24 - Smile
Às nove da manhã, Camila apareceu trazendo o café da manhã para Demi e Billie, que despertaram com o som da porta se abrindo. A morena entrou com um sorriso leve, desejou um bom dia e avisou que estava à disposição caso precisassem de algo informando que o médico passaria ali daqui alguns minutos.
— Tente comer um pouquinho, Demi. Você precisa se alimentar. — incentivou Billie enquanto mordia uma maçã. Vendo que a outra afastava a bandeja com um gesto teimoso, insistiu: — Por mim? Só um pedacinho.
Demi cedeu, mordiscando a maçã. Apesar do esforço, deixou o restante de lado. Seu estômago revirava, e a dor em seu coração parecia insuportável. O mundo à sua volta parecia sufocante. Seus olhos vagavam para a janela, em busca de respostas que nunca vinham. Perguntava-se se deveria se sentir grata por ter sobrevivido ou continuar sofrendo pela perda irreparável. As memórias da mãe lhe atormentavam: uma mulher forte, que lutara tanto contra os abusos e a violência, mas que sucumbira de maneira tão abrupta. Lágrimas brotaram novamente, alimentadas por uma mistura de raiva e incompreensão.
— Eu a vi antes... antes de tudo acontecer — disse Billie, quebrando o silêncio e atraindo o olhar atento de Demi.
— Como assim?
— Depois que fui até sua casa, soube que vocês estavam no hospital. Meu coração estava na mão, Demi. Estava desesperada por você. A Camila ajudou a buscar informações. Conseguimos localizá-las pelo sobrenome e encontrei sua mãe primeiro. Conversamos um pouco... Eu me despedi dela antes de voltar à sua casa. O resto você já sabe.
O silêncio pesado pairou entre as duas por alguns segundos antes de Demi finalmente soltar:
— Eu ainda não consigo acreditar que ela fez isso. Depois de tudo... Ela deveria acreditar que ficaríamos bem.
— Ela me fez prometer que cuidaria de você. E, Demi, eu prometi. Mas, mesmo que ela não tivesse pedido, eu faria isso. — Billie falou com sinceridade, apertando levemente a mão de Demi.
— Eu sei disso...
Um sorriso suave surgiu nos lábios de Billie, aquecendo o momento com um toque de esperança.
— Você não está sozinha. Estou aqui por você. Não vou soltar sua mão. — Billie se inclinou e beijou o topo da cabeça de Demi, num gesto reconfortante.
Um toque na porta interrompeu a intimidade.
— Com licença — chamou Finneas, espiando pela entrada. — Bom dia, meninas. Desculpem a interrupção, mas tem alguém furioso na linha. — Ele estendeu o celular para Billie, que saiu do quarto para atender a ligação.
— Como está o braço? — perguntou Finneas, voltando sua atenção para Demi, que mexia os dedos fora do gesso.
— Ainda dói um pouco, mas vai melhorar.
— Quando eu era pequeno, quebrei o braço andando de bicicleta. Depois de colocar o gesso, usei para bater na cabeça da Billie. Você devia tentar. É mais divertido do que parece.
— Oh, não! Ela é muito fofa pra isso. Eu não teria coragem.
— Isso é o que você acha! — brincou Finneas.
— Gosto muito dela... — Demi murmurou.
— Ela também gosta muito de você.
Antes que Demi pudesse responder, Billie voltou, cruzando os braços com uma expressão curiosa.
— Quem gosta de quem? — perguntou, arqueando as sobrancelhas.
— Segredo nosso, não é, Demi? — provocou Finneas.
Demi fez um sinal de zíper nos lábios, arrancando uma bufada de Billie.
— Bom, preciso ir. Vim ver como vocês estavam e trazer as roupas que pediu. — Finneas pegou sua bolsa, despedindo-se com um abraço caloroso na irmã.
O resto do dia foi mais tranquilo, embora Demi ainda tivesse momentos de crise ao lembrar da mãe ou temer o retorno do pai. Billie conversou com a psicóloga do hospital, que garantiu que esses episódios eram normais e parte do processo de cura. O progresso seria lento, mas não impossível.
Nos dias seguintes, Demi recebeu alta e passou a morar temporariamente com Billie. No início, relutou, temendo ser um incômodo. No entanto, Billie deixou claro que não havia outra opção, sua segurança era prioridade. Apesar disso, as crises de ansiedade de Demi ainda eram um desafio.
— Finalmente em casa! — Billie suspirou, se jogando no sofá. Demi, hesitante, ajeitou a bolsa nos ombros. — Vem cá. — Billie bateu no estofado ao seu lado.
— Quando voltamos para a empresa? — perguntou Demi, sentando-se ao lado dela.
— Quando você estiver pronta. Aliás, pensei em algo: que tal trabalhar em home office por um tempo?
— Tem certeza de que não atrapalha?
— Claro que não. — Billie sorriu e beijou a bochecha de Demi. — E mais, eu também farei home office.
— Sério? — Os olhos de Demi brilharam, um sorriso tímido iluminando seu rosto.
— Muito sério. Vou só nas reuniões importantes, mas fora isso, ficarei aqui com você.
Demi sentiu o coração se aquecer. Billie era tudo o que precisava naquele momento, e ela sabia que, juntas, conseguiriam superar qualquer coisa.
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