5 - Bad dream

O caminho até o hotel foi marcado por um silêncio absoluto. Billie dormia com a testa encostada no vidro do carro, enquanto Demetria alternava os olhos entre a chefe e a paisagem iluminada pela lua. O momento parecia suspenso no tempo, carregado por um misto de cansaço e contemplação.

— Billie, chegamos. Ei? — Demi chamou baixinho, tocando levemente o braço da loira, que demorou a reagir. — Vamos? Já estamos no hotel.

Ainda sonolenta, Billie assentiu, acompanhando Demetria até o elevador. No percurso, o silêncio persistia. Enquanto os números do painel subiam lentamente, Billie encostou a cabeça no ombro da morena, um gesto espontâneo que pegou Demetria de surpresa. Seu corpo enrijeceu, acostumado a repulsas e não a toques gentis. Assim que a porta abriu, Billie apressou o passo, deixando Demetria para fechar a porta do quarto.

— Demi, se importa se eu tomar banho primeiro? Estou exausta. — Billie pediu, com um biquinho que arrancou um sorriso leve da outra.

— Claro, pode ir.

Demetria ficou sozinha no quarto, refletindo. O cheiro de álcool que ainda pairava no ar a incomodava mais do que gostaria de admitir. Apesar de saber que Billie não era como o pai, as memórias e os traumas sempre voltavam para assombrá-la. Tentava afastar esses pensamentos enquanto ouvia o som do chuveiro no banheiro.

Pouco depois, Billie saiu vestindo uma camiseta larga, os cabelos soltos e o rosto relaxado. Apesar da simplicidade, ela parecia deslumbrante.

— Boa noite, Demi. Obrigada por hoje. — Billie disse bocejando, já se aninhando nas cobertas. — Prometo te esperar sair do banho.

— Tá bom. — Demi respondeu, rindo baixinho, sabendo que Billie estaria dormindo profundamente quando saísse.

No chuveiro, a água quente parecia levar embora parte das tensões acumuladas. Demi observou as marcas em seu corpo, algumas ainda roxas, outras prestes a desaparecer. Sabia que outras viriam. Aquele banho foi quase uma terapia, uma fuga temporária. Pensou em pedir transferência para a nova filial, em escapar daquele ciclo, mas o medo de deixar sua mãe a impedia. Lágrimas escorriam involuntariamente enquanto ela encarava o espelho.

Quando voltou para o quarto, Billie já estava mergulhada em um sono tranquilo. Demi se deitou, desejando, ao menos por uma noite, não ser consumida por pesadelos. 

***

— Demi... Demi, acorda!

Demetria abriu os olhos assustada, o coração acelerado. Por um segundo, pensou que seria o pai ali diante dela. Mas não, era Billie, sentada à sua frente, com um olhar preocupado.

— Ei, está tudo bem? O que aconteceu? — Billie perguntou, a voz suave.

Demetria lutou para conter as lágrimas, mas elas escorreram silenciosamente. Sentia vergonha por ser vista assim novamente.

— Foi só um pesadelo. Estou bem. — respondeu, a voz embargada, tentando desviar o olhar.

— Tem certeza? Se quiser falar, eu estou aqui. — Billie insistiu, mas sem pressionar.

— Apenas um susto. — Demi disse, tentando parecer mais firme. — Já passou.

Billie não parecia convencida, mas entregou um copo de água para a mesma.

— Tá bom, aceito sua resposta por enquanto. Mas saiba que pode contar comigo.

Demi sorriu de canto, sentindo um calor inexplicável pela gentileza da chefe. Aquela manhã começou com um café tranquilo antes de seguirem para a casa da família O'Connell.

***

A mansão era de tirar o fôlego. O estilo clássico e a grandiosidade da residência deixaram Demetria encantada. Quando entraram, Maggie veio recebê-las com um abraço caloroso.

— Demi! — Maggie exclamou, envolvendo-a em um abraço forte.

— Oi pra você também, mãe. — Billie brincou, formando um bico. A risada espontânea de Demetria ecoou pelo hall, surpreendendo Billie. Aquele som era diferente, leve, e a fez sorrir sem perceber.

Depois de um tour rápido, seguiram para a sala de reuniões. O restante da manhã foi preenchido com números, estratégias e projeções. A família demonstrava um domínio impressionante sobre o mundo dos negócios, algo que fascinou Demetria. Sua opinião foi solicitada em alguns momentos, e ela ficou surpresa ao perceber o quanto suas ideias eram bem recebidas.

O almoço foi descontraído, recheado de conversas animadas. Tudo parecia perfeito, até que uma pergunta inesperada mudou o clima.

— E seus pais, Demi? Trabalharam em alguma área específica? — Paul perguntou casualmente.

Demetria sentiu um nó no estômago. Respirou fundo antes de responder.

— Minha mãe era enfermeira. Trabalhou em alguns hospitais... antigamente. — disse, com cuidado, evitando mencionar o motivo pelo qual a mãe precisou parar.

— E seu pai? Deve ser um homem de negócios, considerando o talento da filha. — Paul continuou, sem notar o desconforto crescente da morena.

O elogio mascarou momentaneamente o impacto da pergunta. Billie, que observava discretamente, percebeu a tensão nos olhos de Demetria. Ela sabia que havia algo ali, um segredo que Demetria guardava a todo custo.

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