CAPÍTULO 18
JUNG HOSEOK
Minutos, horas e apenas uma noite que devagou como se fosse um ano em instantes. Depois que retornei para casa me mantive normal, conversando e rindo com meus avós sem citar o que tínhamos feito. Em certos momentos apenas sorria recordando, lembrando da expressão, da negação que só fazia aquilo ser ainda mais interessante de alimentar, do toque apimentado dos lábios de Jade sobre os meus — por sorte, amava comida apimentada —, percebendo a facilidade como ela me distraia, mesmo sendo por provocações, pelo silêncio, por nossas curtas interações que ao vivenciá-las se tornavam uma misturas de boas, más e estranhas experiências.
Em casa, tratei de ligar para minha mãe, conversando pela primeira vez com meu genitor depois de chegar na fazenda dos meus avós.
— O senhor poderia conversar com ele, tentar entendê-lo, tentar ouvi-lo também pai — ponderei, escutando os mais velhos arrumarem a mesa enquanto riam juntos, aproveitando a companhia um do outro.
— Seu avô é difícil hoseok — respirou profundamente, soltando em seguida, chiando minha ligação por alguns segundos. Virei para a janela, mirando no céu. — Tá maluco da cabeça saindo da cidade, de toda a facilidade que tinha para morar em um fim de mundo, pelo bem da minha paciência, espero que ele não esteja fazendo sua cabeça. — fechei os olhos, tentando me manter neutro.
— Só acho que deveria compreender mais ele, conversar com o intuito de ouvir e não de querer ser o certo da história pai, apenas isso. Você deveria, pelo menos uma vez, escutar o lado dele, tenho certeza que vai compreender — falei. — E não, ele não está fazendo minha cabeça, muito pelo contrário.
— Você, seus avós, sua irmã e sua mãe ficaram loucos, todos vocês.
— Talvez seja por isso, que todos nós queremos ficar longe de você — Proferir e sentir o ar ficar pesado. Escutei um pouco das suas reclamações, mas apenas entrou por um ouvido e saiu pelo outro e com isso, preferi apenas desligar. Me juntando aos meus avós por alguns minutos e retornando para o meu quarto, seguindo para o banheiro.
Tomei um banho gelado, bem gelado para esfriar tudo em mim. Molhei a cabeça, deixando para outra ocasião o ocorrido com meu pai e deixando que as lembranças daquela noite — do beijo que Jade me deu e posteriormente eu retribui — alugasse um triplex na minha cabeça por horas. Desliguei a água e sentei na banheira, com a toalha no quadril, refazendo a cena, ato e sabor. Constatei que minha primeira impressão com a motoqueira poderia ter faltado informação e consequentemente, levado a uma certeza em mim sobre a pessoa que era.
Esses poucos dias estavam sendo legais, tocar para diversas pessoas também mudou algo em mim, provavelmente o fato da adrenalina causado pelos olhares, pelas vozes que se juntaram as nossas na apresentação, como a música dizia muito e um pouco mais, como as pessoas ao meu redor, os amigos da senhora dona do mundo foram amigáveis e receptivos.
Tudo bem. Não estava dizendo com todas as letras que poderia ter errado na primeira vez, porém, até aquele exato momento, as coisas estavam sendo divertidas, uma experiência nova e louca ao mesmo tempo, suicida e masoquista — eu acrescentaria — e estava ansioso para descobrir o que poderia acontecer nos próximos dias, como eu e Jade lidariamos com aquela constante atração enigmática que alimentavamos com a nosso crescente atrito e opiniões totalmente desiguais.
Não mentiria para mim, eu queria ver até onde aquilo iria. Algo em mim queria por pura curiosidade de entender o que poderia ser. Para os demais, para ela, me manteria silencioso sobre meus pensamentos, apenas viveria.
— Oh, céus, Hoseok… — pisquei algumas vezes, olhando em direção a porta, avistando minha vó com algumas roupas lavadas nas mãos. — Pensei que tinha acontecido algo com você, estava chamando e não respondia, olhei no quarto e não estava.
Me endireitei, notando que estava praticamente seco devido ao tempo que se passou e não percebi. Me vestir ligeiramente, arrumando meus cabelos para trás.
— Desculpa vó, acabei me perdendo nos pensamentos — rir, puxando os cantos das bochechas.
— Dia cansativo meu neto — veio até mim, depositando um beijo em minha testa, ajeitando os fios rebeldes que caiam nas laterais. — Descanse, certo? — Concordei, contudo, de certo modo, eu não me sentia cansado, me sentia animado. Ela se retirou do cômodo e encostei mais um pouco a porta, pegando meu estojo em uma súbita vontade de transformar aquela agitação em algo palpável. Selecionei os papéis das minhas antigas composições, as que estavam incompletas e me acomodei, concentrado, lendo o que já tinha começado.
Escrevi, apaguei e fiz esse ato tantas vezes que o papel rasgou, causando uma leve frustração em mim por não conseguir por aquilo para fora. Não entendia o que estava acontecendo comigo a respeito da minha trava em compôr, como se minha inspiração tivesse sumido, se desgastado com o passar dos anos. Estalei meus dedos, pondo tudo sobre minha cama, encarando fixamente o papel em branco, fechando os olhos e tentando relaxar, tentando não surtar e desistir daquilo. Mesmo amando a música, tocar e compor, naquele momento nada fazia sentido para mim, uma verdadeira interrogação na minha vida, como se meu fim tivesse chegado e só faltava aceitar a realidade que vivia.
De repente só consegui ver Jade em minha frente, lembrando de como ficava frustrada ao perceber que perdeu as palavras, em como me guiou com tanta vontade até ela. Os fogos de artifícios vinham em meus devaneios como se fossem as sensações que seu ósculo causou em minha boca, do jeito que seu toque foi quente e como eu sentia uma mistura confusa de bem estar e confusão na presença daquela mulher. Se eu pudesse compará-la a algo da minha realidade, seria as letras inacabadas das inúmeras tentativas de formar algo que tivesse lógica.
No pico de uma emoção que eu não compreendia, peguei um papel novo e meu lápis, fazendo um rascunho atônito do que vinha em minha mente. Me desprendendo de qualquer base fixa, permitindo fluir. Às primeiras palavras saíram soltas e apenas tentei juntá-las como se fossem um quebra cabeça, obtendo no fim frases largadas na folha.
“ O céu nunca foi tão próximo como agora. Alguns afirmariam que o céu é azulado com algumas nuvens, mas eu diria que o céu usa jaqueta de couro, camisa de banda e sabe pilotar uma moto velha. ”
Fiz alguns rabiscos no canto, lendo o que tinha escrito algumas vezes, tentando entender o que significava aquilo e por qual motivo me aguçava ainda mais.
— Grande hora pra ficar torrando o cérebro — Murmurei, desistindo de prosseguir com aquilo, guardando minhas coisas e arrumando no estojo.
Deitado na cama, encarei o teto, respirando fundo e por fim fechando os olhos. Ainda insistindo em repassar o que tinha escrito em minha mente até dormir, mesmo sem sono, me forcei a dormir, tendo consciência que se ousasse a ficar acordado, chegaria a uma conclusão que não me agradaria muito.
Repousei por tempo o suficiente para me sentir cem por cento novamente. Na manhã seguinte acordei por vontade própria, mais animado e leve dos pensamentos, fazendo todo o seguimento repetitivo, mas necessário da higiene e me juntando a minha vó que tranquilamente varria a casa. Conversamos enquanto ajudava a limpar a pequena casa, observando algumas fotos antigas dela e do vovô quando eram mais novos, dos filhos e reparando o peso do tempo em cada imagem, mas sem perder o essencial: o sorriso. A manhã passou e, consequentemente, o clima mudou completamente. O calor agradável do sol e o céu azulado deu lugar a uma chuva que começou fraca, ficando mais forte com o decorrer do dia. No início da tarde ajudei meu avô e algumas outras pessoas com o parto de um dos animais, observando, receoso o pequeno bezerro com poucos minutos de nascimento se equilibrar melhor do que eu que já tinha duas décadas existindo. Posteriormente almoçamos em família, não comentei com os mais velhos a respeito da minha conversa desagradável com meu pai, tinha conhecimento que só deixaria eles agitados e tristes e não era o que queria.
Quase no fim da tarde me acomodei no sofá da sala, deixando minha vó acariciar meus cabelos.
— Lembra quando você era pequenininho e amava quando eu mexia nos seus cabelos? — Indagou e sorri, concordando. — você dormia rapidinho, como um passarinho no ninho.
— Tenho certeza que se continuar, dormirei aqui também — Assim que disse, o sorriso surgiu nos lábios dela.
— Fique a vontade — me aninhei no sofá, mas não demorou muito para ouvir o som de uma buzina. Nos olhamos e me levantei, minha vó em seguida, indo até a janela e puxando a cortina, notando alguém do lado de fora. — É o Jimin — comentou, seguindo para a porta e abrindo. Me movi, seguindo logo atrás, notando o garoto sair da moto e correr em direção a casa, fugindo da chuva forte que ainda caía. — Jimin, meu querido, não tome essa chuva, entre. Aconteceu alguma coisa?
— Não aconteceu nada, senhora Jung — acenou sorrindo com os olhos e em seguida para mim com a mão. Ele usava uma jaqueta preta, luvas de couro da mesma cor , calça e sapatos, mas mesmo assim estava totalmente molhado devido a chuva. — Só vim convidar o hoseok pra assistir uma corrida de moto aqui perto, senhor Jung comentou que queria que ele se enturmasse.
— Oh, parece divertido — a mais velha me encarou, com os olhos brilhantes. — O que acha meu neto? Fique tranquilo se quiser ir, mas só tenha cuidado. — O Park chamou minha atenção, piscando, como se quisesse me dizer algo. Franzi o cenho, em dúvida e também, curioso.
— Vou trocar de roupa e já vou — ele concordou e minha vó o convenceu a entrar para tomar um chá quente antes de partimos e aproveitou para secá-lo. Sem ter nada de novo, vestir o que já estava acostumado, pensando que poderia sentir frio ou algo próximo a isso no que estava me metendo.
— Estou pronto — enunciei e Jimin se levantou. Me despedir da minha vó, ouvindo dela para termos cuidado e para não ficarmos no frio também. — Para onde vamos? — Questionei, sentindo os pingos de chuva encharcarem meus cabelos em segundos, caminhando em direção a uma moto com detalhes vermelhos.
— Uma corrida — respondeu, me entregando o capacete. — pensei que seria legal você ver o que fazemos quando não estamos na taverna. — coloquei o capacete. Não iria negar, ainda tinha muito receio com motocicletas.
O Park subiu primeiro, fazendo menção de acelerar assim que ligou sua moto.
— Deveria me preocupar? — Me acomodei logo atrás, segurando nos apoiadores que tinha nas laterais da garupa.
— Só com o trajeto até lá, então, se segure — pediu e por algum motivo, confiei. Eu estava louco ou tinha perdido a noção da minha vida.
O garoto acelerou a moto, dirigindo com malemolência e facilidade, confiante no que fazia. Observei a chuva dificultando minha visibilidade e imaginava como seria dirigir assim, passando por algumas poças d'água em alta velocidade. Agora era mais que claro, Jimin era mais louco do que a motoqueira e tudo isso tinha sobrado para mim.
Ao longe, avistei algumas luzes e um som que se misturava com o barulho da chuva no chão de terra e das motos.
— Chegamos — avisou, acelerando ainda mais e parando juntamente com outras motos. Havia algumas pessoas ovacionando algo próximo dali e o som, agora mais perto, do ronco de uma motocicleta. Notei que alguns rostos já eram conhecidos por mim e outros não. Diria que ali tinha umas vinte pessoas, mas facilmente, de contasse, poderia ter mais.
Jimin desceu da moto e fiz o mesmo, tirando o capacete que não ajudou de nada contra a chuva.
— Vamos, quando chegarmos perto, eu te explico — falou, encolhido, com as mãos no bolso da jaqueta, correndo em direção a algum lugar, fiz o mesmo, me juntando a ele e ao pessoal que se protegiam da chuva com guarda-chuvas.
— Você demorou — uma voz feminina sussurrou e Jimin sorriu em direção a menor. A mesma pessoa se direcionou para ele, dando um sorriso gentil.
— Fui buscar nosso amigo aqui para curtir a corrida — Comentou, ainda com o sorriso. Ela, mollie, ficou levemente sem jeito com o ato e se desviou, mirando em mim.
— Que bom que veio, espero que goste do que verá — respondeu e assentir, mesmo sem entender nada. Estávamos literalmente no meio do nada, sobre o chão de terra com algumas luzes vizinhas da pequena cidade mais próxima. Fomos mais para frente, passando por alguns desconhecidos e me juntando com os demais.
— Bom… — Coçou a garganta. Antes de começar a falar, notei o olhar inquieto de Jimin em direção a mollie, respirando fundo e desviando para frente. De longe, observava a movimentação de quatro motos, como se estivessem lutando uma contra a outra. — Sempre quando tá chovendo, fazemos uma corrida com alguns motoqueiros de outras cidades que vem aqui bancar os fodões, e nós, como pessoas legais, damos o que eles merecerem. — piscou para mim. — alguns meses atrás, nosso lado ganhou e o outro lado perdeu, mas eles pediram revanche. — cruzou os braços. — a patroa ficou muito receosa em ceder a revanche por achar ridículo eles não aceitarem perder — ouvia em silêncio — e aqui estamos, não é? Se eles queriam revanche, ela concordou e assim que começou a chover já sabíamos o que aconteceria.
— Vocês fazem isso quando não estão na taverna? — concordou e arqueei a sobrancelha. — Bem diferente, mas por que a chuva?
— Porque traz uma sensação mais dramática — respondeu e aceitei, sem questionar muito. — E porque é o melhor tempo pra Jade competir, mais confortável para ela.
— Então, você quer me dizer que além de dona de uma taverna, ela também compete corrida nos tempos vagos? — umedeci os lábios, estalando os dedos.
— Jade é uma caixinha de surpresas Hoseok, nem nós que temos uma convivência longa com ela nos ficamos de fora. — senti firmeza em suas palavras. — Lá vem eles!
— Eles estão na frente — gritou alguém. Mirei em direção a onde todos olhavam e vi as luzes das motocicletas, dos respingos que passavam visivelmente na frente da luzes, as silhuetas sobre a moto e o ronco, os gritos animados da torcida ao meu lado.
Uma das motos acelerou, a outra fez o mesmo, ultrapassando a que estava na frente. Todos os quatro motoqueiros estavam de capacete, o que não ajudava a identificar. Os dois que seguiam logo atrás brigavam para passar adiante e isso se prolongou até estarem todos próximos o suficiente. Observei Jungkook se mover para frente, com uma bandeira em mãos e os braços erguidos, abaixando apenas quando uma das motos ultrapassou bem próximo a eles, vindo em direção ao amontoado de pessoas que aguardavam e torciam animadas, comemorando algo que eu ainda não tinha sacado, freando apenas quando se viu que eu estava na frente. Tentei saber quem era, no entanto, tanto o capacete como a chuva dificultava a visibilidade. As três motos passaram pelo jeon, uma atrás do outro.
— Vencemos! — Ouvir Jin enunciar, abraçando Namjoon e em seguida Helena que estavam logo ao meu lado. Não desviei da pessoa em minha frente, que ainda não tinha movido um dedo, como se estivessem me encarando. De repente, apertou a buzina, causando um efeito automático no meu corpo, um leve espasmo.
Vi quando retirou o capacete, revelando ser quem eu, no fundo, sabia que era. Jade desceu da moto, sorridente, indo até o pessoal e abraçando todos, comentando alguma coisa que não ouvi. Atrás, Yoongi se aproximava, juntando-se a eles, ele era o segundo a ultrapassar e os dois últimos que retiraram a proteção eu não conhecia, provavelmente quem havia pedido revanche.
— Acho que a revanche não serviu de muita coisa — A motoqueira, com o orgulho estampado em sua face, se virou para os homens.
— Tudo bem — sussurrou um deles, o outro apenas chutou a propria moto, se distanciando. — Vocês ganharam dessa vez.
— Não só dessa, como da outra também — O min relembrou.
— Eu sei, já entendi — apontou. — vocês venceram, mas não achem que vou ficar embaixo do pé de vocês.
— Jamais, só queremos que compreenda que em Hopecity, você e sua corja, não entram — Namjoon ponderou, focado neles, olhar direto e queixo erguido. Com certa resistência, o homem concordou, respirando pesadamente e tentando tirar o excesso de água em sua face, se calando e por fim dando um passo para trás.
— Ele quase sujou as calças — Taehyung comentou, rindo. — vocês viram a cara dele?
— Quase sujou duas vezes — Jin Indagou e todos ali concordaram. — Isso foi incrível.
— Jade e Yoongi fizeram eles comerem poeira — Jimin se juntou.
— Chuva, no caso, não? — o Kim olhou para os amigos e em seguida todos ali sorriram. — beleza, mas em comemoração, poderíamos beber um pouco, né?
— Concordo, comemorar a vitória é importante. — Mollie disse.
— E aí Jade? — Seus olhos passaram por mim antes de pararem em um alguém.
— Vamos comemorar — falou e foi o suficiente para quem estava presente, assobiar. — mas pouco, amanhã temos trabalho.
Eles facilmente se separaram, cada um seguindo para sua moto. Jade não direcionou nenhuma palavra para mim e tinha a sensação que depois do nosso beijo, tudo ficaria ainda mais difícil entre nós dois. O pessoal acabou me convidando para me juntar a eles na taverna, onde iriam beber para comemorar, no trajeto foram partilhando do assunto, me deixando a par dos detalhes.
Mesmo que fosse estranho minha relação com ELA, eu facilmente diria que estávamos indo bem e que todos ali eram pessoas legais, agitadas e amigáveis. Creio que ser neto do meu avô ajudou bastante nesse quesito. Adentramos a cidade e o barulho da moto acelerando era impossível de não escutar. Na chegada, entramos, cada um pegando uma cadeira, já passava da meia noite, o que não parecia ser o que importava ou o que afetaria a comemoração.
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