27 - News

— Você tem reunião daqui a alguns minutos — disse Demi, mudando completamente de assunto enquanto caminhava até a mesa.

— Obrigado por me lembrar, minha assistente. — Billie enfatizou a palavra "minha", arrancando um sorriso de Demi. — Você vai comigo, certo?

Billie a olhou com um misto de expectativa e receio, odiava parecer grudenta, mas temia ficar longe.

— Se for atrapalhar, não precisa. Tem gente conhecida por aqui... o Harry está na sala ao lado, e a Selly está logo ali na frente — respondeu Demi, tentando soar tranquila, embora, no fundo, quisesse ir. Ela também tinha medo da distância.

— Claro que não atrapalha. E, como minha assistente, você deve me acompanhar na maioria das vezes — insistiu Billie, levantando-se e encarando Demi. — E então?

Demi se levantou, relutante, mas a seguiu. Ao passarem por Selena, a amiga jogou um beijo no ar para as duas, fazendo Billie revirar os olhos em uma careta exagerada que arrancou risadas.

A reunião durou menos de duas horas. Enquanto Billie se deliciava com uma xícara de café, seu "salva-vidas depois de Demetria", Demi observava tudo em silêncio, anotando pontos importantes que pretendia compartilhar depois.

— Demi, pode pegar a pasta azul na minha gaveta? — pediu Billie, aproximando-se.

— Tudo bem — respondeu Demi, assentindo e sorrindo levemente, um reflexo da presença de Billie.

Demi foi até a sala buscar a pasta. No caminho, cruzou com Selena, que lançou um sorriso sugestivo. Demi riu baixo, percebendo que o sorriso não era para ela, mas para Harry, que passava próximo.

Enquanto retornava com a pasta, andando devagar por causa dos funcionários no corredor, ouviu uma conversa que a fez enrijecer.

— Amiga, claro que é interesse! Onde já se viu? Elas nem se falavam antes, e agora estão grudadas. Pensa bem, a Billie é dona da empresa, tem muito dinheiro — comentou uma mulher ruiva.

— Será que não é por causa daquele lance com o pai dela? — perguntou uma loira, ajeitando a bolsa.

Demetria sentiu o estômago embrulhar. Odiava tocar no assunto, muito menos ouvi-lo da boca de estranhos.

— Acho que não. Vai saber se ela não inventou que o pai dela fazia aquelas coisas... — zombou um homem moreno, rindo e dando um soquinho no ombro da amiga.

Demetria parou, congelada.

— Vai ver ela até gostava de ser comida por ele... — completou o homem, antes que os três dobrassem o corredor, suas risadas ecoando ao longe.

As palavras a atingiram como facas. As vozes pareciam ecoar em sua cabeça, misturando-se às memórias dolorosas. Suas mãos começaram a tremer, o suor frio brotando enquanto sua respiração se tornava errática. Encostou-se na parede, escorregando até o chão, sentindo-se sufocada pela crueldade alheia.

— Demi, o que aconteceu? — perguntou Selena, abaixando-se ao lado dela.

— Billie... preciso entregar a pasta... — Demetria conseguiu sussurrar, estendendo o objeto com mãos trêmulas.

— Calma. Onde ela está? — perguntou Selena, pegando a pasta.

— Sala de... reunião.

Selena sinalizou para Harry levar a pasta e ficou com Demi, tentando ajudá-la a recuperar o fôlego. Quando Billie apareceu no corredor, o alívio nos olhos de Demi era evidente.

Com a ajuda de Selena, Billie a levou para uma sala mais reservada. Sentando-se ao lado dela, Billie segurou suas mãos, tentando acalmá-la.

— Estou aqui, Demi. Só nós duas agora. Respira fundo, devagar. — Billie a abraçou delicadamente.

Demetria se deixou envolver, deitando a cabeça no colo de Billie enquanto lágrimas silenciosas escorriam.

— Quer ir para casa? Posso te levar.

— Não, posso ficar. Estou bem... — murmurou Demi, ainda com o peito pesado.

— Certo, então me conta o que aconteceu.

— Não foi nada... — tentou desconversar, mas o tom de Billie era firme.

— Mesmo? — perguntou Billie, mas a resposta de Demi foi interrompida pelo som do celular vibrando no bolso de sua calça. Pegou o aparelho e viu o nome do tio na tela.

— Alô, tio Will? — atendeu Billie, ajustando-se na cadeira enquanto Demi a observava em silêncio.

— Temos notícias! — disse a voz calma do tio, o que trouxe um breve alívio a Billie, mesmo que sua mente estivesse repleta de possibilidades.

— Então, quais são as notícias? — perguntou ela, com um tom que misturava curiosidade e apreensão.

— Podemos nos encontrar pessoalmente amanhã pela manhã? Temos algumas informações atualizadas — informou Will.

Billie prendeu a respiração por um instante antes de perguntar:

— O encontraram?

Não, infelizmente.

— Ah... Tudo bem. — Ela suspirou, e Demi, que já imaginava a resposta, se manteve em silêncio. — Nos encontramos amanhã, se preferir pode ir até minha casa.

— Sim.

— Às 10 horas?

— De acordo. Até mais, Billie.

— Até mais, tio Will.

Billie encerrou a ligação e olhou para Demi, que continuava tentando controlar a respiração. Apesar do peso do assunto, Billie sorriu fraco para tranquilizá-la.

— Tio Will vai nos encontrar amanhã para nos atualizar. Ainda nada daquele verme — explicou, guardando o celular no bolso antes de se aproximar e beijar a testa de Demi. — Vai dar tudo certo... Como você está? Mudou de ideia sobre me contar o que aconteceu?

Demi balançou a cabeça negativamente, mas após hesitar por alguns segundos, murmurou:

— Promete que... que ficará entre nós?

Billie assentiu sem hesitar.

— Eles... disseram que eu gostava do que ele fazia comigo... — A voz de Demi falhou, e ela precisou fazer uma pausa para puxar o ar, sentindo nojo por sequer pronunciar aquelas palavras. — E que... que estou com você por interesse... — completou, permitindo que uma lágrima silenciosa escorresse por seu rosto.

Billie cerrou os punhos, visivelmente irritada.

— Quem disse isso? Não podem falar algo tão cruel e absurdo!

— Você prometeu... — cortou Demi, segurando seu braço.

— Mas eu não posso deixar isso passar!

— Por favor...

Billie respirou fundo, tentando controlar a raiva.

— Tudo bem. Mas você sabe que nada disso é verdade, não sabe? Eles não importam. Só eu e você sabemos a verdade. — Billie inclinou-se e beijou a testa de Demi. — Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

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