Prólogo
Era uma tarde pouco ensolarada em Bad Ischl, o tempo parecia se fechar, mas isso não impediu Helene em insistir para sua mãe deixá-la sair com sua dama de companhia para passear. Demorou muito para a baronesa liberar seu passeio, pois temia por sua saúde. Helene tinha inclinação para fortes resfriados, sempre deixando todos preocupados em sua casa. Mas como era teimosa e persistente, convenceu-a.
Vestiu-se com trajes mais pesados e foram de carruagem, por insistência da mãe, o que ela odiou completamente, já que adorava fazer longas caminhadas. Porém isso fazia parte do acordo, e aceitou prontamente antes que a baronesa mudasse de ideia e não a deixasse mais sair de casa.
Como era de costume, abriu a janela de carruagem para ver a paisagem que tanto amava ver. Adorava passar seu verão naquele lugar, era bem melhor do que morar em Viena com tantas regras e formalidades; naquele lugar ela era como um pássaro preso, ao contrário de Bad Ischl.
Alice, sua fiel dama de companhia, dormia como um anjo, era sempre assim quando andavam de carruagem porque ela sempre ficava bastante enjoada.
Naquele dia, Helene resolveu ir para perto do lago, gostaria de sentir o vento gelado soprar em seu rosto. Sentir a brisa fria era algo libertador, mesmo sabendo que poderia pegar um resfriado, coisa que sua mãe tanto recomendou. Mas se tinha uma coisa que nunca tinha obedecido, era as ordens dela. E como consequência, sempre dava tudo errado depois.
Nunca em seus treze anos aprendeu que não deveria desobedecer a baronesa.
— Acho que estamos perto, Alice.
Alice murmurou alguma coisa inaudível.
— Bem, você dorme de mais. — resmungou. — Não aproveita em nada a viagem.
— Isso não é uma viagem.
— É como se fosse.
— Ainda bem que não sou obrigada a concordar com você.
— Deveria ser.
— Vou até rir das suas gracinhas, Vossa Graça. — disse ironicamente.
— Veja, acho que não tem ninguém.
— Apenas uma retardada mental resolve sair em um tempo duvidoso como esse, Helene.
— Pare cocheiro. — gritou Helene pela janela. — Aqui está ótimo.
— Nunca fica nessa parte do lago. — Alice olhou desconfiada para ela. — O que está aprontando?
— Precisa inovar as coisas algumas vezes, querida.
Helene não esperou o cocheiro abrir a porta, e saiu disparada para fora rapidamente. Como sabia que vestidos ornamentados dificultavam e atrasavam suas caminhadas, sempre vestia algo simples, com exceção naquele dia por causa da sua mãe. Começou a andar ainda mais rápido para Alice não acompanhar seus passos.
Olhou a sua volta, Alice ainda não estava perto dela, havia ganhado tempo para tirar os sapatos e colocá-los em um lugar próximo ao lago. Mas, assim que olhou para frente, percebeu um jovem se vestindo, com os cabelos molhados. Estava espantada, havia encontrado alguém mais ousado e corajoso que ela.
Sentiu-se completamente curiosa em saber quem era. Esperou que ele ficasse de maneira comportada para se aproximar e poder se apresentar devidamente.
Quando ele estava andando para outro lugar, correu para alcançá-lo. Chegou até o estranho ofegante.
— Um minuto.
Colocou sua mão no braço do jovem rapaz desconhecido.
— Acho que estou melhor agora. — sua respiração começou a voltar ao normal lentamente. — Era melhor eu ter gritado.
— Certamente. — arqueou a sobrancelha. — Quem é a senhorita?
— Helene. — deu um sorriso tímido, completamente envergonhada depois de cair em si o que tinha feito.
— Karl. — pegou sua mão e beijou. — O que está fazendo aqui? Melhor dizendo, o que deseja de mim?
— Nadou no lago?
Ele franziu o cenho e depois olhou para o lago.
— Sim.
— Oh, gostaria de fazer isso! Porém, eu só posso molhar os pés. — exibiu os pés descalços.
— Por que somente os pés? — perguntou com curiosidade.
— Para não pegar um resfriado.
— Bem, isso não adiantaria muita coisa. O tempo está frio, a água principalmente.
— Acho que não me importaria.
— É ruim ficar doente.
— Verdade. — Helene colocou as mãos na cintura. — Perdoe-me, pode me dizer sua idade?
— Tenho quinze anos.
— Sua mãe o deixa sair sem nenhuma companhia?
— Sempre faz tantas perguntas? — Karl perguntou sorrindo. — Não há problemas para eu sair, senhorita.
— Um homem não precisa de tantos protocolos para sair. — disse pensativa.
— No meu caso, sim. Eu fugi da minha casa por umas horas. Devem estar loucos me procurando. — começou a gargalhar. — Gostaria de ver a reação dos meus pais e do meu irmão insuportável.
— Por que ele é insuportável?
— Obedece a todas ordens e regras do nosso pai. Eu realmente não me importo com todos aqueles protocolos, me sufocam.
— Mora em Viena?
— Também.
— Passando o verão aqui como minha família, imagino.
— Infelizmente estou com minha família. Gostaria de estar em outro lugar.
— Qual?
— Qualquer um.
— Helene Amélie Sophie Wittgenstein! — gritou Alice.
— Seu nome é um pouco grande. — Karl colocou as mãos para trás. — Mas o meu é ainda maior. Ah, também está metida em uma grande encrenca. — cochichou.
— Eu sei. — Helene começou a rir.
Alice estava com os cabelos completamente bagunçados pelo vento. Seu rosto estava vermelho, e Helene sabia que era de raiva, antes provavelmente estivesse pálido quando tinha perdido ela de vista.
— Quem é esse rapaz? — apontou para Karl.
— Acabei de conhecê-lo.
— Como? — esbravejou.
— Não pode falar com os estranhos, sabe muito disso. Por onde anda sua educação e seu bom senso?
— Andando a cavalo.
Karl e Helene romperam em uma grande gargalhada, enquanto Alice ficava ainda mais irritada e irada. Pegou o braço de Helene e a puxou.
— Vamos embora. Agora!
— Eu não terminei minha conversa com Karl! — Helene desvencilhou seu braço da mão de Alice.
— Acho melhor você ir, Srta. Wittgenstein. — disse Karl. — Foi um prazer conhecê-la. Seu humor e curiosidade é algo marcante. Tenho que ir também. — fez uma reverência para as duas e saiu.
— Ele é lindo. — suspirou Helene.
— Vamos, vou contar todas suas atitudes inconsequentes para sua mãe! Acho que uma das piores coisas que fiz em minha vida, foi ter aceitado essa função de dama para a pessoa mais teimosa desse mundo!
Começaram a andar de volta para a carruagem, não se importava com nenhuma palavra de Alice.
Helene resolveu olhar para trás, queria vê-lo mais uma vez.
Karl a observava, agora perto do seu cavalo.
Acenou para ele, e ele para ela.
Helene rezou naquele momento para que um dia pudessem se reencontrar.
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