo relacionado a Albert ou Helene. E se o teor da conversa fosse isso, não estava com nenhuma paciência.

Os guardas abriram a porta para ele, que entrou devagar para observar tudo. Empregados estavam servindo a mesa, e sua mãe estava sozinha; o que já era um alívio. Não avistou nenhuma das damas da imperatriz no local, o assunto deveria ser realmente restrito.

Respirou fundo e forçou um sorriso.

— Bom dia, mãe.

— Oh, Karl, você chegou. — ela levantou a cabeça, estava lendo alguma coisa. — Espero que eu não tenha estragado nenhum compromisso seu.

— Apenas uma caminhada. — deu de ombros.

— Poderá fazer depois. — indicou uma cadeira ao lado dela. — Eu precisava de um tempo a sós com você.

— Percebi. — olhou em volta. — Raramente está sozinha.

Sua mãe deu um pequeno sorriso enquanto ele beijava sua mão e se sentava ao lado dela.

— Mesmo que eu tenha muitas pessoas ao meu lado, sinto-me sozinha algumas vezes. A baronesa Wittgenstein é a amiga que mais estimo.

— Não gosto dela.

— Podem se retirar, eu e Karl conseguimos nos servir sozinhos.

Os empregados assentiram e saíram do quarto.

— Entendo o motivo de não gostar dela.

— Ela é completamente fútil, mãe. Não mede esforços para suas ambições. Colocou a felicidade da filha na fogueira para ter alguém na família imperial.

— Seu pai também tem culpa.

— Como se eu não soubesse. — apoiou o queixo na mão. — O imperador sempre concordou com tudo que Albert quis.

— Talvez tenha sido nosso pior erro. — murmurou. — Ah, meu filho, eu sinto tanto pelo que fizemos com você. Todo dia fico me culpando.

Karl permaneceu calado.

— Meu filho, eu vejo a dor em seus olhos, assim como a mágoa.

— Por que essa conversa agora?

— Eu procurava coragem para falar com você sobre isso.

— Claro. — disse irônico.

— Estive com seu irmão ontem, estou evitando entrar no quarto dele. Albert está...

— Louco?

— Incontrolável. — sua voz parecia cansada.

— Veio perceber agora?

— E eu não aguento mais ele falando aquelas coisas sobre Helene. Vou ser bem sincera, eu não simpatizava muito com ela. Porém, durante esses anos, percebi como Helene é uma boa pessoa. Se tivessem se casado, provavelmente eu já teria netos correndo por esse palácio. Sinto tanta falta de alegria nesse lugar, apenas temos brigas e mais brigas.

— Mãe, eu e Helene estamos juntos.

— Eu sei.

— Ótimo. E não vamos nos separar. Não mais.

— Querido, apenas peço para que tenham cuidado. E, por favor, não tenham um filho. Ele seria um bastardo, fora o escândalo que seria.

— Helene pode estar grávida.

— Ela disse alguma coisa?

— Apenas uma possibilidade.

— Albert está doente.

— Ouvi isso há dez anos. — debochou. — Acho que não acredito muito nessa doença dele.

— Agora é verdade.

Karl olhou para a mãe cautelosamente.

— É uma espécie de câncer, não sei explicar. Notou a região do abdômen dele? Está crescendo a cada dia, e Albert sente muitas dores. Sofro em ver meu filho dessa forma.

— Lamento por você em estar vivenciando essa situação, mãe. É meu irmão, mas não sinto nada por Albert além de desprezo. E não espere que eu lamente a morte dele, porque está além do meu limite de tolerância. Fora que não consigo ser falso até esse ponto.

— Nunca esperei que meus dois únicos filhos fossem ser inimigos mortais.

— A senhora acha que eu desejei essa situação? Sabe que não é por causa de Helene, ela só foi um estopim. Albert consegue me atormentar desde sempre, nunca parou com suas atitudes ruins comigo. Nunca houve motivo para ciúmes da parte dele comigo, pois a atenção de vocês era toda para ele. — apertou o guardanapo com as mãos. — Fui criado por várias pessoas desse palácio, talvez eu os considere mais a minha família do que meus próprios pais. Mãe, eu sempre quis sua atenção. Sempre quis andar de mãos dadas com a senhora, receber o mínimo de carinho que fosse. Mas tudo que recebi foi indiferença. — seus olhos ficaram marejados. — E por mais que eu lute contra esse sentimento de mágoa que existe dentro de mim, não consigo evitar de lembrar todas às vezes que chorei por não a ter comigo. Por todo esse abandono. — sua voz estava ficando mais embargada. — Eu poderia ter me tornado uma pessoa ruim como Albert, mas escolhi ser alguém melhor que ele. Fui perfeito em tudo que fiz, principalmente em minha devoção com o amor. Sinto orgulho do que me tornei, que não foi graças a você e nem ao meu pai, mas todos os antigos empregados desse palácio.

Seraphine começou a chorar, soluçando toda vez que tentava se pronunciar. Karl não sentiu pena em momento algum, apenas alívio por dizer tudo que estava entalado dentro dele durante anos para a mãe. A imperatriz não merecia piedade.

— Isso me deixa tão destruída.

— Nunca tentou reparar seu erro, mãe.

— Eu sei, eu sei.

— Quantas vezes Albert tentou me matar quando eu era pequeno? — tirou o cabelo da testa exibindo a cicatriz que tinha conseguido quando o irmão bateu sua cabeça várias vezes no chão, quase o matando. — Ele chegou a matar meus cachorros!

— Achávamos que isso mudaria com o tempo.

— Vocês viam apenas o que queriam ver. É melhor ser honesta, mãe. Não precisa ficar negando aquilo que já aconteceu.

— Majestade!

Um guarda entrou no quarto desesperado.

— O que aconteceu? — levantou-se da mesa, olhando para Karl.

— Sua Alteza...

— O que Albert fez dessa vez?

— Não, não é ele. É a arquiduquesa Helene.

— Como? — Karl levantou-se preocupado.

— Sua Alteza passou mal. Na verdade, ainda não se sente bem. Está solicitando a presença de Vossa Majestade.

— Não é a presença de Karl que ela deseja? — a imperatriz já estava de pé.

— Não, Sua Alteza expressou que queria falar apenas com Vossa Majestade.

— Estou indo. — a imperatriz voltou-se para Karl. — Infelizmente estamos sendo interrompidos mais uma vez. Meu filho, por mais que seja difícil, permaneça aqui.

— Ficarei aqui.

Mas a única vontade que ele tinha, era ir com sua mãe ver como Helene estava. Estava muito preocupado com a saúde dela.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top