CAPÍTULO 23

JADE FERNANDEZ

Já perceberam que quanto mais quieto um ambiente estar, é mais propício o caos surgir abruptamente?

Pois, é exatamente isso que eu sentia nesses dois dias que se passaram após minha visita a fazenda da senhora e do senhor Jung. Tudo estava quieto demais, uma paz que me incomodava e me deixava inquieta, um silêncio que por vezes parecia um grito ensurdecedor.

Não fazia sentido toda minha preocupação. Meus amigos diziam isso várias vezes, pedindo para que eu apenas relaxasse e que eu era uma pessoa bastante agitada, que não parava quieta em um lugar por muito tempo. Poderia até ser, no entanto, não deixava de ser algo muito incômodo para mim.

A taverna seguia no seu melhor momento, cheio de clientes novos, forasteiros que assim que chegavam na cidade se deparavam com a construção nada neutra para o padrão da cidade, com o roxo e o preto sendo as cores predominantes, tanto fora como dentro e um letreiro neon para ser ainda mais chamativo. Era o atrativo da cidade, o diferencial, assim eu gostava de dizer. Ainda sobre o lugar, recentemente jungkook, Taehyung e Jimin estavam planejando fazer algumas artes elaboradas em uma parede esquecida do local usando toda a criatividade que tinham e eu achei muito interessante e legal. Adicionamos um pequeno espaço com jogos de acerte o alvo e sinuca, algo novo para animar ainda mais quem frequentava a taverna.

A manhã já tinha passado e a tarde chegará sem avisar quando voltei para o local que considerava ser minha casa. Depois de tratar dos negócios mais complexos que envolvia muita paciência, que eu pedia seja lá quem for pra ter paciência, me sentia melhor, mais leve. Gostava de focar nos meus objetivos e completá-los e sabia que também ajudava a alimentar meu lado perfeccionista, coisa que minha amada psicóloga vivia dizendo que mais me prejudicava do que ajudava. Eu queria tudo perfeito, queria cuidar dos meus amigos e manter todos bem, manter aquele lugar bem, manter todos seguros e só sossegava quando tinha isso. Sabia perfeitamente que precisava cuidar mais de mim, viver mais tranquilamente, ter emoções boas mais vezes, mas não conseguia fazer isso enquanto tudo não estivesse ponto a ponto.
Tudo isso se agravou, assim sinto, depois que Rick ameaçou meu pessoal, meu bando, minha família, minha mente tinha simplesmente entrado em uma armadura e decidido lutar até que um dia as coisas tivessem de fato, melhorado. Já tinha perdido minha mãe, já tinha perdido a mim mesma, não perderia mais ninguém, precisava batalhar e também me defender para que eu pudesse prosseguir.

— Jade? — a voz madura e acolhedora do Kim ecoou pela brecha aberta da porta, chegando até mim. Automaticamente me virei, observando seus ombros trabalhados encostados contra a parede, com os braços cruzados, olhando para mim. — Como estão as coisas por aqui? Precisa de ajuda?

— Estão uma bagunça — deixei que um riso genuíno saísse, me virando para Namjoon e assentindo. — no fim sempre preciso — ele concordou e se achegou. Me aproximei do sofá, sentando, soltando todo o ar do meu peito. Sentia como se quisesse dizer algo, como se precisasse dizer alguma coisa que simplesmente não sabia o que era.

— Parece que você precisa conversar também — vi quando se acomodou ao meu lado, apoiando os cotovelos nas pernas.

— Você tem algum poder mágico ou uma bola de cristal? — perguntei, Ingenuamente, ouvindo meu amigo sorri alto com minha fala.

— Nenhum dos dois, só conheço você o suficiente pra perceber quando tem algo incomodando você — neguei com a cabeça, olhando para minhas mãos, sentindo o olhar dele sobre mim, como se estivesse esperando o meu tempo para falar. — Já faz alguns dias que venho percebendo que você tá bem distante do mundo real, calada, observando mais as coisas ao redor, não que eu ache ruim — gesticulou com a cabeça. — só pensei que poderia existir um motivo que fizesse você agir assim de um momento para o outro.

— Não sei bem Nam, acho que são os acontecimentos soltos que estão me afetando — respondi, mirando diretamente nele. Falar sobre mim, sobre meus sentimentos sempre foi tão estranho que eu preferia deixar para lá.

— Acho que sim — curvou o canto dos olhos, deitando as costas no sofá, olhando para frente. — mas tem algo a mais, talvez oculto que esteja agitando mais sua mente? — Indagou.

— Não sei, tem alguma sugestão? — devolvi a pergunta, virando meu corpo para ele. O Kim sempre via o necessário de maneira neutra, observava e depois se achegava quando sua presença era precisa.

— Eu acho que tem nome e sobrenome — franzi a testa, procurando entender. — Desde que o Hoseok chegou, você ficou ainda mais calada.

— Não Namjoon, não… — neguei firmemente, me obrigando a levantar para evitar qualquer assunto que chegasse a ele. Não entendia, eu estava normal, agindo normalmente, só…só me sentia estranha desde os últimos acontecimentos, mas nada que fosse tão visível.

— Deixa eu terminar Jade… — pediu e senti sua mão segurando a minha. — não precisa fugir dessa vez, certo? Só vamos conversar sobre isso.

— Não tem nada pra falar sobre isso, Namjoon, nada. Ele é um conhecido que todos os meus amigos gostaram e é isso.

— Seja sincera comigo — pediu, calmante. — algo a mais do que um leve desentendimento aconteceu entre vocês?

Desviei o olhar algumas vezes, voltando para ele, sentindo meus lábios secos e umidecendo-os discretamente, estalando os dedos da mão. Não havia citado sobre os detalhes a respeito do Jung para ninguém, estavam todos tão distraídos que preferia guardar aquilo dentro de mim, como um segredo proibido até mesmo para mim. O risco de pensar muito nele me incomodava, a maneira como ele transparecia leveza e tranquilidade desde do começo me irritava ao mesmo tempo que me agradava. Hoseok era algo que eu queria repetir várias vezes na minha mente, que me aquecia de dentro para fora e que fazia meus lábios formigarem só de estar em sua presença.

— A gente se beijou, na verdade eu beijei ele — Indaguei com tanta serenidade que desconfiei dos meus próprios pensamentos.  — só isso, tá bom? — Namjoon assentiu tranquilamente, enquanto na minha mente eu recordava que não tinha sido apenas uma vez.

— Entendi — balançou a cabeça. — então, vocês dois estão se conhecendo, aos poucos.

— Não, claro que não. Foi apenas algumas vezes e só isso, somos amigos.

— Algumas vezes?

— É, nada demais — sentir o bolo de nada se formar na minha garganta, enquanto meus olhos seguiam para a pequena película de aranha que decorava minha estante. Pisquei algumas vezes, apenas para tentar focar no que o Kim dizia.

— Sabe, eu já percebi que vocês se olham as vezes, que evitam ficar juntos quando estão com o pessoal, eu percebi.

— percebeu? — rir, um riso frouxo, misturado com surpresa e desconforto. — não nos olhamos.

— ah, não, verdade, vocês não se olham e sim ficam buscando um ao outro na primeira oportunidade que tem — Exclamou e me questionei se era nítido demais, contudo, recordei que Namjoon sempre fora bem observador. — Pra ser sincero, todo mundo percebeu e teoriza que vocês estão tendo algo.

— como?

— É — balançou a cabeça. — Tem certas coisas que um bom olhar consegue perceber e todos aqui conhecem você o bastante pra notar o quão diferente você ficou depois da chegada do Hoseok.

— Estou começando a achar que ele disse algo a vocês.

— Não, não disse nada. Como eu falei Jade, a gente percebeu o clima que fica sempre entre vocês dois.

— Me sentindo levemente exposta — ele arfou pelos narizes e fiz o mesmo. 

— A gente só não comentou antes porque não queremos nos meter na sua vida amorosa, sabemos que você merece o melhor e que o Hoseok aparenta ser um cara legal.

— Ele é um idiota — bufei, me encostando no sofá, abraçando meus joelhos.

— Idiota que te faz ficar toda bobinha — sentir seus braços me puxando para um abraço. Me acomodei ali mesmo. — Eu sei como é a sensação. Primeiro você fica com medo e nega… — ergui o olhar, observando o queixo escultural dele e como sua íris dilatava durante sua fala. — é pior do que sonhar que está nua na frente de um monte de conhecido, bem pior que isso, porque são seus sentimentos que ficam nus. — ele sorriu. Sentia a veracidade de quem já esteve naquele lugar e concordava, mesmo que não quisesse. — Depois você começa a pensar na pessoa e ela não sai da sua cabeça, tudo lembra o jeito e o sorriso, uma mistura de: “ vou gritar e vou enterrar tudo isso dentro do meu coração em sete chaves.”

Rir e seu olhar caiu sobre mim.

— No fim você percebe que a pessoa é incrível e você não se vê mais sem ela. Não é só mais gostar da presença é gostar do que aquela pessoa é e como ela te faz sentir.

— O Jin causou isso em você? — ela concordou.

— Isso e muito mais — assentiu e me senti encantada pelo namoro deles. — Só quero te dizer jade, que não tem o porque você negar o que sente por medo do que nem aconteceu, viver o que você tem agora faz mais sentido.

— E se não valer a pena toda essa sensação?

— Você só vai saber se viver aquilo, não é como se você fosse pedir ele em casamento, é só você sentir o que quer sentir. Você é incrível e merece alguém que veja o quão incrível você é.

Tudo parecia ser fácil, no falar, mas realmente na prática seria algo que não sabia se teria sucesso. Me entregar, significava parar de pensar demais e só sentir aquilo, com todo o meu eu cem por cento dedicado em experimentar uma nova experiência.  Conversamos por mais alguns segundos até Jin se juntar a nós também, comentando sobre seu dia agitado cuidando de filhotes de coelho, sua narração era épica e me distraía de qualquer pensamento que me deixasse distante daquilo que eu não sabia o nome. Uma parte da minha mente desconfiava se eu estaria gostando do Jung e a outra me perguntava onde eu tinha me metido.

Só sei que tivemos que deixar tudo isso para outro momento e nos concentrar. Ainda tínhamos uma comemoração para fazer. Queríamos festejar que o Taehyung finalmente tinha se recuperado e para tal feito abriríamos a taverna com as melhores bebidas, show, jogos e muita diversão, sem esquecermos de todas as exigências que sempre fazia. A noite chegou e tudo estava pronto, Jieun insistiu em dançar está noite e mesmo com um pé atrás, permitir, alertando que qualquer um que tentasse algo teria não só a mão como o braço todo perdido na mesma hora. Como sempre eu estaria ajudando com o que precisasse, me guiando pela energia que emanava daquele lugar.

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