V
Helene se sentia radiante. Radiante como flores nascendo nos campos na primavera. Acordou com o som dos pássaros na sua janela, com a sensação dos beijos do dia anterior, e a alegria de ter aquele homem. Mas seus pensamentos felizes foram cancelados com a entrada da sua mãe em seu quarto. Então, seu coração se apertou e fechou os olhos com força.
— Minha querida. — sua mãe cantarolou a última palavra. — Tenho ótimas novidades para você.
— Vou poder ir embora de Kaiservilla, não terei que olhar o rosto de Albert novamente? Se for isso, ficarei extremamente feliz!
Ela percebeu o sorriso da sua mãe se desfazendo quando ela mencionou Albert daquela maneira. Quis afetá-la mesmo, e tinha conseguido com sucesso. Se eles achavam que ela ficaria parada, tinha pena deles. Lutaria até o fim por sua liberdade.
Odiava Albert, não suportaria viver nem dois dias ao lado dele. Seria o pior castigo que seus pais poderiam pregar em cima dela. Sua vida não poderia ser decidida daquela forma, como se ela não pudesse opinar. Não aceitaria ser uma égua procriadora de herdeiros imperiais.
— Bem, querida, terá que mudar suas opiniões sobre o arquiduque.
— Não precisarei. — sentiu mais uma vez um aperto no coração. — Eu o odeio.
— Seu pai assinou ontem seu contrato nupcial com Albert.
— Como? — gritou, mesmo sabendo que aquilo poderia ter acontecido. — Eu não aceitarei esse inferno em minha vida! — gritou ainda mais alto. — Eu não aceitarei! — levantou-se da cama e rumou um vaso que estava próximo dela. — Eu faço o inferno nessa Áustria.
— Tenha modos, Helene. — a baronesa assustou-se com o barulho do vaso se chocando na parede. — Não precisa fazer esse escândalo, não foi essas maneiras que eu lhe ensinei.
— Oh, não. — riu em deboche, com as lágrimas descendo por seu rosto. — Ensinou-me a ser uma égua para o arquiduque da Áustria!
— Helene Amélie Sophie Wittgenstein, eu não admito que fale dessa maneira comigo!
— Falarei da maneira como eu quiser com uma pessoa que está me vendendo como uma escrava!
— Helene! — ela respondeu horrorizada.
— Eu quero que todos nesse lugar vão ao inferno! Aposto que o diabo espera por vocês ansiosamente.
— Cale-se!
— Não me calarei diante a pior coisa que estão fazendo em minha vida!
— Como pode dizer que é a pior coisa em sua vida? Quantas garotas não queriam estar em seu lugar, Helene?
— Esse é o problema, mamãe. — limpou as lágrimas em seus olhos. — Eu não sou como as outras garotas. Sabe por quê? Porque ao contrário delas, eu tenho um cérebro e sei usá-lo. Também tenho sentimentos puros e verdadeiros, não interesses por joias, luxo, palácios, títulos, pois eu não preciso dessas porcarias para ser feliz!
— Fala como uma idiota, menina!
— A única idiota que eu estou vendo aqui, não sou eu!
Helene apenas sentiu seu rosto arder com o tapa que sua mãe havia acabado de dar em seu rosto. Aquilo a magoou tão profundamente, que a vontade dela era chorar, mas não daria ousadia para aquela mulher em sua frente. Suas lágrimas não seriam desperdiçadas com ela.
Helene saiu em disparada por sua porta e desceu as escadas completamente apressada, ganhando olhares assustados e curiosos, pois ela estava trajando ainda sua camisola, seus cabelos completamente soltos e bagunçados, fora seu rosto completamente vermelho, que era perceptível as marcas das lágrimas.
Chegou ao estábulo com falta de ar, descansou um pouco e pegou uma cela para colocar no primeiro cavalo que avistasse. Não precisava de ajuda, sabia fazer aquilo tão bem quanto qualquer outra pessoa. Colocou a cela no cavalo que parecia ter sido o de Karl do dia seguinte, mas estava tão atordoada, que não prestou devida atenção.
Subiu no cavalo e deu impulso para ele cavalgar o mais rápido que pudesse. Não poderia ficar naquele lugar mais nenhum segundo, se não morreria sufocada. Sempre se sentiu daquela forma em Kaiservilla, Karl havia amenizado a situação, contudo, as coisas estavam caindo sobre sua cabeça de maneira assombrosa. Queria evitar as lágrimas que teimavam em cair dos seus olhos, mas estava com tanta raiva, que não conseguia evitá-las.
O cavalo estava cavalgando cada vez rápido, sem qualquer rumo ao certo. Não queria voltar para o lago onde tinha tantas lembranças boas, também não queria ir em qualquer lugar conhecido, pois achariam ela rapidamente, e tudo que Helene menos desejava, era ser encontrada por aquelas pessoas que desejavam sua infelicidade.
— Estou tão perdida. — parou com o cavalo no meio da estrada. — Oh, querido cavalo, como eu gostaria de fugir com você para bem longe daqui, sem deixar rastros. Mas como eu poderia fazer?
O cavalo relinchou para ela, o que a fez rir um pouco. Passou a mão por seu rosto e beijou.
— Quando tudo estiver melhor, recompensarei você com muitas cenouras.
Queria ir até a vila, mas estava com trajes nada aceitáveis, sem nenhum dinheiro ou algo de valor para ser trocado com algo. E também sabia que aquela fuga não demoraria muito, logo os guardas do palácio estariam atrás dela, porque ela era oficialmente a noiva do herdeiro da Áustria. Quase vomitou quando aquele pensamento veio novamente, aquilo parecia um pesadelo do qual não conseguia acordar.
— Helene! — ouviu a voz de Karl e os galopes do seu cavalo.
Ficou feliz em ouvir a voz dele, mas sabia que atrás dele viriam mais homens. Puxou as rédeas e foi até ele.
— Olá Karl.
— Por que saiu dessa forma de Kaiservilla? — seu rosto estava suado e seu cabelo bagunçado.
— Eu e minha mãe brigamos. Ela desferiu um tapa em meu rosto. — mordeu os lábios. — Eu estou furiosa.
— Eu soube que seu contrato nupcial foi assinado agora a pouco.
— Por isso nós brigamos.
— Não poderia sair dessa forma, deixou todos preocupados. — quando ele realmente olhou para ela, abriu a boca e depois fechou.
A camisola era fina, sua pele transparecia facilmente. Sentiu seu rosto ficar quente, pois ele não parava de olhá-la de maneira diferente, como se fosse devorá-la em qualquer minuto.
— Eles estão vindo?
— Sim. Engraçado, até Albert se importou em vir atrás de você.
— Aquele imbecil. Não quero nem ouvir esse nome perto de mim. Estou tão magoada e triste, Karl. Mesmo que tenha me dito antes sobre isso, que eu tenha brincado sobre a assinatura desse maldito contrato nupcial, eu não aceito isso para mim! Isso é tão injusto. — começou a chorar novamente. — Oh, Karl, estou na beira de um precipício sem ninguém para me salvar, nem mesmo você.
— Isso está me matando. Não posso ajudá-la, e sou obrigado a concordar e achar lindo todo esse circo criado por nossos pais.
— Eu sou a atração principal desse circo. — riu com escárnio.
Ela ouviu mais galopes.
— Eles estão chegando. — murmurou.
Ele tirou sua capa e ofereceu para Helene, que aceitou imediatamente, não queria ser encontrada com seus trajes de dormir, muito menos pelo seu odioso noivo.
Pegou na mão de Karl e apertou.
— Independente de qualquer coisa, eu gosto apenas de você. — Karl disse olhando em seus olhos.
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