CAPÍTULO 06

JADE FERNANDEZ

Passei o resto da tarde no escritório resolvendo as papeladas sobre o edifício onde ficava tanto a taverna como os dormitórios. Namjoon sempre estava do meu lado, me ajudando e me orientando. Em questão de economizar dinheiro sem ter tanta diferença, ele era um gênio, lidava com números como se fosse seus drinks com uma rodela de limão. Não bastava ser o melhor barman, ainda era o melhor em gastos também. Até estávamos bem em relação a isso, nos primeiros anos foi uma verdadeira dificuldade. Depois de vender a fazenda por não querer ter as lembranças que aquele lugar me trazia, comprei o imóvel e reformei, todos do bando ajudaram a reformar, deixando a nossa cara. Já tínhamos nossa união de motoqueiros que conquistamos aos poucos e o resto só veio para acrescentar. Conversei com a presidente, ela era razoável e só pedia para que não vendermos nada ilícito ou transformar aquilo em nada proibido, como vender drogas ou usar aquilo como ponto para prostituição e claro que não faríamos nada daquilo. Meu objetivo era criar algo nosso, algo dos membros da viúva-negra, algo que ajudaria todos nós a sobreviver sem fazer nada fora da lei. Fizemos também um tratado que se tratava de mantermos a cidade pacífica e afastar qualquer engraçadinho que achasse que poderia deturpar o lugar e isso já fazíamos.

Seguimos sendo fortes e nos virando como dava. Eu tinha ali a família que nunca tive, os irmãos e irmãs que nunca tive para proteger e ser protegida. Horas mais tarde, me organizei para descer para a taverna. Hoje teríamos uma apresentação especial, ou melhor, eu iria me apresentar. Nas horas vagas quando não tinha estresse, usava para cantar e transformamos isso em um acontecimento exclusivo do nosso estabelecimento; por algum mistério que eu desconhecia, em dias como aquele o lugar enchia, os moradores aparentavam gostar e muitos iam ali somente para prestigiar uma boa música. De qualquer modo, conseguimos encher o cofre e pagar as despesas só com aquela noite e era óbvio que isso encheria meus olhos.

Não ia negar, estava irritada, principalmente com o que ocorreu mais cedo, em específico com o surgimento repentino do senhor dramático. Quando apareceu em minha frente, tomando o estilete da mão daquele idiota bêbado, eu fiquei surpresa ao mesmo tempo que eu não queria que ele fizesse aquilo, não era necessário. Eu sabia facilmente me proteger de qualquer babaca que tentasse algo comigo, não precisava de alguém que me acusasse de algo que não fiz com a intenção real para me amparar.

— Jade, tá pronta? — Olhei pelo reflexo, vendo Mollie, Jieun e em seguida Helena se aproximarem. Todas além de minhas amigas, considerava como minhas irmãs também, que me ajudavam a pôr regras na taverna e no bando em si.

— Os meninos já desceram, fui dar uma olhadinha pra ver como tá e o bar encheu — Jieun falou, se encostando na porta. Todas me esperavam entre a saída e a entrada.

— Alguém com chances de causar problemas hoje? — Perguntei, esperando uma resposta positiva. Peguei minha jaqueta, vestindo, sentindo o conforto do tecido interno que cobria minha pele.

— Não, o Jin e o Jimin estão empenhados em filtrar muito bem a entrada, quem já tem histórico de confusão nem entra. — Helena respondeu e senti um alívio. Ao menos isso.

— Perfeito.

— O palco já tá pronto viu — lembrou Mollie.

— Podem descer meninas, eu vou logo atrás — Antes de saírem, vieram até mim, enchendo-me de abraços e beijos e saindo. Esperei um pouco, me vendo no espelho pela última vez e me retirando.

Seguir o corredor, indo em direção aos lances de escadas e abrindo a porta que separava os dormitórios do bar em si.

— Jade! — Um velho conhecido me cumprimentou e educadamente cumprimentei de volta. O clarão da luz roxa em junção com a luz mais escura, não dava para ver tudo e o que dava, me deixou contente, todos os clientes envolvidos com o ambiente e tranquilos, nada suspeito o que era um ponto positivo.

— Já vai começar — levei um susto com a chegada de Taehyung por trás, passando por mim e entrando na parte coberta do palco. Me encaminhei para lá, encontrando meus amigos.

Entrei e estavam todos lá. Yoongi, Helena, Taehyung e Jungkook, todos prontos para iniciarmos a apresentação da noite. Sempre escolhiamos algumas músicas legais e em alta para cantarmos e se tornava satisfatório quando quem assistia também cantava. Ouvimos o pessoal mais impaciente pedindo para que começassem de uma vez e em seguida a voz do Namjoon acalmando os mais apressados e dando gatilho para que as cortinas se abrissem. Com cada um em sua posição, Jungkook na bateria, yoongi e Taehyung com o violão e guitarra, Helena no Vocal de apoio e eu no principal, demos espaço para o que fazíamos de melhor, ou uma das coisas que fazíamos de melhor.

O som aprazível das cordas do violão iniciando a melodia foi o gatilho para o silêncio das pessoas serem uníssono, dando seguimento a minha voz que ficava no nível perfeito no tempo certo. Escolhemos Come through da H.E.R com o Chris Brown para começarmos a noite. Não fazia ideia, só sentia que conseguia me entregar por inteira cantando essa música. Mesmo com os olhos fechados, sentir o feixe de luz sobre nós, ouvir o sincronismo ideal das batidas que o jeon desferia comedido na bateria, da dupla dedilhando sobre as cordas e da voz de apoio que Helena me dava a cada letra narrada. Abrir meus olhos, vislumbrando a pouca iluminação que cercava o ambiente, mas que ainda me permitia visualizar uma figura que pensei ter sido apenas um miragem da minha cabeça, mas que se constatou real quando percebi que ele olhava para mim, bebendo sua bebida.

Não sabia o porque ele estava ali, o que fazia ou a intenção dele naquele lugar. Pior, tive certeza que ele estava me seguindo ou qualquer coisa assim, não importava. Continuei cantando, até que chegou a parte do Kim e dei a vez a ele, da sua voz ecoar pelo salão e levar todos a se apaixonarem. Eu amava a voz de Taehyung e arriscava a dizer que qualquer um que ouvisse pelo menos uma vez, ficaria hipnotizado. Desviei meu olhar de Hoseok, focando para meus amigos, sorrindo para eles e recebendo um sorriso novamente. Eu já tinha cantado várias vezes no palco, o que facilitava com minha desenvoltura enquanto cantava, mas naquele momento algo travou dentro de mim, a presença daquele homem ali, de certo modo me incomodava, me irritava, eu queria tirar o sorriso que Hoseok carregava nos lábios.
Não lia pensamentos e não precisaria para saber que ele estava ali para afirmar inúmeras falas sobre o ocorrido, assim como fez comigo. Eu poderia tá apenas em um período ruim, jogando toda minha irritabilidade em cima de um desconhecido qualquer, sim, claro, mas de qualquer modo ele me incomodava. Ele se achava dono do mundo, das verdades, mas não era.

Cantamos mais duas músicas depois da entrada, animando o pessoal, depois demos uma pausa para descansar e beber algo. Desci no palco cavando o chão de tão firme que andei, me aproximando de Taehyung.

— O que aquele homem tá fazendo aqui? — perguntei impulsivamente para o Kim que me olhou como se tivesse tentando compreender o que eu tentava dizer. Olhou em direção a quem eu falava.

— Quem? — franziu o cenho.

— Aquele homem que tá sentado próximo ao balcão do bar — especifiquei.

— Huh… — fiquei de costas para a direção onde ele estava. — Não sei, não conheço, nunca vi por essas bandas. Ele é encrenca? Posso pedir pro Jimin ou pro Jin tirar tirarem ele.

— Não, não… — engolir a seco. — não há necessidade — me virei.

— Aconteceu alguma coisa, jade?

— Não tete, não aconteceu nada. Só preciso de uma bebida, vou no bar pedir pro Namjoon, tá? Quando for a hora de voltar pro palco você me dá um toque?

— Claro, vá lá — sorrimos um para o outro e caminhei em direção ao bar, desviando minha atenção de hoseok, sem ter certeza se ele estava olhando para mim ou para o local.

— Noite movimentada? — inclinei meu corpo sobre o balcão. Namjoon abriu um sorriso para mim, dando uma piscadinha com um dos olhos.

— Um pouco, mas tudo sob controle.

— Não duvido disso — oscilei a cabeça. — Pode preparar uma pra mim? Quero bem forte, então pode caprichar.

— E quando não capricho, chefia? — rimos um para o outro e vi o Kim se distanciar para preparar a bebida. Ainda com um sorriso no rosto, me virei diretamente para o Jung, observando que ele olhava em direção ao palco, as pessoas, bebendo sua bebida sem chamar a atenção de ninguém a não ser a minha.

Inspirei fortemente, me afastando do balcão e caminhando até ele.

— Arrisco dizer duas coisas — Enunciei próximo a ele. — a primeira: você só veio aqui pra jogar na minha cara que eu quase atropelei você e a segunda: você é algum maluco e está me perseguindo. — a testa dele franziu, se direcionando para mim, dando um último e poderoso gole.

— Nenhum, nem outro. Estou aqui apenas curtindo o ambiente, o som. Não fazia ideia que você estaria aqui.

— Assim como mais cedo?

— Exatamente. Pura coincidência, que, aliás, salvou sua vida.

— Há, não, não salvou.

— Como não? Aquele bêbado ia tentar esfaquear você.

— E provavelmente não conseguiria — me acomodei de costas para o palco, levando meus cotovelos a ficarem apoiados na borda e meus olhos focados na movimentação. — Não deixei ele encostar a primeira vez, não deixaria a segunda.

— Então, quer dizer que se eu não tivesse feito nada, você daria um jeito nele? — Encarei ele, dando um sorriso de lado e negando a cabeça.

— Claro que sim.

— Além de mal educada, também é imprudente — uma veia saltou da minha testa, senti minha paciência sumir, mas me contive, respirei. Ele estava fazendo aquilo somente para continuar se achando certo.

— E você é intrometido — rebatir. — aliás, se acha que vou agradecer pelo que fez hoje mais cedo, fique sonhando.

— Não pedir nada e tenha certeza… — se afastou no balcão, me endireitei também, olhando diretamente para ele, sem recuar. Muitas pessoas ali me respeitavam devido a tudo que me esforcei, mas existia a parcela que tinha medo, principalmente os homens que não eram do meu bando e sabiam como eu agia com quem não cumpria a lei. Isso fazia todos sempre repensarem na maneira que iriam de dirigir a mim, mesmo que não fosse proposital se eu ou qualquer um do meu bando notasse que a pessoa estava tentando por banca no território alheio sempre dávamos nosso jeito para quem fosse, entender tudo.

Não queria que as pessoas tivessem medo de mim, mesmo sendo a minoria, queria respeito na minha frente e atrás também. Lutava por isso, sempre lutei desde a minha adolescência, não aceitando voz alta comigo ou qualquer outra coisa. Sabia ser legal com quem era legal comigo e eu sentia, diante daquele homem que eu não abaixaria a cabeça para suas provocações nem que quisesse. Eu cumpria minha palavra, principalmente quando era comigo mesma.

— Não ajudaria novamente só por ser grossa e nariz empinado, como se fosse dona do mundo.

— Falou o garoto da cidade que chegou agora querendo se achar o todo poderoso — ele se calou, eu também, nos olhamos, olho no olho, sem desviar. Sentia que de certo modo, ele era similar a mim, não recuaria, não sentiria receio de me olhar no olho.

— Tudo bem por aqui? — Namjoon surgiu entre nós, do outro lado do balcão, seu olhar sorrateiro estudava a situação. — Precisa de alguma coisa, jade? — Virei para ele e dei um sorriso suave, negando com a cabeça. O Kim me entregou a bebida e me acomodei ali, me esforçando para só ignorar a presença de hoseok.

— Tá tudo bem, vou tomar aqui e provavelmente já vou voltar para continuar o show. — ele assentiu, desviando o olhar para o Jung que já estava com os olhos focados em outra direção.

Terminei de beber minha bebida e fui chamada por Taehyung, me dirigindo até o palco novamente. Eu tinha orgulho demais do meu bando e amava todos como se fossem meus irmãos, uma família. Tínhamos uma facilidade e dinâmica juntos que me encantava e fazia com que tudo o que tentássemos juntos tivesse grandes chances de dar certo. No início era apenas eu, Namjoon e mollie, mas com tempo os atuais membros foram entrando após passar por um recrutamento planejado pelo Kim na época para testar se tinham cabeça para encarar de frente todo o trajeto que seguiríamos. No início aquela ideia de um grupo de amigos andando de moto pelo nada parecia maluquice e de fato era, mas fazíamos por gostar da sensação de liberdade, de poder sermos o que queríamos ser sem controle de ninguém. Os olhares feio chegaram e tivemos que lidar, muitos moradores viam aquilo como um grupo de criminosos que poderiam fazer o que quiser na cidade, mas nunca foi assim, nunca foi nosso planejamento, sempre quisemos criar um ambiente saudável para qualquer um, sem regras que fizessem que nosso verdadeiro eu ficasse escondido internamente.

A apresentação foi impecável como sempre. Na volta, começamos com jungkook no vocal cantando Swim do Chase Atlantic e eu amava como aquele garoto se soltava enquanto cantava, lançando a baqueta no alto e pegando com as duas mãos, iniciando uma sequência na bateria de tirar o fôlego de qualquer um. Nos divertiamos e talvez seja por isso que demos continuidade com essa ideia de tocar e cantar ao vivo, aproveitando todos os benefícios.

Em certo instante, desviei meus olhos de quem nos assistia, vendo Jimin e Hoseok sentados bebendo enquanto conversavam e riam de alguma coisa. Apenas enchi o peito, ignorando tudo aquilo, fingindo que não conhecia aquele homem e prosseguindo com minha noite.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top