6 - Pain
- E seu pai? Deve ser um homem de negócios, dado o quão experiente você é. – A pergunta de Paul trouxe uma onda de desconforto para Demetria, que engoliu em seco, sentindo um nó na garganta. Era como se o simples som da palavra "pai" reacendesse feridas que ela tentava a todo custo esconder. Mas a menção ao seu profissionalismo trouxe um leve alívio, e ela forçou um sorriso enquanto Billie a observava discretamente.
- Hm... não. Ele não trabalha. – Queria desesperadamente soltar a verdade: "Ele trabalha para destruir a minha vida", mas permaneceu calada, sufocando as palavras.
- Meu Deus, Demi, então você é quem carrega tudo nas costas? Deve ser difícil. – Finneas comentou com empatia, mas isso apenas aumentou o nervosismo de Demetria, que apertava as mãos debaixo da mesa, como se aquilo fosse a única coisa impedindo um colapso.
- Por isso ela é tão boa no que faz. – Billie interveio, desviando o foco com um tom firme, claramente percebendo o desconforto de sua assistente. – Pai, já te contei sobre a última funcionária que demitimos?
O novo tópico de conversa foi suficiente para acalmar os ânimos à mesa. Ainda assim, Demetria sentia o estômago revirar, o suor escorrendo pela testa enquanto ela murmurava um pedido de licença e se dirigia ao banheiro. Lá, sozinha, as memórias vieram com força: golpes, gritos, a fome que ela fora obrigada a suportar após um "erro". Seu corpo reagia como se estivesse preso naquele passado, e, antes que pudesse se controlar, vomitou tudo o que havia comido no jantar.
A dor no estômago era quase insuportável. Sentada no chão frio do banheiro, abraçou os joelhos, permitindo que as lágrimas escapassem. Não sabia quanto tempo ficou ali, mas a voz de Billie logo veio do outro lado da porta, preocupada:
- Demi, você está aí? Tá tudo bem?
Demetria tentou responder, mas só conseguiu murmurar:
- Sim... estou bem.
- Vou abrir a porta. Tudo bem?
Sem forças para discutir, apenas assentiu. Quando Billie entrou, encontrou Demetria sentada no chão, o rosto pálido e molhado de suor. Sem pensar duas vezes, pegou uma toalha e a pressionou delicadamente contra a testa da outra.
- O que está acontecendo? Onde dói?
- Meu estômago... mas já vai passar. – Demetria tentou se levantar, mas seus joelhos fraquejaram, e ela se segurou na pia para não cair.
- Não. Não vai passar assim. Vamos ao hospital. – Billie afirmou, pegando a bolsa de Demetria sem esperar por uma resposta.
- Por favor, não precisa... Eu só preciso de um remédio.
- Demi, por favor. – O tom de Billie era firme, mas ainda assim transparecia preocupação. – Se você não quer um médico, ao menos vamos a uma farmácia. Vamos?
Cansada demais para argumentar, Demetria apenas assentiu, permitindo que Billie a conduzisse até o carro. Durante o trajeto, a dor a obrigava a se curvar, as mãos apertando o estômago enquanto encostava a testa no vidro.
- Você é sempre tão teimosa? – Billie perguntou, tentando aliviar o clima, mas não conseguiu esconder a preocupação em sua voz.
Ao chegarem à farmácia, Billie saiu do carro e voltou minutos depois com um remédio que Demetria tomou prontamente. O silêncio entre elas era confortável, mas carregado.
- Desculpa... – Demetria sussurrou. – Não queria incomodar.
- Não foi incômodo algum. Só quero que você fique bem.
De volta à casa dos Eilish, Billie ajudou Demetria a subir para o quarto.
- Vamos ficar mais alguns dias aqui. O voo foi adiado, e acho que você precisa de tempo para descansar. – Billie declarou.
Demetria assentiu, mas por dentro sentia o peso do que a aguardava em casa. Quando Billie mencionou que ela poderia usar seu telefone para avisar os pais, Demetria hesitou, mas sabia que precisava fazer a ligação.
Com os dedos trêmulos, discou o número que conhecia de cor. Cada toque do telefone fazia seu estômago apertar, até que finalmente ouviu a voz grave e cortante do outro lado.
- Alô?
- Oi, pai... – Ela respondeu, a voz quase falhando enquanto sentia o peso de anos de sofrimento.
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