CAPÍTULO 07
JUNG HOSEOK
Foi quase automático a reação do meu corpo quando ouvi a voz daquela mulher cantando tão lindamente, um tom levemente rouco que combinava com a canção e a deixava ainda mais envolvente. Eu não fazia ideia que ela estaria ali, muito menos que era ela quem estaria no palco cantando e simplesmente fazendo todos ali vibrarem. Não era só cantar, Jade tinha uma presença que tinha o mesmo efeito do imã, seu olhar seguiu um trajeto irregular e seu corpo se soltava, criando o próprio ritmo. Ela não só cantava como também sentia a música com o domínio de quem sabia o que fazia, tendo um acompanhamento ainda mais agradável de ouvir.
Estava surpreso, não iria negar e não iria mentir que ela sabia cantar como ninguém, segurando não só uma música como todas que cantou a seguir. Eu a seguir com o olhar inconscientemente, percebendo isso só depois que ela já tinha notado minha presença, me visto ali. Sentado naquele balcão, apenas tentei fazer o que queria: relaxar e curtir. Sem qualquer outro tipo de intenção, ouvindo das pessoas ao redor comentários sobre a bela apresentação da viúva-negra. Não sabia se estavam falando da motoqueira, mas apenas cogitei que sim.
Quando ela veio em direção a onde eu me encontrava, até considerei elogiar sua apresentação, mas desistir antes que meus pensamentos tomassem minha mente por completo. Não queria que ela achasse que eu tinha esquecido do pequeno atrito que tivemos na fazenda dos meus avós devido a sua pose de dona do mundo. Sim, eu era orgulhoso o bastante para me negar dar brecha para isso, alimentando a sua pose diante do quase acidente. Aquela mulher era fogo, só sua presença, só a maneira impecável da sua postura me causava uma sensação que não compreendia e nem desejava compreender, entocaria dentro de mim até que meus dias ali passassem e eu voltasse para a cidade grande.
Tudo aquilo acabaria e eu esqueceria Jade e tudo aquilo, precisava ignorar, estava ali para ter paz e não mais estresse por conta de uma motoqueira que não reconhecia seus erros. Após mais um diálogo nada agradável, ela foi embora, retornando para o palco e dando um show que até mesmo valeu muito ter ido ali. Minutos depois, Jimin se juntou a mim, pedindo mais um copo de shot e se sentando ao meu lado, conversando sobre a noite.
— O que achou do lugar? Da apresentação? — perguntou, bebendo sua bebida.
— O lugar é bem interessante, confortável, aconselhador — observei o ambiente. Na cidade grande lugares como aquele eram bem comuns, sobretudo, nos lados mais nobres, mas aquele lugar tinha um diferencial: até o atual momento não tinha visto briga, só algumas pessoas curtindo a música, bebendo e interagindo entre si como pessoas civilizadas. — A apresentação foi muito boa também, uma das coisas que mais gostei. Eles cantam bem.
Jimin olhou para mim, sorrindo como se estivesse orgulhoso.
— Eles são geniais, os melhores de Hopecity. Aqui por ser minúsculo, quase não tem show ou apresentação ao vivo e foi nosso ponto forte, todos gostam — explicou e concordei. — Você já conheceu a viúva-negra?
— Quem? — franzi o cenho.
— Viúva-negra é a Jade — sem apontar, me mostrou quem era e eu já sabia de quem se tratava, apenas preferi me manter neutro. — A pessoa que você ajudou mais cedo.
— Recordo-me, mas viúva-negra?
— Ela se apelidou assim e pegou, sendo sua marca, nossa marca na verdade — oscilei a cabeça. — Somos tipo um grupo e ela é nossa chefa, sabe lidar com confusão melhor que ninguém. — Tirou a luva que cobria sua mão, mostrando a aranha tatuada. — todos nós temos essa tatuagem, para representar nossa lealdade e ligação, como uma família.
Achava que ela causava confusão e não lidava. Pensei, apenas para mim.
— Muito diferente, não imaginava que uma cidade como essa teria algo assim, me surpreendendo muito com esse lugar.
— Se você se enturmar mais vai descobrir que aqui, mesmo sendo um lugar pequeno, temos altas aventuras.
— Estou precisando de aventuras — murmurei.
— Então veio para o lugar certo Hoseok, você vai se aventurar muito por aqui — se levantou. — Agora me acompanhe, vou te apresentar o pessoal que cantou, tenho certeza que você vai gostar de todos.
— Bom — olhei para todos saindo do palco e indo até a mesa mais próxima.
— Vamos, não precisa ficar acanhado — me impulsionou a ir e de fato, fui, sem esperar por nada, dando o último cole e seguindo Jimin, passando por algumas mesas com outras pessoas até chegarmos onde os outros estavam.
Nos aproximamos da mesa e pude ouvir o riso solto de Jade com os conhecidos da mesa.
— Pessoal, quero apresentar a vocês uma pessoa, um amigo — falou e fiquei surpreso com o " amigo ", sorrindo reto. — Esse aqui é o Hoseok, neto do senhor Jung, ele tá aqui passando um tempinho conhecendo a cidade.
As pessoas se viraram, incluindo ela que a primeira coisa que fez foi me olhar, seria, quase me metralhando somente com o olhar.
— E aí cara — um deles se levantou, estendendo a mão em minha direção, sorrindo amigavelmente. — Jeon jungkook, mas pode me chamar de jungkook ou Jk, como quiser, só não aceito muitas formalidades comigo.
— Prazer.
— Min Yoongi — Outro fez o mesmo ato. — Mas só me chame de Yoongi, aqui a gente evita todo esse segmento de robô que você vê por aí.
— Como meus amigos, Kim Taehyung, mas pode me chamar de V, mas fácil de lembrar — concordei. — Prazer em conhecer você, realmente você me lembra o senhor Jung, ele é uma ótima pessoa.
— Helena, mas pode me chamar apenas de Lena — uma garota de longas tranças roxas e pretas e pele marrom que estava também no palco estendeu a mão, me cumprimentando. Sua voz era suave e seus olhos pareciam sorrir ao se direcionarem para mim.
— Ou pode chamar ela de namorada do Taehyung — Um deles, Jungkook, gargalhou alto. A garota, por sua vez, escondeu a expressão amigável, dando um peteleco na testa dele. — Aí, doeu!
— E era pra doer! Não sou namorada dele — sentou-se novamente, cruzando os braços, desviando o olhar.
— Porque não quer — Proferiu Taehyung, piscando para Helena.
— É isso aí o dia todo, é porque não tá todos juntos — sussurrou Jimin. — Ou você surta, ou entra na onda, recomendo entrar na onda, é mais divertido.
— É.. — assentir. De primeira impressão, tinha gostado daquelas pessoas, eles pareciam ser mais legais do que aparentavam.
— Por isso a Jade reclama com vocês — ponderou Yoongi.
— Falando em Jade — começou o Park e inspirei fundo. Em todo o momento ela estava olhando em outra direção, não julgava pois estava fazendo o mesmo. — Essa é a Jade. — ela se virou.
— Já nos conhecemos — revelou.
— Sério? Olha, que maravilha.
— Quando fui na casa do senhor Jung pegar as jarras de leite — completou.
— Então já estamos todos devidamente apresentados — Yoongi inquiriu.
— Ele gostou bastante do som de vocês.
— Vocês arrasaram no palco — falei. — Ficou muito bom, agora entendi o motivo de todo mundo gostar.
— Valeu cara.
— Damos nosso melhor para fazer todo mundo repetir a dose mais vezes — Taehyung estalou os dedos.
— Sentem aí — falou Jungkook. — Jimin, puxa uma cadeira, já que estamos todos aqui, vamos curtir.
— Parece uma ótima ideia — gesticulei, me juntando a eles na mesa. Yoongi pediu mais algumas bebidas e começamos a conversar sobre música e gostos em comum. Diferente do que imaginei de princípio eles eram tranquilos e legais, o papo rendia mesmo com o silêncio quase endurecedor de Jade, que desde do momento que cheguei, estava e permaneceu calada, apenas dando um sorriso e concordando com a cabeça.
Eu sabia que não tínhamos nos dado muito bem de primeira e sentia que seu silêncio era justamente por culpa minha, o que me incomodava, visto que assim que me acheguei a ouvir rir, um riso verdadeiramente genuíno e encantador.
Às horas foram passando e perdi o tempo ali, bebendo e jogando papo fora até os clientes irem embora e só sobrar eu e aquele pessoal na mesa. Um tempinho depois, olhei no relógio, já se passavam das duas da manhã e eu ainda me encontrava ali, não fazia ideia de como iria para a fazenda, não teria coragem de ligar para meu avô. Me despedir de todo mundo, marcando um outro dia para conversarmos mais um pouco e finalmente sair, respirando o ar puro, olhando para o céu. A rua onde a taverna ficava estava iluminada por pequenas luzes nas paredes das construções, mas nada substituia a luz da lua sobre mim.
Caminhei sem pressa, me sentindo um pouco tonto por conta dos shots que tinha bebido, rindo comigo e com meus neurônios, chutando as pedras, aquecendo minhas mãos dentro da jaqueta que vestia, olhando para meu próprio peito, para a corrente pendurada e tentando balançar. Ouvi um barulho de motor e olhei para trás, avistando alguém sobre a moto se aproximando de mim.
Por um mísero segundo me questionei quais eram as chances de ocorrer algum assalto ali, mesmo em uma cidade pequena. A rua estava vazia, as lojas fechadas, todos os moradores provavelmente dormindo e o som dos grilos que ecoavam no ambiente. Relaxei ao notar que conhecia o rosto, ao mesmo tempo que me mantive atento ao ver Jade sobre sua moto, vindo em minha direção e parando ao meu lado.
— E aí? — murmurou.
— Huh — A vislumbrei. A motoqueira mordeu os lábios inferiores, como se estivesse pensando no que fazer.
— Vamos — me lançou o capacete que por sorte ou apenas reflexo, segurei antes de me atingir com força.
— Vamos? Vamos para onde?
— Vou te levar pra casa, não é lógico? — arqueou a sobrancelha. — Sobe na moto — gesticulou a cabeça em direção ao automóvel.
— Não vou subir na sua moto — estiquei meu braço, devolvendo o capacete, mas ela nem se moveu do lugar, me encarando de cima a baixo.
— Deixa de ser orgulhoso, tá tarde, é rápido — ponderou. — Eu ia pedir para um dos meninos te levar, mas todos encheram a cara, não permitiria que ninguém dirigisse, sou a mais sã dentre eles. Agora sobe na moto de uma vez.
— Na moto que você usou pra quase me atropelar? — rir em sarcasmo. — Não, prefiro ir andando.
— Você é um bronco, sabia? — Enunciou, apertando firmemente o guidão da moto, acelerando ainda parada.
— E você uma incivilizada — rebatir, observando o riso forçado que ela deu, como se estivesse se segurando para não falar algo pior.
— Dane-se também, se quiser ficar aí e andar a madrugada toda, que fique! — se aconchegou no assento, dando ré. Seria péssimo isso e eu queria chegar em casa pra tentar descansar pelo menos um pouco antes de levantar.
— Não… tá bom — a chamei, impedindo que fosse, colocando o capacete.
— A lógica venceu o orgulho né? — perguntou. Inspirei, vendo-a se aproximar novamente.
— Apenas quero chegar em casa logo.
— Então suba — apontou e assenti, dando alguns passos, pegando apoio e subindo. — Agora você tem que se segurar em mim.
— Como?
— Oh, grrr! se segurar em mim — Mirou para mim sobre os ombros, agarrando meus pulsos e puxando, fazendo com que eu envolvesse sua cintura com meus braços. — Isso, agora segure firme — me soltou, deixando que eu fizesse o resto.
Apenas não soube o que fazer no começo, engolindo a saliva com tanta dificuldade que cheguei a me engasgar e tossir. Apenas tentei ficar neutro, apertando a cintura de Jade com veemência ao sentir a moto ser arrastada ferozmente. Aliviei o aperto, soltando que havia apertado além do necessário para minha própria segurança, olhando para a escuridão que se instalava no local, sentindo a brisa que trazia a fragrância de ameixa dos cabelos da mulher a minha frente para minhas narinas. Meu peito comprimiu, meus batimentos ficaram eufóricos sem qualquer explicação.
Não demos um " piu " durante o trajeto e arriscava dizer que era porque não sabíamos o que falar, não tínhamos o que falar. Avistei a fazenda, a luz da entrada estava ligada mas tudo fechado, provavelmente porque meus avós estavam dormindo.
— Pronto — Estacionou em frente ao portão.
— Obrigado — me distanciei, saindo de cima do automóvel, sentindo um incômodo em mim com esse ato. — Boa noite.
— Gostou do lugar? — Indagou, sem que eu esperasse.
— Do seu bar? Sim, sim, gostei, é bem divertido.
— Não tô convidando nem nada, mas se quiser ir mais vezes é só ir, você sabe onde fica agora — Nos olhamos. Sob o céu escuro Jade parecia brilhar ou só era impressão de alguém que tinha bebido um pouquinho a mais.
— Boa ideia — Desviei o olhar, retornando para ela, enfiando minhas mãos na jaqueta. — Talvez eu volte lá.
— O pessoal gostou de você, então seria legal voltar novamente — oscilei, concordando com ela, sem dar uma resposta em forma de palavras, olhando para trás, levando minha mão até o trinco e abrindo.
— uh, ah… — umedeci os lábios, buscando o que falar. É só dizer até e dar as costas Hoseok, tão simples. Pensei. Antes fosse realmente simples, parecia que meu cérebro não conseguia juntar as palavras e soltá-las de uma vez só. — É melhor entrar, preciso descansar.
— Claro… — se ajeitou na moto, ligando e dando ré, pondo na direção que voltava para a cidade. — Boa madrugada, Hoseok.
— Boa madrugada, Jade — e assim apenas entrei, ouvindo o som da moto contra o chão ficar distante dos meus ouvidos.
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