13 - Coffe
O dia estava prestes a chegar, e a morena mal sabia que horas eram, apenas percebia o céu tingido de um tom alaranjado. Seu corpo permanecia rígido e imóvel, enquanto suas orações eram constantes, implorando para que sua mãe estivesse bem. As lágrimas transbordavam de seus olhos, sem mais espaço para derramar. Seus olhos, fixos no vidro da janela, avistaram o carro de seu pai se aproximando. Ela observava e ouvia tudo com atenção, à espera de qualquer som da mãe que pudesse acalmá-la. Bateu na porta, chamando-a repetidamente, até ouvir passos se aproximando.
- Eu já falei para calar a porra da boca! - Patrick destrancou a porta com um estalo.
O homem entrou, empurrando a filha para a cama. Sentou-se sobre ela, pressionando suas coxas e joelhos contra sua cintura, enquanto suas mãos a prendiam acima da cabeça.
- CADÊ A MINHA MÃE? - Demetria gritou, lutando para respirar com todo aquele peso sobre ela.
- No hospital, por sua culpa!
Demetria o olhou com raiva, o desejo de matá-lo em suas mãos. Ele carregava tantas coisas sombrias dentro de si que ela não conseguia compreender. Fechou os olhos, sentindo o peso das mãos de seu pai apertando seu pescoço. Ele apertava com tanta força que ela sentia suas forças se esvaindo aos poucos. Desesperada, tentou se soltar, mas o medo a dominava. Seus olhos estavam vermelhos, as lágrimas caíam incontroláveis, e ela estava prestes a desistir de lutar. Sentiu seus braços sem vida e, ao fechar os olhos, deixou que a escuridão a tomasse.
- LEVANTA! - A voz que tanto odiava soou ao longe.
Com um sobressalto, se levantou, lembrando-se do que havia ocorrido. O medo era mais intenso do que nunca; agora sabia até onde ele seria capaz de ir. Pensou na mãe, sem saber se deveria perguntar.
- Pode me dizer como minha mãe está? - Perguntou, com a voz trêmula, sua garganta e pescoço doendo.
- Não te interessa. Vai se arrumar, está atrasada! - Respondeu ele, saindo do quarto.
O tempo passou devagar até ela chegar ao trabalho. Ao atravessar a porta, sentiu um alívio percorrer sua espinha. Pegou o telefone na bolsa e viu várias ligações perdidas. Respirou fundo e caminhou até a sala da chefe, sem saber qual mentira inventaria. O teatro que era obrigada a interpretar a incomodava profundamente, e seu coração estava apertado, sua mente vagava apenas em uma única preocupação: como estava sua mãe?
- Bom dia. - Disse baixinho ao entrar, sendo apenas respondida com um aceno e a volta da atenção da chefe para os papéis.
Billie estava frustrada com a confusão causada na empresa, irritada por perder um funcionário exemplar devido a uma bobagem, e não conseguia esconder sua raiva ao ver Demetria chegar, ainda mais com uma hora de atraso. Estava cansada de ligar para seu celular e, embora soubesse que Demetria era excelente, não iria passar a mão na cabeça dela.
- Billie, desculpa pelo atraso... - Demetria entrou e se aproximou, tímida.
- Ok, será descontado do seu banco de horas. - Respondeu a chefe sem olhar diretamente para ela.
Demi tentou não deixar que a frieza da chefe a afetasse, embora isso a atingisse de maneira profunda. Sentia que até as pessoas que antes a faziam sorrir estavam se afastando aos poucos. Ela sabia que merecia aquela punição, o atraso havia sido seu erro, mas não esperava tanta indiferença. Abriu os lábios para se desculpar, mas foi interrompida.
- Preciso que fique responsável pelos próximos eventos e reuniões. Pode ficar na mesa ao lado. No notebook estão todos os compromissos e ligações que os setores marcaram. Verifique, organize e me lembre diariamente. Quando voltar da reunião, verifico o que foi feito. - Disse Billie, fechando a pasta.
- Ok, farei. - Respondeu Demetria, com um tom tranquilo. Faria o possível para não desapontar sua chefe. Ao se sentar, seus olhos passaram pela parede de vidro e viu Selena acenar alegremente para ela, sorrindo e batendo palmas. Demi entendeu que aquilo era uma saudação pelo cargo e sorriu levemente em retorno. Ao focar novamente no notebook, encontrou uma enorme lista de eventos e reuniões desorganizadas. Sabia que seria um longo dia, mas se concentraria no trabalho, tentando manter a mente ocupada, apesar da dor que sentia por dentro. Ela era boa em fingir que estava tudo bem, ou pelo menos, pensava que era.
Billie, ao pegar sua pasta e se levantar, estava perdida em pensamentos, tentando organizar as informações. Sentia-se mal por ter sido tão rude com Demetria, sabia que às vezes precisava ser séria, mas não tão fria. Antes de sair, se aproximou da mesa de Demetria, que estava completamente focada na tela do computador. Sua expressão era neutra e Billie se incomodava por não conseguir decifrar o que aqueles olhos castanhos escondiam. Ela se abaixou, chegando bem perto de Demetria, que virou o rosto, encarando-a.
- Desculpa por ter sido rude com você, eu...
- Tudo bem, fica tranquila. - Demetria respondeu, sorrindo sem mostrar os dentes, sentindo-se nervosa pela proximidade. Era estranho, mas uma sensação boa que ela nunca havia experimentado antes.
Billie sorriu de volta, sentindo um desejo de beijá-la, mas sabia que não era o momento certo. Esse sentimento já havia transbordado dentro dela há algum tempo, mas agora ela o aceitava, embora soubesse que não seria apropriado agir com base nele agora.
- Bom, estou indo, qualquer coisa me liga, tá? - Disse ela, se afastando de costas. - Ah, e não se esqueça, por volta das 15h, pode me levar os papéis que a Selena vai te mandar para imprimir? Estarei na sala de reuniões.
- Tá bom, pode deixar que irei levar. - Demi respondeu, observando Billie atravessar a porta e jogar um beijo no ar. Demetria se perguntava, incansavelmente, como a chefe conseguia ser tão linda.
Billie foi até o andar superior, onde a reunião estava prestes a começar. Aos poucos, os participantes começaram a chegar, incluindo Lauren, a representante da empresa parceira, que iria apresentar o novo projeto. Billie estava na ponta da mesa, os cabelos presos em um coque, e os lábios manchados de café, saboreando-o com prazer. Sua mente estava confusa, mas ela tentava se concentrar. Embora amasse a empresa, tomar decisões e ser responsável, sabia que nem tudo era fácil, especialmente as reuniões.
- Então, você gostou mesmo da ideia dos patrocinadores? - Lauren perguntou, se aproximando. Billie se levantou, agora sozinha na sala. A reunião havia terminado.
- Muito boa a ideia, Jauregui, mas não sou eu quem dá o ok. Vou analisar e encaminhar para o setor responsável, que decidirá.
- Seu pai, no caso?
- O próprio. - Billie respondeu, se apoiando na mesa enquanto observava Lauren, que a encarava de maneira insinuante.
- Billie sabia exatamente para onde aquela conversa estava indo.
- Bom. - Lauren se aproximou lentamente. - Acredito que posso te ajudar com a análise, se você quiser. - Suas mãos tocaram as coxas de Billie, que arfou, olhando incrédula para a outra.
Billie admirava Lauren, sabia de sua beleza, talento e carisma. Contudo, ela detestava jogos e, mais ainda, joguinhos de interesse. Conhecia muito bem quem tentava se aproximar com segundas intenções. Lauren, então, levou as mãos até as de Billie, acariciando-a. Billie reagiu imediatamente, afastando-a.
- Acho que não, mas pode me ajudar de outra forma. - Billie respondeu com firmeza.
- Como? - Lauren perguntou, aproximando-se ainda mais. Ela inclinou a cabeça, deixando seus lábios bem perto da boca de Billie, sentindo o cheiro de café fresco.
Billie se afastou de forma instintiva, empurrando suavemente Lauren para longe. Seus olhos se prenderam a Demetria, que estava imóvel na porta, observando a cena atentamente.
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