CAPÍTULO 17

— Tá tudo bem com você? — O Kim Indagou, assim que entramos na taverna, seguindo para o andar de cima. Grande parte dos meus amigos já estavam seguindo para seus aposentos, podia ouvir a voz deles, as discussões bestas e divertidas que constantemente existiam entre todos nós. Namjoon me olhou pelo canto dos olhos, arqueando o cenho. — Você ficou quieta a viagem toda.

Fato. Desde do momento que Hoseok se despediu de nós, me esforcei para refazer tudo o que eu tinha vivido, de maneira coesa, sem ser afetada por sua presença. Percebi como o beijo tinha sido algo milimetricamente não planejado, pelo menos não por mim. Ainda sentia o cheiro doce do perfume do Jung em minha jaqueta, como suas mãos eram quentes e firmes, como seu olhar pairou sobre mim e brilhou mais do que os fogos de artifícios e como, infelizmente, eu tinha gostado do modo abrupto que me beijou.

Bufei, inspirando suavemente, cruzando os braços.

— Estou cansada — Respondi e ele assentiu, sorrindo de canto no processo que inflava uma das bochechas. — Esses dias foram bem cansativos.

— Descanse Jade — murmurou. — precisamos, todos, descansar, sem pensar no amanhã.

— Tem razão, vou fazer isso — oscilei a cabeça, me virando em direção a porta do meu espaço. — Deseje uma boa noite pro Jin.

— Farei isso — piscou para mim e nos despedimos. Adentrei meu dormitório removendo toda a minha roupa antes mesmo de chegar no banheiro, partindo para um banho. Sentia minha cabeça latejando e com isso, decidir molhar os cabelos, permitindo a água escorrer por mim como sempre fazia.

Eu me esforcei para não pensar no que tinha acontecido, mas não conseguia. Me sentia agoniada e exaltada toda vez que fechava os olhos e via, podia imaginar e sentir o toque dele sobre mim como toques quentes sobre minha pele, afagando cada centímetro enquanto me beijava, provocando e pressionando meus lábios.

Abrir os olhos, inspirando pesadamente, deixando que aqueles devaneios apenas saíssem de mim como se não significasse nada e não significavam realmente. Meu corpo e mente agiam como se nunca houvesse beijado ou deixado alguém me beijar, como se fosse a primeira vez e me sentia ridícula ao perceber que aquilo me irritava, a maneira como aqueles pensamentos me pegavam absolutamente do nada. Após o banho, tratei de seguir todo o processo que fazia frequentemente, cuidando da minha pele, principalmente das áreas que eu percebia que ficavam mais avermelhadas e em momentos como esse que, sem permissão minha, as lembranças vinham em peso.

— Não, não vou deixar isso me afetar — Murmurei, conversando comigo e com minha mente, vestindo uma camiseta de manga grande com apenas uma peça íntima por baixo. Demorei tempo o suficiente para dormir e aproveitei para tomar uma xícara de chá, abrindo as cortinas do meu espaço multiuso para ocupar minha mente com outra coisa que não fosse o beijo que tinha ocorrido. Não mentiria que não repetiria novamente aquilo, mas não queria que minha mente guardasse aquilo. Queria viver e simplesmente esquecer depois.

Finalmente o sono chegou e conseguir tirar os pensamentos que me deixavam agitada. A madrugada passou que malmente vi e a manhã deu as caras como quem não queria nada, expondo um sol com raios pacíficos, beijando meus pés a medida que o balanço da brisa afastava a cortina que fazia sombra. Como todos os dias, era muito difícil acordar com totalmente silêncio naquele ambiente, os meus amigos tinham a dádiva de acordar antes do sol nascer para aproveitar e caminhar pela cidade deserta. Fiz tudo o que era necessário para me sentir confortável comigo e com meu corpo, observando se existia alguma área irritada em meu corpo. Em breve eu estaria partindo para a cidade para que pudesse efetuar os exames de sempre e que sempre eram necessários, sendo acompanhada pela minha psicóloga que constantemente conseguia me ler de maneira que eu ainda não conseguia compreender e, de certa forma, me ajudar a lidar com as barreiras que me bloqueavam.

Sair do meu quarto e caminhei livremente, ajeitando a saia que vestia, parando em certo ponto antes do lance de escadas ao notar um barulho de algo caindo no chão, algo pesado. Olhei em volta, em direção ao quarto da mollie, confiando que talvez ela e o Jimin estivessem tratando de assuntos pessoais, mas quando ouvir mais uma vez, percebi que vinha do quarto de Taehyung.

— Taehyung? — o chamei antes de chegar perto. Já tinha acontecido muitas situações delicadas no dormitório, onde meus olhos avistaram tudo o que existia por trás da roupa que meus amigos vestiam. Não existia malícia entre nós, mas não negava que todos eram atraentes e charmosos e usavam isso ao seu dispor, consciente e inconscientemente, por isso, me acostumei a chamá-los alguns metros longe da porta só para me prevenir.

Bati na porta, ouvindo-o autorizar minha entrada.

— Tae… — automaticamente um sorriso se abriu ao perceber que ele estava sem o gesso do braço. Observei o local, o inchado que existia antes já tinha sumido, sobrando apenas hematoma da queda. — que bom que você está melhor — aquilo me tranquilizou ainda mais.

— É… — o canto dos seus lábios sorriram e entrei mais no quarto, percebendo seu deslizar até o gesso que estava longe. Notei alguns desenhos em volta, artes que sem esforço identifiquei de quem eram. Havia alguns rabisco por todo o material, escritas com o nome da Jieun, Jungkook, jimin, Yoongi e os demais, pequeninas aranhas feitas com marcador preto que decoravam e davam certa graça ao gesso. — mas eu preciso colocar novamente, só tirei porque estava terrivelmente coçando, aproveitei que a Helena tinha saído — sussurrou e tentei forçar meu cérebro a compreender.

— Mas seu braço tá ótimo, tá perfeito, por que quer colocar de volta? — Puxei uma cadeira, sentando. O maior sorriu quadrado, suspirando. — Taehyung, não me diga que você estava bem esses dias e escondeu. — Fiz cara feia.

— Não, percebi que meu braço tinha ficado melhor ontem, juro. Mas, não sei se vai me entender.

— Se me explicar, talvez eu entenda.

— Esses dias, nessas situações, mesmo que nos primeiros dias tenha causado dores insuportáveis, a Lena cuidou de mim, sabe? E eu gostei — começou. — E percebi que quando voltar ao normal, tiver melhor da queda, com certeza vamos continuar no joguinho de gato e rato. Queria… — pausou, umedecendo os lábios. — aproveitar a presença dela só mais um pouquinho.

— Você estaria mentindo para ela tae, sei que gosta da Helena e ela é bem difícil — riu, concordando com a cabeça. — Mas não é mentindo, fazendo ela se preocupar que vai ajudar.

— Isso parece muito egoísta da minha parte, não é?

— Um pouquinho — gesticulei com o dedão e o indicador.

— Mas prefiro ser um pouquinho egoísta do que ter ela longe.

— Entendo tae — inspirei profundamente. — Todos nós temos direito de fazer o que acharmos melhor para o momento.

— Obrigada jade, só quero que não conte isso para ninguém, ok? Prometo que não vou manter isso por muito tempo, só tempo o suficiente pra conseguir ter coragem para dizer o que sinto. — seus olhos brilharam. — Pode me ajudar? — esticou o braço e fiz uma careta, mas mesmo hesitante sobre sua decisão, o ajudei a colocar novamente. — agradeço.

— Taehyung, trouxe seus remédios… — a voz que já conhecia entrou no quarto. Helena olhou para nós e em seguida para o Kim. — Aconteceu alguma coisa?

— Não, só vim ajudar o Taehyung a coçar o braço, ouvir alguns barulhos quando passei no corredor — falei e ela fez careta.

— Ele não fica quieto — bufou, se aproximando mais, jogando suas tranças para trás, deixando a bandeja que carregava sobre as mãos e amarrando os cabelos com uma das próprias tranças.
Observei tudo silenciosamente, olhando discretamente o brilho que se estendia no olhar de Taehyung ao encarar a garota. — Até você melhorar vou precisar amarrar você na cama se for necessário.

— Tenho certeza que será — Seu sorriso quadrado foi visto por Helena, que automaticamente riu, pegando a bandeja e se aproximando mais do maior.

— Bem...— cocei a garganta, levantando-me e olhando em direção a porta. — Vou precisar resolver algumas coisas, só passei pra saber como ele estava e ajudar — eles concordaram.

— Daqui a pouco vou descer também — Comentou ela. — Vamos na verdade — apontou para ele.

Assentir, seguindo para a saída e encostando a porta. Inspirei lentamente, percebendo como as coisas ali estavam loucas e impossíveis de prever. Desci, me juntando com os outros, a taverna já estava aberta e com clientes ao vapor.

— As coisas aqui estão bem agitadas — Enunciei, me aproximando da bancada, observando meu melhor amigo servir algumas pessoas. Aproveitei para passar para o outro lado, pegando uma flanela média e um produto específico para limpar a superfície onde as pessoas se apoiavam.

— Depois de ontem, mais pessoas estão curiosas em frequentar a taverna — pude vê-lo sorri de lado antes de seguir para a pia, lavando suas mãos após retirar as luvas pretas, secando e se aproximando da bancada, olhando ao redor, com uma expressão serena. Nesse momento a porta da frente foi aberta e Jimin, juntamente com Jin entraram, pude perceber a postura de Namjoon mudar e sua expressão fechar. Ambos, Kim e Park, passaram do outro lado, Jin olhou para Namjoon e ambos se encararam, mas nenhum sorriso ou jogada de beijo como era de costume.

Meu amigo mudou de posição, dando as costas, indo em direção as bebidas, retirando da prateleira para limpar, mesmo que aquilo não fosse necessário.

— Aconteceu alguma coisa? — Ingenuamente indaguei, fixada nele. — Com você e o Jin…

— Mais ou menos — sussurrou em resposta, limpando a garrafa de vidro e colocando no lugar, voltando a ficar mais perto de mim. — Ontem, brigamos e nos desentendemos e hoje ele acordou sem falar comigo.

— Nam, o que… — umedeci os lábios, virando de lado para ele, para olhar diretamente para o maior. — Vocês estavam tão bem ontem.

— É, estávamos jade — o sorriso que era frequente, não existia naquele momento. — Jin me contou que recebeu uma oportunidade para trabalhar em um lugar grande na cidade, na área que ele se especializou e tudo mais. É uma boa oportunidade já que é algo que ele gosta e quer ter mais experiência — foi explicando e oscilei com a cabeça. — mas ele simplesmente negou a proposta, ele não aceitou por minha causa e isso me irritou bastante — estalou os dedos. Namjoon sempre foi o mais calmo dentre todos nós, poucas vezes tinha visto ele e o Jin brigarem e quando isso acontecia, nunca era na frente dos amigos ou conhecidos, mas tentávamos ajudar, não queríamos que uma falta de comunicação deles fosse motivo para algo pior. — Sempre deixei claro pra ele seguir o sonho dele e pensar em mim depois, ele estudou tanto tempo pra largar tudo por causa de um barman qualquer.

Fiz careta, negando com a cabeça.

— Primeiro, você não é " um barman qualquer " isso não te define. Eu sei que isso é chato, mas foi a decisão dele, não? — perguntei e o mais velho concordou. — Então. Tenho certeza que o Jin pensou muito nisso antes de decidir e não falou nada antes porque já te conhece, e fez isso justamente porque gosta de você, Kim Namjoon, o cara mais incrível que eu conheci.  — O homem à minha frente sorriu, tímido, mexendo os dedos, provavelmente pensando no meu ponto de vista. — Não deixe que esse silêncio se prolongue, vocês se gostam, conversem, tentem mostrar o ponto de vista um do outro.

— É… — engoliu a seco, distante, com certeza pensativo. Namjoon levou um pequeno pano até às mãos, secando entre os dedos, inspirando e ajeitando a postura. — Acho que ver o outro lado e respeitar, também é uma forma de dizer que eu o amo.

— Tenho certeza que sim — sorri, juntando os lábios, sentir quando seus braços me puxaram para um abraço de lado, deitando a cabeça sobre a minha.

— Gosto desse seu lado conselheira, sabia? — ergui o olhar para ele, abraçando-o com um dos braços.

— Tô treinando ainda, me esforçando pra ajudar as pessoas que eu me importo — sorrimos e nos afastamos.

— Tá indo bem — piscou e deixei um arzinho sair do nariz. Começamos a nos movimentar, ficar parado ali era sinônimo de perda de clientes, o que não queríamos. Juntamente com Mollie, servir as mesas, tratando de deixar todos à vontade, conversando e comemorando com alguns deles, relembrando o dia anterior.

Não era uma preocupação nem nada, mas estranhei a ausência de Hoseok ali, principalmente pela intimidade e amizade rápida que ele havia feito com o pessoal, se enturmando com facilidade. Mais tarde, sair para ajudar a checar a cidade, seguindo para a nova construção que estava sendo planejada e poderia, agora, ser construída. Sempre foi discutido com a prefeita sobre a possibilidade de criar um grupo com o propósito de possibilitar diversos tipos de esportes, artes e conhecimento necessário para as crianças e adolescentes de Hopecity. Éramos uma cidade pequena, porém queríamos que todos ali tivessem oportunidade, começando por dentro para futuramente construir algo melhor e estava vendo isso ser erguido aos poucos, o que me fazia ficar contente. Já se discutia quem poderia ajudar e meus amigos se sentiam confortáveis para compartilhar o pouco que sabia: Jungkook e Taehyung estavam dispostos a ensinar um pouco sobre os instrumentos que sabiam tocar, Yoongi comentou que poderia ajudar ensinando sobre máquinas, principalmente moto, Mollie ficou contente com a ideia de poder partilhar um pouco sobre roupas, ela amava costurar peças antigas e criar uma nova, Helena tinha interesse de dividir um pouco seu conhecimento sobre Boxer que aprendeu com o pai e assim todos poderiam ajudar. Eu também pensava em me juntar aos meus amigos, só precisava decidir como eu faria isso.

A noite chegou em um piscar de olhos, quando me ocupava, mal via o tempo passar e isso, por um lado, era bom. Devaneios indesejáveis acabavam sumindo por um tempo. Depois de todo o trabalho na taverna, juntamos algumas mesas e compramos algumas pizzas para todos comerem, relaxarem durante a conversa. Cem por cento do assunto que tínhamos acabava em risadas, havia sim momentos sérios, que existia a necessidade de uma conversa mais regrada, todavia, na maioria das vezes éramos leves.

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