1. A Carta
Harriet tentava se concentrar na leitura do livro, mas os berros de Duda no quarto ao lado quebraram novamente a sua concentração.
Ela ouve os murros dela baterem na porta. Provavelmente havia perdido outra partida estúpida de League of Legends.
— PORCARIA! SE VOCÊS NÃO TIVESSEM SE CONCENTRADO NO JUNGLER A NOSSA TORRE NÃO TERIA SIDO DESTRUÍDA!
A voz dela rompeu por todo o cômodo da casa.
Tia Petunia subiu as escadas e se encostou na porta, tentando acalmar mais um surto da garota mimada.
— Duda, querida. Sei que está estressada mas acho que já passou da hora-
— Não quero parar de jogar! — reclamou a menina.
— Tá bom, tá bom minha filhinha do coração.
Mesmo de seu quarto Harriet podia ouvir o bufar de Duda. Aquilo só podia significar uma coisa.
Ela tá brava, pensou, temerosa. Afinal já estava cansada de servir de saco de pancadas para sua prima, e quando ela estava irritada descontava toda a sua raiva implicando com Harriet e fazendo intrigas para a sua tia e tio a humilharem na frente de todos.
Ouviu os passos pesados de Petunia se dirigirem ao seu quarto e parar na sua porta. Já estava preparada para o ralho.
A porta foi aberta com violência. Tia Petunia a fitou com o rosto vermelho e a irritabilidade irradiando de seus poros.
— Harriet, quantas vezes tenho que dizer pra limpar o jardim direito! — ralhou ela.
— Mas eu... — Harriet tentou reclamar apenas para ser interrompida por sua tia.
— Já estou por aqui das suas desculpas esfarrapadas! Preciso mesmo a lembrar que se não fosse pela minha bondade você nem teria uma casa para morar. Aquela sua mãe...
Fúria tomou conta de Harriet.
— NÃO FALA DA MINHA MÃE! — berrou ela.
Harriet aceitava as humilhações, as agressões e os insultos calada... Mas quando o assunto era sua mãe ela não conseguia ficar quieta.
A casa ficou em silêncio. Até Duda parara de berrar com os ventos para prestar atenção em mais uma discussão rotineira. Não duvidava que ela estava se deliciando com tudo aquilo, afinal seu hobby prefirido era a ver sofrer.
— Apenas saiba que o jardim não está completamente limpo e hoje pretendo receber visita de algumas amigas. Espero que o gramado esteja completamente limpo até as 14:00, do contrário, pode se considerar de castigo.
Ela fechou a porta com o baque e desceu as escadas.
Harriet bufou, fazendo seu cabelo preto esvoacar.
Ela tinha certeza que tinha limpado o jardim de forma impecável, mas conhecendo os Dursley como ela conhecia sabia que o mais provável era que Petunia apenas estivesse pegando no seu pé, como de praxe.
Eles nem fazem questão de esconder que eu sou um fardo pra essa família, pensou ela.
Espreguiçou-se em sua cama, deixando o livro de lado e tomou coragem para fazer o que sua tia havia ordenado. Limpou a lente de seus óculos com o tecido do sueter que vestia. Saiu pela porta de seu quarto e desceu as escadas.
Na sala de estar, o seu tio Válter lia o jornal do dia enquanto fumava um charuto. Ele não trocou sequer um olhar com ela.
Ela saiu direto pela porta da frente.
Olhou pelo gramado do jardim.
As folhas que ela havia recolhido do gramado estavam organizadas em um monte. A rua dos afeneiros estava tranquila. O céu cinzento e deprimente como apenas alguém que morava na Ingleterra poderia estar acostumado.
Ela pegou o ancinho encostado na árvore em frente da casa e começou a passar pelo gramado, tentando catar qualquer folha que possivelmente pudesse ter passado despercebida.
Que saco, pensou enquanto esboçava um olhar de puro tédio.
Passou meia hora manejando o ancinho de um lado para o outro até seu braço ficar dormente.
Decidiu sentar no gramado fofo para descansar.
Começou a pensar em seus pais.
Harriet não sabia quase nada sobre os seus pais, apenas que haviam morrido em um acidente de carro. Sequer vira uma foto de Lillian e Tiago, então a imagem que havia deles em sua mente era apenas um esboço do que imaginava.
Seu devaneio foi interrompido por um som de buzina.
Parado em frente a sua casa, em sua bicicleta, estava o carteiro, o jovem Billy.
— Cartas para os Dursley! — avisou ele.
Harriet levantou do chão e caminhou em direção dele.
— Bom dia, Billy. Muito trabalho? — perguntou Harriet com educação.
— O mesmo de sempre.
Ela pegou os envelopes de diversas revistas de assinatura que seu tio Válter costumava assinar.
— Tem uma surpresinha aí pra você.
Ele piscou para Harriet.
— Surpresa?
— Sim, uma carta. E pra você.
Harriet franziu o cenho.
Não sabia se estava mais surpresa pelo fato de ter recebido uma carta ou por ter recebido uma carta.
— Achei que esse lance de cartas estivesse meio que extinto.
Ele deu de ombros.
— Você se surpreenderia com o número de pessoas que ainda mandam cartas hoje em dia.
Ele partiu na bicicleta em direção à próxima casa.
Harriet verificou todas as revistas até bater o olho em algo extremamente perculiar. Uma carta direcionada a ela. Tinha uma aparência arcaica, quase como se tivesse sido teleportada de algum século passado para o presente. No nome do remetente estava escrito "Alvo Dumbledore". Havia um emblema estranho, com animais os quais não pôde identificar de primeira vista.
Ela correu animada para dentro da casa, ansiosa para descobrir qual poderia ser o conteúdo do recebimento.
— TIA PETÚNIA — berrou Harriet.
Petunia estava na cozinha preparando algumas tortinhas de limão. Ao ouvir o berro de sua sobrinha foi em direção da sala saber do que se tratava.
— Já disse para não gritar, ninguém é surdo nessa casa!
Como se a Duda não vivesse berrando pelos cantos, pensou Harriet.
— O carteiro trouxe uma carta pra mim!
Ela segurou a carta e mostrou para Petúnia.
— Me dá isso aqui! — A mulher tomou o envelope da carta de forma brusca. Retirou o selo e começou a ler. Quando estava na metade ela abriu seus olhos de forma bastante dramática e tapou a boca. Em seguida, mostrou o conteúdo da carta para Válter que se encontrava no sofá, ainda lendo o jornal. — Querido, olhe isso aqui.
O homem largou o jornal de lado e também leu a carta. Ao terminar, ele arqueou seu bigode. — Isso é um absurdo! Achei que essa gente não teria a cara de pau de se comunicar com ela...
Harriet tentou se meter no meio dos dois, tentando descobrir o que chocara Petunia e Válter.
— O que tá escrito? — perguntou ela, tentando ver.
De repente, tio Válter pegou um isqueiro e ateou fogo ao papel.
— NÃOOOOOOOOOO — berrou Harriet enquanto assistia o papel queimar. As cinzas caiam no carpete da sala. — Por que você fez isso?
— Isso não lhe interessa! Agora volte pro seu quarto e não dê um piu! — ordenou Petunia.
— Mas-
— Anda!
Harriet caminhou cabisbaixa, fechando o punho com bastante força rumo ao seu quarto. Decepcionada por sequer saber o que continha na carta direcionada ela. E provavelmente nunca mais saberia.
Enquanto preparava-se para subir as escadas, sua tia a chamou novamente: — Antes de ir limpe essas cinzas do carpete. Essa casa tem que estar impecável para mais tarde. Não quero que os vizinhos pensem que vivemos em um chiqueiro.
Harriet revirou os olhos.
Eu odeio os Dursley!, pensou ela, odiando mais do que nunca aquela família a qual nunca quisera fazer parte, para começo de conversa.
Mal sabia a menina que em breve sua vida daria uma virada brusca e o destino o qual a aguardava era maior do que qualquer um dos Dursley poderiam sequer um dia almejar.
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