CAPÍTULO 20
JUNG HOSEOK
Dormir em outro lugar parecia bem difícil para mim e naquela circunstância era ainda mais. Deitei em um colchão confortável, ao lado da cama dos mais velhos que dormiam silenciosamente, como se eu estivesse sozinho no cômodo. Cheguei a conseguir cochilar, mas sempre acordando, pensando nas horas anteriores, em como eu estava caindo direitinho no truque difícil que a motoqueira iniciou desde do início, me encantando e gostando da sensação que ela causava em mim quando estávamos no mesmo ambiente.
Ainda sentia o peso do orgulho me levando para o dia que quase fui atropelado, no entanto, tentava relembrar suas palavras e acreditar nelas. Não era rancoroso, mas também não esquecia de um dia para o outro, só deixando passar quando estávamos no mesmo o lugar. Como percebia seu autocontrole e tensão ao meu lado, estando sempre alerta.
Ela poderia negar quantas vezes fosse preciso, mas tudo isso só alimentava a curiosidade que existia em mim em conhecer mais dela, não só dela, como do que era Jade sob toda aquela barreira erguida para que qualquer um visse e desse meia volta. Queria saber mais do que o toque tórrido dos seus lábios contra os meus, me lançar de cabeça no que ela era. Eu me conhecia melhor do que ninguém e tinha consciência de tudo o que fazia, do que poderia surgir em todo esse jogo de cão e gato, de como eu gostava de vivenciar novas aventuras, de como eu não tinha medo de sentir mais do que já tinha sentido. Sempre fui cuidadoso com quem se aproximava de mim, me envolvendo pouco, preso na ideia de que, se eu me preocupasse demais com outras coisas, poderia perder meu futuro. Assim dizia meu pai e assim tentei me manter até perceber que eu estava vivendo no automático, sobrevivendo a vida que eu achei ser melhor, ignorando outras emoções, outras vontades, focado em meus estudos e em meu trabalho.
Provavelmente faria isso enquanto estivesse aqui, me arriscaria até onde não era visível e me perderia na paz que busquei ou apenas nela.
Quando Seokjin acordou, já estava acordado, ao menos tinha conseguido dormir. Ele me levou até o banheiro onde fiz tudo que era necessário para seguir adiante, de volta para a casa dos meus avós.
— Temos alguns trabalhos planejados para hoje na fazenda — revelou, descendo ao meu lado. Namjoon vinha logo atrás, ainda tentando entender onde estava. — Vou vacinar alguns animais e ver como está a saúde de outros.
— ah, que bom. Ouvi meu avô falar sobre algo do gênero — ele concordou, sorrindo, olhando para trás e parando.
— Aliás, já conheceu o dormitório? — Indagou e neguei. — como percebeu é bem em cima do bar, o que facilita bastante as coisas — olhei ao redor, notando a ambientação mais neutra, como se fosse um local totalmente distinto em comparação a área de baixo.
— Não sei se tá tudo arrumado, então se você ver alguma coisa onde não deveria tá ali, apenas ignore — Namjoon repousou a mão em meu ombro, se juntando mais um pouco a mim e ao Kim. — Vamos começar pelos quartos, tenho certeza que todo mundo já acordou.
Mudamos um pouco o trajeto, seguindo até os quartos. Os mais velhos explicaram que quando Jade pensou no local, queria que todos ali tivessem um pouco de privacidade e por isso, cada um tinha um quarto que muitas vezes, devido a união de casais, acabava sobrando e ficando vazio. Mostrou também uma pequena cozinha onde encontrei Yoongi, Helena e Mollie tomando café, cumprimentando e seguindo. Tudo era bem pequeno e em tons pastéis, muito diferente do preto e roxo da taverna.
— Esse aqui é o quarto da Jade — só pela placa de " não incomode " e algumas aranhas de brinquedo na porta, conseguir imaginar que seria o quarto dela, por ser bem a cara dela. Às vezes eu me questionava se alguém ali tinha aracnofobia ou algo próximo a isso e caso tivesse, se lidaria muito bem com o medo.
Prosseguimos, Jin e Namjoon eram bem comunicativos e explicavam tudo e com eu aproveitava para saber mais sobre a Jade e seu mundo. Mesmo me negando, uma parte minha queria saber mais e mais sobre ela, de como chegar mais perto, conversar mais tranquilamente e talvez, superar toda a bagunça que tínhamos construído.
— Esse aqui era o quarto do JK, mas ele transformou em uma academia/sala de treino/ alguma coisa que ainda não entendi — apontou para a porta, se aproximando, segurando a maçaneta e abrindo a porta. — vejamos, olha quem está aqui.
A voz de um deles ecoou pelo cômodo iluminado pela luz que adentrava a janela. Entre socos e chutes com toda a proteção adequada, Jade e o Jeon intercalavam os movimentos dos punhos. Jungkook segurava o saco de pancadas fortemente e ela desferia uma sequência em uma concentração impressionante, como se estivesse visualizando um alvo, com os cabelos presos em um rabo de cavalo solto, fios grudando na face suada devido às próprias ações. Inspirei profundamente, esperando que alguém falasse algo e assim aconteceu, Jin bateu palmas, chamando a atenção dos dois.
— Chegamos em uma boa hora? — perguntou o mais velho.
— É melhor a gente descansar um pouco — orientou Jungkook e Jade somente concordou, dando as costas para ele, indo em direção ao canto da sala, sem oferecer qualquer oportunidade para nossos olhos se encontrarem. — Já íamos fazer uma parada — respondeu ele, jogando o saco que antes era o alvo de jade no chão. — Começamos bem cedo.
— Acordaram antes das galinhas? — Namjoon questionou, tanto ele como o Jin se achegaram apenas, me deixando na entrada. Me apoiei na parede, acomodando minha mão dentro do bolso, sentindo uma sensação estranha que percorria minha mente em todo o instante que eu lutava para não olhar para ela.
— Jade que acordou — apontou. — e pediu pra treinar um pouco e como eu estava até precisando esticar os músculos… — ergueu os braços, segurando uma barra de ferro acima dele, suspendendo e abaixando seus braços, dando total visão dos seus bíceps e tríceps se contraindo. — Acho que alguma coisa irritou ela — acrescentou, mas antes de ter qualquer tipo de resposta se virou para mim, sorrindo. — Não sabia que estava aqui.
— Fiquei até tarde aqui, como não deu pra voltar pra casa, dormir por aqui mesmo.
— Se eu soubesse teria convidado você pra ficar jogando um pouco de videogame comigo e a jieun no quarto. — assenti. Os três conversaram entre si, por algumas vezes Jade comentava alguma coisa, mas sempre concentrada no que fazia, sem se perder. Nesse meio tempo, intercalei meu olhar, questionando meus neurônios sobre o que estava acontecendo comigo, porque eu estava alimentando aquilo sem nem mesmo saber o terreno que pisava.
Quando eu me toquei, saindo dos devaneios dos meus pensamentos, notei que agora ela olhava para mim, vendo que eu estava focado nela antes mesmo que eu me desse chance de reavaliar minhas ações, desviando o olhar ligeiramente, constrangido, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha por ter me exposto de tal maneira, preso em tudo o que me chamava atenção: ela.
Alguns minutos depois, saí daquele cômodo e fui conhecendo os demais até não sobrar nenhum, ou pelo menos quase nenhum. Jin citou que existia um espaço ali onde somente Jade tinha a chave, era como um lugar secreto para ela e todos ali respeitavam esse espaço. Ainda na taverna, me reunir com eles para tomar café e continuar conversando sobre nossos gostos e como poderia existir outras chances de tocarmos juntos.
— O Taehyung ficou totalmente curado do braço — Helena ressaltou e eles comemoram, abraçando o garoto de sorriso quadrado.
— Já podemos treinar alguns sons pra ver se o braço realmente tá bem — Yoongi sugeriu e todos ali concordaram.
— Não podemos esquecer que o Hoseok foi incrível no palco, acho que deveríamos colocar mais um membro na banda — Jungkook acrescentou e tentei buscar Jade, saber por sua expressão o que verdadeiramente ela achava daquilo. Mas pela primeira vez ela se encontrava suave, com um micro sorriso nos lábios, tomando seu café. — O que acha Hoseok? — Sentir o jeon puxar meu corpo, bagunçando meus cabelos e em seguida me soltando.
— Não sei — fiz careta.
— Sabe sim — Proferiu Jimin. — Vamos cara, você foi sensacional lá no palco, tenho certeza que vai se divertir com a gente.
Não era uma ideia ruim, do mesmo jeito que não era uma ideia boa. O equilíbrio entre saber ou não saber. Eu não ficaria ali para sempre, não tinha porque eu aceitar aquilo para depois abandonar, não gostava, não era do meu jeito fazer aquilo. Ainda assim, mesmo com o receio de me apegar a eles, eu sabia que uma parte minha já tinha aceitado a idéia, era sobre música, e tinha pessoas com gostos em comum com o meu, que fazia com que eu me sentisse confortável e ignorasse totalmente minhas preocupações e também, tinha ela.
Caramba. Suspirei com todos me observando, com um sorriso termo nos lábios, sem graça.
Jade despertou uma curiosidade em mim assim como a música despertou uma paixão que eu não conhecia. Ela era como o refrão impactante da canção, a parte onde os instrumentos ficavam ainda mais sincronizados e constantes, em um conjunto no qual tudo fazia sentido.
— Acho que vocês precisam falar com a chefa de vocês primeiro — novamente fiz careta, evitando repetir o que aconteceu alguns minutos antes e ser pego por ela em flagrante.
— O que acha, Jade? — Namjoon, ao lado dela, perguntando.
— Huh?
— O hoseok combinou com a gente, todo mundo aqui gosta dele, o tae se recuperou, mas seria interessante aumentar a banda, tenho certeza que os clientes iriam gostar bastante — Jin acrescentou, piscando para o Kim.
— Ah, bem… — prolongou, encarando os amigos e por último para mim. — Por mim, tudo bem, desde de que ele cumpra com as regras, parece ser uma ideia legal.
Sua piscada nem tão discreta em minha direção fez uma parte em mim ficar aliviado. Era bom saber até estávamos indo bem com aquilo de paz e harmonia.
Retornei para casa alguns minutos depois, me esforçando para tentar não deixar na cara que algo acontecia comigo, dentro de mim. Meus avós sempre me conheciam muito bem e eu sabia que em qualquer instante eles iam perguntar sobre minhas últimas interações com o pessoal.
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