Capítulo 3 || Brenna Croft
Brenna Croft
Assim que piso na calçada do condomínio uma chuva torrencial começa, molhando não somente minhas roupas mais a minha alma. Já está escuro e as árvores balançam em um ritmo macabro é como se o mundo jogasse na minha cara a cada segundo o qual fodida eu sou.
A blusa branca cola em meu corpo, está muito frio, sombrio e vazio aqui, a rua descreve perfeitamente meu estado de espírito.
O bloco residencial onde morei por anos ostenta os melhores prédios de São Paulo, com pessoas tão vazias que nem o próprio dinheiro é capaz de esconder tal fato. Seu Jorge o porteiro nem ao menos olhou na minha cara, quando escorreguei no degrau da escada que leva até o portão de ferro da entrada principal. Ao invés de questionar ou dizer algo para ele, coloquei minha bolsa no ombro, prendi meu cabelo em um coque e sai daquele lugar.
— Tudo vai ficar bem — é o que digo em voz baixa para o meu reflexo no vidro do carro, jogo minha pequena bolsa no banco do passageiro sentindo os respingos de chuva aumentarem, sinto o curativo que fiz mais cedo em minhas costas se soltar, arrancando um grito fino de dor dos meus lábios, uma ferida de 5 centímetros se abriu quando o chicote de tiras bateu em cima da mesma, minha querida mãe resolveu amolar as facas da cada nas minhas costas causando uma série de feridas.
Mas o chicote foi ele que desferiu contra meu corpo e alma. O homem que me colocou nesse inferno e acabou com o resto de esperança que eu passei a nutrir conversando com Mary, enquanto seus amigos tocavam em meu corpo eu chorava pedindo socorro, elas ouviam mais nunca fizeram nada.
Eu era o " lanchinho" dele e segundo meu pai eu gostava. Mas Não! Eu sempre odiei tudo aquilo, eu pedia para que o mesmo parasse, eu gritava pedindo por favor para que qualquer força maior me livrasse daquele maldito sofrimento. Ninguém nunca escutou, ninguém nunca se importou com meu sofrimento ou com as marcas que carrego em cada parte do corpo.
Lembro com detalhes de cada agressão e abuso.
Cada toque é como se meu corpo sentisse, cada maldito toque seu em meu corpo, não foi só ele. embro dos cigarros apagados em meus seios o que acarretou em cicatrizes permanentes, dos remédios que eu era obrigada a tomar para aguentar durante toda a noite as torturas e humilhações. Tudo o que passei calada naquele maldito apartamento, tudo o que aconteceu ali não somente comigo, todos eles são doentes mentais. Pessoas ricas, pobres que sentem prazer ao abusar crianças, mulheres e pessoas vulneráveis.
Preciso sair daqui, o quanto antes cruzar os portões do condomínio melhor para minha saúde mental.
Ligo meu velho carro, olhando uma última vez para o condomínio onde eu cresci e me tornei o ser humano mais detestável do mundo. Eu só queria saber a onde foi que eu errei desde os 3 anos de idade? Porquê eu? Uma criança que só queria brincar com suas bonecas usadas, que sorria para todos com seus poucos dentes, uma garotinha alegre que teve a infelicidade de nascer em uma família nojenta que carrega um dos nomes mais poderosos do país.
Foi nesse condomínio fechado, repleto de grades e pessoas cegas, surdas e mudas. Que eu aprendi que os monstros existem e, que eles não são apenas histórias dos contos de fadas para assustar as crianças que são desobedientes. Foi aqui onde passei fome, frio e sede mesmo morando em uma casa boa e tendo país ricos.
A ovelha negra da família!
Foi assim que eu sempre me vi, a esquisita que sempre acertou tudo calada. Eu vi coisas que até o diabo duvidaria, senti coisas terríveis mentalmente e fisicamente. Eu convivi com o diabo pessoalmente durante anos, confiei em pessoas que prometeram me ajudar mais que apenas tiraram vantagem da garota burra aqui. Bruno Croft é um homem respeitado perante a elite de São Paulo o que faz dele um dos mais ricos do país. Ele tem o governo em uma mão e as máfias na outra. Conheci pessoalmente alguns mafiosos que sentiram pena da minha real situação, mais que nunca fizeram nada, por medo de perder uma sociedade lucrativa com os Croft.
E o que eu me tornei? Uma mulher quebrada, que se tornou uma casca perante a sociedade. Que aprendeu a ler para fugir dos monstros da vida real, somente dentro dos livros deitada em minha cama com a porta trancada, que eu conseguia sonhar em um dia ser feliz de verdade, igual as mocinhas dos romances que eu lia, um mero sonho, eu sei. Logo após viajar entre as páginas dos meus livros, algo acontecia. Deixando bem claro pra mim o meu verdadeiro lugar no mundo. Um lugar vazio, repleto de dor.
Uma lágrima desliza pelo meu rosto quando paro em um sinal vermelho em meio a Avenida Paulista, onde jovens bebem e brincam com seus colegas e namorados. Eu só queria ter vivido isso, sonhado com meu primeiro beijo, tido meu primeiro namoradinho de escola, ir para festas e ter amigos. Mas tudo isso foi tirado de mim, todas as vezes em que a vida sentia pena de mim, alguém da família Croft, vinha e tirava minhas esperanças.
Minha inocência foi arrancada a força, meus sonhos jogados ao vento, cada cicatriz que carrego, é como um lembrete lembrando-me do que aconteceu a cada segundo. Sinto algumas pontadas no quadril graças ao chicote que atingiu algumas feridas que estavam cicatrizando, lágrimas nublam meus olhos.
— Faça! — meu subconsciente grita em minha cabeça. Se eu fizer vai parar de doer, não é? Eles não tocaram mais em mim e isso seria um paraíso. Não sei se vou para o inferno depois de ter ficado nele durante anos, mas espero que deus, se é que ele existe mesmo. Se importe com ela e que ao mesmo conforte o coração de Mary, minha melhor amiga e irmã. Quero que saiba o quão importante ela foi para que eu estivesse aqui ainda.
Porque hoje, já não aguento mais sentir. Tudo em mim dói, a minha alma dói, meu corpo é apenas uma casca vazia. A dor é presente a cada respiração e parar de sentir é tentador demais para mim.
Então faço o que meu subconsciente quer, pisei no acelerador soltando as mãos do volante, um sorriso alcança os meus lábios quando uma dor aguda entra rasgando minha pele, fina, aguda e totalmente bem vinda quando sei o que me espera assim que meu coração ou o que sobrou dele parar de bater.
— As cicatrizes serão lembradas...! — é a última coisa que digo antes dos meus olhos ganharem a escuridão causada pela dor, sinto uma paz que não sentia a mais de 20 anos dominar-me. Deixo o mundo real, para as pessoas felizes em meio a avenida movimentada.
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Beijos da Mary
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