CAPÍTULO 21

JADE FERNANDEZ

Eu simplesmente não consegui dormir pensando em Jung Hoseok. Que raiva, eu só conseguia sentir raiva de mim por algum motivo que eu desconhecia.

Os devaneios iam das suas falas irritantes até mesmo os momentos onde eu só queria agarrá-lo e beijá-lo até perder o ar. Até ele implorar por mais e nos perdemos em nós mesmos, como dois adolescentes que não éramos mais, mas que agíamos como tal, negando as próprias vontades até soar mais maduros.

O sono foi com deus e eu queria ter ido junto, nem mesmo quando o raio do sol iluminou meu quarto escuro eu conseguir perceber que tinha passado o resto da madrugada xingando aquele maldito de todas as formas e sorrindo logo em seguida da maneira como éramos juntos. Ódio. Precisava por aquilo para fora e já sabia como, onde e com quem.
Foi bem cedinho quando surgir no quarto do jeon e da Jieun e o convidei para treinar um pouco, sabia como jungkook tinha uma paixão enorme pelo esporte e como me convenceu a ser sua parceira de socos e chutes. Começamos de leve e depois tentamos agitar, usando tudo o que tínhamos, pondo nossas frustrações para fora, nossos sentimentos incertos, libertando a mente de qualquer barreira que existisse.

Assim que meus amigos entraram na sala e logo em seguida Hoseok também entrou, tudo ficou ainda mais estranho, desconfortável, como se não fossemos mais estranhos um com o outro mas estivessemos sustentando esse papel por muito tempo. Eu não sabia exatamente o que fazer, eu só queria correr, me afastar dele e evitar ainda mais agitação em minha vida.
Não ia mentir, eu tinha receio do que estávamos fazendo, até onde isso iria, o motivo de querer me afastar mas continuar ali, trazendo-o para mim, gostando dessa bagunça que éramos juntos.

Demorei para perceber e quando percebi foi difícil segurar a vontade de sorrir e de achar minimamente fofo como ele foi pego no flagra pelos meus olhos. Sua presença ainda prevaleceu por alguns minutos, até que foi embora, sabendo que ainda hoje iríamos nos ver.

— Jade? — terminei de arrumar os papéis sobre minha mesa. Minha sala, quarto, escritório, estava uma bagunça e aproveitei um tempinho para arrumar, deixar tudo mais apresentável. Minhas estantes estavam impecáveis, até tinha orgulho de ver os livros que eu tinha mais afeto arrumados por cores, algo satisfatório para mim.

Me virei, observando mollie acenar para mim, sorridente, sempre transparecendo gentileza. Desde que descobri seu envolvimento secreto com Jimin, evitei olhar para eles de maneira diferente, sabia e respeitava a decisão dos meus amigos, não queria que os demais soubessem por mim algo que pertencia unicamente a eles. Não toquei mais no assunto, muito menos mencionei ou fiz gracinha, apenas agir normalmente, percebendo de longe o que estava na minha cara desde do começo, eu só não conseguia ver.

— Posso entrar? — perguntou e fiz franzi os cenhos, balançando a cabeça.

— Claro que pode, fique à vontade. Consegui tirar um tempinho pra limpar aqui.

— Tava precisando — a encarei, séria, mas depois rir, vendo ela rir também. Mollie adentrou o espaço e nesse meio período terminei brevemente as coisas que estava fazendo. Ainda tinha algumas coisas para fazer ainda hoje, resolver alguns detalhes sobre a taverna, pagar algumas contas e por fim me reunir com meus amigos para irmos até a antiga fazenda colher algumas frutas que o senhor Jung sempre permitia que pegássemos, principalmente quando a colheita estava farta.

Sinto saudades das boas memórias que tive naquela fazenda quando minha mãe ainda era viva, como ela me ensinou desde de pequena a ser independente, não para que eu crescesse e me tornasse empregada de ninguém e sim que eu construísse algo que fosse meu, que seguisse o que eu acreditava ser o melhor para mim. Acredito que esteja seguindo o que aprendi e também acredito que minha decisão de vender a fazenda foi, de fato, o melhor para mim. O senhor e a senhora Jung sempre deixaram as portas abertas caso eu quisesse retornar ou apenas visitar, o local era bonito, era o primeiro local que o sol batia mais fortemente assim que nascia, podia me perder na calmaria daquele ambiente. Eu não me arrependia da minha escolha, da minha decisão, aquilo me ajudou com o que de fato eu queria e sigo até hoje e fico contente, feliz e tranquila que tenha entregado para pessoas tão incríveis como eles.

— Você tá quieta — sussurrei, olhando para ela sobre meus ombros, observando minha amiga encostada no apoio do sofá. — alguma coisa aconteceu?

— Acho que sim — me virei, dando atenção a ela. — mas não comigo, nem com o pessoal, eles estão bem — curvou os cabelos, dedilhando os cabelos longos. — mas com você.

— Comigo? — rir, confusa com sua fala. — Não aconteceu nada comigo, mollie.

— Aconteceu sim, você sabe que aconteceu.

— Não sei de nada — Desviei a atenção dela. — e se acha que aconteceu algo, diga, pois eu estou normal.

— Você tá diferente Jade, não sei a palavra certa, mas você tá.

— Várias mudanças, deve ser isso.

— Não — a vi se aproximar e em seguida me puxar para o sofá, onde me acomodei. — Desde do festival você tá diferente, mais inquieta, calada.

— Impressão sua mollie — fiz menção de levantar mas ela me conteve, obrigando-me a ficar sentada.

— Sei que não sou a melhor pessoa pra dizer isso, mas… — pausou. Uma pausa levemente dramática. — Se você quiser conversar sobre alguma coisa, é só falar.

— Eu sei — sorri com os olhos. — quando tenho algo, eu sempre falo com você.

— Então? — esperou que eu falasse algo. Não estava compreendendo até onde ela queria chegar.

— O que você quer saber exatamente? — perguntei, mais diretamente. — devo falar algo que não tô sabendo?

— Eu não sei, só sei que desde do festival você tá diferente, na verdade… — estalou os dedos. — Desde que o Hoseok chegou na cidade você tá assim, diferente, fica quieta quando ele tá aqui.

— Já sei onde você quer chegar e não… — neguei com a cabeça. — não tem nada de diferente, eu só fico calada porque os garotos estão falando e eles gostaram bastante dele, normal. — fiquei de pé, sentindo minha garganta secar.

— Aconteceu algo entre vocês dois? — Virei para ela, arqueando as sobrancelhas. — Ele parece ser um cara legal, vocês até que combinam, formariam um belo casal.

— Não… — apontei para ela. — não, não e não — firmei minhas palavras. Sentia meu coração bater mais rápido. Que ideia maluca ela estava tendo?

— Qual é o problema Jade? Ele namora? Eu perguntei e ele disse que não.

— O problema é que… — rapidamente raciocinei suas palavras. — Você perguntou se ele namora? — Indaguei, sem acreditar naquilo. Eu precisava dormir ou ela tinha tomado alguma coisa.

— Eu pedi pro Jimin perguntar na verdade, mas sim.

— Não acredito que você tá dando uma de cupida, céus Mollie! — Esfreguei meu couro cabeludo, enfiando a mão, sentindo-me à beira das emoções. — Não, não quero ninguém fazendo ou perguntando isso, tá bom?

— Tá bom — Ficou de pé, demonstrando sua incompreensão com minha fala.

— Não aconteceu nada entre mim e ele, somos dois estranhos, ele é um estranho para mim e pronto.

— Certo jade — concordou com a cabeça, cruzando os braços. — Não tá aqui quem falou, beleza? Só foi curiosidade.

Respirei e inspirei, relaxando meus ombros, dando um tempo para mim e para ela, em silêncio, sem dizer nada. Sentia que por um momento eu tinha pisado na bola, agido de uma maneira que não precisava, dificultando ainda mais aquilo.

— Desculpa — Murmurei. — desculpa por falar assim, acho que preciso dormir, descansar.

— Tudo bem — fez careta. — foi mal falar sobre ele, acho que não deveria.

— Não, não é isso, é que… — umedeci os lábios. — É complicado.

— Eu entendo — ela balançou a cabeça, sorrindo sem mostrar os dentes. — Quando quiser falar sobre isso, eu vou tá aqui.

— obrigada — sorrimos uma para a outra. Sentia que Mollie me conhecia o suficiente para ler minhas ações e saber o momento certo de perguntar, só eu não sabia o meu momento certo. Para ser mais específica, eu não sabia de nada, só queria me ocupar pelo resto do dia e a noite dormir até a outra manhã.

Tratei de organizar o que faltava das minhas obrigações. Constantemente aparecia algum problema para lidar e tinha que tirar um tempo para resolver isso ou não conseguia me sentir bem pelo resto do dia. Com a volta de Taehyung a banda e a sua melhora sendo um motivo de comemoração, planejavamos fazer algo para marcar isso em nossas mentes e nada como um show com todos em seus lugares de sempre. Com o novo componente na banda, eu me sentia estranha, mas ao mesmo tempo gostava da ideia. O equilíbrio entre o legal e o nada bom.

No início da tarde juntamos algumas cestas para levar para a fazenda, trariamos muitas frutas frescas para fazer bebidas diferentes. Namjoon até mesmo comentou que queria testar sabores exóticos e ver o que os clientes achariam. Isso era ótimo, sempre que nos reunirmos, pensávamos em mil e uma maneiras de inovar e atrair ainda mais pessoas para nossa taverna.

Assim que chegamos na fazenda do senhor Jung, ele nos cumprimentou, comentando como estava feliz com nossa presença com nossa presença ali.

— Eu vou cortar um bolinho pra vocês — falou a senhora.

— Não precis.. — antes mesmo que terminasse a fala, ela adentrou a casa.

— Não adianta Jade — indagou o mais velho. — ela é assim — sorriu e concordei. — enquanto isso, querem ver como estão os animais?

— Eu quero — Jin assentiu e os demais concordaram. Discretamente olhei ao redor, buscando, tentando ver se achava pelo menos algum rastro dele, sem deixar que os outros notassem a minha falta de atenção com o que conversavam.

Como sempre, o lugar estava impecável, os animais saudáveis e bem alimentados, coisa que era exigência quando minha mãe ainda era viva. Ela amava a fazenda, no entanto, amava ainda mais os animais. Jin organizou tudo o que precisava, tendo ajuda do namorado para preparar toda a higienização e preparação do animal para não assustá-los. Todos, das galinhas até mesmo as vacas, estavam familiarizados com o Kim e todo o seu amor e atenção a cada detalhe. Namjoon, mesmo que leigo sobre o assunto, não tirava os olhos e seguia o que era orientado.

Jimin, Jieun, Yoongi e os outros já tinham ido em direção às imensas árvores, eles já conheciam o local como a palma da mão deles. Fui logo depois, deixando o senhor Jung e meus amigos com bezerros.

— Isso é fácil, é só questão de prática — ia me achegando no chão de pedras, o caminho que eu carinhosamente apelidei quando pequena de paraísos das frutas. Era um enorme jardim com árvores gigantes e repletas de frutas. por vezes subir nelas e por muitas vezes também cair delas. Nada fora do cotidiano de uma criança cheia de energia.

Observei quando Taehyung lançou uma pequena fruta no alto, pegando com a boca e comemorando. Lena que se encontrava logo ao lado negou com a cabeça, Yoongi e Jungkook sorriram, Mollie estava um pouco atrás, tendo ajuda de Jimin para alcançar algumas pitangas para por no cesto e Hoseok se misturava com toda a festa que faziam.

— Pensei que estávamos aqui para colher algumas frutas — falei, chegando sem avisar, assustando aqueles que não estavam atentos.

— Jad… — Taehyung tentou comentar algo, mas no processo se engasgou, precisando que um dos outros desse um tapinha em suas costas.

— Só paramos para admirar um pouco — o min se pronunciou e assentir. — já estamos voltando, não é pessoal?

— Com certeza — Jungkook balançou a cabeça. Rir da reação deles, observando todos caminharem em direções diferentes, sobrando ali apenas ele.

— Você é uma líder bem mandona — suspirou, abraçando um cesto com algumas frutas dentro. Abaixei, pegando uma para que também ajudasse a colher.

— Não sou mandona.

— Não? — arqueou as sobrancelhas. — acho que estou precisando de novos olhos e novos ouvidos.

— talvez sim, você precise — oscilei a cabeça, movendo-me, olhando para as árvores frutíferas.

— A propósito — coçou a garganta. Olhei sobre meus ombros e enquanto eu me movia, ele vinha atrás, caminhando até que estivesse ao meu lado. — Quem é que tá perseguindo quem?

— Eu que não sou — respondi. — Você está me seguindo agora.

— Já estava aqui antes de você chegar.

— E eu estou andando enquanto você me segue, quem é que tá seguindo quem? — elevei meu cenho, visando-o de lado, observando sorri sem ter uma resposta para minha pergunta. — Estão lindas.

— O que? — com seu questionamento, apontei para uma das árvores.

— As árvores, elas estão lindas, seu avô tem cuidado muito bem delas.

— Todas as manhãs ele acorda bem cedo e vem aqui, ver como estão as coisas, se tem alguma praga ou algo do tipo. As pessoas que trabalham aqui também ajudam também — curvei o canto da boca, sentindo um alívio sabendo daquilo. — Ouvir dizer que a fazenda era sua.

— Sim — concordei.

— E que ajudou bastante com as dúvidas que meus avós tinham, agradeço por isso.

— No começo parecia estranho vender tudo isso aqui, mas foi a melhor decisão que fiz, principalmente para seus avós. Sentir que eles iam cuidar disso e aproveitar tudo o que o lugar tem a oferecer — Hoseok ainda caminhava ao meu lado, mas agora em passos lentos. Por sorte os raios do sol não estavam fortes e a brisa estava suave, ventilando meu rosto.

— Deve ter sido difícil se desvincular disso aqui, aposto que teve memórias incríveis nesse lugar — fiz careta, negando com a cabeça, olhando para meus pés. — Não?

— Na verdade, tive bons momentos sim, mas momentos ruins que infelizmente não poderiam ser esquecidos ficando aqui.

— Compreendo — mesmo parecendo que não, o rosto dele estava suave, não conseguia visualizar nenhuma tensão em seus olhos, ele parecia entender, mesmo que não soubesse de tudo. O suficiente respondia as dúvidas dele.

Nos calamos o tempo suficiente, mas diferente de antes, o silêncio não parecia tão desconfortável, apenas um modo de falarmos, de lidarmos com o que vivíamos. O Jung não insistia, sentia que ele me dava abertura, talvez de propósito para que tivesse chance de me ler em silêncio. Seus olhos eram profundos, assim como âmbar, cintilantes e angulados, moldados de maneira certeira para ele, para que tivesse controle no que apenas via e no que olhava. Em certos instantes tinha a impressão que ele estava sorrindo de canto, com uma expressão distantes, sabendo quando me olhar e quando fingir que não estava olhando.

Achava fofo, principalmente quando o pegava no flagra como a última vez.

Avistei um cajueiro bem próximo de onde estava e ligeiramente me aproximei, olhando com mais atenção para os cajus. Desde de mais nova, minha mãe me ensinava que toda fruta era fruta mas existia frutas com sabores ainda mais gostosos e que para escolher, precisava observar com todo o cuidado e assim eu fazia, tentando encontrar as que estavam no ponto perfeito. Tinha certeza que seriam aquelas que dariam as melhores bebidas.

— Me ajuda — pedi e comecei tirando minha jaqueta, amarrando na cintura, pondo o cesto ao lado, buscando o lado mais seguro para subir.

— Ajudar? Com o que?

— Me dando a mão pra subir — virei para ele.

— Subir? Por que você vai subir?

— Pra pegar o caju, né? — neguei com a cabeça.

— acho que tem alguma escada por aqui, porque não pega?

— porque está longe e até que eu vá lá pegar, já perdemos muito tempo — respondi. — é só me dar apoio e faço o resto.

— Você é mesmo muito imprudente, não acha? — estalei meus dedos.

— O que acha? — o encarei.

— Imprudente e louca, já deixo claro — deixou seu cesto perto, vindo até mim, abaixando e fazendo apoio para que eu subisse, segurei em seus ombros e me apoiei na árvore, ganhando impulso o suficiente para me lançar para cima, segurando em um dos galhos. — E agora? — olhei para baixo, para ele. Hoseok sorria para mim. — vai voar ou algo do tipo?

— Não seria uma má ideia — oscilei os cenhos, desviando dele e focando no meu objetivo inicial. Conseguir pegar as melhores, jogando dentro do meu cesto. 
Notei que tinha mais algumas um pouco mais em cima e optei por tentar pegar, já que estava ali mesmo, forcei meu corpo para cima, usando o galho para sustentar metade do meu peso, todavia, acabei por escorregar e consequentemente o mesmo galho se partiu fazendo meu corpo perder qualquer tipo de apoio que tinha, caindo. Dei um único grito, seguido do barulho contra algo, provavelmente o chão.

Com os olhos fechados percebi que ainda estava inteira e assim que meus olhos se abriram e tomei consciência do meu estado, me dei conta que tinha caído sobre o Jung.

— Porra — as palavras saíram junto com um gemido de dor. Engoli a seco, sentindo seu abraço forte e como as consequências da minha queda tinham sido aparadas por ele. — custava pegar a escada? — Murmurou, mordendo os lábios. Meu corpo estava deitado sobre dele, nossos rostos próximos, meus cabelos cobrindo sua face, provavelmente bagunçados e os seus me impedindo de ver seus olhos.

— Ia adivinhar que isso aconteceria?

— Deveria, já que é dona do mundo e sempre quer ter razão.

— E por que me segurou?

— porque estava logo abaixo de você, é questão de lógica jade. — fiz menção de me mover, de sair de cima dele mas o ouvir soltar o gemido de dor. — fica quieta por alguns segundos, estou tentando respirar sem sentir dor. — assoprou suavemente minha face.

— Então me deixe sair de cima de você, provavelmente precisa ir a um médico pra ver se não quebrou nada.

— Não quebrei nada Jade, só preciso de um tempinho — Sussurrou e nada respondi, apenas fiquei ali, quieta, sentindo seus braços me envolverem fortemente e sua respiração sair entrecortada.

Era uma sensação…agradável, por assim dizer. Ele tinha um leve cheiro que adentrou minhas narinas com facilidade, uma fragrância suave, diferente de mim que gostava de fragrâncias mais fortes e marcantes, apenas chegando perto o suficiente poderia senti-lo. O vento que passava por nós afastou os cabelos sedosos de Hoseok, me dando uma visão nítida dos seus olhos e de como me olhava com um sorriso em seus lábios.

— Você é maluco.

— Eu? Quem foi que subiu uma árvore sem nenhum equipamento de segurança? — Questionou. — Por sorte te salvei, de novo.

— Ótimo, quer um prêmio por esse ato incrivelmente heróico? — pisquei os olhos ligeiramente, desviando para a grama abaixo dele e olhando diretamente para sua mira.

— Quero.

— Vai continuar querendo.

— Um beijinho? — arqueou um dos cenhos, movimentando a sobrancelha. Rir, tentando me conter das suas graças. O Jung gostava de ser o engraçadinho da história, mas eu entendia muito bem suas intenções por trás de toda graça existente. — Pode ser na bochecha ou…

— Ou?

— No mesmo lugar que deu ontem — inspirei, pensativa, cogitando aceitar a ideia ou me aproveitar dela para aprontar algo. Estava na hora dele saber que nada seria como ele bem quisesse.

— Parece ser uma ideia interessante — Deslizei minhas mãos pela lateral da calça, onde pude alcançar a região que queria. Seu olhar desceu até meus lábios e em seguida fiz o mesma ato, indo ao seu encontro, sentindo o quão cheiroso Hoseok era, observando seus olhos se fecharem, contudo, antes que nossos lábios se unissem, segurei o primeiro caju que conseguir pegar na cesta, subindo e pondo a fruta sobre o adorável bico  formado por ele.

— Seu prêmio — Sussurrei em seu ouvido antes de me livrar dos seus braços, ficando de pé, limpando minha roupa e rindo da sua expressão. O maior cuspiu a fruta, se sentando e olhando para mim, tão sério que achei que iríamos brigar ali mesmo.

— Não era esse tipo de prêmio que eu estava falando — franziu a testa, esfregando as mãos uma na outra.

— É o que tem pra hoje.

Foi a última coisa que ele ouviu de mim naquele momento, retribuindo em um sorriso silencioso e contido, fiz um gesto similar, pegando minha cesta e tentando processar tudo o que tinha acontecido. Por sorte do destino tinha me afastado de Hoseok por alguns momentos, sentindo meu coração bater tão rápido que podia ver o movimento a olho nu, meu rosto todo ardia como se sua aproximação tivesse causado algo em mim que só percebi segundos depois.

Acalmei meu corpo e minha mente, olhando para frente, observando-o colher algumas frutas sem muito esforço, pondo na cesta que estava com ele, olhando para trás e sorrindo ao perceber que eu estava o encarando.

Que idiota.

Bufei, ficando atrás da árvore que me encontrava, negando com a cabeça ao mesmo tempo que não conseguia conter a expressão de satisfação em meu rosto. Não ia negar, enquanto terminava minha parte espiei o Jung pelos galhos, o modo como ele interagia com meus amigos ao mesmo tempo que tinha a impressão que estava sendo observada e me analisava, me instigava. Só sei que fiz de tudo para dissipar a distração que ele era, focando com o que eu estava fazendo.

Algumas horas depois me encostei em um tronco de árvore, observando a paisagem esverdeada que gradativamente sumia da minha visão à medida que o sol ia ficando mais suave, dando adeus de maneira dramática.

— Posso ficar aqui? — levei um susto com a aproximação repentina de hoseok, observando com metade do rosto escondido pela árvore.

— Fique a vontade — Murmurei e foi o bastante para ele de achegar, sem informalidade, se acomodando ali mesmo, ao meu lado.

— Minha vó fez um bolo e convidou os outros para lancharem — Informou. — só falta lavar as frutas pra encaixotar.

— Então é melhor eu ir adiantando — fiz menção de levantar, porém a mão dele segurou uma das minhas.

— Antes de ir, queria saber uma coisa de você. — inclinei o rosto, de maneira que eu pudesse ver o perfil dele. Os olhos cintilantes de Hoseok beijavam a beleza do sol se pondo.

— O que?

— A gente…tá tudo bem entre a gente?

— Acho… — pausei, pensando no que ele exatamente queria dizer. — por mim está tudo bem entre a gente, por quê?

— É que às vezes parece que temos mais discussões do que conversas tranquilas — um riso ecoou dos meus lábios. Também tinha a impressão disso e não sabia explicar o por quê. — o que aconteceu naquele dia, no primeiro dia que cheguei aqui, se você diz que não teve intenção, eu acredito.

— Acredita? — ele oscilou a cabeça, concordando. Abaixei o olhar, observando como seus dedos acariciavam sucintamente minha mão. Eu gostava daquele toque, do toque que ele fazia em mim. — bem…acho que me equivoquei sobre você ser tão distraído, eu poderia realmente ter tido mais atenção.

— Poxa, ouvir isso de você é incrivelmente atraente — seus olhos sorriram e fiz careta, afastando nossas mãos.

— Da próxima vez deixo você falando sozinho.

— Que malvada — provocou. — eu aqui, todo disposto a selar completamente a paz entre nós e você diz isso.

— E digo mais…— ele prestou atenção em mim, focado em meus olhos. Podia ver meu reflexo em seus olhos. — é melhor deixar para lá — desistir de continuar, recuando, encarando a beleza da natureza.

Ele não respondeu nada, o que era estranho para mim, no entanto, decidi respeitar ao mesmo tempo que não tinha as palavras formadas para serem ditas, apenas um amontoado de informações que vinham do meu coração e se alojavam em minha mente.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top