IV

Helene estava com seu corpo molhado junto ao de Karl, que pensava no que ela estaria pensando. Ela parecia um mistério naquele momento, nada dizia, apenas mexia as sobrancelhas e crispava os lábios. Sentiu uma imensa vontade de tocar em seu rosto, acariciar seus cabelos, beijar seus lábios. Sim, queria beijá-la, sentir aqueles lábios em seus lábios.

— Karl, ouviu alguma coisa que eu disse? — Helene estava apoiada em seu braço o olhando com curiosidade.

— Perdoe-me, não. — conseguiu dar um sorriso. — Estava pensando em algumas coisas.

— Espero que não seja coisas libertinas. — seus olhos ganharam um brilho malicioso. — Mas, eu estava dizendo que você poderia me ajudar a fugir. Qualquer lugar que conseguir me colocar.

— Está brincando, não está? — estreitou os olhos.

Ela bufou e deitou no chão novamente.

— Estou. — respirou fundo. — Infelizmente estou.

— Pensarei em algo para tirá-la dessa situação.

— Não há solução. — percebeu a amargura no tom de voz dela. — Está sendo muito bom comigo, mas no fundo sabe que não tem solução. Quem somos nós ao lado de uma decisão do imperador, seu herdeiro e um ministro? — deu uma risada debochada.

— Como eu gostaria de poder ajudá-la, Helene.

— Acho que estão assinando o contrato de casamento. Sinto algo ruim.

— Como sente essas coisas? — Karl ficou curioso.

— A natureza me diz. — fechou os olhos. — Eu a sinto em cada parte do meu corpo, como se fizesse parte de mim. Ouço o som das árvores, do vento, dos animais, é como uma bela orquestra para mim. Olha esse sol, esse lago, essa grama. — tateou a mão pelo chão. — Tudo isso aqui está para nós aproveitarmos o máximo possível. Deus nos abençoou com tanto, não acha?

— Sim, eu acho. — sorriu ao ouvir aquela bela fala de Helene.

— Ela está me dizendo que esse momento será um dos melhores da minha vida. Apesar da notícia que me deu hoje, estar aqui no meio da natureza é algo tão bom. E, você, Karl, é uma das melhores pessoas que eu conheço. Obrigada por esse momento.

Karl virou seu rosto para olhar Helene, mas não tinha percebido que ela também tinha feito o mesmo, e seus rostos estavam próximos demais. Sentiu a respiração dela ficar mais rápida, coincidentemente a sua também ficou. Os lábios estavam tão próximos, como se o destino estivesse conspirando para que seu desejo mais interno se concretizasse. Passou um dedo pelo seu belo rosto, descendo até seu queixo e permaneceu olhando para ela, como se fosse a última visão que ele teria em sua vida.

— Sabe o que a natureza está me dizendo agora? — ele sorriu.

Helene também sorriu e colocou a mão em seu peitoral.

— Diga-me o que ela diz para você, pois ela também me disse algo.

— Bem, ela disse que eu deveria devorar seus lábios nesse momento.

— Engraçado. — sorriu. — Ela me disse o mesmo.

Karl colocou sua mão no pescoço dela, aproximou-se o pouco que faltava entre eles e a beijou. Os lábios de Helene eram realmente macios, como imaginava. Desceu sua mão pelas costas dela e a puxou para mais perto dele, beijando-a com mais intensidade que antes. Sentiu a pequena mão dela subindo para seu cabelo, o que o deixou arrepiado. O toque dela era carinhoso, amoroso, excitante. Não queria deixá-la sair de perto dele, porque ela emanava a paz que ele precisava.

— Karl. — ela se soltou dele. — Acho que devemos voltar.

— Infelizmente tenho que concordar com você.

— Nada mudará entre nós por causa desse beijo, certo?

— Jamais. — deu um selinho nela. — Vamos?

— Terá que me ajudar com o vestido. — ruborizou.

— Ora, isso não será problema. — levantou-se primeiro, e ajudou a se levantar. — Venha para minhas mãos, querida.

Helene o empurrou e começou a rir.

— Idiota.

— O idiota que você adora.

— Não seja tão convencido dos meus sentimentos por você. — colocou as mãos na cintura. — Eu até gosto de você.

— Certo, Srta. Wittgenstein. Agora, vire-se para eu poder ajudá-la.

— Certo, Sr. Anschütz.

— Use um vestido mais simples na próxima vez, Wittgenstein.

— Desde quando manda nas minhas vestes? — ela se virou para olhá-lo.

— Apenas uma dica. — revirou os olhos para ela.

— Estou brincando, Karl. — Helene se virou novamente.

Karl permaneceu em silêncio enquanto ela vestia o vestido, para que ele pudesse amarrar o corset e abotoar os botões. Ele não era muito bom nessa parte de amarrar o corset, sabia apenas desamarrar, porém, qualquer coisa naquele momento para Helene chegar apresentável em Kaiservilla servia.

Quando eles chegaram em Kaiservilla, seguiram caminhos diferentes para não mostrarem que estavam juntos. Karl ainda tinha a sensação dos lábios dela, assim como o toque de sua mão em seu corpo. Aquele pequeno segredo que uniria os dois para sempre. Não devia ser qualquer coisa aquele encontro no passado com Helene, deveria ter algum significado.

Evitou a companhia de qualquer pessoa durante o dia inteiro, não estava com a mínima paciência para ouvir seu pai, aturar seu irmão e olhar sua mãe olhando para ele como se fosse um erro irreparável que ela tinha cometido. Escreveu cartas para seus amigos, leu alguns relatórios pendentes, e quando chegou a noite, pediu para servirem seu jantar no quarto.

Depois do jantar, começou a assinar alguns documentos, quando ouviu uma batida na porta.

— Está aberta. — respondeu assinando seu nome em mais um dos papéis.

— Por que não compareceu ao jantar hoje? — ouviu a voz de Helene. — E eu sei que a sua justificava é falsa.

— O que está fazendo aqui? — virou-se para ela de sua cadeira.

— Vim visitá-lo, saber se está bem. — arqueou a sobrancelha e deu um sorriso cínico. — Vejo que está muito bem.

— Sempre invade o quarto das pessoas dessa forma?

— Somente quando elas me interessam.

— Oh, eu sou interessante para você? — levantou-se da cadeira e apoiou sua mão na mesa.

— Muito. — Helene começou a andar em sua direção. — E eu estive me perguntando se não poderíamos fugir desse palácio para ficarmos lá fora.

— Existem pessoas demais nesse lugar, Helene. É melhor evitarmos algumas coisas, por hora. Sua mãe deve saber de todas as fofocas possíveis desse lugar, já que ela é próxima a imperatriz. E, até onde eu sei, está proibida de andar comigo. — sorriu. — Sou um demônio para sua mãe.

— Quase isso. — Helene colocou suas mãos no ombro dele. — O que podemos fazer agora?

— Não tenho nada em mente.

— Pensei que fosse mais inteligente, Karl. — revirou os olhos.

— Que menina mal-educada.

Helene o abraçou.

— Que menina carinhosa. — Karl sorriu e beijou a cabeça dela.

— Não quero que beije minha cabeça. — resmungou.

— Está pedindo para eu beijá-la? — começou a rir.

— Não estou pedindo, estou mandando.

Helene puxou seu pescoço e o beijou.

— Alguém pode entrar aqui. — afastou-se um pouco dela.

— Tranquei a porta.

— Helene!

— Pelo amor de Deus, eu quero apenas beijar você até meus lábios se cansarem de fazer isso.

Karl queria o mesmo que ela. Mas não havia parado para pensar em todas as consequências que poderia acontecer caso alguém os flagrasse juntos, ainda mais dentro de um quarto trancados.

— Só mais um beijo.

— Vou me contentar com um.

— Desde quando gosta tanto de beijo? — perguntou com curiosidade.

— Desde quando seus lábios se encontraram com os meus, e pude sentir que é dessa maneira que quero ser beijada até o fim dos meus dias.

— Helene...

— Cale-se. — colocou seu dedo sobre sua boca. — Apenas vamos fazer aquilo que eu desejo hoje.

Karl colocou suas mãos no rosto de Helene e fez o que ela pediu.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top