Livro 4. Capítulo 4. A hora da verdade
— Já pensou no que pretende fazer para comemorar o seu aniversário? — Deitada na cama superior do beliche, April perguntou à Isabelle, que usava o laptop, sentada na escrivaninha do quarto. — Faltam menos de duas semanas.
— Não pensei em nada, não estou animada — respondeu, sem tirar os olhos da tela.
— Só se faz 18 anos uma vez, precisamos arrumar algum evento. Podemos aproveitar o feriado da Páscoa e fazer uma viagem rápida, se você preferir.
— Combinaremos um jantar quando chegar mais perto — falou, desinteressada, de olhos atentos no bate-papo do site oficial dos Hanson. — Puta merda, o que eu estou fazendo aqui? — balbuciou.
— O quê?
— Ah, nada. Falei sozinha.
Isabelle fechou o site hansonline.com quando se deu conta de que entrara na sala de bate-papo na esperança de encontrar Taylor. Não é possível que depois de tudo que o safado lhe fez, depois tanto tempo longe do maldito, praticamente imune, você deseje falar com ele, sua idiota! Repreendeu-se enquanto abria o webmail.
Um e-mail de Sabrina, com quem ela não falava desde que chegara à Miami, ocupava o primeiro lugar na lista de recebidos. Isabelle ponderou se queria ou não saber notícias da amiga e do Brasil, mas acabou optando por abrir a mensagem. A pequena não escrevera nada sobre a gravidez de Barbara, muito menos sobre Isaac e Walker estarem no Rio, apenas perguntou como Isabelle se sentia, se o curso a estava agradando e se havia feito novas amizades.
Isabelle foi curta na resposta, falando sobre April, sobre o campus, em frente à praia de South Beach, um verdadeiro paraíso, e sobre suas expectativas para o futuro. Seus dedos coçaram para perguntar a respeito dos Hanson, se eles haviam entrado em contato, mas acabou encerrando o texto por ali. No final, ela apenas disse que estava com saudade da amiga.
Isabelle baixou a tela do laptop e a tornou a abrir, digitando mais uma vez o endereço hansonline.com. Um clique, dois; e o bate-papo carregou diante dos seus olhos. A sala estava um pouco mais cheia desta vez, mas nem sinal de um dos irmãos. Ela pensava em desistir quando o nome Taylor Hanson, seguido de um sinal que indicava a autenticidade do dono, anunciou sua chegada para as fãs.
[10:31:35] TaylorHanson* entrou na sala
[10:31:40] TaylorHanson* fala para Todos: Olá! E aí?
O estômago da garota deu voltas enquanto ela lia as mensagens de boas vindas das histéricas para o ídolo, perguntando-se se alguma delas conversava com ele em um bate-papo privado. Era óbvio que, àquela altura, o loiro já havia recebido dezenas de pedidos de conversas em particular, e Isabelle queimou de raiva ao imaginar a atenção do Hanson voltada diretamente para qualquer uma daquelas fãs insuportáveis.
[10:32:01] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Ei, Belle!
O suor frio se apossou do rosto e das mãos de Isabelle quando Taylor enviou uma mensagem privada para ela. Respondê-lo significaria admitir uma brecha no afastamento, porém, havia uma curiosidade latente para saber o que se passava na vida do cidadão. Não daria para fingir ser outra pessoa, pois o Hanson sabia que pertencia à sua ex aquele nickname. Sendo assim, ela optou por dar um tempo. Acabaria respondendo, mas não de imediato.
[10:32:20] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Entendo se não quiser me responder...
[10:32:40] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Mereço seu desprezo.
[10:33:05] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Todo.
[10:33:10] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Você não sentiu minha falta?
[10:33:16] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Eu deveria, depois de tudo que me fez?
Taylor sentiu a hostilidade e demorou um tempo para dar a ela uma resposta.
[10:33:46] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Não seja tão dura.
[10:33:51] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Como está a vida? O inferno tem sido agradável para você?
[10:33:59] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Sei que você não quer saber como estou. Senti a ironia. Estou no inferno, sim. E não tem sido fácil. Nada agradável.
[10:34:10] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Pobre coitado.
[10:34:14] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Nós precisamos ter uma conversa séria.
[10:34:22] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Não. Você já me disse tudo que tinha para falar.
[10:34:28] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Como? Você nem me deu chance.
[10:34:33] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Achei que você nem fosse tentar falar mais nada. Sumiu nos últimos meses.
[10:34:28] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Não sumi porque quis. Meu pai me proibiu de manter contato.
[10:34:33] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Bela decisão. Nunca pensei que fosse concordar com o seu pai. E agora, ele permitiu que você falasse comigo?
[10:34:43] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Ele nem sabe que estou aqui. Aconteceu um imprevisto.
Isabelle quase não suportou o calafrio que subiu pela sua espinha. Ela esperou o coração voltar ao seu ritmo normal antes de atacar Taylor, mais uma vez, com seu tom irônico.
[10:35:20] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: Imprevisto é sempre coisa ruim. Arrumou um clone seu?
[10:35:25] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: Meu pai está no Brasil com o Isaac.
[10:35:27] BelleRJ reservadamente para TaylorHanson*: ???
Isabelle se deparou com o nada na tela. A ausência de resposta demorou bem mais do que a urgência que ela necessitava. A intuição lhe dizia que, caso Taylor digitasse alguma coisa, não seria nada bom. Então, ela não ousou insistir, com medo de que seu coração decidisse sair do peito. O loiro, por sua vez, longos dois minutos depois, achou melhor ser honesto de uma vez.
[10:37:38] TaylorHanson* reservadamente para BelleRJ: A Barbara está grávida.
[10:37:39] BelleRJ saiu da sala.
Não houve como Isabelle continuar ali. Com a face congelada e a garganta espremida, ela deixou o loiro falando sozinho. Faltou-lhe ar para respirar, e quando finalmente o choque passou, deu uma pancada na mesa com o punho cerrado, liberando um grito de dor preso em sua alma. O desespero acordou April, que acabara de pegar no sono, e a garota desceu depressa do beliche, para acudir a companheira de quarto, que havia se jogado no chão.
— Isabelle! O que aconteceu? — A norueguesa se agachou, preocupada com o choro convulsivo da outra.
— Golpe baixo! Foi um golpe baixo! — rosnou entre soluços e lágrimas.
Isabelle se levantou em um solavanco, sem pedir licença à April, e se sentou novamente diante da escrivaninha. Ela abriu o webmail e mandou uma resposta cheia de raiva para Sabrina:
Você sabia que a Barbara estava grávida e não me contou! Você está do lado dela! Do lado dela! Não preciso de outra amiga falsa! Falsa!
Isabelle socou a mesa enquanto pensamentos nebulosos ocupavam sua cabeça.
— O que aconteceu? — April insistiu. — Você quer um pouco de água?
— Eu quero paz! Só isso. Paz! — gritou, colocando para fora a raiva.
A mente de Isabelle fervilhava durante o pranto. Walker e Isaac estavam no Rio, provavelmente resolvendo alguma coisa relacionada à gravidez de Barbara, mas isso não significava que o filho era do mais velho, e ela não deixou esse detalhe passar. Se a ex-amiga havia transado com os dois irmãos, o bebê poderia ser de qualquer um deles. Com o peito a ponto de explodir, Isabelle se arrependeu de sua impulsividade, de ter deixado o bate-papo antes de Taylor falar mais sobre o assunto. Agora ela se contorceria em dúvida, em ódio, em raiva. Raiva de Barbara, de Taylor e de ela mesma, por ainda se importar.
— Que morram todos! — falou alto. — A idiota aqui é sempre a última saber. Burra, burra!
A colega de quarto ficou preocupada com o nervosismo e o escândalo, sem saber o que fazer, e achou melhor não intervir quando Isabelle caminhou para a cama e se deitou. O choro não havia cessado, nem parecia que acabaria tão cedo, mas o corpo enroscado, virado para a parede, indicava que a garota não queria conversar.
Taylor correu as mãos pelos cabelos assim que Isabelle deixou o bate-papo, mal acreditando em sua própria estupidez. Que reação ele esperava da garota ao soltar, tão de repente, a informação sobre a gravidez de Barbara? Precisando de alguém para desabafar, ele recorreu a Zac, tirando-o de sua cama para uma conversa no quarto de hóspedes.
— Eu estava prestes a tocar umazinha em homenagem à Sabrina — revelou o pirralho, sem o menor pudor. — Espero que seja importante.
— Poupe-me de saber da sua punheta. É claro que é importante. Acabei de fazer uma besteira.
— Mais uma? — Zac soltou com naturalidade, e Taylor semicerrou os olhos para ele.
— Encontrei a Isabelle on-line e cometi a burrice de contar a ela sobre a gravidez. Ela me deixou falando sozinho.
— Normal. — Deu de ombros. — Você falou para a sua queridinha sobre a possibilidade de o filho ser seu?
— Nem deu tempo. Mas ela não é idiota, deve ter somado 1 mais 1. Eu não sei mais o que fazer... A minha situação já era ruim demais, pior ainda com as restrições do papai, e agora tem essa possibilidade de eu ser pai... — Taylor exalou o ar, angustiado. — Eu quero a Belle de volta.
— Nem sempre o que a gente quer, podemos ter. Eu queria a Bina do meu lado, e me restaram mão e imaginação.
— Eu falo sério, Zac.
— E eu também.
— Preciso de sua ajuda para me reaproximar da Isabelle.
— Não vejo como posso ser útil. Não estou conseguindo ajudar nem a mim.
— Você precisa arrumar com a Sabrina o endereço de onde a Isabelle está. Tenho certeza de que ela deve saber, e eu não posso mais perder tempo. Não posso deixar os meses passarem e continuar tentando contato em bate-papos. Logo o papai voltará do Brasil, e será quase impossível voltar a ficar on-line...
— Exatamente — Zac o interrompeu. — Vamos supor que eu consiga o endereço da Isabelle com a Sabrina... Se o papai nem nos permite ficar on-line direito, acha que ele vai aceitar que você vá até Miami atrás de sua ex? Você viu o quanto insisti para ir ao Rio com ele e o Isaac, para ver a Sabrina.
— Descubra o endereço e deixe o restante comigo. Você verá como conseguirei o que quero.
— Preciso de um pouco do seu otimismo para guardar num pote. A Isabelle fechou o bate-papo na sua cara... Você acha que, caso o papai o deixe ir até ela, a garota o receberá de braços abertos?
— Repito: você verá como conseguirei o que quero.
Na manhã seguinte, Isabelle não sentiu a menor vontade de sair da cama. Não dormira a madrugada inteira, e seus olhos estavam inchados de tanto chorar. April, preocupada com a colega de quarto, sentou-se ao seu lado na cama, antes de sair para a aula.
— Como você está? — A norueguesa acariciou um dos antebraços da companheira.
— Bem. Está tudo bem... — Levou a mão à cabeça latejante. Ela não pretendia falar sobre o ocorrido com ninguém, muito menos para alguém que conhecera havia poucos dias. — Não conseguirei chegar a tempo para a minha aula. Veja se não vai se atrasar para a sua.
— Se quiser conversar, posso passar mais um tempo aqui com você.
— Prefiro ficar sozinha. — Foi sincera, delicada ao falar.
A loira acariciou novamente o antebraço da colega e, sem falar mais nada, deixou o quarto um pouco depois.
Isabelle esticou a mão e pegou o porta-retratos, olhando para o rosto de Taylor. April tinha razão. Nada a ver manter a fotografia do ex ao lado de sua cama, ainda mais agora. Ela veria no rosto rechonchudo e nos olhos azuis a imagem do possível filho dele com Barbara. Teria o bebê aquelas mesmas características? Os olhos da garota se encheram d'água, e ela colocou de volta o porta-retratos sobre a mesinha. Era tão difícil tirar o maldito de sua vida. Ela vinha tentando esquecê-lo havia meses; fora para Miami para fugir dos problemas, mas eles a haviam acompanhado.
Isabelle se levantou e foi até a escrivaninha, sentando-se diante do laptop. Em seu webmail havia uma resposta de Sabrina:
Não sou falsa. Eu quis poupar você de mais uma decepção. Você não queria saber mais nada sobre os Hanson, deixou isso bem claro. Então por que eu deveria lhe contar sobre a gravidez? É injusto ficar chateada comigo.
A raiva não diminuiu, e ela preferiu encerrar a troca de mensagens por ali. Isabelle até cogitou perguntar à Sabrina se ela sabia de quem era o filho que Barbara esperava, mas optou por consultar outra fonte. Abriu um e-mail em branco e o endereçou a Taylor.
O filho é do Isaac ou é seu?
O Hanson do meio viu o e-mail com a pergunta feita sem rodeios, mas decidiu não o responder. Não havia conclusão para aquele questionamento, e seus problemas com Isabelle ele resolveria pessoalmente. Zac havia conseguido o nome do programa de intercâmbio e o local do campus, onde a ex estava hospedada, e Taylor se encarregou de fazer uma busca na internet e descobrir o endereço exato. Assim que Walker retornasse do Brasil, ele arrumaria um jeito de convencer o pai a deixá-lo ir à Miami.
Walker e Isaac chegaram à Tulsa no meio da semana, exaustos, mais emocionalmente do que fisicamente. Taylor sondou os ânimos e achou melhor esperar uns dias para falar com o pai. Naquele momento, cheio de mau-humor, o general dificilmente cederia às suas vontades.
A oportunidade perfeita para Taylor conseguir o que queria veio dois dias depois, em uma sexta-feira, quando Walker reuniu os filhos mais velhos em seu quarto, para falar de trabalho.
— O álbum remix ficou pronto, finalmente — disse o general, referindo-se à prensagem do CD, em um tom que não expressava muita animação. — Agora precisaremos focar pesado na divulgação, que começará em breve com a distribuição dos CDs nas lojas e a execução de outras músicas nas rádios. Como havíamos combinado, depois do lançamento de MMMBop, versão dance mix, vamos liberar a Where's The Love. Darmos continuidade com o segundo maior hit é a melhor escolha. Vou precisar da colaboração de vocês — ele olhou especificamente para Isaac e Taylor — para fazer dar certo. Agora é a hora de concederem algumas entrevistas, e não podemos correr o risco de demonstrar algo errado entre vocês dois.
Isaac expirou o ar pesado e, sem falar nada, demonstrou seu descontentamento. Zac correu os olhos pelos irmãos e encarou o pai, que esperava uma resposta. Foi Taylor quem se manifestou primeiro:
— Não vou colaborar com quem não colabora comigo. E nem estou me referindo ao fato de o Isaac me ignorar, pois, quanto a isso, eu seria capaz de fazer o melhor dos teatros diante das câmeras. É sobre você, pai. — Taylor fez uma pausa, mas não para buscar coragem, pois isso não lhe faltava. Walker olhou de cara feia para o filho; surpreso com o enfrentamento. — Você tem embarreirado o que é mais importante para mim neste momento, que é falar com a Isabelle, ou, pelo menos, tentar. Não vou fazer nada para ajudar na divulgação desta bosta de álbum remix se você não afrouxar o controle.
— Nós já conversamos sobre isso. Fiz o que tinha que ser feito para o bem de vocês.
— Para o seu bem, não para o nosso. — Taylor rebateu. — O Zac também sente falta da Sabrina.
— Seu irmão é muito novo para decidir sozinho o que é melhor para ele. Um namorico de adolescência não iria adiante de qualquer jeito, ainda mais com toda a distância existente entre os dois. A falta que ele sente agora sumirá com o tempo. E quanto a você, Taylor, de que adianta querer falar com a outra garota se ela não o deseja por perto? Desista de algo que não tem futuro e que você mesmo tratou de colocar ponto final. Não se esqueça de que, ainda que não queira, existe chance de o filho da Barbara ser seu. E esse seria mais um motivo para a sua ex não querer olhar para a sua cara.
— Isso quem tem que decidir é ela. E não você! — Taylor levantou a voz. — Não vou colaborar em nada daqui por diante, se continuar me privando do direito de me comunicar com quem eu quiser. Você controla nossa carreira e dinheiro, mas não sou seu escravo e só farei o que bem entender.
Zac arregalou os olhos, doido para engrossar o protesto contra as decisões de Walker, pois obviamente discordava de tudo que ele dissera sobre seu relacionamento com Sabrina. Porém, como viu que os ânimos se exaltariam entre o pai e o irmão, preferiu ficar calado.
— Que diabos você quer, Taylor? — O general levantou a voz. — Fazer mais besteiras e arrumar um jeito de essa garota se irritar com a sua insistência e gritar aos quatro ventos sobre a traição maldita?
— Ela não faria isso, mesmo muito chateada. Já teria contado ao mundo se fosse do caráter dela. E você não deveria perder tempo pensando no que o povo vai falar da pulada de cerca, porque se o filho da Barbara for meu, todos saberão, de qualquer jeito, o que rolou na nossa família perfeita — debochou ao finalizar o discurso.
— O que você quer? Acesso livre aos e-mails, telefones e celulares?
— Quero ir à Miami, onde a Isabelle está morando. Preciso de uma conversa cara a cara com ela, séria, coisa que não tivemos até hoje.
— De jeito nenhum. — Walker foi taxativo.
— Você levou o Isaac ao Brasil para resolver os problemas dele com a Barbara — contra-argumentou.
— Nossos problemas — Isaac interviu. — Preferia não ter ido. Você poderia ter ocupado o meu lugar, já que a probabilidade do filho ser meu ou seu é igual.
— Ou você libera a minha ida à Miami ou não aparecerei em nenhuma divulgação do álbum novo — determinou Taylor, encarando o pai. — E quero ir em breve. Quanto antes, melhor.
— Preciso pensar. — Walker bufou.
— Pois então, pense.
Taylor se levantou e deixou o quarto. Um tanto atordoado com a determinação do filho do meio, Walker liberou os outros dois, disposto a arquitetar, desde já, um jeito de resolver a situação.
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