VIII
Quando Karl percebeu que todos estavam distraídos, inclusive Helene, resolveu sair do salão. Toda aquela celebração pelo noivado do seu irmão com ela, estava deixando seu estômago embrulhado, era muita falsidade, não conseguiria levar aquela encenação por muito tempo; era um péssimo ator.
Desabotoou a farda e andou até o jardim, que estava bastante iluminado por causa da festa. Sentou em um dos bancos para respirar melhor, o clima estava agradável naquela noite. Um vento bateu em seu rosto devagar, como se estivesse querendo lhe consolar de alguma forma.
— A festa estava chata para o senhor também? — uma voz feminina preencheu o ambiente.
Karl reconheceu a princesa Agnes da Suécia quando ela chegou mais perto dele. A conheceu quando era um bebê, depois ela foi a Viena com os pais fazer uma visita oficial, e desde que tinha ido para o exército austríaco, não retornou a vê-la. Agnes não tinha mudado muito, estava apenas um pouco mais alta, fora isso, continuava com o mesmo rosto angelical.
— Olá, Alteza. Quanto tempo não nos vemos.
— Realmente, faz muito tempo. Mudou bastante.
— Enquanto a senhorita, quase nada mudou.
— A aparência continua a mesma, realmente.
— Não veio sozinha para cá, veio?
— Não. — apontou para uma mulher um pouco mais afastada, que olhava para eles com atenção. — Gertrud é minha dama de companhia.
— Oh, sim. — tranquilizou-se; a última coisa que queria era ser pego com Agnes e acharem que estavam fazendo algo indecoroso. — Respondendo a sua pergunta, o problema não é a festa chata, mas o motivo dela.
— O noivado do seu irmão o aborrece tanto?
— Eu gosto da noiva dele.
Um silêncio instalou-se sobre eles, ouvia-se apenas o barulho vindo do palácio.
— Eu também gosto do noivo da minha irmã. — confessou de repente. — Não me sinto com a consciência pesada sobre isso, porque eu o conheci antes. Mas creio que ele nunca sentiu o mesmo por mim, se não era minha mão que ele teria pedido ao meu pai.
— Conheci Helene alguns anos atrás, depois de cinco anos voltamos a nos reencontrar aqui em Kaiservilla.
— Ela gosta dele?
— Ela odeia ele.
— Não consigo entender.
— Albert consegue o que quer, quando quer, as coisas com o meu pai. Aposto que não foi muito difícil convencer o pai de Helene também.
— Entendo. Somos duas pessoas com os corações quebrados olhando de perto as pessoas que gostamos casar com outras. Poderíamos protagonizar em uma bela tragédia literária.
Karl conseguiu rir pela primeira vez na noite com aquele comentário de Agnes.
— Digo a verdade. Estou farta de vê-los caminhando pelo jardim do palácio rindo, enquanto eu observo pela minha janela. — sentou-se ao lado dele depois de alguns segundos. — Estou sendo muito má e egoísta ao dizer isso?
— Não.
— Sinto-me melhor agora.
— Pelos outros, podem até achar isso. Por mim, não.
— Sua opinião vale bem mais. Está passando pelo mesmo que eu, então sabe o que estou sentindo.
— Sim, eu sei.
— Assim como eu, irá comparecer ao casamento?
— Irei.
— Falta poucos dias para o casamento, que terrível!
— Agnes, não precisa me lembrar disso.
— Desculpe-me. Preciso entrar, devem estar sentindo minha falta.
— Imagino que sim.
— Nós nos veremos em breve, eu acho. Até breve, Karl.
— Até breve, Agnes.
A princesa sueca levantou-se rapidamente, caminhou até sua dama, que parecia bastante inquieta e aborrecida. Enquanto caminhava de volta para o palácio, olhou para trás e acenou para Karl, que retribuiu da mesma forma.
Voltou para seus pensamentos turbulentos novamente, porque não conseguia colocar outra coisa em sua cabeça. Principalmente se deveria comparecer ou não ao casamento de Helene com Albert; se conseguiria fingir bem o seu desagrado diante de tudo aquilo.
Respirou fundo e saiu do jardim.
ஜ
A bela igreja de Santo Agostinho estava completamente ainda mais luxuosa por causa do casamento de Karl e Helene. Dentro da igreja estavam famílias reais e imperiais de todos os lugares do mundo. Todos estavam exibindo suas belas roupas, joias, medalhas com orgulho, enquanto Karl, estava a cada momento arrependido por ter comparecido ao casamento.
Estava ao lado do seu pai, que estava bastante sério, enquanto seu irmão exibia um largo sorriso no rosto. Sentiu vontade de desferir um murro em todos aqueles dentes, para vê-los cair um por um; sentiria o maior prazer presenciando uma cena dessas, ainda mais se fosse ele o causador, mas tinha que se comportar; por hora.
O coral começou a cantar, todos os convidados ficaram de pé, a orquestra ganhou vida, as imensas portas foram abertas, revelando as damas de honra, os pajens, e no final, estava Helene acompanhada do seu pai.
Quando Helene estava mais próxima do altar, bastou olhar para ela e notar o quão estava infeliz. Seu rosto não demonstrava nenhum sorriso, nenhum vislumbre de pelo menos um sorriso falso, seu rosto estava frio como uma pedra. Aquilo pesou seu coração, pois o sorriso dela era uma das coisas mais lindas do mundo.
Seus olhares se encontraram assim que ela ficou ao lado de Albert diante do arcebispo. Uma lágrima desceu pelo rosto dela, Karl sentiu vontade de tirar todos que estavam em sua frente para enxugar aquela mínima lágrima. Muitos pensariam que era de emoção, mas os dois sabiam que era de tristeza.
A cerimônia começou, duraria por um longo tempo.
Cada palavra que Helene tinha que repetir para Albert em juramento, ela olhava para Karl com os olhos brilhando de lágrimas.
— Albert Michael Daniel Oscar Anschütz, você aceita esta mulher como sua legítima esposa, para viver com ela, conforme os mandamentos de Deus, em sagrado matrimônio? Promete amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença? E, renunciando a todas as outras, ser-lhe fiel, por todos os dias de sua vida? — o arcebispo perguntou para Albert.
— Aceito. — seu sorriso aumentou ainda mais.
Ao arcebispo olhou em direção a Helene.
— Helene Amélie Sophie Wittgenstein, você aceita este homem como seu legítimo esposo, para viver com ele, conforme os mandamentos de Deus, em sagrado matrimônio? Promete amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença? E, renunciando a todos os outros, ser-lhe fiel, por todos os dias de sua vida?
Helene demorou para responder, causando burburinhos entre os convidados na igreja. Ela olhou para Karl mais uma vez e fechou os olhos.
— Aceito.
O arcebispo arqueou a sobrancelha e colocou a mão direita de Albert sobre a de Helene, e mandou repetir as palavras que ele iria dizer.
— Eu, Albert Michael Daniel Oscar Anschütz, te recebo, Helene Amélie Sophie Wittgenstein, como minha legítima esposa. — colocou a aliança no dedo dela.
Helene revirou os olhos e pegou a aliança que seria destinada a Albert.
— Eu, Helene Amélie Sophie Wittgenstein, te recebo, Albert Michael Daniel Oscar Anschütz, como meu legítimo esposo. — empurrou a aliança no dedo com má vontade.
O arcebispo mais uma vez arqueou a sobrancelha e fez o sinal da cruz.
— Eu vos declaro marido e mulher.
Helene olhou para Karl uma última vez e movimentou a boca para lhe dizer uma frase.
"Quero você".
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