Livro 4. Capítulo 7. O que dizer?

Nos dias seguintes à ida de Zac e Isaac ao shopping, o mais velho entrou em estado de maior introspecção, indeciso sobre falar com Barbara, ou não, a respeito das coisas que comprara para o bebê. Nas horas em que passou no quarto, refletindo, também não deixou de pensar na possibilidade de Barbara aparecer com outro namorado. Seria como bater em cachorro morto, e, no caso, ele faria o papel do cachorro. Porém, dar à ex uma nova chance estava fora de cogitação. 

— Ike, você já ligou para a Barbara? — Zac, que jogava videogame no quarto onde o irmão descansava, perguntou. — Hoje é quinta-feira, vamos viajar amanhã. — Referiu-se à ida para Nova York, onde dariam entrevistas em programas de rádios e fariam uma participação no Late Show, programa de TV de David Letterman.

— Vou ligar para ela quando achar que devo. Tem hora certa para tudo.

— E qual será a hora certa? Quando o bebê nascer?

— Ainda tem bastante tempo. Não é gestação de cachorro, que dura apenas dois meses — rebateu sem paciência.

— Falei com a Sabrina ontem. Ela me disse que a Barbara não está legal — revelou enquanto matava alguns zumbis no jogo eletrônico.

— Você não contou à sua namoradinha sobre as compras que fiz para o bebê, contou? — perguntou em tom de ameaça, pois não queria que Barbara soubesse sobre o enxoval.

— Fiz o que você pediu, bico calado, embora não concorde com a sua atitude. Você está maltratando a garota com o seu pouco caso.

— Ela fez pior comigo.

— Você é tão cabeça dura. Deveria se preocupar mais com a saúde dela, afinal, compromete diretamente a saúde do seu filho — aconselhou-o, cheio de maturidade.

— Você é muito chato, sabia?

— Uhum, eu sei. Mas sou necessário. — Riu, sem tirar os olhos do jogo. — Contei para a Sabrina que estaremos fora durante o final de semana e que, depois de Nova York, vamos para Miami. Isso é provável que ela tenha comentado com a Barbara.

— Voltei a ficar otimista com a programação recente que o papai arrumou para a gente. — Isaac tirou Barbara do foco da conversa. — A nossa agenda está cheia. Aparecer no Late Show é uma grande oportunidade de divulgar o novo álbum, e o evento de caridade da NFL, nem se fala.

— Será demais! Imagine o estádio lotado, nós três lá no meio do campo, cantando para a multidão... — Zac se empolgou, vislumbrando as atenções voltadas para eles, e matou mais alguns zumbis. — Passei de fase! Yeah! — comemorou antes de se levantar e pegar o telefone sem fio em cima da mesinha. Ele esticou o braço e entregou o objeto a Isaac. — Aproveite que o papai liberou telefonemas e faça o que tem que ser feito. Vou contar até três. Quando eu falar já, você liga para a Barbara.

— Quanta insistência. Achei que já tivéssemos mudado de assunto. — Ele recusou-se a pegar o aparelho. 

— Um, dois...

— Chato. — Isaac enfim rendeu-se ao pedido do irmão, bufando, embora, no fundo, desejasse ouvir a voz de Barbara.

Marília foi quem atendeu ao telefonema e deu ao Hanson a notícia de que sua filha não estava em casa. A informação extra, de que ela fora dar uma volta com um velho amigo, irritou Isaac, que voltou a pensar na possibilidade de a ex ter arrumado um novo namorado. No entanto, não havia com o que ele se preocupar, pois a garota sequer havia saído de seu quarto. A mãe inventara uma desculpa qualquer para que os dois não se falassem. Apesar da gravidez, ela faria o que estivesse ao seu alcance para evitar o contato de Barbara com o popstar.

— Ela não estava em casa — revelou Isaac ao mais novo, num fiapo de voz que terminou em silêncio angustiante. — Saiu com um... amigo.

— Ih. Será que você dançou? — Arregalou os olhos, realmente preocupado, mas a pergunta acabou saindo com certa ironia.

Isaac deu de ombros.

— Tanto faz. Estou pouco me importando com quem a Barbara sai ou deixa de sair. Depois que transou com o Taylor, não faz a menor diferença. Nosso relacionamento já está mais do que encerrado.

— Não no seu coração. Tudo bem admitir o ciúme. Sei que se a Barbara assumir um novo relacionamento você vai pirar.

— Você não sabe de nada. Por mim ela pode sair com o Brad Pitt ou com o Brendan Fraser; nem vou ligar.

— Sei... — Zac soltou um risinho irritante. — Você não engana nem a sua sombra.

Isaac deixou a cama sem falar mais nada, a fim de chamar Diana para uma conversa.

— Mãe, você tem um tempo para mim? — perguntou, aproximando-se dela na cozinha.

— Claro, meu querido, pode ser aqui? Ou você prefere esperar eu acabar de lavar esta louça? — Ela deu uma olhadela para o filho ao seu lado.

— Liguei para a Barbara. Não consegui falar com ela. — Ele apoiou o quadril na bancada e cruzou os braços. — Pretendia contar sobre as coisas que comprei para o bebê. — Estalou a língua. — Mas também, não é nada demais. Nada que eu não possa deixar para lá.

— Ou que você não possa fazer depois. Estou orgulhosa de você, Ike, do pequeno passo que deu com essa iniciativa.

— Não sei se fiz bem. — Fez uma pausa. — Ela saiu com um amigo. Velho amigo, segundo a mãe.

— E você está encucado com a possibilidade de ela ter andado para frente com a vida, já que não está dando a devida atenção que a garota necessita.

— Ela não merece minha atenção. Nem quando eu dava todo amor do mundo para a Barbara, ela me respeitou. Arrumou outro bem debaixo do meu nariz. O infeliz do Taylor. Então, se aquela desgraçada andou com a vida e arrumou um novo namorado, eu não tenho nada a ver com isso. E não, não estou encucado.

Diana suspirou, sabendo que o filho mentia para si próprio.

— Até quando você vai hostilizar o seu irmão e a Barbara? Você precisa avaliar os prós e os contras de continuar tratando os dois dessa forma.

— Mãe, por favor! — Isaac virou-se de frente para a bancada e bateu as mãos sobre ela, encarando Diana. — Jamais esquecerei o que eles fizeram comigo. Não me peça para agir de modo diferente. Já estou fazendo demais ao falar com eles apenas o necessário.

— Não quero invalidar seus sentimentos em relação aos dois, mas acho que você tem muito a perder negando o perdão a eles.

— Muito a perder o quê? Não vou me prestar a esse papel ridículo de receber de braços abertos quem acabou com a minha felicidade.

— Ike, Ike... — Diana suspirou. — Você é cabeça dura. Ainda tem muito que aprender. Pare de olhar para trás. Sua maior felicidade chegou com a notícia do filho que a garota que você ama espera. Não aconteceu da maneira que imaginava, mas me escute, não deixe de viver o que a vida preparou para você. — Isaac permaneceu em silêncio, olhando fixamente para frente, avaliando as palavras da mãe. Então ela continuou: — Sei que você sempre quis ser pai, mas para viver essa experiência como uma família, e não vendo o seu filho esporadicamente, você precisará perdoar a Barbara e reconstruir o sonho de viver ao lado dela.

— Não é mais um sonho, é um pesadelo. — Ele esfregou as duas mãos no rosto e exalou o ar. 

— Você ainda a ama, Ike. — Diana usou a afirmação para findar aquela conversa. — Vá arrumar suas coisas para a viagem. Você e seus irmãos estão com a agenda cheia, e será bom respirar novos ares fora desta casa.

Após a visita de Taylor à Isabelle em Miami, a garota não teve mais um segundo de paz. Sua cabeça não parava de visitar as lembranças dos dois juntos. Falara para April que ele havia morrido para ela, no entanto, apesar de a norueguesa ter mantido silêncio sobre o assunto, foi Isabelle mesma quem voltou a falar sobre seu ex.

— Obrigada por ter topado vir comigo ao shopping. Ainda não sei andar sozinha pela cidade. — Isabelle agradeceu à April quando saltaram do táxi. — Quero comprar umas roupas e o último CD dos Hanson.

— Você não ia se afastar de tudo relacionado a eles? — lançou a pergunta com uma pitada de ironia.

— Sou burra, fazer o quê? — Isabelle virou as palmas das mãos para cima enquanto elevava os ombros. Ela foi a primeira a entrar no shopping, sem saber para qual lado seguir. — Escutar a música deles não pode ser tão ruim assim, embora as versões remixadas não sejam as minhas favoritas.

— Eu achei mais dançante, e prefiro desse jeito; mais cara de boyband. Vou comprar um CD deles também. Da próxima vez que encontrar o Taylor, pedirei um autógrafo no encarte. — April subiu a escada rolante, e Isabelle foi atrás.

— Se você depender de mim para encontrar o Taylor, esqueça. Não vai acontecer.

— Eles estarão em breve na cidade, para se apresentar no jogo da NFL. Não finja que não sabe disso. — April insistiu, e Isabelle sentiu um frio no estômago. Sim, ela sabia do show beneficente. — Posso comprar uns ingressos, ouvi dizer que boa parte ainda está disponível.

— Não, obrigada. — Isabelle foi seca. — Escutar o CD deles, tudo bem; ir ao show e ver o Taylor pessoalmente, nem pensar. Se você quiser ir, vá, mas não conte com a minha ajuda para se aproximar dos Hanson — reforçou.

— Certo, esqueça o que eu falei.

— O Taylor afirmou que não me procuraria mais. — Suspirou. — Preciso tocar a minha vida.

— Então você está aberta a conhecer novos gatinhos?

— Não sei... — Isabelle saltou da escada rolante, no segundo andar, e caminhou ao lado da colega. — Mas eu topo ir à próxima festa que você arrumar.

— Combinado!

No dia seguinte, April comentou com Isabelle sobre uma festa que aconteceria perto do campus do curso de inglês, em uma cobertura de frente para a praia. A norueguesa ficara sabendo da comemoração por meio de outra colega, que fora convidada para o aniversário de um cobiçado quarterback da liga universitária.

— O nome dele é John Willians, joga futebol americano pelo time da Universidade de Miami — disse April quando Isabelle quis saber mais sobre o dono da festa. Ela continuou se vestindo para sair. — Se eu fosse você, não perderia a chance de se enturmar, afinal, muito em breve irá estudar no mesmo lugar que ele. Quem sabe não rola um interesse mútuo, uma ficada?

Isabelle torceu o nariz e permaneceu sentada em sua cama, em dúvida se acompanharia April na noitada ou não. Num primeiro momento, ficara animada para se divertir, mas já não sabia mais se estava a fim de conhecer alguém, mesmo que somente na base da amizade.

— Vou ser bem honesta; o idiota do Taylor não sai da minha cabeça. Talvez eu não seja a melhor companhia para você, nem para outra pessoa.

— Isabelle, faz um mês desde que você e o seu ex se reencontraram. Você mesma disse que não queria saber dele, e ele não queria saber de você. Por que isso agora? Medo de arriscar e se entregar para coisas novas? Você não precisa ficar com ninguém se não quiser, mas será bom sair para uma festa, ouvir músicas animadas, beber um pouquinho... Garanto que só de olhar para o lindo do John você voltará de lá com outro astral. — April jogou o vestido de paetês para Isabelle, um que havia gostado no dia em que se conheceram. — Vamos, vista essa belezinha.

Isabelle sorriu quando o tecido aterrissou em seu rosto.

— Tudo bem, eu vou com você, mas este aqui é um pouco exagerado para uma festinha sexta à noite na casa de alguém. — Isabelle se levantou e pegou um tubinho pendurado no armário. — Pretinho básico.

— Saquei, traje "de luto". — April ironizou.

As meninas chegaram ao prédio onde acontecia a festa, a dois quarteirões do prédio do campus, no mesmo instante em que outro grupo. Subiram todos juntos e entraram na cobertura sem chamar atenção. A porta do apartamento, mantida aberta, facilitou a discrição, e o ambiente com luzes coloridas, piscantes, e a música alta, também contribuíram para que não fossem notadas. Jovens bebiam e dançavam na sala ao som de um rock inglês, sem se importar com os móveis e a decoração da casa. Pés calçados nos sofás e cerveja derrubada no tapete faziam parte da realidade. Isabelle se sentiu em uma cena clichê de filmes estudantis americanos, bem no estilo Sessão da Tarde.

— O pessoal é bem animado, não? — disse no ouvido de April, criticando a bagunça.

— Bastante. — Riu e levantou os braços, acompanhando a música Song 2, do Blur. — Woo-hoo, When I feel heavy metal Woo-hoo, And I'm pins and I'm needles woo-hoo, Well I lie and I'm easy... All of the time but I'm never sure why I need you. Pleased to meet you. 

— Talvez eu devesse ter ficado no nosso quarto. — Isabelle falou em tom um pouco mais alto, para que pudesse ser ouvida em meio à música.

— Pensando no ex? — perguntou retoricamente. — Venha, vamos procurar o John.

April puxou Isabelle pelas mãos, abrindo caminho entre as pessoas e seguindo em direção à varanda. No espaço amplo e aberto, um grupo de garotas, de vestidinhos curtos, gravitava ao redor de um rapaz alto e loiro, que sorria lisonjeado com o assédio do público feminino presente na festa. A norueguesa apertou a mão da colega de quarto e parou a cerca de dois metros da roda.

— É ele — murmurou entre os dentes para Isabelle, que mal conseguiu piscar com a semelhança do quarterback com o seu ex. — Ele não é maravilhoso?

Sim, era. Isabelle reparou nos músculos aparentes sobre a camiseta branca e no cabelo liso na altura dos ombros. De onde ela se encontrava, não conseguia ter certeza se os olhos do rapaz eram verdes ou azuis, mas o detalhe não faria diferença, pois todo o resto compunha um exemplar quase perfeito de Taylor Hanson. Uma cópia um pouco mais encorpada e um pouco velha.

— É, sim, maravilhoso — respondeu, sentindo um frio no estômago. — E bastante requisitado.

— Eu lhe avisei. Ele é o melhor jogador de futebol do time da UM; todas as garotas o desejam.

— E com esse harém, eu não teria a menor chance. Ainda bem que vim sem expectativa. — Isabelle não tirou os olhos do garoto, que sorria e gesticulava orgulhoso de ser o centro das atenções. — Mas preciso concordar com você, esse tal de John é um colírio para os olhos.

— Vamos pegar algo para beber, assim a gente passa ali perto, escuta o que eles estão conversando e tenta entrar na roda — sugeriu April, mirando o bar logo atrás de onde John interagia com suas fãs.

— Não vou me meter ali, no meio de um monte de gente estranha. Se ao menos você conhecesse o dono da festa ou alguma outra pessoa presente... Você só viu esse garoto por fotos, e nós viemos como penetras. Nem a sua amiga que lhe falou deste aniversário, está aqui.

— Só me acompanhe.

April puxou Isabelle pelas mãos, e elas passaram rente à rodinha. Sem conseguir disfarçar, a brasileira continuou observando o jogador, e seu olhar cruzou o dele durante a caminhada. O riso de John transformou-se em um amplo sorriso, e o garoto pediu licença às suas admiradoras. Depressa, ele se dirigiu para detrás do bar, na intenção de servir quem claramente buscava algo para beber.

— Oi — cumprimentou April e Isabelle. — Tudo bem com vocês? Querem um drinque?

— Água, por favor — Isabelle respondeu, engolindo o nervosismo.

— Água? Que coisa mais sem graça. — April sorriu, encarando John, que não conseguiu lembrar-se de onde as conhecia. — Duas cervejas. Ela também vai beber.

— Aqui estão. Prontinho. — John colocou duas latas de cerveja bem geladas em cima do balcão de mármore e observou as meninas abrindo os lacres. — Vocês não vão me dizer seus nomes?

— April. E ela é Isabelle.

Isabelle sorriu para ele com o cantinho dos lábios, tendo certeza de que seu rosto corado entregava ao quarterback a vergonha por estar ali de penetra, a euforia que a beleza dele lhe causava ou ambos.

— Prazer, meninas. Sejam bem-vindas à minha festa. — Os olhos azuis cravaram os de Isabelle enquanto ele abria uma lata de cerveja. A língua fez lentamente o caminho molhado de seus lábios após o primeiro gole. — Não deixem de voltar para pegar mais bebida... ou qualquer outra coisa que quiserem.

As pernas de Isabelle tremeram, e ela deu um gritinho estridente, mas contido, quando as duas viraram as costas e se afastaram um pouco do bar.

— Ai, caramba! Esse cara é demais. — Ela se abanou. — Você estava certa. Eu não podia deixar de vir aqui apreciar esse monumento. Ele não falou mais de meia dúzia de palavras, e estou dando graças a Deus por não ter continuado falando, falando e falando. Mais um pouco daquela voz máscula e eu estaria de quatro.

— Achei que seria mais difícil você se empolgar com outro garoto se não o Taylor.

— Pelo menos por agora, quem é Taylor? — Isabelle riu e April encobriu a risada dela com a sua gargalhada. — Você vai me ajudar com esse cara, não vai?

— Eu vi o jeito que ele olhou para você, acho que nem será preciso a minha ajuda. Vamos dar uma voltinha sem sair muito do campo de visão do gostoso. Assim que acabarmos essas cervejas, retornaremos para mais uma rodada.

Isabelle e April permaneceram na varanda, mexendo os corpos no ritmo da música tocada na sala de estar. A brasileira não deixou de olhar para John, que também, de longe, não tirou os olhos dela. O coração da menina bateu mais rápido quando entre um gole e outro da cerveja que aquecia em suas mãos, notou o jogador da liga universitária aproximando-se. Ele não mediu sua atitude ao passar os braços na cintura de Isabelle, sussurrando no ouvido dela:

— Você é a mais linda que eu já vi na vida.

Isabelle, bebendo um gole de sua cerveja, encarou April, sem saber se pedia socorro para se livrar do jogador ou se se deixava levar pela paquera. A resposta da norueguesa foi dar as costas para os dois e se enfiar em meio à aglomeração de corpos suados e dançantes na sala, que cantavam em uma só voz o lançamento recente dos Backstreet Boys.

— É a banda favorita dela. — Isabelle disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça ao ver a colega se afastar. — Talvez eu devesse ir atrás...

— Talvez você devesse falar mais sobre você. — John se posicionou de frente para Isabelle, impedindo-a de ver os próximos passos de April. — Você não é daqui de Miami, certo?

— Nem de Miami nem de qualquer outro lugar dos Estados Unidos. — Fez uma pausa. Será que ela queria mesmo conversar com aquele sujeito? — Brasileira. Estudo aqui do lado, na escola de línguas. E em breve estarei na UM. Minha amiga me falou que você é de lá.

John abriu um largo sorriso e pegou a latinha de cerveja de Isabelle, dando um gole e mantendo a bebida em sua mão.

— Estou adorando a coincidência, brasileira linda.

— Hum. É... Eu também — concordou com um sorriso, sem graça —, famoso John Willians.

Uma das garotas que conversava com John mais cedo, aproximou-se dos dois e encarou Isabelle, sem se importar em interromper o flerte.

— Você não é aquela tal namorada brasileira do Taylor Hanson? — perguntou com propriedade de quem acompanhava as revistas adolescentes. John ficou atento diante da revelação, esperando uma resposta. E a intrusa continuou: — Você é a namorada dele, sim. Eu gravei bem esse rosto. Vocês estiveram juntos em Orlando um tempo atrás...

Isabelle revirou os olhos, irritada por uma garota aleatória ter trazido o nome de Taylor à tona. Pior, ter tocado no assunto diante do possível pretendente. E o relacionamento dela com o Hanson continuou em foco:

— Vocês ainda estão juntos? — insistiu a coleguinha do quarterback. — Nunca mais vi nenhuma notícia sobre o namoro...

— A imprensa se cansou de nós dois. — Isabelle admitiu o seu envolvimento com Taylor, mas sem responder sobre ainda estar namorando o cantor ou não.

— A imprensa cansou de vocês ou foi você quem cansou dele? — John quis saber. A falta de empolgação na voz de Isabelle ao falar de Taylor não passara despercebida.

— Bem... — Isabelle engoliu em seco.

Se eu não disser que terminei com o Taylor, é provável que o John desista de mim. E não quero que ele desista. Porém, não tenho o direito de espalhar que o meu relacionamento chegou ao fim. Taylor é uma pessoa pública, e não sei como isso funciona. Se eu ficar com o John antes de Taylor esclarecer publicamente que não temos mais nada um com o outro, logo ele aparecerá com fama de corno nas revistas. Ai, o que eu faço?

— Queridinho, desista. — A intrusa se encarregou de responder por Isabelle. — Você é popular apenas na liga universitária, essa aqui namora um popstar conhecido mundialmente. Ela não vai trocar um pelo outro. Acho melhor você voltar para a sua realidade.

— Dê o fora daqui. — John não fez questão de ser delicado. — Você, independentemente de qualquer coisa, não é minha realidade.

A menina estreitou os olhos para ele e fuzilou Isabelle com a mesma intensidade, deixando os dois sozinhos em seguida.

— Então você tem alguém?... — John terminou a cerveja. 

— Olha, não... Eu... Eu não tenho. Mas... Desculpe, não quero falar sobre isso. Nós dois, eu, você, bem... A gente mal se conhece.

— A gente mal se conhece, mas esse é um problema que, se você quiser, podemos resolver. — John amassou a latinha de cerveja com a mão enquanto via Isabelle corar diante de si. — Estamos desperdiçando tempo. — Ele arremessou a latinha em um cesto de lixo próximo aos dois. — E então, o que me diz?

— É que... — Desviou os olhos dos dele, encarando o chão. — Eu... Eu até quero conhecer você melhor, mas...

— Mas? — John segurou uma das mãos de Isabelle, e o rosto dela, sem graça, voltou a admirar o dele.

— Olha, minha amiga está sozinha na pista, eu preciso ir. — Isabelle fez menção de deixar o lugar, mas a mão firme de John apertou a dela, indicando que não desistiria.

— Calma. Por que a pressa? Sua amiga está bem, o que não falta é gente nesta festa. Fique mais um pouco comigo, vamos conversar.

— Não pega bem. É que... É provável que muitas pessoas aqui ainda pensem que estou namorando o Taylor. Nós dois, ele, bem, ele ainda não comunicou ao público que nós terminamos e...

— E?

— Eu não posso simplesmente dar margem para pensarem que estou fazendo alguma coisa errada, embora eu não esteja. Sabe como é; as fofocas correm depressa.

— Então você está presa a ele sem na verdade estar.

A afirmação de John fez Isabelle questionar a si própria. Por que eu devo ficar amarrada a Taylor, com medo do que uma suposta traição da minha parte causaria à imagem dele? Foi o filho da mãe que me traiu!

— Será que poderíamos conversar em outro lugar? — Isabelle olhou em volta, especialmente para a admiradora de John que havia sido expulsa dali, cercada de amigas que cochichavam. — Algum lugar mais reservado.

John conduziu Isabelle pela mão, levando-a para a sala e passando pelo meio da pista de dança. April acompanhou com o olhar o caminho que os dois traçaram em direção à escada, que levava ao andar superior do duplex. Por ali, em um ambiente menor, onde ficava uma jacuzzi, alguns jovens fumavam seus baseados e experimentavam outros tipos de drogas. Isabelle fingiu não se chocar, acompanhando o quarterback até a sacada. Os dois se acomodaram lado a lado em um canto, apoiando os antebraços no parapeito.

— Espero que não olhem para cima. — Isabelle comentou ao observar o movimento da festa na varanda de baixo, mais comprida que a superior.

— Não se preocupe com aquelas meninas, nem com as outras pessoas. Você terá sua privacidade aqui. Nós teremos. — John passou um dos antebraços pela cintura da garota, trazendo-a mais para perto dele. — A vista daqui é linda, não é?

Isabelle, com o estômago se revirando, mirou a orla em frente, o mar escuro encontrando a areia conforme as ondas quebravam. Esperava que ele não falasse sobre piratas e ela tivesse ainda mais motivos para se lembrar de Taylor, especialmente do primeiro encontro dos dois.

— É, sim, uma vista linda... — Ela se virou de lado, para olhar nos olhos de John. A fim de evitar o fantasma do ex rondando, deu o próximo passo. — Mas não viemos para cá observar a paisagem.

— Não... — Sorriu e, usando ambas as mãos, puxou Isabelle pela cintura. Os ventres chocaram-se antes do restante, segundos antes dos lábios se encontrarem, úmidos e cuidadosos.

As línguas entrelaçaram-se com gosto de vontade e cerveja, mas, de olhos fechados, a garota não conseguiu evitar pensar em Taylor. Era como se a boca do ex estivesse na sua, devorando-a com paixão. Sentindo-se horrível devido à lembrança, Isabelle interrompeu o beijo, abraçando John e olhando para o horizonte por cima dos ombros largos do jogador. Permaneceram agarrados por alguns instantes, sentindo os perfumes um do outro, até que John se afastou para olhar Isabelle nos olhos. Sorrindo, ele tocou os longos cabelos dela, percorrendo um cacho até a ponta.

— Está mais à vontade agora?

Não, ela não estava, mas assentiu sorrindo e mexendo levemente a cabeça. Embora não fosse possível ignorar a existência do ex naquele exato momento, John era sua única opção em busca de esquecer Taylor. Uma opção e tanto. O segundo beijo seria melhor, sem a imagem do loiro invasor. Ela podia apostar que sim. Então não usou palavras para responder à pergunta do quarterback, preferindo dar continuidade ao que faziam. Desta vez, foi ela quem puxou John para si, voltando a grudar seus lábios aos dele.

Isabelle permitiu que as mãos de John deslizassem da cintura para a sua bunda, puxando-a para mais perto. A excitação do garoto ficou visível na respiração ofegante e no volume avantajado grudado ao seu vestido justo, despertando sensações que ela só imaginara capaz de sentir com Taylor. Taylor. De novo.

Ela acabou deixando o outro praticamente se materializar, ganhando a companhia do ex durante todo o tempo da festa, entre beijos, abraços e amassos.

— Que horas são? — Isabelle perguntou a John, deitada em um banco de madeira, com a cabeça repousada no colo dele. O cheiro da erva queimada por tanto tempo naquele lugar a havia deixado nauseada. Ela preferiu acreditar que era culpa da maconha e não de qualquer outro sentimento. — Preciso ir embora.

— Fique mais um pouco. — John olhou para o relógio no pulso, que marcava quase 4 horas da madrugada. — Se estiver cansada, arrumo uma cama para você...

Havia maiores intenções na proposta de John, obviamente, embora não tivesse deixado transparecer no tom de sua voz. Isabelle, que não era boba e nem pretendia estender a noite daquele jeito, nem de jeito algum, ergueu o tronco, tonta pelo levantar repentino.

— April está sozinha há um tempão, e precisamos voltar juntas para o alojamento. Quem sabe outro dia. — Não pensava em dormir com ele, nem no futuro, mas não quis ser completamente rude. — Eu... Eu...

— Tudo bem. — Estalou um beijo nos lábios carnudos dela. — Então, por você, nós podemos nos ver novamente. Isso é sério, não é?

— Claro... — Sorriu sem graça. — Foi legal a nossa noite. A gente se vê.

— Qual o seu número? — perguntou. — Posso ligar para você logo mais, para a gente pegar uma praia?

— Eu não tenho número. Não tenho celular... Eu... Bem... Se você quiser, pode me procurar aqui perto, no curso — disse, sem achar que ele realmente perderia tempo em correr atrás dela. — Praia pode ser uma boa, quem sabe.

— Ou, se preferir, faremos um passeio pelo campus da universidade. Você já conhece o lugar?

— Praia. — Reafirmou sua escolha depressa. Não pretendia ir tão longe com alguém que acabara de conhecer. — Praia parece melhor. Se não acordarmos muito cansados ou de ressaca. — Fez uma pausa e riu sem jeito, pois talvez tivesse ficado evidente que arrumava desculpas para não o encontrar. — Ou sei lá. Amanhã a gente vê, mas por hora está de pé. Praia.

— Fechado. Vamos encontrar sua amiga. Vou acompanhar as duas até o alojamento. Não é seguro andarem sozinhas por aí durante a madrugada.

— Não precisa se preocupar, é aqui do lado.

— Eu insisto — determinou John, encerrando o papo com mais um beijo de língua.

No domingo, dia seguinte, John foi mesmo ao campus do curso de inglês, superando as expectativas de Isabelle. Para ela, a promessa do jogador, de estenderem o encontro da noite anterior, não seria cumprida. Os dois curtiram a tarde na praia e aproveitaram para se conhecer um pouco mais. Boas intenções não faltavam ao quarterback, que deixou claro seu desejo de terem um compromisso. Isabelle, porém, preferiu manter a relação do jeito que estava.

— Não precisamos apressar as coisas. Nós acabamos de nos conhecer, e é preciso tempo para termos certeza do que queremos. O futuro dirá. — Sentada na areia ao lado de John, ela deu um beijo estalado nos lábios do garoto. — Tenho uma boa intuição sobre nós dois, e podemos continuar nos vendo, mas peço que seja um pouquinho paciente.

E por falar em paciência, no Brasil, naquele mesmo dia, Barbara havia atingido o auge da ansiedade. Não era possível que Isaac tivesse um coração tão duro que o tornasse incapaz de se preocupar com ela ou com o próprio filho. O que custava a ele mandar um e-mail ou pegar o telefone e fazer uma ligação? Oi, tudo bem? Só isso bastaria para arrancar-lhe um sorriso, dar-lhe um pouco de esperança, amenizar a melancolia que se instalara em sua alma. Ela nem desconfiava de que sua mãe havia atendido a uma ligação de Isaac, e, se dependesse de Marília, jamais ficaria sabendo.

Enquanto isso, em Nova York, os Hanson se preparavam para a entrevista que aconteceria com David Letterman, no dia seguinte.

— Uma coisa vocês podem ter certeza: ele vai perguntar sobre nossas namoradas — antecipou Zac. — Já pensaram no que vão dizer?

— Papai disse para desconversarmos se o assunto surgir — respondeu Taylor. — Mas não será difícil sair dessas perguntas embaraçosas. Tenho fé de que a Isabelle voltará para mim, então praticamente falarei a verdade. Estamos bem, felizes, muito trabalho, pouco tempo para nos vermos, mas em breve estaremos juntos — ensaiou.

Isaac estalou a língua. Ele não estava nem aí para o blá-blá-blá de Taylor e o convencimento do traidor sobre Isabelle reatar o namoro. Além disso, não podia se importar menos com o pedido de Walker, quanto a manter sigilo sobre o fim do noivado. Ele falaria o que bem entendesse. A vida era dele, e as decisões também.

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[ Nota ]

Música citada:
"Song 2" (BLUR, 1997)

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