XI
A vida tinha um sabor agridoce para Helene. Era uma batalha constante para manter sua cabeça erguida diante de tudo o que era submetida. Ficava cada vez mais agitada quando percebia que nada estava mudando, tudo continuava da mesma maneira. Como gostaria que sua vida mudasse drasticamente.
Estava bastante cansada quando chegou na entrada da casa dos seus pais, depois de uma longa caminhada pelos campos de Bad Ischl. Fazia isso sempre quando precisava pensar sobre alguma coisa, e seus pensamentos estavam todos em Karl fazia um mês.
Um mês que ele tinha ficado viúvo.
Um mês que ele tinha perdido o filho.
Dez anos que não nunca mais tinha visto ele.
Respirou fundo, e tirou o chapéu que estava usando.
Anne chegou até ela arfando, depois de correr de dentro da casa.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou preocupada.
Ela respirou fundo.
— Ele está aqui! — conseguiu responder.
— Não acredito. — perguntou contrariada, pensando em uma saudação bem irônica para dar a Albert.
— Não é o seu marido! — Anne disse animada. — É seu amado do passado. Quero dizer, do presente.
Helene não conseguiu expressar nenhuma emoção, estava atônita. Correu em direção a porta, e abriu devagar. Precisava conter sua ansiedade em vê-lo, poderia parecer desesperada. Mas, ela realmente estava desesperada para reencontrar aqueles olhos que tanto amava.
Andou até a sala de visitas, e depois de tantos anos sem vê-lo, ele estava bem ali sentado em frente a lareira tomando uma xícara de chá tranquilamente. Apesar de ainda não ter visto Karl de perto, sabia que ele estava mais velho, diferente. O jovem que conheceu no passado havia mudado na aparência, mas isso não era um problema para ela, pois continuava a amá-lo.
Entregou suas luvas, seu chapéu para Anne, e seguiu para o encontro dele. Seu coração estava tão acelerado, que começou a sentir falta de ar. Era engraçado o efeito que ele ainda tinha sobre ela, gostava disso. Tinha perdido muitas coisas ao se aprisionar em um casamento com Albert.
Colocou sua mão sobre o ombro dele. Karl colocou a xícara sobre a pequena mesa em frente a lareira e pegou sua mão.
— Como é bom sentir o toque da sua mão novamente, Helene.
— Não posso dizer em palavras o quão estou feliz por tê-lo aqui. Faz tantos anos que você foi embora, deixando-me apenas aquela carta.
— Entende que eu não poderia permanecer? Era demais para mim, seu casamento foi uma sessão de tortura. E quando vejo que ainda tem essa aliança no dedo, os comentários sobre você, suas constantes fugas para aqui, isso me dói.
— Sou a "arquiduquesa virgem". — riu debochadamente. — Seu irmão achou que conseguiria tudo o que desejava, mas ele não tocaria a mão em mim, nunca. Queria que ele anulasse o casamento, mas sua obsessão comigo é grande demais para fazer tal coisa.
— Quando vai retornar para Viena?
— Quando eu for intimada para posar de esposa feliz ao lado do seu irmão. Por enquanto, posso ficar por aqui com minha natureza, livre.
— Não fica em Kaiservilla?
— Evito. Foi lá que tudo aconteceu, péssimas lembranças. Com exceção das nossas poucos e boas lembranças. — pousou sua mão sobre o rosto dele e afagou sua bochecha com carinho. — Apesar dos anos, continua o mesmo para mim.
— Sempre mudamos, Helene.
— Eu digo da sua aparência. — afastou-se dele. — Sei que mudou, assim como eu.
— Minha viuvez me deixou melancólico, mas consegui superar no exército, de certa maneira.
— Recebeu minha carta com os pêsames?
— Sim. — remexeu-se na cadeira desconfortavelmente. — Foram as únicas palavras que realmente me acalmaram. Perdi minha esposa e meu filho no mesmo dia, foi terrível.
— Oh, imagino que tenha sido. — Helene sentou-se no braço da poltrona dele.
Ficaram em silêncio por um longo minuto. Havia um espaço em branco entre eles, eram muitas coisas para serem ditas, mas ela não sabia como começar a dizer sobre tudo o que sentiu durante aqueles anos, sobre todas as cartas que tinha escrito para ele, mas não teve coragem de enviá-las, as várias vezes em que Albert chegou bêbado em seu quarto querendo obrigá-la a fazer coisas que ela nunca faria, principalmente com ele. Sentiu que as lágrimas estavam próximas, não queria que aquilo acontecesse; não naquele momento, seria prematuro demais.
Karl se levantou e ficou de frente para ela. Tocou em seu queixo, sorriu encostando sua testa na dela.
— Eu ainda amo você, Helene. Todas as tentativas de esquecê-la foram em vão. Mesmo que eu tenha me casado, era em você que eu pensava quando estava sozinho. Mesmo depois desses dez anos, eu sinto que nada entre nós morreu, muito pelo contrário, renasceu como uma fênix. Antes de aparecer em minha frente, estava tranquilo tomando essa xícara de chá, mas quando senti seu toque, ah, Helene, tudo voltou com força.
Helene sorriu.
— Eu amo você.
Helene abraçou Karl com força. Eliminando toda a saudade que sentia, porque era aquele abraço que ela desejava por anos. Sentiu que estava em casa, seu coração dizia isso. O calor daqueles braços ao seu redor, fez com que ela não quisesse mais soltá-lo.
— Poderia me levar para longe daqui?
— Seríamos caçados. — Karl sorriu.
— Duvido que não tenha amizade com nenhum monarca de outro país.
— Tenho algumas amizades, não posso negar. Mas não vamos fazer algo imprudente, por mais que eu deseje isso.
— Ficará por muito tempo em Kaiservilla?
— Não, precisarei voltar em breve.
— Passe o natal conosco esse ano. Sou obrigada a passar com eles. — revirou os olhos. — Preferia ficar aqui, faria minha ceia com os empregados, eles são bem mais divertidos e verdadeiros que os Anschütz e Wittgenstein.
Karl começou a rir, como ela sentia falta daquela risada.
— Como está seu irmão? — afastou-se dela.
— Muito bem. Às vezes ele vem me visitar aqui.
— Ainda continua ao seu lado?
— Sim, para desespero dos meus pais. Soube que minha mãe teve mais dois filhos?
— Soube. Como é ser irmã a irmã mais velha?
— Eles me dão vida. Bem, o povo não me cobra mais herdeiros, porque eu fiz com que soubessem a verdade sobre esse casamento. Eles me amam, sou bastante popular, fico muito feliz por isso.
— Soube de visitas aos hospitais, orfanatos, colégios, doação do seu salário para os pobres. Você é altruísta, Helene. Bondade assim não se encontra em qualquer lugar.
— Obrigada. — ficou ruborizada. — Ainda é o mínimo que posso fazer.
— Sim. Como está lidando com os rumores da amante de Albert?
— Não me importo, acho até melhor para mim. A dançarina quer me confrontar, acredita? Mandou-me um convite para assistir à estreia dela como Odette em "O lago dos cisnes", adorarei ir.
— Gostaria de presenciar isso de perto.
— Daria a honra de ir comigo?
— Como eu disse, tenho que voltar para Salzburgo em breve.
— Ser arquiduque tem suas vantagens. — sorriu com malícia.
— Helene... — sorriu de volta para ela.
Estava tão feliz, que todos seus pensamentos ruins tinham passado quando sentiu a presença daquele que amava tão perto dela.
— Podemos ir lá fora?
— O que quer me mostrar?
— Nada. Apenas quero sentir a natureza, sua presença e agradecer a Deus por tê-lo enviado para mim.
Karl assentiu para ela e caminharam para o jardim, o lugar preferido de Helene.
Segurou a mão de Karl, encostou sua cabeça no ombro dele e fechou os olhos para sentir aquele momento que tanto esperava. Gostaria de beijá-lo, mas ainda não era o momento certo, ainda era tudo muito novo, apesar dos sentimentos serem os mesmos de antes.
— Vou enviar uma carta comunicando o general que precisarei me ausentar até depois do ano novo. — Karl disse depois um longo momento em silêncio.
Helene beijou sua bochecha.
— Obrigada.
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