Livro 4. Capítulo 9. Preciso de você aqui

No dia seguinte à entrevista no Late Show, os Hanson voaram bem cedo de Nova York para Miami, a fim de cumprir o primeiro compromisso da agenda na cidade. Foram diretamente do aeroporto para o programa de rádio e, desta vez, não tocaram no assunto de namoradas. Falaram apenas sobre o último trabalho e o cancelamento da apresentação no evento de caridade. O general não teve do que reclamar.

Da rádio os irmãos seguiram para o apartamento alugado por Walker, em South Beach. O lugar, um duplex, com sala ampla, vários quartos, sauna e piscina, deixou os meninos boquiabertos e preocupados com o exagero do pai. Eles podiam apostar que havia custado uma grana. Não havia necessidade de um espaço como aquele para passar apenas alguns dias. Isaac, por outro lado, achou ótimo, pois desse jeito seria fácil evitar a presença de Taylor.

A sanidade do pai foi posta de vez em dúvida quando, horas depois de se instalarem, ele reuniu os filhos para uma conversa.

— O assunto aqui será rápido. De ontem para hoje, eu andei pensando e... — Pigarreou. — Já que tirei vocês da apresentação, tive uma ideia para minimizar o meu erro — admitiu o equívoco de cancelar o contrato do evento da NFL, o que deixou os filhos surpresos. — Vocês irão ao jogo... Como convidados.

— No cu — Taylor rebateu. — Você nos tirou do centro do palco para nos colocar no meio da plateia?

— Não são lugares quaisquer; os três estarão em uma área separada, ao lado de outras celebridades.

— Não era esse tipo de aparição que esperávamos fazer. Uma coisa é nos apresentar para o mundo, ser notícia em todos os jornais como um dos shows da noite, outra é dar pinta na área VIP, ao lado de tipinhos que estão a fim de aparecer nas colunas sociais. — Isaac mostrou seu descontentamento com a cara amarrada e decidiu pelos três: — Nós não iremos.

— Mas é claro que irão, e com sorrisos nos rostos.

— Você fez a cagada, e nós que seremos punidos? — Zac finalmente falou algo. — Não tem clima para comparecermos a esta droga de evento, muito menos sorrindo, como se nada tivesse acontecido. — Ele usou a voz alterada para dramatizar a reclamação, como se falasse com alguém da imprensa: — Estamos muito felizes, é um grande dia para o Hanson. Os Backstreet Boys estão no nosso lugar, e nós, otários, estamos aqui aplaudindo.

— Discutir o assunto não é uma opção. Está decidido — finalizou Walker.

— Que humilhante... — murmurou Zac. — É a humilhação da humilhação.

No campus do curso de inglês, após uma manhã de aulas, Isabelle aguardava April na biblioteca. Com o laptop ligado, atenta ao e-mail na tela, ela não reparou quando a colega chegou por trás. April deixou o material sobre a mesa e puxou uma cadeira.

— Já está sabendo? — A norueguesa foi direto ao assunto: — Os Hanson não participarão mais do Battle for the Children — anunciou com pesar. Isabelle arregalou os olhos, surpresa e, também, chateada. — Os Backstreet Boys farão o show! — Comemorou um pouco alto demais para o lugar, sendo fritada por olhares de quem lia em silêncio.

— Ah, nossa. Como se fizesse diferença na minha vida. Eu não iria mesmo. — Fingiu pouco caso, embora, no fundo, tivesse decido ir desde que vira os Hanson no Late Show. Ela só não havia comunicado à colega. — Você deve estar contente com a mudança.

— Só vou ficar contente, de verdade, quando você disser que me fará companhia no evento. Por favor, por favor. — A expressão dramática não era bem do seu feitio. — Agora que os Hanson estão de fora, não há motivo para negar o meu convite. Se o problema era encontrar o Taylor...

— Está bem — concordou e olhou para a tela do laptop. April acompanhou o movimento. — O John acabou de me mandar um e-mail; quer conversar. Disse que virá aqui à noite. Vou chamá-lo para o jogo, já que você ofereceu um ingresso para ele.

— Isso! Iremos os três! — comemorou, e foi novamente fuzilada pelos alunos concentrados em suas leituras.

— Você sabe por que os Hanson não irão mais ao Battle for the Children?

— Não faço ideia. Uma menina da minha turma que me repassou a fofoca, mas não falou o motivo da desistência. Parece que eles deram uma entrevista para uma rádio local hoje mais cedo.

— Hum. — O coração de Isabelle bateu depressa, não deixando dúvida da sua alegria de saber que Taylor estava na cidade, apesar da não participação no evento da NFL. No entanto, ela não deixou April perceber a euforia. A brasileira fechou o laptop e pegou os livros, levantando-se em seguida. — Vamos comer alguma coisa, logo começará o turno da tarde.

A mente de Isabelle permaneceu em Taylor pelo restante do dia, e não se alterou quando John chegou ao campus para visitá-la, no começo da noite. Isabelle, que esperava por ele no bar da piscina, tomando um refrigerante e prestando atenção em outros alunos, acenou para o quarteback com um sorriso no rosto. Ele, porém, não parecia tão animado.

— Oi. — Foi seco ao se aproximar, apoiando-se no balcão do bar e pedindo uma cerveja. Ele abriu a carteira e mostrou a identidade, confirmando seus recém-completados 21 anos.

Isabelle estranhou a frieza e a falta de um beijo, estalado, que fosse. Quando leu o e-mail curto e direto do ficante, imaginou que ele estivesse com pressa, ou fosse seu jeito de se comunicar on-line. Mas, não, havia algo de errado, e, ao se dar conta disso, um calafrio percorreu o seu corpo.

— Vou ser bem direto. — John tomou um gole de sua cerveja. — Eu acompanhei o Late Show, ouvi o que o tal de Taylor Hanson disse. Ele foi bem claro ao falar do namoro; vocês ainda estão juntos — afirmou.

— Ei, não! Eu falei para você que não. Não posso ser responsável pelo o que o Taylor diz. Achei que confiasse na minha palavra. — Mostrou-se ofendida. — Não tenho culpa pelas viagens da cabeça dele. Fiquei surpresa quando ouvi.

— Hum. — Bebeu um pouco mais. — Nós não temos nada sério, ainda, mas não quero me iludir. Não vou fazer papel de otário investindo em uma relação sem futuro.

— Não estou fazendo ninguém de otário. — Franziu a testa, um tanto irritada. — Mas se você não confiar na minha palavra, a relação não terá futuro mesmo.

— Me desculpe. — John deixou a cerveja sobre o balcão e se aproximou, acariciando o rosto de Isabelle. — Eu só queria ter certeza... — Sem falar mais nada, ele tocou os lábios da garota, que, de início, não correspondeu com a mesma vontade.

Isabelle deveria dar um fim ao seu envolvimento com John, pois, apesar de estar separada de Taylor, de fato o seu coração pertencia a ele. Porém, não foi o caminho da razão o qual ela seguiu.

— Vamos nos sentar a uma mesa, vou pedir uma porção de fritas para a gente. — Foi o que ela disse após o beijo. — Não tenho aula amanhã cedo, podemos conversar e ficar juntos por mais tempo hoje à noite. — Sorriu, um tanto sem jeito. De mãos dadas com o jogador, foi procurar outro lugar para se sentar.

No Brasil, enclausurada no quarto, Barbara continuava na mesma. Nada a fazia sorrir. O bebê não era motivo de alegria, apenas um problema a mais.

Marília entrou sem pedir licença, trazendo o jantar, afinal, nem para comer, a filha deixava a cama.

— Fiz sua comida favorita.

— Não estou com fome — respondeu, enjoada com o cheiro do estrogonofe.

— Você precisa se alimentar, tem outra vida aí dentro.

— Não precisa me lembrar.

Marília colocou a bandeja em cima da bancada do computador, sem a menor paciência para o drama da filha.

— Barbara, não é possível que continue triste por causa daquele menino. Avisei a você desde o início; ele vive em outro mundo. Tire suas ilusões da cabeça, o popstar não vai voltar. Agora são somente vocês dois: você e o seu filho. Contente-se com o fato de que, pelo menos, a ajuda financeira virá.

— Não dou a mínima para o dinheiro dele! — Usou seu resto de força para gritar. — É o Isaac quem eu quero, e vou continuar lutando por ele. Não vou desistir, eu não posso desistir! O Isaac é tudo para mim.

— Não era quando você decidiu transar com o irmão dele.

— Saia daqui! — Barbara ergueu o tronco, tonta e ofegante com o berro que deu. — Saia!

— Coma o seu jantar. — Sem se alterar, Marília trouxe a bandeja até a cama. — Leve o prato para a cozinha quando acabar. Seu pai e eu vamos sair daqui a pouco, temos um jantar dançante no clube. Nenhum de nós ficará aqui de babá.

Barbara esperou a mãe sair do quarto e, devagar, levantou-se da cama. Seu corpo parecia pesar uma tonelada, e o esforço foi ainda maior para caminhar até a bancada. Ela largou a bandeja de qualquer jeito por ali e ligou a TV. A vinheta do Late Show já havia começado no canal a cabo, e ouvindo os nomes dos entrevistados da noite, ela voltou para a cama. Apesar de a fraqueza a consumir e o sono eterno querer fechar as suas pálpebras, não perderia por nada o programa de David Letterman.

A garota aguardou o último bloco do Late Show lutando contra a vontade de dormir. Porém, quando David anunciou a presença dos meninos, ela se acendeu, sentando-se e aumentando o volume para ouvir Weird. Lágrimas emergiram à superfície, caindo sem pausas e molhando o seu rosto. Ela notou a emoção de Isaac durante a execução da música, e, talvez, fosse um sinal de que ele não era o insensível que mostrara ser nos últimos tempos. Talvez estivesse sentindo o mesmo que ela; saudade, vontade de voltar a viver o amor dos dois. Não custava sonhar.

Barbara deixou sua cabeça se levar pelas ilusões, pela beleza que enxergava em Isaac, apesar dos pesares. Não durou muito, no entanto, o instante de paz. Quando o Hanson mais velho afirmou estar 100% solteiro, um grito de dor ressoou pelo quarto. As lágrimas leves se transformaram em tempestade, e a tontura e a sensação de não estar em seu corpo jogaram a garota de volta à posição horizontal. Encolhida sobre o colchão, ela agarrou os joelhos e puxou o ar, que não veio, como se tivesse tomado uma facada nos pulmões.

Não que ele não houvesse verbalizado para ela o fim do relacionamento, mas ouvi-lo revelar ao mundo que os dois não estavam mais juntos desmantelou o restante de sua esperança. Soluçando de tanto chorar, Barbara encarou o Hanson na TV e gritou seu desespero:

— Odeio você, Isaac! Odeio! — Socou o colchão com os punhos cerrados e arremessou longe as almofadas e bichos de pelúcia. Descontar a raiva em alguma coisa fazia-se necessário.

O toque repentino do telefone a irritou ainda mais, e a insistência não a fez se levantar para o atender. Quem poderia ser àquela hora? Isaac certamente não. E, se fosse, naquele estado, ela o mandaria à merda. Os toques silenciaram e voltaram a ocupar o quarto. Era Sabrina, preocupada com a reação de Barbara após a declaração do ex no Late Show. Ela teve que tentar umas quatro vezes, antes de a amiga deixar a cama para conferir qual chato insistia do outro lado.

— Barbara! — Respirou aliviada ao ouvir a voz da amiga, ainda que tremida pelo choro. Ela nem precisou perguntar se estava tudo bem. Era óbvio que não.

— O Isaac não me quer mais. Não quer! — gritou. — Você sempre disse que ele mentia quando repetia que não me queria mais, mas era verdade. O Isaac sempre esteve convicto do nosso fim. Acabou de vez.

— Por favor, acalme-se. O que o Isaac diz é diferente do que ele sente. Ele chorou enquanto cantava Weird...

— E daí? — Barbara a interrompeu, ainda exaltada. — Eu ouvi muito bem; ele disse que está solteiro. 100% solteiro. Preciso encarar os fatos. Preciso, sim. E não quero esta droga de bebê. Estou exausta!

— Não diga isso.

— Digo. Repito. Não quero este bebê. Se o Isaac não faz questão de saber do próprio filho, eu também não faço. Cansei de esperar por algo que não vai acontecer. Ele não vai viver este momento comigo. Simplesmente não vai... — Soluçou. — Eu preciso desligar, quero ficar sozinha.

— Barbara...

Sabrina ouviu o som do silêncio quando Barbara desligou sem se despedir. Ela tentou ligar mais uma vez, mas o sinal de ocupado não permitiu que concluísse a ligação. A amiga havia deixado o telefone fora do gancho, para evitar ser incomodada. Não queria falar com ninguém, somente ouvir e dar razão aos seus piores pensamentos.

Barbara pegou uma foto de Isaac, presa no quadro de cortiça, e olhou para o rosto do único que amara na vida. Por que precisava doer tanto? Arrependera-se do sexo com Taylor, pedira perdão ao noivo tantas vezes, agora havia um filho no meio... Por que ele não podia voltar atrás? Orgulhoso! Lágrimas caíram sobre o papel da revista, enrugando o sorriso de Isaac. Ela também não se via capaz de voltar a sorrir, tão frágil quanto à imagem a ponto de rasgar.

Barbara amassou a foto do ex, até as unhas marcarem a palma da mão, e a deixou cair sobre a bancada. Em prantos e quase sem força, caminhou até o banheiro. Precisava de algo para amenizar a dor em seu peito, qualquer coisa que a fizesse se desligar e esquecer o sofrimento, que parecia não ter fim. E ela encontraria a fuga na gaveta de remédios.

— Isto. — Abriu depressa a caixa do tranquilizante que sua mãe tomava vez ou outra. Sem pensar duas vezes, colocou um comprimido debaixo da língua.

Por volta de meia-noite, os pais de Barbara retornaram do jantar dançante. Em silêncio, para não acordarem a filha, estranharam as luzes acesas àquela hora. Os pés brancos para fora do quarto, estendidos inertes no chão do corredor, arrancaram um grito de desespero de Marília. Carlos foi mais rápido e agachou-se ao lado da garota, dando tapinhas em seu rosto. Ele encostou o ouvido no peito que quase não se mexia e, depressa, agarrou um dos punhos pesados, para aferir a pulsação. Apesar dos batimentos sutis, ela estava ali. Sua menina tinha uma chance.

— Chame uma ambulância! — ordenou para Marília. — Continue respirando, filha. Seu pai está aqui. Vai ficar tudo bem.

Carlos passou, de leve, os dedos pelo corte no supercílio de Barbara, sentindo o sangue seco que escorrera dali. De que ela havia batido a cabeça não havia dúvida, mas ele só descobriu o motivo da queda quando a esposa, quase em choque, trouxe-lhe a cartela de comprimidos completamente vazia. Os dois se entreolharam, entendendo, enfim, o cenário com o qual haviam se deparado.

— Ela tomou tudo, tudo. — Marília, com a visão embaçada, ajoelhou-se e encarou o rosto pálido da garota. — A ambulância já vem, cinco minutos, só mais um pouco... Por favor, fique com a gente.

Barbara foi levada para um hospital particular, no bairro de Copacabana, e encaminhada diretamente para a emergência. Ainda desacordada, após os pais relatarem a um médico a cena trágica que haviam encontrado, ela foi levada para o CTI. Um medicamento para reverter o quadro de sedação foi administrado, e ela permaneceria no oxigênio e sob monitorização dos sinais vitais, até que o efeito do excesso de benzodiazepínicos passasse. Além disso, exames laboratoriais e tomografia da cabeça seriam feitos.

O médico responsável acalmou Carlos e Marília, esclarecendo que não existia risco de morte para Barbara, pois os sedativos não haviam sido associados a álcool ou a outras drogas depressoras do sistema nervoso central. Quanto aos danos ao bebê, não poderiam garantir nada, não antes de fazerem alguns outros exames.

Em Miami, Isaac, sentado no sofá da sala, dedilhava o violão. O Hanson mais velho demorou a perceber a chegada de Zac ao recinto, até que o garoto jogou o corpo ao seu lado, afundando o estofado.

— O que está fazendo? — perguntou o pirralho.

— Tocando, não percebeu? — Deixando o violão ao seu lado sobre o assento, ele inclinou o corpo para pegar um bloco e uma caneta na mesinha de centro. — Não há muito que fazer aqui para passar o tempo. Estou aproveitando para compor.

Zac arrancou o bloco das mãos do irmão. Prestando atenção nas palavras escritas, ele leu cada verso em voz alta:

In this life long love song. You can love right you can love wrong. In this love song you can love long. But if you love wrong it doesn't mean love's gone. Profundo. Diz muito sobre você.

— Passe isso para cá. — Isaac pegou de volta o bloco. — Eu não terminei, não quero seu palpite.

— O meu palpite é que você deve voltar para a Barbara, antes que essa história acabe mal. Você está sofrendo, a garota está sofrendo... Acho que já chega. Não?

— Você não passou pela experiência que passei, então é fácil falar para eu voltar para a Barbara. Neste momento, não consigo perdoar nenhum dos dois. Nem a Barbara e, muito menos, o Taylor.

O loiro traidor apareceu na sala logo depois da fala de Isaac, forçando um silêncio no ambiente. De calça camuflada, regata branca e os cabelos molhados, ele caminhou em direção à porta.

— Aonde você vai? — Zac perguntou. — Papai deixou você sair sozinho esta hora?

— Ele está sabendo. Não tente você me controlar. Até mais.

Taylor saiu sem dizer mais nada, batendo a porta em seguida.

— Posso apostar que ele foi para a guerra. Só faltou passar tinta preta na cara. — Zac riu. — Isabelle não terá paz esta noite.

Taylor caminhou até o campus do curso de inglês, a fim de encontrar sua amada. Havia passado a tarde decorando o que falaria para ela; frases românticas e promessas que Isabelle adoraria ouvir. Estava certo de que, apesar de ter dito à garota que não voltaria a procurá-la, seria bem recebido. Sentira o desejo dela em sua pele quando estiveram juntos da última vez, então não seria diferente agora. Imploraria, se fosse necessário, e teria a namorada de volta.

O Hanson se identificou na recepção do curso e desculpou-se pelo horário não apropriado para uma visita.

— Preciso falar com a Isabelle Lopes Ferreira. É urgente.

O recepcionista foi até o companheiro de turno e cochichou alguma coisa que Taylor não conseguiu ouvir.

— A senhorita Isabelle está com amigos no bar da piscina — comunicou o funcionário ao voltar ao balcão. — Se quiser, posso acompanhá-lo até a área recreativa.

— Obrigado. Eu sei onde é. — Acenou, agradecendo mais uma vez, e seguiu a placa que indicava o caminho para a piscina.

Os passos firmes e decididos de Taylor diminuíram quando, ainda de longe, ele avistou Isabelle. A visão da ex, agarrada a um loiro encorpado, trocando beijos e sorrisos, fez com que murchasse como uma flor não regada. Ele recuou, antes que fosse notado, e escondeu-se atrás de uma pilastra. Permaneceu ali, observando por mais tempo a cena que disparara o seu coração. Sim, ele tinha um. Merda! Havia passado meses todo cheio de si, certo de que reconquistaria Isabelle, falara do namoro no Late Show, para acabar derrotado, vendo sua amada nos braços de outro.

Taylor arregalou os olhos, para impedir que as lágrimas caíssem. No fundo, merecia sofrer. Sabia disso. O que via, ao vivo e a cores, não era nada, nada perto do mal que fizera à Isabelle ao foder com a melhor amiga da garota. Ele se deixou machucar um pouco mais, mantendo-se ali por alguns minutos além do necessário. Se alimentasse a tristeza e a raiva, talvez fosse mais fácil deixar para trás a sua meta. Talvez fosse mais fácil aceitar que não teria a namorada de volta.

No caminho de regresso ao apartamento alugado, o loiro lamentou em silêncio os seus erros. Gostaria tanto de voltar no tempo. Teria valorizado quem estava ao seu lado.

Taylor enxugou as lágrimas, antes de abrir a porta, e exalou o ar. Ufa! Agradeceu a Deus por ver ninguém na sala de estar, assim não precisaria revelar seu fracasso. Talvez falasse para Zac o que presenciara, mas depois, no dia seguinte, quando tivesse se recuperado minimamente do choque. Agora ele só queria sofrer em paz.

Barbara recobrou a consciência durante a madrugada. Apesar das pálpebras pesadas, ela olhou em volta, estranhando a penumbra, a aridez, a solidão do local onde se encontrava. O barulho dos aparelhos e as agulhas enfiadas em seu braço confirmaram o ambiente hospitalar. Ainda recebendo oxigênio, ela fechou os olhos e retornou ao sono.

Barbara só voltou a acordar às duas horas da tarde, faltando pouco para o horário da visita ao CTI. Uma enfermeira veio conferir como ela estava e trocou o soro, avisando que o médico havia liberado a refeição líquida e que em breve a serviriam. A garota, ainda sonolenta, gostaria de se esconder debaixo do cobertor. Com certeza, todos ali sabiam que ela havia passado do limite. Também gostaria que a medicação tivesse lhe causado amnésia. No entanto, não, ela lembrava-se bem do seu desespero, da quantidade absurda de sedativos consumidos em intervalos mais curtos do que uma piscadela.

Marília e Carlos chegaram ao CTI para a visita enquanto Barbara se alimentava. Pelo menos ali, monitorada, ela não havia insistido em ficar em jejum.

— Filha, está tudo bem agora, viu? — Carlos acariciou os cabelos da garota. — Que susto você nos deu... — Pausou, escolhendo as palavras certas para continuar. — Barbara, nós amamos você. Quero que saiba que estaremos sempre presentes na sua vida, em qualquer momento. Se houver algum problema, algum outro, maior, que a gente não saiba, por favor, abra-se, confie...

— Você ainda não sabe qual é o problema maior? — Marília estalou a língua. — A existência da nossa filha se resume a sofrer pelo ídolo.

— Marília, pegue leve, não é hora para isso. — Carlos continuou acariciando os cabelos da filha. — Nós já conversamos com o médico. Você e o seu bebê estão fora de perigo. Está tudo bem — reafirmou.

Barbara não conseguiu controlar as lágrimas, que desceram uma a uma pelo seu rosto. Ela deixou o copo de vitamina em cima da bandeja sobre a cama.

— Eu quero falar com o Isaac — murmurou devagar, ignorando as palavras pesadas da mãe. — Só ficará tudo bem quando ele estiver ao meu lado. Se vocês se importam comigo, mesmo, por favor, arrumem um jeito de trazê-lo aqui.

— Você sabe que o seu desejo é impossível, Barbara. — Marília foi dura mais uma vez. — E não arrumar um jeito de trazer esse menino aqui, não quer dizer que não nos importamos com você. Você não faz ideia do nosso desespero quando a encontramos desacordada.

— Se não quiser me ver no chão mais uma vez, dê um jeito de trazer o Isaac aqui. Aqui ou lá em casa, depois, que seja. Só assim não vou sentir vontade de dormir, de desaparecer...

— Shhh. Acalme-se. Tudo bem. Primeiro, vamos esperar a sua total recuperação, depois nos preocuparemos com a visita do popstar. Prometo que farei o meu melhor para que ele venha até você e possam resolver a situação entre os dois. ­— Marília não faria nada para reaproximar Isaac de Barbara, mas falou o que a garota queria ouvir. — Não repita, jamais, nem de brincadeira, que pensará em acabar com sua vida novamente.

Barbara evitou encarar os pais, mirando o copo de vitamina à frente.

— O médico psiquiatra do hospital veio conversar com a gente sobre o seu caso. — Carlos achou melhor falar de uma vez, e sua filha olhou de cara feia para ele. — Ele sugeriu que você passasse um período em tratamento em uma clínica...

— Sem chance — interrompeu-o. — E com que direito vocês conspiraram contra mim com um psiquiatra? Eu deveria ter dado o meu consentimento, no mínimo.

— Não estamos conspirando nada contra você, Barbara. E não é necessário o seu consentimento quando a sua vida está em jogo. — O pai foi incisivo pela primeira vez. — Ele virá conversar com você ainda hoje.

— Mas e se eu não quiser conversar com ele? E se eu não quiser me internar? Porque eu não quero e não vou.

— Buscaremos soluções alternativas — respondeu-lhe Marília. — Sem um acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico você não ficará. Isso está decidido.

— Sua mãe e eu vamos sair agora. — Carlos, percebendo os ânimos exaltados, achou melhor deixarem a filha em paz. — Aquela sua amiga, Sabrina, está lá fora esperando para lhe fazer uma visita.

— Sabrina? — Barbara quase chegou a sorrir. — Como ela soube?

— Ela ligou lá para casa hoje de manhã, bem cedo, na hora em que seu pai costuma sair para o trabalho. Ele contou a ela. — Olhou atravessado para o marido. — Achei desnecessário. Você sabe que não concordo com a sua amizade com essa menina, tantos anos mais nova...

— Com o que você concorda, afinal, mãe? Sabrina esteve comigo em momentos nos quais você deveria estar, mas simplesmente não estava. Ela é mais nova do que eu, está bem, mas é minha amiga, de verdade, e você não vai tirar isso de mim.

— Vamos, Marília. Filha, nós voltaremos depois. — Carlos beijou a testa da garota antes de se retirar.

Sabrina, que fora ao hospital acompanhada da mãe, entrou sozinha na unidade do CTI para falar com a amiga. Sem saber como se portar no ambiente estéril e silencioso, ela apenas segurou a mão de Barbara e disse um oi embargado.

— Como é bom ver você aqui. — Bárbara também não controlou a emoção, derramando lágrimas ao lado da pequena.

— Você está viva, amiga. — Sabrina entrelaçou os dedos nos da outra. — Eu enlouqueci quando seu pai me contou o que você fez.

— Não sei se estou realmente viva, pois não é assim que me sinto... Ontem eu falhei, deveria ter sido mais inteligente. Escolhido outro método. A única coisa que consegui foi parar neste lugar horrível.

— Shhh! — Sabrina mal pôde acreditar no que ouvira. — Você nunca mais vai tentar dar um fim... — Não conseguiu concluir a frase, sufocada pelo choro.

— Não farei promessas que posso não cumprir. O futuro da minha situação e da do bebê, que insiste em viver, depende do Isaac.

— Esqueça o Isaac, só por hoje. Por favor. — Sabrina fungou, tentando parar de chorar. — Logo, logo, quando você estiver fora daqui, nós voltaremos a esse assunto. Sua mãe me disse que amanhã você será liberada.

— Daqui direto para um manicômio — exagerou, usando um termo pejorativo para se referir à possível internação. — É o que estão tentando fazer. Acham que estou louca. Mas eu já disse que não vou, nem amarrada.

Sabrina coçou a cabeça ao receber aquela informação. Manicômio? Em seguida, respirou aliviada. Se a amiga passasse um tempo em uma clínica, vigiada, pelo menos ela não precisaria se preocupar com uma nova tentativa de suicídio.

— Eu aposto que irá para casa — falou apenas para tranquilizá-la. — Então arrumaremos um jeito de falar com o Isaac.

— Promete? — Enxugou as lágrimas.

— Prometo.

Barbara não saiu do CTI para casa, e também não foi para uma clínica psiquiátrica, mas para um quarto do hospital. Passaria mais um dia em observação, antes de receber alta.

Marília acompanhou a filha nesse período, e Barbara fugiu de qualquer conflito, mantendo-se calada a maior parte do tempo. Não via a hora de sair dali e tentar contato com Isaac. Antes, evitara fazer telefonemas e mandar e-mails para ele, esperando que o Hanson tivesse a inciativa de procurá-la. Agora faria o que fosse necessário para ter mais uma conversa com o amor da sua vida.

No primeiro dia em casa após deixar o hospital, Barbara pensou na melhor estratégia para falar com Isaac. Mandar um e-mail seria demasiadamente frio, ainda mais para tratar de um assunto tão sério. Com a ajuda de Sabrina, que ligou para Tulsa e conversou com Diana sobre a saúde da amiga — sem entrar em detalhes —, ela conseguiu o número do celular de Walker. Assim, poderia encontrar Isaac onde ele estivesse.

Ainda fragilizada, Barbara esperou mais um dia, até conseguir coragem para incomodar o seu amor. Sim, porque apesar do sonho de reatarem, ela sabia que, no momento, era um aborrecimento para Isaac. Seu estômago se revirou ao discar os números, no meio da tarde, o bastante para sentir o almoço subir à garganta. Mesmo assim, ela seguiu em frente.

A garota teve a sorte de não precisar falar com Walker antes de enfrentar o ex, pois foi o próprio Isaac quem atendeu o celular do pai. Ele sorriu ao ouvir a voz do outro lado, embora Barbara não fizesse ideia do seu contentamento. Para manter a pose de durão, ele firmou a voz para dispensá-la:

— Olhe, eu estou um pouco ocupado agora.

— Por favor, me escute. — Barbara não disfarçou o desespero no tom meloso. — Eu não ando muito bem...

— Algo de errado com o bebê? — A preocupação era genuína.

— Eu disse que eu não estou bem! — Levantou a voz. — O bebê está ótimo. Estive internada no hospital uns dias atrás, voltei ontem para casa... — Tomou um tempo para respirar. — Foi difícil ouvir o que você disse na TV... 100% solteiro, Ike?

— Não menti. — Parou para refletir, tentando ligar os pontos da história contada pela ex. — Mas... O que a minha fala tem a ver com você ter parado no hospital?

— O que tem a ver? Você ainda pergunta? Achou que eu fosse levar na boa o jeito que me despreza? Tem um filho seu aqui dentro de mim, e você não está nem aí. Nem aí para coisa alguma. — Respirou ofegante. — Eu cometi uma loucura, cometi, e a culpa é inteiramente sua!

— Barbara. — Isaac pausou, puxando o ar. O arrepio na nuca não indicava bom pressentimento. — Que loucura você cometeu?

Um silêncio assustador durou mais tempo do que deveria, até que Barbara, chorando, sem coragem de contar o que realmente fizera, soltou parte da informação. Ele não era burro, a ponto de obrigá-la a narrar a tentativa de suicídio com todas as letras, com riqueza de detalhes.

— Estou deprimida, Ike. No fundo do poço. E não tenho vergonha de dizer. Esperava que você se tocasse disso, que tivesse a mínima noção e não saísse por aí falando coisas para me machucar. Acha que é fácil aguentar essa gestação sozinha?

— Barbara, o que você fez? — insistiu com certa raiva na voz. O coração batia depressa.

— Eu estava fora de mim, okay?

Isaac, enfim, entendeu tudo, mas, assim como Barbara, não teve coragem de verbalizar a tentativa de suicídio. O corpo dele congelou e os seus lábios perderam a cor, ao mesmo tempo em que o peito se comprimia até quase não lhe restar ar. Ele fechou os olhos, pensando em como não explodir, pois, embora sentisse vontade de gritar com a ex, tinha noção de que não era hora.

— Faça uma promessa para mim, Barbara. Você nunca mais tentará... Nunca mais fará algo assim. — As pernas tremiam. — Pelo amor de Deus. Tem uma parte de mim dentro de você.

— É tudo sobre este maldito bebê! É só isso com que você se importa. Será que não há um pingo de preocupação comigo? — gritou. — Comigo, Ike?

— Talvez eu não tenha me expressado direito... — Ele fez questão de suavizar a voz, para mostrar que realmente se importava com ela. — Claro que me preocupo com a sua integridade.

— Então tente se colocar no meu lugar. Preciso de você aqui. Acha que se não fosse importante o seu cuidado, carinho, eu estaria me humilhando? — Barbara fez uma pausa para tentar conter o pranto. — Essa história tem que acabar bem, com você ao meu lado.

— Vai acabar bem, e eu estarei ao seu lado, mas... não exatamente do jeito que imagina. — Isaac permaneceu contido, para que a garota não surtasse. — Você precisa separar as coisas. Eu já lhe disse; serei presente em tudo que envolver nosso filho, mas não ficaremos juntos, não como um casal.

— Você não me ama mais, Ike? — murmurou entre lágrimas.

Isaac ficou em silêncio e puxou o ar, soltando-o de uma vez. Ele não responderia àquela pergunta.

— Prometo que, assim que eu puder, irei até aí levar o enxoval que comprei para o bebê. Conversaremos pessoalmente. Agora eu preciso ir, tenho um compromisso. — Não era mentira, ele teria que marcar presença no Battle for the Children em algumas horas. — Se cuide.

Barbara teve outra crise de choro quando Isaac se despediu, mas não foi somente ela quem se acabou em lágrimas. O Hanson mais velho se isolou em um dos quartos do apartamento e libertou a angústia de seu peito. Mal ou bem ele tinha uma parcela de culpa pela desestabilização emocional da ex. Talvez devesse, apesar da dor da traição, ter se envolvido mais nas questões relacionadas à gestação. Ter-se feito mais presente no papel de pai. Não seria o bastante para Barbara, mas teria sido melhor do que nada.

— Ouvi parte da conversa. — Zac entrou no quarto, tenso, para falar com o irmão mais velho. Ele se sentou ao lado de Isaac na cama. — Eu avisei que as suas atitudes acabariam comprometendo a mente da Barbara.

— Já estou me sentindo mal por isso, não precisa enfatizar minha culpa. — Enxugou as lágrimas. — Não sei os detalhes, ela não me disse, e preferi não saber. Mas... Ela tentou... Tentou acabar com a própria vida, com a vida do meu filho.

Zac balançou a cabeça, triste, mas não surpreso.

— Depois de sua declaração no Late Show, eu sabia que a Barbara iria pirar. E sabe o que é pior? Você pode até estar solteiro, mas não é o que quer. É melhor admitir que ainda a ama. Olhe só o seu estado.

— Irei ao Brasil, vou conversar com a Barbara. — Isaac pausou. — Eu penso em, sei lá, de repente acabar logo com isso, dar uma segunda chance para ela, para nós dois, mas...

— Mas?

— Tem o Taylor. Não faz sentido eu perdoar o erro de um sem perdoar o erro do outro. E eu não quero, mesmo, voltar a interagir com aquele babaca além de motivos profissionais. Não vejo no horizonte essa reconciliação com ele. — Exalou o ar pesado. — A Barbara está precisando de mim. Ela, o bebê... É diferente. Não estou totalmente certo de que darei uma nova chance a ela, mas a possibilidade existe. Para o fura olho do Taylor, não.

— Se você reatar com a Barbara, já será um grande passo. — Zac passou um dos braços pelos ombros do irmão, puxando-o para um abraço sem jeito. — Uma coisa de cada vez.

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