CAPÍTULO 39
JUNG HOSEOK
— Você ficou calado o tempo todo, aconteceu alguma coisa? Teve um pesadelo? — Levei minha atenção até o mais velho, segurando uma cesta com algumas frutas e verduras colhidas da árvore e da horta. Seu comentário me fez pensar por quanto tempo eu estava preso dentro da minha própria mente, dando voltas e voltas, buscando um jeito, uma maneira de resolver tudo.
— Dormi bem sim, sem pesadelos. — parei, assim que ele parou alguns passos à minha frente. Meu avô me observava, analisando minhas próximas palavras, sorrindo de canto e assentindo. — Eu so..
Por que eu simplesmente não conseguia dizer a Jade que eu iria embora? Algo em mim não queria precisar dizer isso, não queria ir embora, no entanto, ainda assim, eu precisava fazer algo, meus dias estavam acabando e tínhamos que encontrar a melhor maneira para seguir com o que sentimos.
— Se não quiser falar, não precisa forçar, dê tempo ao tempo — sua mão repousou em meu ombro, afagando em um aperto gentil, continuando com os passos.
— Eu já dei muito tempo ao tempo, preciso fazer alguma coisa mas não consigo e não paro de pensar nisso — confessei, novamente ele parou os passos, virando-se para mim.
— Talvez você esteja pensando demais, por isso não consegue fazer alguma coisa — arqueou os cenhos. — Não sei exatamente do que se trata, mas se algo precisa ser feito, dito, falado e você sente isso, não adianta evitar, a mudança só muda, quando você muda, do contrário só vai ficar na mesma.
— E se o que precisa ser feito é sobre ir embora e precisar deixar alguém que ama para trás?
— É uma despedida? — perguntou, pondo as coisas que carregava no chão. — um adeus?
— Eu não sei, eu tenho medo que possa ser uma despedida, um adeus e eu não saiba.
Levou as mãos até o chapéu de palha, retirando e erguendo o rosto para o céu, onde os raios pôde tocar sua pele, respirando lentamente e profundamente.
— Você está com medo de fazer algo que é necessário com receio de algo que não depende de você? — assentir e ele curvou o canto dos lábios. — Olha hoseok, tem muitas coisas na vida que não podemos controlar e só o fato de tentarmos fazer isso já se torna uma tortura, nem mesmo o que tá aqui… — apontou para o meu peito. — podemos controlar, quem dirá o que tá no mundo ou em outras pessoas. Só faça o que é preciso e você acredita ser o certo, a maneira como o outro vai reagir não depende mais de você. Isso faz parte das escolhas que cada um tem direito de ter, do que faz a gente viver nisso aqui do melhor jeito que conseguimos.
Suas soaram como um soco necessário em meu peito para que tudo que precisasse ser feito, fosse feito. Eu tinha medo, meu maior medo era que o que tinha com a Jade sumisse com nossa distância, que tudo o que vivemos nesses últimos dias fossem esquecidos por nós dois ou um de nós, eu tinha receio que não funcionasse. Nunca foi desta forma com ninguém, ela era minha primeira em tantas coisas que apenas queria que ela fosse minha única, contudo, meu avô estava certo. Eu não poderia controlar isso e precisava ir, na esperança de voltar algum dia, precisava dizer a ela que mesmo longe eu estaria contando os dias e daria algum jeito para sermos presentes na vida um do outro, e se mesmo assim ela não quisesse, eu não poderia impedir, teria que lidar e respeitar.
Fomos conversando no trajeto, em nenhum momento meu avô pediu que eu explicasse e dissesse quem era, e acreditava que não precisava, tudo estava ali, agora e qualquer um poderia ver o quão apaixonado que estava por ela.
— Que bom que vocês voltaram — entramos em casa e colocamos as cestas sobre a mesa. A mais velha havia pedido algumas flores para acrescentar ao pequeno jardim da janela da cozinha.
— O passeio foi agradável, pegamos algumas frutas e limpamos a bagunça da noite, por isso a demora — meus avós se aproximaram, abraçando-se e trocando um breve toque dos lábios.
— Sem problemas, vão se aprontar para almoçarem — concordei, arrumando meus sapatos atrás da porta e em seguida fazendo menção em ir em direção ao quarto. — Bibi… — chamou e parei ali mesmo. — A jade veio aqui mais cedo, creio que estava procurando você e acabou indo embora no momento que deu as costas, sabe se algo aconteceu?
Franzi a testa, retornando para onde estavam, negando com a cabeça.
— Não… — Enunciei, sentindo que naquele momento que eu precisava ver como ela estava. — Eu acho que algo pode ter acontecido, eu preciso ir até a taverna — foi instantes apenas para pegar o calçado e ir em direção a porta.
— Querido, você precisa…
— Deixa ele, ele precisa fazer isso, querida. — escutei a voz do meu avô e percebi seu movimento rápido me jogando as chaves do carro. — Cuidado.
— Pode deixar — Sorri e apressei meus passos, indo até o carro e adentrando, fazendo o mesmo processo que meu avô sempre fazia e sempre me explicava caso, um dia, fosse necessário que eu guiasse o carro.
Eu sentia que aquilo era algum tipo de sinal que já era hora de colocar tudo na mesa de verdade, esclarecer cada linha e perder o medo.
O caminho foi um tanto demorado, algumas carroças fizeram com que eu parasse diversas vezes para que os motoristas pudessem fazer seu próprio trajeto. Na cidade, tudo parecia como sempre foi, as pessoas em frente às casas, estabelecimento abertos e uma sensação de liberdade agradável. Estacionei do outro lado, correndo para o lado da taverna, entrando e encontrando Jimin e Yoongi jogando baralho com alguns senhores.
— Hoseok, que bom te ver por aqui, pensei que a Jade tinha ido falar com você — parou o que estava fazendo. Any se encontrava no balcão secando alguns copos, Jin direcionava as bebidas com o mesmo domínio e confiança que o namorado, Jieun e Jungkook serviam as mesas, o ambiente estava calmo e pouco movimentado.
— Eu vi ela saindo e voltando alguns minutos depois — ressaltou Yoongi, erguendo o olhar para mim e retornando a atenção para o senhor que tentava olhar suas cartas, puxando e escondendo. — Alguma coisa aconteceu?
— Não sei, eu também queria saber. Ela tá aí, né? — assentiram. — Posso ir lá tentar ver o que aconteceu?
— Fica a vontade, você é de casa — lembrou o mais velho.
Agradeci e desviei de algumas mesas, mas antes que pudesse chegar nas escadas que me levariam ao segundo andar, Lena ficou na minha frente.
— Perdão, Hoseok, gosto muito de você mas a Jade não quer ser incomodada por ninguém.
— O que aconteceu, gente? — Jungkook encostou no balcão.
— Aconteceu alguma coisa — Jimin murmurou com o olhar atento na jogada dos mais velhos da mesa.
— Lena, por favor, tenho certeza que o Hoseok pode conversar com a Jade — Jin pediu
— Ela foi bem clara e aparentemente estava chateada — explicou.
— Eu preciso conversar com a Jade sobre uma coisa, sobre eu ir embora mas…
— Você vai embora? — o Park virou para mim.
— Mas eu pretendo dar um jeito de tornar meus dias aqui mais longos, eu não quero ficar longe dos meus avós e deixá-los sozinhos, eu não quero deixar as amizades que eu fiz aqui pra trás e muito menos deixar ela pra trás, eu só preciso conversar com ela.
Os olhares foram tão pesados sobre mim que senti minhas bochechas queimarem devido a atenção.
— Vai lena, deixa ele falar com ela — Jieun pediu indo até a menor e dando um abraço apertado. — ele gosta da Jade e ela gosta dele, é justo que os dois se resolvam e fiquem juntos, não concorda? — Cutucou insistentemente a bochecha dela. — vai, tenho certeza que você e o meu irmão são exatamente assim.
— Não som… — Sua voz falhou e ligeiramente tentou disfarçar. — Ta bom, mas se ela não quiser falar com você, não vai adiantar.
— Se ela não quiser, vou entender — inclinei meu corpo para frente, agradecendo e assim que ela deu um passo para o lado com o rosto avermelhado por conta dos elogios de Jieun, passei, sem olhar para trás.
Nas escadas, acelerei meus passos e só me vi em frente ao seu quarto. Se ela não estivesse ali, com certeza estaria no lugar que se sentia mais confortável.
— Jade? — Bati a porta, chamando em seguida.
Silêncio.
Bati mais uma vez, esperando alguma resposta, mas novamente nada. No momento que eu iria me afastar da porta, escutei alguma coisa caindo que vinha do lado de dentro, revelando que ela estava ali, quieta, esperando que eu fosse embora.
— Jade… — tentei mais uma vez. — Aconteceu alguma coisa? Você… — descansei a palma sobre a madeira, aproximando o rosto. — Voltei pra casa e minha vó disse que você estava lá, mas saiu de repente.
A sensação do aperto no peito ficava cada vez mais evidente, eu podia jurar que estava ouvindo o som do meu coração.
— Eu… — umedeci os lábios, tentando secar a palma das minhas mãos na calça. — Queria conversar com você sobre uma coisa que eu deveria ter conversado um tempo atrás pra não ser tão difícil agora. Você sabe que eu vim passar alguns dias aqui e tudo aconteceu e eu conheci várias coisas, conheci você, me apaixonei por tantas coisas neste lugar e principalmente, me apaixonei por você. — mordi a boca. Ao menos sabia se ela estava ali mesmo, me ouvindo, esperando o momento certo para falar. — detesto despedidas, pra ser sincero, eu deveria ser verdadeiro comigo e dizer que fui um idiota por ficar com receio de dizer que iria embora e agora, eu só queria dizer que se você ainda me quiser eu vou dar um jeito de ficarmos juntos, seja longe ou perto, não importa, só quero estar com você, Jade. Não imagina o quão sou apaixonado por você, só não sei ainda se me apaixonei no quase atropelo ou no dia que me beijou — soltei um arzinho pelo nariz, suspirando. — Sempre que tínhamos tempo, víamos o céu e a primeira coisa que me chamou atenção quando cheguei aqui foi o céu, ele parecia tão bonito, leve, como se eu pudesse enxergar um paraíso sobre mim que estava diante de mim, eu só não tinha conhecido ainda e foi assim com você Jade. Você é como o paraíso que me encantou à primeira vista, me atraindo todas as vezes e… e eu quero continuar com você até o fim.
O sentimento pairava sobre meu coração, se espalhando por todo o meu corpo até que eu pudesse finalmente deixá-lo sair de uma única vez.
— Estou ferrado Jade e o motivo é que estou apaixonado por você e não faço a mínima idéia se sente o mesmo por mim, se você concordaria meus sentimentos. — A boca novamente secou e me calei, esperei, prolonguei meu silêncio esperando alguma reação, esperando ao menos ouvir sua voz. — Desculpa por ter adiado tudo isso, eu sou um medroso na maioria do tempo e fujo quando se trata dos meus sentimentos, mas você… você me faz querer seguir mesmo com medo, parar de fugir e finalmente arriscar.
Me abaixei, olhando para a fenda da porta, respirando fundo, aproximando meu ouvido na porta e ouvindo bem baixo uma respiração constante.
Esperei por alguns minutos e fiquei de pé, me distanciando. Talvez ela ao menos estivesse ali, provavelmente eu estava falando sozinho e escutado coisas. Fui até seu espaço favorito, encontrando-o vazio, retornando para a porta do quarto dela e olhando por uma última vez antes de decidir voltar para o bar.
— Conseguiu falar com ela? — desci o último degrau, encontrando Helena do lado oposto do balcão, olhando em minha direção.
Balancei a cabeça, negando.
— Acho que ela precisa de um tempo para pensar — Jimin deu alguns passos em direção às mesas. — tenho certeza que vocês vão se resolver.
— Espero que isso aconteça, não tenho muito tempo por aqui.
— Nos veremos outra vez? — perguntou Jungkook.
— Vamos sim, pretendo voltar assim que conseguir.
— Podemos visitar ele também, o que acham? — Jieun surpreendeu o namorado por trás, abraçando-o fortemente.
— Sempre tive a curiosidade de conhecer alguns lugares populares das cidades grandes, posso me aproveitar e fazer isso — Mollie acrescentou sorrindo para mim.
Me sentei próximo ao mais velho, sentindo sua palma sobre meu ombro.
— Ela vai falar com você, só espere um pouquinho.
— Vou esperar — olhei em direção a escada, o sentimento que ela pudesse aparecer a qualquer segundo me agitava por dentro.
Fiquei mais um pouco com o pessoal, nossa última reunião antes que eu realmente fosse embora, com uma grande falha, espaço, por faltar o centro de tudo não só para mim, como para eles também, iria aproveitar cada segundo. Detestava essa ideia de voltar para casa sem a esperança que ela me visse com os mesmos olhos de antes, que eu tivesse esperado demais.
Me despedir deles, segurando até o fim a vontade de chorar, lembrando das vezes que meus pais tinham que viajar e eu nunca tinha ideia quando iriam retornar. Jimin, Jungkook e Yoongi me acompanharam até a fazenda dos meus avós e os vi ir embora, pedindo que me falassem caso ela quisesse falar comigo. No quarto, observava mais uma vez o céu como a primeira vez, sorrindo ao recordar de tudo que Jade me causou e eu perdi.
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