I

Helene nunca pensou que um dia fosse odiar Bad Ischl. Seus pais conseguiram com êxito que esse sentimento despertasse nela durante aqueles anos em que era obrigada a ficar no palácio da família imperial com o insuportável herdeiro do trono. Como o odiava, mas era obrigada a conviver com ele durante todo verão, época que deveria ser a mais feliz da sua vida.

Seu pai havia sido nomeado ministro das relações estrangeiras, para alegria dele e infortúnio dela. Tinha que ser a boa dama o tempo inteiro, se relaxasse um pouco sua postura, sua mãe discretamente dava-lhe um beliscão.

Alice juntamente com Anne, penteava seu cabelo para receber o segundo filho do imperador que chegaria naquela tarde. Tinha visto um retrato dele de quando era pequeno, mas não tinha nenhum dele mais velho. Os empregados diziam que arquiduque e o imperador não se davam muito bem, assim como não se dava bem com o irmão também; não ter um bom convívio com Albert era algo totalmente aceitável para Helene.

Ela fazia questão de dizer todos os dias o quão detestava a presença dele. Até mesmo o ar que ele respirava, a incomodava profundamente. Albert era a junção de todas as coisas que Helene mais repudiava em um ser humano.

— Helene está pensando em algo ruim novamente? — perguntou Anne.

— Sempre estou quando estou nesse palácio imprestável. — resmungou.

— Helene! — exclamou Alice.

— Poupe-me do seu espanto, Alice. Sabe muito bem disso.

— Estamos no palácio deles, contenha-se pelo menos aqui.

— Posso tentar.

Anne começou a rir e puxou uma mecha do cabelo para colocar algumas pérolas. Seu penteado seria metade preso, metade solto, como sempre gostava de usar. Usaria seu vestido verde água com pequenos detalhes em azul pela saia.

— Depois cabelo, basta colocar apenas o vestido e estará impecavelmente pronta. — Alice sorriu.

— Alice e Anne, contem-me o que dizem do arquiduque Karl novamente.

— Dizem que ele é um espírito livre. Não obedece muito às ordens do imperador, não gosta de permanecer em Viena e nem Bad Ischl. Desde os 15 anos treinou para participar do exército, e conseguiu. Atualmente ele é condecorado, um dos melhores. — Anne pegou outra mecha.

— Ele não deveria ir para guerra, afinal ele é o segundo na linha de sucessão do trono.

— Querem casar Albert imediatamente.

— Tenho pena da moça que for a esposa dele, vai morrer de tédio.

— Helene! — repreendeu Alice.

A porta se abriu com um baque estrondoso, revelando sua mãe com seu irmão mais novo, Adam, com rosto emburrado. Sabia que o irmão não queria estar ali, e sim cavalgando, mas a baronesa Wittgenstein sabia ser ardilosa quando queria.

— Mamãe.

— Ainda não está pronta, Helene?

— Falta pouco. — respondeu com desgosto.

— Sabe que eu não gosto de atrasos.

— E eu não gosto de estar aqui, mesmo assim estou. Que interessante, não é mesmo?

— Pare de ser tão insolente.

— Terminei o penteado. — disse Anne. — Vamos colocar seu vestido.

— Deveria apertar mais o corset.

— Não quero ficar sem ar por um motivo completamente inútil. Não faço a mínima questão de conhecer o arquiduque Karl.

— Também não. — protestou seu irmão.

— Por isso amo você, Adam. — disse Helene com um enorme sorriso no rosto.

— Também amo você, Hele.

A baronesa apenas revirou os olhos.

— Eu e Adam vamos para o salão principal, vamos esperar por você lá. Adiante-se.

— Sim, Majestade.

Dorothea levantou a saia do vestido e saiu com Adam resmungando. Helene riu um pouco e começou a colocar seu vestido com a ajuda de suas damas de companhia. Alice fechou os botões, enquanto Anne colocava um colar em seu pescoço.

— Sabe do que estou me lembrando agora, Alice?

— Que está quase atrasada?

— Não. — Helene se afastou delas e olhou-se no espelho. — Daquele Karl que eu conheci aqui quando eu tinha treze anos.

— Aquele dia eu fiquei muito irada com você. Não nego que fiquei curiosa sobre ele, nem deixei ao menos conversarem civilizadamente.

— Gostaria de reencontrá-lo, mas não sei se o reconheceria.

— Como esquecer aquele rosto? Ele era lindo, a não ser que tenha mudado muito.

— Nunca mais o vi por Bad Ischl.

— Lamentável. — murmurou Anne. — Helene vá imediatamente, antes que sua mãe apareça aqui querendo nos matar!

Helene assentiu e saiu do quarto em direção ao salão principal, pensando em Karl do lago.

Nada estava diferente daquele salão que ela tanto conhecia, com exceção das pessoas em excesso esperando a chegada do arquiduque. Helene achava interessante o quão a família falava mal dele em diversas ocasiões, mas aparentemente pareciam amá-lo e reverenciá-lo naquele momento. Ficava incomodada com sentimentos tão falsos contra uma pessoa que havia passado tanto tempo longe de casa.

— Sua Alteza Imperial acaba de chegar. — disse o mordomo do palácio.

— Finalmente. — disse o imperador.

— Espero que ele tenha criado juízo no exército. — murmurou a imperatriz. — Eu não conseguiria suportar o mesmo comportamento dele da adolescência.

— Ele, por algum milagre, é um dos melhores, mamãe. — disse Albert com tom enojado.

Helene decidiu naquele momento que realmente queria conhecer o arquiduque Karl. Se Albert não gostava dele, era porque ele era uma boa pessoa, ela não confiava em nada naquele homem.

Ele tinha 25 anos, mas parecia que tinha o dobro disso. Era infantil em suas atitudes, mesquinho, e se achava o dono do mundo. Como ela o odiava; e odiava ainda mais quando ele ficava olhando para ela com aquele olhar cínico e malicioso.

Todos seus pensamentos foram interrompidos pelas enormes portas sendo abertas pelos guardas e um homem sério com um belo uniforme entrou.

Helene sentiu que o reconhecia de algum lugar, sua aparência não era estranha. Ele era simplesmente lindo, poderia ficar olhando para Karl o tempo inteiro, pois não se cansaria. Ele era totalmente o oposto de Albert; Karl exalava juventude e beleza.

— Suas Majestades Imperiais. — Karl fez uma reverência diante dos pais.

— Fico feliz que tenha retornado meu filho. — disse a imperatriz enquanto Karl pegava sua mão e beijava.

— Digo o mesmo. — respondeu com desdém.

Ele andou até seu irmão e deu um sorriso insolente.

— Albert.

— Karl.

— Vejo que o tempo não lhe fez bem.

— Gostaria de lhe dizer o mesmo. — seus lábios tremeram.

— Infelizmente não pode. — Karl deu um enorme sorriso e saiu de perto do irmão.

Ele cumprimentou os pais de Helene e finalmente chegou até ela. Seus olhos pararam nos dela e ficaram hipnotizados, como se também a conhecesse. Um sorriso de reconhecimento brotou em seus lábios.

— Céus, Helene Amélie Sophie Wittgenstein, é a senhorita?

— Karl do lago? — perguntou surpresa.

Quebrando todas as regras da corte de Viena, Karl lhe deu um abraço apertado, como se fosse a última coisa que faria na vida. Helene retribuiu da mesma forma; não conseguia acreditar que o tinha reencontrado depois de anos, justamente naquele dia em que tinha pensando nele.

— Como se conhecem? — intrometeu-se Albert.

— Realmente não lhe interessa, Albert. — Karl ofereceu o braço para Helene. — Ainda está mais linda do que antes. Estou extremamente surpreso em tê-la em Kaiservilla.

— Deveríamos estar fazendo isso mesmo? — falou para que somente ele pudesse ouvir, e deu seu braço para ele.

Karl parou um pouco e deu de ombros.

— Sim, deveríamos.

Os dois começaram a rir discretamente, quando o imperador chamou seu filho mais novo.

— Karl, sua recepção ainda não acabou.

— Para mim basta. Papai, reencontrei uma velha conhecida, precisamos conversar, nos apresentar corretamente. Faz quanto tempo que não nos vemos?

Helene contou os anos na cabeça.

— Cinco anos.

— Perceba quanto tempo, Majestade.

— Karl, deve cumprir seus compromissos primeiramente.

— Não hoje.

Karl começou a andar com Helene ao seu lado completamente encantada com a ousadia dele. Agora ela tinha certeza que ele era melhor do que Albert. Finalmente tinha encontrado uma pessoa para conversar e conviver naqueles últimos dias de verão em Kaiservilla.

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