• I'm my happy ending
Austin e eu nos aproximamos de Brandon e Ivy e, por algum motivo, segurei fortemente o braço de Austin. Talvez eu estivesse nervosa por ver Brandon ali depois de anos, ou talvez eu estivesse nervosa por ver Brandon e Ivy juntos.
— Brandon! Há quanto tempo! – Austin exclamou assim que nos aproximamos do mais novo casal.
— Pois é. Senti saudades. – Brandon sorriu.
— Claire, Brandon e eu levaremos as cadeiras para a mesa. Por que você e a Ivy não pegam alguma coisa para comermos? – Austin pegou a cadeira que eu segurava. Assenti com a cabeça e os dois foram até a mesa onde Zion e Maya conversavam animadamente. Mesmo eles se falando todos os dias, era como se sempre houvesse novidades a serem contadas.
— Então... Como vai a faculdade? – tentei puxar algum assunto enquanto íamos até a mesa de petiscos.
— Eu não estou mais fazendo. – a morena de olhos claros pegou uma bandeja para colocar os salgadinhos.
— Você já se formou? Que legal.
— Não. Tive que trancar a faculdade. – continuou a pegar os salgadinhos.
— Por quê? – a encarei jogando meu cabelo para trás.
— Eu me mudei para Manhattan e acabei ficando noiva por lá... – me mostrou seu belo anel de noivado em seu dedo.
— É muito bonito. Mas eu não vi o Brandon usando um também. – ri confusa.
— Que? Você acha que eu sou noiva do Brandon? – Ivy arregalou levemente os olhos, mas logo riu. — Não, não, meu noivo não é ele. É um modelo que conheci no meu trabalho. – naquele momento eu não sabia onde enfiar minha cara de tanta vergonha que estava sentindo. Sentia meu rosto queimar.
— Me desculpe, é que vocês chegaram juntos e eu achei que... – parei de falar antes que meu rosto ficasse mais vermelho do que já estava. — Desculpe mesmo. – voltei a encher novamente os copos, já desconsertada.
— Tudo bem. Se eu fosse você também acharia isso. – riu e eu sorri. — Claire... Eu sinto muito pelo que te fiz no passado. – olhou novamente para mim. — Eu era tão imatura que, até hoje, eu me sinto uma completa idiota por ter acabado com o seu relacionamento. E pensar que, se não fosse por minha culpa, vocês ainda estariam juntos...
— Não se culpe. Nós éramos adolescentes e adolescentes sempre cometem erros. – toquei delicadamente sua destra. — Isso agora é passado. – sorri sem mostrar os dentes e a morena apenas sorriu de canto.
— Eu queria tanto voltar no tempo e recomeçar o dia em que nos conhecemos... Você é muito legal e carinhosa, Claire. Pena que eu não aproveitei isso no tempo certo. Agora somos adultas e, eu mal tenho tempo para ver meus pais, quem dirá meus amigos. – suas palavras me fizeram rir. Ivy também era legal e eu não acho que, por um erro do passado, devemos continuar a julgar as pessoas. Sei que ela mudou, assim como todos nós mudamos.
— Quem sabe não marcamos um dia para passarmos ao menos uma semana juntos? Vai ser legal nos aproximarmos dos nossos antigos amigos.
— Seria uma boa. – rimos. Fomos para a mesa onde se encontrava o pessoal e nos sentamos. Todos conversavam e riam animadamente, como nos tempos de escola.
Enquanto ríamos e conversávamos, o tempo passou voando. Olhei para o meu relógio de pulso e vi que eram precisamente três e trinta e cinco da tarde.
— Licença. – pedi educadamente enquanto me levantava.
— Aonde vai? – Maya segurou em meu braço antes que eu saísse dali.
— Vou ao banheiro. – a loira assentiu e eu saí do ginásio, indo até o banheiro.
Assim que cheguei ao local, vi que continuava do mesmo jeito do colegial. Em cada espelho havia um desenho — feito com batom ou caneta permanente — e, em cada parede das cabines, havia algo também escrito.
Lavei minhas mãos enquanto me olhava no espelho. Era nostálgico lembrar os dias em que eu me olhava ali e não gostava nenhum pouco do que via, porém não era uma nostalgia boa. Olhei para o canto do espelho e vi uma letra legível, bastante linda por sinal, escrito: "Ame a si mesmo – Aria". Sorri com aquela frase de incentivo; se ao menos elas estivessem ali quando eu estudava...
Sim, eu ainda tinha lembranças de quando eu tinha bulimia e, de todas elas, a que mais rodeava minha cabeça era quando eu tive uma recaída com medo de que Brandon morresse quando sofreu aquele terrível acidente, por minha culpa. Eu já não escondia mais esse fato. Para mim, ter conseguido superar esse meu problema com a ajuda das pessoas certas e ter um acompanhamento psicológico foi essencial para mim. Eu melhorei bastante e era uma história de superação que eu fazia questão de contar quando tinha oportunidade para servir de exemplo a pessoas que passavam o mesmo que eu. A porta do banheiro foi aberta e uma mulher loira de cabelos a altura dos ombros entrou.
— Claire? – olhou para mim surpresa.
— Desculpe... Quem é você? – franzi o cenho enquanto secava minhas mãos.
— Sou eu. Bailey. – a loira se aproximou sorrindo. — Nossa! Você está muito diferente. – sorri sem mostrar os dentes.
— Sim, faz tempo que não nos falamos. Desde o colegial...
— Sim, desde quando paramos de nos falar por causa do... Você sabe. – Bailey pigarreou. — Olha Claire, me desculpe pelo que eu te fiz, deveria ter te pedido desculpas há muito tempo.
— Tudo bem. Não vamos falar disso, afinal, é passado. – neguei com a cabeça. — Bom... Como anda a vida? – mudei de assunto rindo fraco.
— Está ótima! Eu me mudei para Los Angeles e comecei a fazer faculdade de teatro lá. – começou a dizer animada. — Mas eu conheci um cara, nós ficamos e eu... Engravidei. Foi difícil no começo mas tudo deu certo. Eu agora sou uma mãe solteira, que mora num pequeno apartamento em Los Angeles e que faz faculdade de teatro. Droga. – riu sem humor negando com a cabeça. — Eu vou me tornar aquelas atrizes de quinta categoria que morrem aos 27 anos de depressão e overdose, que só fizeram um filme de sucesso na vida e o filho vai se tornar um drogado qualquer. – seu humor mudou repentinamente.
— Bae... Eu sinto muito mesmo. – eu não sabia o que dizer. Apesar de tudo, Bailey não merecia passar por isso, ninguém merecia.
— Não se desculpe, o que eu podia fazer? O karma existe. – sorriu sem ânimo. — Eu fui uma pessoa horrível e estou pagando os meus pecados. Não estou dizendo que meu filho é algo ruim, muito longe disso. Eu amo o Noah, mas é que eu queria ter a chance de dar um futuro melhor pra ele. Logo eu que sempre almejei ser o centro das atenções, fiz tantas coisas, perdi amizades, destruí relacionamentos... – riu sem humor.
— Bailey não diga isso. Eu sei que não somos mais amigas, mas fomos durante muito tempo e eu nunca te viraria as costas, você que virou. Se quiser qualquer tipo de ajuda é só dizer, eu estou aqui.
— De verdade? – olhou para mim com os olhos já cheios d'água. Assenti com a cabeça e a loira me abraçou fortemente. — Muito obrigada Claire, muito obrigada de verdade. Eu sinto muito por tudo que te fiz, muitíssimo mesmo.
— Eu já disse que tá tudo bem Bailey. Me feriu muito na época, não vou mentir , mas eu segui em frente. Você deveria fazer o mesmo e não achar que o que te aconteceu foi um karma para que você pague pelas coisas ruins que fez.
— Bom, mas me diga de você. – fungou secando suas lágrimas. — Como anda sua vida?
— Eu estou em Yale junto com a Maya e nós moramos juntas. – sorri.
— E você e o Brandon? Como ficaram depois de tudo?
— Hã... Desde que ele me traiu com a Ivy e ela inventou que estava grávida, nós não voltamos. Na verdade, nunca mais nos falamos depois disso, cortamos relação e é isso. – ri fraco.
Ainda era difícil viver sem Brandon. Às vezes de noite eu me pegava acordada, pensando em como seria bom tê-lo ao meu lado, sentir seu cheiro e ter seus braços me envolvendo. Um sentimento que eu nunca mais terei na minha vida.
— Bailey, eu preciso ir agora, meus amigos estão me esperando. Foi bom falar com você depois de tanto tempo. – sorri antes de sair do banheiro.
— Ah claro, também foi um prazer falar com você. – foi a única coisa que eu a escutei dizer antes de fechar a porta.
Em vez de voltar para o ginásio, fui até a quadra e me senti novamente como no colegial. Estar ali me fazia lembrar-me das últimas vezes em que eu estive ali; minha última briga com Brandon, a bolada na Ivy, os jogos de vôlei com Maya e até mesmo o pique-pega com Austin, Maya e Zion. Eram lembranças boas e ruins de momentos que me fizeram ser o que eu era hoje.
Sentei-me na arquibancada e fiquei observando o pátio. O garoto moreno entrou na quadra e, assim que nossos olhares se encontraram, ele sorriu. Aquele sorriso que me fazia derreter sempre que o via, aquele sorriso que me ganhava em qualquer briga boba, o motivo da minha felicidade... Assim como eu me lembrava.
— Há quanto tempo não nos falamos. – Brandon se sentou ao meu lado. Sua voz estava mais rouca e ele não usava mais o topete como penteado. Agora ele o deixava bagunçado e seu piercing havia o deixado bem mais bonito.
— Pois é... – sorri olhando para o chão.
— Nossa despedida não foi como eu esperava. Eu ainda penso em você todos os dias e, tenho de admitir, você está mais bonita do que antes. – naquela hora, senti meu rosto queimar de vergonha. Ter aquela conversa com Brandon era como se fosse nossa primeira vez juntos. E sempre foi assim. Estar com ele era sempre como se fosse minha primeira vez.
— Obrigada. – sorri.
— Bom, eu não tenho muito tempo. Eu fiquei de ajudar um amigo meu com os estudos mas, dessa vez, quero me despedir da maneira certa. – ajeitou as mangas arregaçadas de sua camisa social branca, deixando mais evidente suas tatuagens.
— O que quer dizer? – franzi o cenho.
— Claire se lembra da vez que eu sofri um acidente e fiquei em coma?
— Me desculpe, aquilo foi tudo culpa minha. – entrei em desespero.
Eu sabia que ele me culpava por aquilo, mas não dizia nada por estarmos juntos na época. Agora, ele tinha total direito de me xingar por ter feito ele estar entre a vida e a morte; e eu não tiraria sua razão.
— Não, eu não quero brigar com você por isso. Fique calma. – riu segurando meu braço. — Quando eu acordei você disse que eu era o seu anjo e que anjos não se vão sem dizer adeus. – encarei fixamente em seus olhos enquanto ele fazia o mesmo. — Claire, eu te amo mais que tudo e sempre te amarei. Mesmo não mantendo mais contato com você e estando a milhas de distância, eu ainda posso te sentir ao meu lado. Seja na cama quando vou dormir, no banheiro quando vou tomar banho, no carro quando ouço a nossa música, ou até mesmo na cozinha quando preparo sua comida favorita. – riu fazendo com que eu risse também.
Eu sentia o mesmo. Compartilhavamos do mesmo sentimento mesmo após o nosso término, mesmo após tantos anos. Podíamos ter seguido em frente, mas nada mudaria o que sentíamos um pelo outro e aquilo era algo especial.
— Eu te amo, eu te amo muito e quero que nunca se esqueça disso. Mesmo se estiver com outro, estarei com você em tudo que precisar, ou até mesmo em seus sonhos. Claire, você é a minha fantasia e minha tragédia. O meu Sol, minha Lua e minhas estrelas e eu te amarei eternamente. Me desculpe por não ter sido o príncipe que esperava, me desculpe por não ter tornado o seu conto de fadas totalmente perfeito. Mas eu tentei e dei o meu melhor e, posso ter deixado de ser o seu anjo quando falhei com você, mas quero que saiba que você sempre será o meu anjo. Nunca se esqueça disso. – aproximou-se de mim e beijou minha bochecha esquerda.
— Eu quero que você fique. – murmurei enquanto ele se levantava.
— Eu não posso, mas fique tranquila, pois isso não é um adeus.
— Não? – o encarei confusa.
— Não. Quem sabe é um... Até breve? – sorriu e eu sorri o vendo correr para fora da quadra e sumir pelo pátio vazio, deixando-me apenas com a sua fragrância impregnada em meu olfato e as lembranças de que um dia fomos o casal perfeito, de que um dia fomos felizes um com o outro.
Brandon tinha razão numa coisa: as pessoas não são perfeitas, elas cometem erros. Nesse mundo não há conto de fadas com príncipes encantados e princesas que moram num castelo. Eu sonhei acordada quando achava que eu era a princesa que precisava ser resgatada da torre e que Brandon era o meu príncipe. Sonhei quando achava que ele havia sido enfeitiçado pela bruxa Ivy e me traiu, se tornando o sapo. Sonhei ao achar que havia encontrado outro príncipe quando conheci Christopher e achei que eu poderia ser novamente a princesa que precisava de ajuda no meu novo conto de fadas.
Mas, assim como Brandon, Chris me ajudou a perceber que isso tudo não existe. Que eu não precisava do príncipe encantado, eu era o meu príncipe. Eu não precisava ser salva por ninguém, eu precisava apenas de mim mesma o tempo todo. Eu não devia depender de alguém para ser feliz e demorou anos para que eu me tocasse. Finais felizes não existem, apenas existem os finais.
Eu cresci e amadureci. Percebi que todos falham e que ninguém sai ileso disso. O que eu vivi com Brandon foi sim mágico, mas não foi nenhuma história de amor. Eu não me esqueceria de nada do que vivi — fosse com Austin, Brandon ou Chris. Todos os seus erros me fizeram ver minhas falhas e me ajudaram a ser alguém melhor. De todos, Brandon foi o que mais me ajudou e isso nunca seria esquecido. Contudo, estava na hora de realmente seguir em frente; lembranças são lembranças e eu não podia mais me segurar a elas e continuar a minha vida. E, quem sabe esse adeus não tenha sido mesmo um "até nunca mais"? Quem sabe ele não tenha sido mesmo um "até breve"? Afinal, isso ainda não foi o ponto final.
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