2. A Marca

Harriet penteava seus longos cabelos negros com a escova enquanto se olhava no espelho da cômoda. Em sua testa, a já característica marca era visível. Ela fazia de tudo para esconder a cicatriz, já que havia virado motivo para piadas e zoações na escola.

Como  havia conseguido aquela marca? Nem ela sabia. 

Na escola, Duda e suas amigas, sempre que tinham a oportunidade, a perseguiam por todo os cantos. Frankenstein, aberração, espantalho, os apelidos eram tantos que ela até perdera a conta.

E para piorar tudo não tinha feito nenhum amigo no último ano, já que Duda havia se certificado que ninguém se aproximasse dela.

Odeio a escola, odeio a Duda, odeio os Dursley, odeio tudo!, pensou ela analisando o quanto a sua vida apenas ia de mal a pior. 

Não era como se ela não tivesse considerado fugir daquela casa. Porém, com apenas 10 anos e sem lugar para ir como ela iria sobreviver?

Suspirou fundo. Tacou a escova de pentear cabelo na parede e tampou um grito com o travesseiro para não acordar ninguém da casa.

Não estava com sono. 

Se dirigiu para a janela do quarto e ficou admirando a lua cheia no céu estrelado. 
Pegou seu celular de sua mesa de cabeceira, um modelo já ultrapassado e com a tela trincada. Desceu a sua timeline do twitter, esperando que algum meme a fizesse sair daquela deprê. Decidiu publicar um tweet. 

gente, vcs também já se perguntam quando a vida de vocês vai mudar? pq nesse momento não consigo pensar em outra coisa. status: me sentindo uma merd@.
@harrietcatx

De repente, riu sozinha. 

Como se alguém fosse ler. 

Ela tinha apenas três seguidores na rede social.

Um era Nevel, um stalker da sua escola que descobrira a sua conta e curtia os seus tweets todo o santo dia. Outra conta era de algum árabe aleatório que ela ainda não tomara coragem para bloquear. Outra era uma conta chamada twyie52728383773, o qual ela desconfiava fortemente se tratar de algum fake de Duda. 

Na sua conta antiga ela tinha um total de 30 seguidores, mas tivera que excluir já que Duda e sua turma haviam a descoberto. 

Olhou para seu quarto. Nele havia apenas uma cama já velha e consumida por cupins, um armário velho com roupas mais velhas ainda e uma cômoda com seu bem mais luxuoso: um espelho partido. Em constraste com o quarto de Duda, o qual possuía um Xbox, PS4, smart tv, ar condicionado e um PC gamer de última geração, ela parecia até uma pedinte. 

Deitou na cama. 

Antes percebesse estava chorando. Se cobriu com o lençou e desabou de chorar até finalmente se render ao sono. 

⏰⏰⏰

Harriet sentava na sacada da casa, olhando esperançosamente o movimento na rua dos alfeneiros. 

Ela avistou o carteiro parar na frente da casa e foi correndo em sua direção. 

— Tem... Outra carta... Para mim... — perguntou ela, ofegante. 

Ele mexeu em sua bolsa de cartas até alcançar uma em específico. 

— Estranhamente, sim. E por incrível que pareça a mesma carta da última vez. Curioso, não? 

Ele piscou para ela. 

Harriet tomou o envelope da mão dele rapidamente. 

Não posso deixar minha tia... 

Tarde demais. Ela sentiu uma mão tomar a carta de sua mão. 

Petúnia estava atrás dela. Ela rasgou o papel até se tornar apenas pequenos farelos. 

— Endereço errado, passar bem — disse ela para Billy. 
— Mas tenho certeza... 
— Olha aqui seu subalterno, você não é pago para questionar aqueles que são responsáveis por colocar dinheiro em seu bolso — a voz de Petúnia era tão petulante quanto sua aparência. — Caso você entregue essa carta novamente nesse endereço terei que fazer algumas ligações... Conheço bastante gente influente, você sabia? 
— Isso foi uma ameaça?
— Entenda como quiser, hum.

 Ela virou a cara e arrastou Harriet para dentro da casa pelos punhos. 

Ao entrar dentro da casa dos Dursley, Harriet sentou no sofá com a cara enburrada. Ao seu lado, Válter fumava seu charuto e lia seu jornal, como rotina. 

Harriet olhou enquanto Duda descia as escadas da casa, vestindo aquele para parecia ser o seu novo uniforme escolar. 

Harriet teve fazer um esforço gigantesco para não cair na gargalhada. 

Duda parou na frente de Petúnia e Válter. 
Seu cabelo engomado estava penteado para trás, dando ao contorno do rosto rechonchudo da menina a aparência de um tomatão.

Petúnia apertou a bochecha de Duda e disse: — Que orgulho da minha filhinha! Parece um lindo anjinho que veio a terra para adocicar as nossas vidas. 

Válter havia soprado um beijo para sua filha. 

Tá mais pra uma porquinha de peruca, pensou Harriet, deixando escapar um risinho. 

Duda a fitou com um olhar mortal. 

Harriet ficou séria. 

Petúnia mudou sua expressão sorridente para uma carrancuda ao dirigir seu olhar para Harriet.

— Sua vez de experimentar seu uniforme novo. 
Harriet pôde sentir um pouco de veneno na forma de falar da tia, e aquilo não poderia significar algo bom. 

Ela entregou o uniforme para ela. 

Para surpresa de absolutamente ninguém, era o uniforme utilizado por Duda no último ano escolar. 

Harriet já estava acostumada, já que a maioria de seu guarda-roupa era composto por roupas usadas e desgastadas de sua prima. 

Harriet se dirigiu ao seu quarto e vestiu a roupa. 
Ao descer a escada em direção da sala de estar, pôde ouvir o riso estridente de Duda ecooar pela casa. 

— Como estou? — falou Harriet de forma irônica, já sabendo que estava ridícula vestindo aquele enorme balão de ar. 

— Perfeito, apenas precisará de alguns ajustes aqui e ali... 

Petúnia começou a medir a roupa com uma régua, enquanto Harriet apenas pensava no inferno que seria o seu próximo ano escolar. 

⏰⏰⏰

No próximo dia, a campainha da casa fora tocada. 

Petúnia havia aberto a porta apenas para descobrir que uma carta havia sido deixada em frente a porta. Ela apenas servira como alimento para as chamadas da lareira. 

No próximo, uma carta voou pela janela da casa e fora parar dentro. 

No outro, foram duas. 

Em seguida, três. 

E assim por diante, até a casa dos Dursley se tornar um enxame de papéis a serem queimados. 

Como castigo, Harriet não poderia mais sair de seu quarto até que as férias de verão acabassem. 

Harriet achava aquilo extremamente estranho. 

No dia do aniversário de Duda, ao abrir um dos presentes entregue por uma de suas amigas, um enxame de cartas havia explodido e inundado a casa com um mar de papéis. 

— CHEGAAAAAA — havia gritado o tio Válter, já com a paciência cheia. 

No próximo dia, Harriet soube que deveria arrumar as suas malas. 

— Vamos viajar! — havia avisado Petúnia de forma birrenta. 

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