Livro 3. Capítulo 3. Dia de paz, noite infeliz

— E então, rapazes, gostaram da festa? — Walker perguntou durante o almoço, já que nenhum dos jovens acordou antes de meio-dia.

— Nada demais. — Isaac fez pouco caso, evitando relembrar a parte ruim da noite anterior. — Foi divertida, na medida do possível.

— Na medida do possível? Hum. — Walker pigarreou, esperando que algum de seus filhos desenrolasse o motivo de a festa não ter sido prazerosa de modo geral.

— Bem, eu me diverti bastante — disse Taylor, e Zac concordou com um aceno de cabeça.

— Que bom. Pois a programação de hoje poderá não ser tão divertida para vocês quanto a de ontem. — Walker fez uma pausa. — Iremos à igreja na parte da tarde. Prometi ao pastor que os três cantariam Silent Night logo após a apresentação do coral.

Isaac e Taylor trocaram olhares cúmplices. Depois do tanto que haviam bebido na festa, talvez não lhes tivesse restado vozes para cantar a música natalina à capela. Especialmente porque sequer a haviam ensaiado.

— Você deveria ter nos avisado com antecedência. — Isaac demonstrou sua insatisfação no jeito de falar.

— Sim, deveria. Quem sabe assim vocês não enchessem a cara. Acham que não sei que beberam a noite toda? — O general falou manso, soltando um risinho medonho no final. — Tenho meus informantes. Espero que isso não se repita. Abri uma brecha para testá-los, e, como eu esperava, foram reprovados. Aliás, Zac, parabéns por não ter ingerido álcool, mas fique sabendo que não gostei nada de você ter dirigido a van na volta para casa.

— Caramba, pai! — Zac cerrou um dos punhos e o bateu na mesa. — Que controle insuportável! Foi melhor eu ter voltado dirigindo a batermos na primeira árvore na beira da estrada, não acha?

— Não quero brigar. Portanto, acalme-se. Hoje é véspera de Natal. — Walker deu um gole no copo d'água e limpou a garganta. — Eu só gostaria que soubessem que, apesar de não parecer, continuo de olho em vocês. E em vocês também, meninas. Comportem-se. Suas mães me solicitaram atenção e cuidado.

Barbara, Isabelle e Sabrina engoliram em seco. Mal haviam chegado e, de certa maneira, já estavam tomando bronca.

Seguindo o planejado por Walker, à tarde foram à igreja. Os meninos, acostumados ao ritual de Natal da família, o qual eles repetiam ano após ano, não reclamaram. No entanto, as brasileiras, que não ligavam muito para preces e cantorias, acharam a programação um saco. O único momento em que realmente se emocionaram foi quando seus amores se apresentaram diante dos fiéis.

— Somos realmente muito distantes desta realidade. Walker tem toda razão de não gostar da gente — Isabelle sussurrou para Barbara em português. — Talvez esses meninos fossem mesmo melhores seres humanos antes de nos conhecerem.

— Hum. Duvido. — Barbara estalou a língua. — Nós só fizemos despertar o diabinho que já morava, e ainda mora, dentro de cada um deles.

À noite, enquanto a neve caía do lado de fora, a família Hanson se reuniu dentro de casa, esperando o jantar que Diana preparara com a ajuda de suas filhas e das meninas, após voltarem da igreja. O clima era de total harmonia, com os jovens conversando e brincando na sala em frente à lareira.

— Como costuma ser o Natal no Brasil? — Isaac perguntou às três. — É verdade que vocês fazem a ceia na véspera e não no dia 25?

— Sim, nós reunimos a família na noite do dia 24 e fazemos a ceia à meia-noite. No dia 25 nos reunimos novamente para o almoço. Nossa véspera de Natal lá no Brasil é muito parecida com este momento que estamos tendo agora, exceto pelo fato de que não cai neve do lado de fora e, no lugar da lareira, ligamos o ar-condicionado — respondeu Barbara, sentada ao lado dele no sofá.

— E quanto aos presentes? — Zac quis saber. — Papai Noel passa a que horas? — Claro que ele não acreditava em Papai Noel, mas respeitou o imaginário dos irmãos menores, que brincavam perto deles.

— Trocamos presentes depois de meia-noite, também no dia 24 — respondeu-lhe Barbara. — E o Papai Noel passa durante a madrugada.

— Se trocam presentes à meia-noite, vejo muita vantagem em passar o Natal no Brasil! — O pirralho riu.

— Ah! Você não veria, não! — Isabelle, com um copo de refrigerante na mão, contestou a afirmação de Zac. — Numa típica véspera de Natal no Brasil, passamos por alguns rituais bem chatinhos, como assistir ao especial do Roberto Carlos e deixar a TV ligada na missa do galo. Não que alguém preste atenção. — Isabelle riu ao falar para as amigas, em português, a programação da Globo.

— O quê? — Sentado no chão, abraçado à sua namorada, Taylor franziu a testa.

— Deixe para lá. Basicamente quis dizer que, sem dúvida, esta está sendo a melhor véspera de Natal dos últimos tempos. — Ela estalou um beijo nos lábios do loiro. — Estou tão feliz ao seu lado...

— É ótimo ter vocês aqui, porém, para ser a melhor véspera de Natal dos últimos tempos, precisaríamos de mais animação. Não acham? — Zac olhou ao redor, para os seus pais e irmãos mais novos que interagiam ali por perto.

— O que falta é música! — exclamou Sabrina. — Na minha família, respeitamos o nascimento de Jesus, mas não deixamos de colocar axé music para tocar durante a véspera de Natal.

— Axé music? — Taylor repetiu as palavras, usando um sotaque engraçado ao falar axé. — Que tipo de música é essa?

— Nós já mostramos um exemplo para vocês uma vez. — Isabelle riu. — É aquela assim: "Bota a mão no joelho, dá uma baixadinha, vai mexendo gostoso, balançando a bundinha..."

— Ah, sim! — Taylor soltou um risinho, lembrando-se de a Dança do Bumbum. — Não seria nada mal repetir aquela coreografia, mas meus pais, na ausência de uma fogueira, queimariam as três na lareira.

— Ainda bem que você sabe, e nós nem seríamos loucas de tentar. — Sabrina riu. — Mas podemos dançar algo menos sensual. Que tal a coreografia de Erguei às Mãos, meninas? — sugeriu às amigas. — Acho que ninguém ficará chateado de dar pulinhos imitando animais. As crianças vão adorar.

— Eu topo! — concordou Isabelle, levantando-se para buscar o CD do Padre Marcelo Rossi na mala. — Não chega aos pés de uma raladinha na garrafa, mas é animada.

Durante a ausência da garota, as outras duas explicaram aos meninos a história do padre cantor e falaram sobre como ele estava popular no Brasil, aparecendo em programas de TV quase todo final de semana. Quando Isabelle voltou com o CD e o colocou para tocar no aparelho de som da sala, elas acabaram de explicar o restante, alinhando-se sobre o tapete para ensinarem aos Hanson a coreografia.

— Vamos lá! Animação! — Sabrina deu pulinhos, sentindo o calor da lareira tocando o seu corpo, segundos antes de a música começar. — "Erguei as mãos e dai glória a Deus. Erguei as mãos e dai glória a Deus. Erguei as mãos e cantai como os filhos do Senhor. Os animaizinhos subiram de dois em dois. Os animaizinhos subiram de dois em dois. O elefante e os passarinhos como os filhos do Senhor..."

Os irmãos Hanson riram bastante da apresentação das garotas. Walker e Diana, porém, que não entenderam nadinha da cantoria, e também não haviam participado da explicação das meninas sobre o trabalho do padre, acharam ruim aquele alvoroço. Será que sempre que houver uma oportunidade essas exibidas arrumarão um jeito de aparecer?

Ao perceberem que não haviam agradado a todos, as meninas desligaram o som e voltaram ao modo comportado, que, pelo jeito, seria imposto durante o restante do feriado de fim de ano. Regras, regras, regras! Regras que, na cabeça das brasileiras, foram criadas para serem burladas. Tão logo pensassem em algo, arrumariam um jeito de fugir do controle do general. Os irmãos Hanson as agradeceriam por isso.

Na manhã seguinte, todos na casa acordaram alvoroçados para abrirem os presentes de Natal. Desceram de pijamas, correndo pelas escadas, para encontrarem a árvore cheia de embrulhos enfeitados com papéis brilhantes e laços coloridos. As crianças, e também Isaac, Taylor e Zac, aglomeraram-se diante do pinheiro para descobrirem o que havia sido deixado para eles. Barbara, Isabelle e Sabrina, no entanto, tímidas e ainda um pouco sonolentas, sentaram-se no sofá, observando-os de longe.

— Por que não vão até lá, meninas — Diana as incentivou a se aproximarem da árvore. — Papai Noel também deixou algo para vocês.

Comovidas com a gentileza, levantaram-se para procurar seus presentes. Diana havia comprado três lindos porta-retratos e colocara, em cada um deles, uma foto de seus meninos, de quando eram apenas bebês. Ela acreditava que algo singelo, feito cheio de dedicação, valeria muito mais para as garotas do que uma roupa ou qualquer outra coisa comprada em uma ida ao shopping. As três adoraram a lembrança e agradeceram à matriarca por, de certa forma, sugerir que concebera os Hanson especialmente para as elas. Só mesmo sendo muito iludidas para acharem que Diana acreditava em predestinação, especialmente que seus filhos haviam nascido para um propósito como aquele.

Barbara, Isabelle e Sabrina aproveitaram o momento de confraternização para entregarem aos Hanson os presentes que haviam comprado. Cheias de lágrimas nos olhos, elas abraçaram seus favoritos, enfim, sentindo-se parte da família.

— Atenção! Atenção! Isaac e Taylor, o Papai Noel deixou uma surpresa para vocês do lado de fora — Walker anunciou em meio à sala cheia de papéis picados e caixas espalhadas. — Preciso dizer que o bom velhinho foi muito generoso, pois vocês não foram tão bons meninos assim.

Os dois saíram apressados pela porta da sala e correram pelo quintal. Ao abrirem o portão, deram de cara com dois carros estacionados logo em frente. Um deles era azul metálico, e o outro, prateado, ambos do mesmo modelo.

Taylor escolheu o carro azul, Isaac ficou com o prateado, e Zac, indignado.

— Ah! Se eles não foram bons meninos e ganharam um carro, eu devo ter sido péssimo então. — O mais novo fechou o rosto e cruzou os braços na altura do peito.

— Embora tenha dirigido a van, sem o meu consentimento, você ainda não tem idade para isso, Zac. — Walker passou a mão na cabeça do filho, bagunçando seu cabelo. — Não fique triste, em breve você também terá o seu.

— É fácil não ficar triste com um carro zero quilômetro. — O pirralho continuou de braços cruzados. — Eu só tenho um par de patins, um skate e uma bicicleta.

— Condizentes com o quão longe lhe é permitido ir. — Walker riu.

— Pai, mãe, obrigado pelo presente! — Taylor gritou para agradecê-los de dentro do carro, acomodado ao banco do motorista.  — Isso que é liberdade! Venham dar uma volta, meninas!

A algazarra na rua despertou a atenção das vizinhas. Então logo, mesmo sem serem chamadas, Mary e Gracy apareceram para acompanhar o movimento.

— Feliz Natal para todos! — disseram as irmãs em uníssono, dando um aceno único para a família Hanson e, a contragosto, para Barbara, Isabelle e Sabrina, paradas ao lado de Walker e Diana.

A mais velha das vizinhas, mais do que depressa se apoiou à janela do carro de Taylor, quase enfiando a cabeça para dentro do veículo. Perto do rosto de sua paixão platônica, ela disse, para somente ele ouvir:

— E então, loiro, quando você me levará para passear neste carro potente?

— Nunca!

— Não seja malvado. — Gracy destrancou a porta de trás e se acomodou no banco largo de cor creme. — Venha, Mary, ele topou nos levar para uma volta! — gritou para a irmã.

Mary correu para o carro de Taylor, e Isabelle, irritada com a cara de pau das duas intrusas, foi até o veículo e se sentou ao lado do namorado.

— Será que dá para vocês saírem do meu carro? — Taylor virou-se para trás, fechando a cara para as vizinhas. — Não irei a lugar algum até que me deixem em paz.

— Qual é o seu problema? É só uma voltinha pelo quarteirão — insistiu Mary. — Assim você aproveita e nos apresenta à sua namorada, já que não fez isso até agora.

— Ela não está interessada em conhecer vocês.

— Na verdade, estou interessada, sim. — Isabelle bufou. Já que as garotas não queriam saltar do carro, ela aproveitaria para tentar saber com quem estava lidando. — Uma volta pelo quarteirão bastará.

Taylor, contrariado, ligou o carro e seguiu em frente pela rua. Se não poderia vencer a vontade das três, terminaria logo com aquilo.

— Você e suas amigas ficarão até quando em Tulsa? — Gracy perguntou à Isabelle. — Vamos dar uma festa em nossa casa no Réveillon, se você e suas amigas ainda estiverem por aqui, apareçam.

— Nossas namoradas ainda estarão aqui, mas não vamos passar a virada do milênio na casa de vocês. — Taylor respondeu por Isabelle. — Nem se iludam quanto a isso. Nós temos outros planos.

— Que outros planos? — perguntou Gracy.

— Planos que não interessam a vocês. — Taylor respondeu a elas de maneira mal educada. Os Hanson ainda não tinham nada programado, mas não passariam os últimos momentos do ano com aquelas fofoqueiras.

— Ele é assim, grosseiro, com você também? — Gracy perguntou à Isabelle. — Aturo isso desde muito tempo, mas confesso; eu até gosto.

Isabelle não respondeu à garota. Taylor, às vezes, não a tratava do jeito que gostaria, mas não era exatamente grosseiro.

— Gracy, você espalhou por aí que nos envolvemos sexualmente! — Taylor protestou sem medo, pois já havia antecipado aquela história na presença de Isabelle. — Perdi meu respeito por você quando inventou esse absurdo sobre mim.

— Você sabe que eu não o inventei! — Gracy riu após rebatê-lo veemente. — Fico um pouco chateada de você não assumir o que rolou entre a gente. Conheço seu mecanismo: você faz o que quer e depois não assume. Mentiu para a imprensa sobre não ter ficado com a Aimee Osbourne, quando sabemos que aconteceu...

Isabelle levantou as orelhas, desconfiada. O boato sobre Taylor ter ficado com a filha do cantor Ozzy Osbourne tinha corrido o mundo, e o loiro o negara até o fim. E se Gracy soubesse o que de fato acontecera entre os dois? Pior, e se a vizinha estivesse falando a verdade sobre seu lance sexual com o ídolo?

— Escute só, garota — Isabelle se virou para trás, cheia de iniciativa —, ele pode até ter ficado com a Aimee Osbournee e ter comido você de mil maneiras diferentes, mas agora está comigo, e não quero mais ouvir seus relatos sobre o passado.

— Isso mesmo! — Taylor continuou. — Cale a boca, ou vou largar você e a sua irmã aqui, no meio da estrada. Terão que voltar para casa andando.

— Só para concluir. — Mary não se intimidou, dirigindo-se à Isabelle. — Um dia, minha filha, você vai sentir na pele o que minha irmã lhe disse. Ele é do tipo que faz e não assume.

— Taylor já me assumiu para o mundo todo como namorada dele. Não preciso do seu conselho venenoso.

O carro deu uma guinada para o acostamento e freou de repente.

— Desçam agora — Taylor ordenou às fofoqueiras. — Dez minutos de caminhada não farão mal a vocês, mas eu não conseguirei suportar nem mais dez segundos ouvindo as vozes das duas. — Grazy e Mary não se mexeram. — Agora! — berrou.

— Está frio do lado de fora — Gracy o contestou.

— Ótimo! Quem sabe assim congelem as suas línguas! — Rebateu Taylor. — Agora saiam de uma vez!

Calados, Isabelle e Taylor esperaram as garotas descerem do carro. Quando ele voltou a dirigir, pegando o caminho de volta para casa, Isabelle desabafou:

— Afinal, qual é a verdade? Gracy não parece mentir quando diz que vocês transaram.

— Pelo amor de Deus, Isabelle! — Socou o volante. — Não acredite em nada que sair da boca daquelas garotas. A Gracy tentou, tentou se entregar a mim várias vezes, mas não aconteceu e nem vai acontecer. E, para o nosso próprio bem, eu lhe proíbo de falar sobre isso.

Não dava para saber se a alteração de Taylor representava cansaço diante da narrativa da vizinha, ou se ele se exaltara para tentar esconder a realidade. Isabelle odiava ficar com a pulga atrás da orelha, mas fechou a boca para não deixar o namorado ainda mais fora de si. Conversaria com Barbara e Sabrina depois. Talvez elas tivessem uma opinião formada sobre o assunto.

— Me desculpe. — Taylor amansou a voz ao notar que a amada ficara chateada com o seu tom. — Essa história me tira do sério. Não se deixe envenenar por elas.

Ao chegar de volta à casa dos Hanson, Isabelle procurou as amigas pelo andar de baixo, encontrando-as na cozinha. Barbara e Sabrina ajudavam Diana e suas filhas a prepararem o almoço de Natal, mas não hesitaram em pedir licença ao notarem o rosto aflito da garota. Subiram as três para o quarto de hóspedes, e Isabelle logo desabafou:

— Pensei que este fim de ano seria mais fácil. Eu já sabia que teríamos que driblar o controle do Walker, mas aturar duas vizinhas chatas passou do aceitável. Cinco minutos com aquelas garotas, as tais da Gracy e Mary, fizeram com que tivesse vontade de esganá-las. E, de tabela, esganar o Taylor.

— Mas por quê? — perguntou Sabrina.

— Elas trouxeram à tona aquela história de o Taylor ter comido a mais velha... — Isabelle fez uma pausa, soltando o ar pelo nariz de uma vez só. — E eu, sei lá, acho que ele mentiu quando disse que não havia acontecido nada entre os dois.

— Ele não teria por que mentir — Sabrina ponderou. — Mas se for verdade o sexo dele com a vizinha, já aconteceu, já era. Bola para frente.

— O problema não é tão simples. — Isabelle levou a mão ao peito apertado. — Se Taylor mentiu sobre isso, poderá mentir sobre qualquer outra coisa. Vocês não acham?

— Uh? — Barbara sacudiu a cabeça, saindo de sua divagação. — Eu... Acho... Bem, eu acho que... Sim, ele poderá mentir sobre qualquer outra coisa. Mas deixe isso para lá.

— Não perca seu tempo duvidando do Taylor, Belle — aconselhou-a Sabrina. — Agora que ele e os irmãos estão namorando, surgirão intrigas o tempo todo. Vizinhas, fãs, mídia... Ninguém irá poupar os três e, muito menos, nos poupar. Se toda vez que o Taylor negar um boato você suspeitar da palavra dele, seu relacionamento não terá futuro. E isso também serve para mim e para a Barbara.

— Você viu o que aconteceu comigo. — Barbara tremeu de raiva, só de relembrar a confusão no clube. — Aquela safada da ex do Isaac apareceu do nada.

— Esses meninos tiveram uma história antes da gente, e não vai dar para ignorar o fato — concluiu Sabrina. — Nós viemos para o território deles, um verdadeiro campo minado de fantasmas do passado.

— Merda! — Isabelle estalou a língua.

— Troque logo de roupa, e vamos descer para ajudar a sogrinha — disse Barbara, disposta a não prolongar o papo sobre passado e insegurança. — Ouvi dizer que alguns tios e primos dos meninos chegarão em breve para a celebração do Natal.

O almoço foi animado, em torno de muitas comidas gostosas, conversas e músicas cantadas por Isaac, Taylor e Zac. À noite, quando o movimento na casa já havia voltado ao normal, os jovens se reuniram no quarto dos meninos, a fim de passarem o tempo antes de irem para as suas camas.

— Seus pais já foram dormir? — Barbara perguntou a Isaac. — Nós dois poderíamos dar uma rodada por aí em seu carro...

— Uh... — O Hanson mais velho coçou a cabeça, desconfiado do desejo pervertido de sua noiva, ao sugerir um passeio, a sós, durante a noite. Ele considerou a possibilidade. — Não sei se o meu pai concordará com isso, pois prefere que fiquemos em casa na noite de Natal. Mas, se ele permitir, tudo bem.

— Barbara perguntou se nossos pais já estavam dormindo, significa que não quer que eles saibam. — Taylor riu.

— Acho que o papai não será contra uma voltinha de carro, senão ele não teria presenteado vocês dois com aquelas máquinas zero quilômetro. — O mais novo se meteu, na esperança de que os irmãos saíssem de casa e deixassem o quarto livre para ele e Sabrina. — E, bem, tecnicamente, daqui a dez minutos nem será mais noite de Natal.

— Zac está coberto de razão. Se o papai nos deu carros de presente, nada mais justo do que darmos uma voltinha. — Taylor levantou da cama, disposto a resolver a situação. — Podem deixar comigo, vou falar com ele e pedir autorização para sairmos.

Walker não se opôs a seus filhos mais velhos darem uma volta de carro, desde que não saíssem dos limites do bairro e, claro, não fizessem nada estúpido. O general não teria sido específico sobre não beber e dirigir, e, também, quanto a sexo ao volante, se Isaac não tivesse aprontado esse tipo coisa antes. Para evitar que os casais ficassem a sós, ele deu ordem para que os jovens saíssem todos no mesmo carro.

— Não voltem muito tarde. E levem os casacos! — Walker deu as últimas recomendações.

— Precisaremos de muitos casacos, pois o titio acabou de nos jogar um balde de água fria. — Barbara murmurou para Isabelle, rindo para não chorar. — Até agora, eu e o Ike só transamos uma vez.

— Estão em melhor situação do que eu e o Taylor. Até agora contabilizei um boquete e algumas dedadas durante a festa no clube. — Isabelle riu. — Pelo menos a Sabrina sairá do zero a zero. Vamos encarar este passeio em grupo como uma boa ação, em benefício da nossa amiga.

Antes de saírem de casa, Barbara e Isabelle passaram no quarto de hóspedes para vestirem seus casacos pesados, gorros e cachecóis. A mais velha aproveitou, também, para pegar seu catálogo de CDs, uma manta e uma garrafa de vodca.

— Eu sabia que esta comprinha no Free Shop nos salvaria em algum momento. — Barbara sacudiu a garrafa de Absolut Pepper antes de colocá-la na mochila.

— Ah, caramba! — Isabelle balançou a cabeça em negativa. — Você gosta de viver perigosamente. Se o Walker descobrir...

— Se ninguém contar, ele não vai saber. — Barbara colocou a mochila pendurada em um dos ombros. — E tenho outra vodca guardada, para ser aberta no Réveillon. Estou achando que a comemoração de fim de ano aqui, na casa dos Hanson, será zero álcool. Vamos, os meninos já devem estar nos esperando lá embaixo.

O cheiro do carro novo de Taylor foi substituído pelos perfumes das garotas assim que elas abriram as portas e se acomodaram nos bancos de couro. Isabelle sentou-se na frente, ao lado do namorado, e Barbara atrás, grudada a Isaac.

— Já fazem ideia do lugar para onde vão nos levar? — perguntou Barbara.

— Você pode escolher entre o mato do lado direito e o mato do lado esquerdo, pois é tudo que veremos aqui por perto — respondeu-lhe Isaac, fazendo graça.

— Não precisamos nos manter no bairro só porque o seu pai pediu. Ele não está aqui com a gente, e não há câmeras instaladas no carro. — Barbara fez uma pausa dramática, ironizando: — Ah, não! Não me diga que vocês têm um sistema de monitoramento ao vivo?

— Taylor, minha noiva está nos zoando. — Isaac riu. — Então vá em frente e se deixe levar. Vire onde o vento faz a curva, acabaremos encontrando alguma coisa legal para fazer por lá.

— A Rota 66 não cruza esta região? — indagou Isabelle. — Sempre tive vontade de viajar por ela. Não me importo se passarmos apenas por uma pequena faixa da famosa estrada.

— Taí, gostei da ideia! Em dez minutos chegaremos a um trecho da Mother Road. — Taylor acelerou. — Não encontraremos nada aberto no caminho, mas conheço um lugar interessante e inusitado para visitarmos à noite.

O piloto ligou o rádio e seguiu o caminho mais curto em direção ao ponto da Rota 66 onde queria chegar. Barbara passou para Isabelle um CD de coletâneas de rock, para entrar no clima de aventura, e tirou a garrafa de vodca da mochila.

— Você não cansa de nos meter em encrenca? — Isaac riu, mas tenso. — Da última vez que bebeu no carro, nós sofremos um acidente de trânsito.

— Pera lá! — Ela abriu a garrafa e virou um pouco na boca, tossindo ao engolir o líquido forte. — Não sofremos um acidente porque bebi. Você sabe muito bem que foi causado por outro tipo de vício, do tipo sexual, executado em momento impróprio. Alguém quer um pouco? — Passou a garrafa entre os bancos da frente.

Isabelle deu um gole e entregou a vodca a Taylor, que também a bebeu. Quando a garrafa voltou para a parte de trás do carro, Isaac se rendeu e provou a bebida de sabor exótico.

— Torçam para não sermos parados por policiais, pois não teremos como subornar ninguém desta vez.

— Ninguém vai nos parar neste fim de mundo — Barbara deixou escapar, sem arrependimento, seu olhar crítico sobre o local onde os Hanson moravam. — Se Zac levou a van para casa na noite da festa, e ninguém sequer viu, não será hoje, na madrugada silenciosa, pós-Natal, que seremos pegos.

— Exceto pelo meu pai, que certamente estará nos esperando quando voltarmos. — Isaac observou a garota virar mais um pouco da bebida. — Vá devagar com isso aí.

Os apelos do Hanson mais velho, para que sua noiva bebesse menos, não surtiram efeito. Ela, Taylor e Isabelle entornaram metade da garrafa nos dez minutos que levaram até chegarem ao seu destino.

— Aqui está o pedaço de asfalto da famosa Rota 66 — Taylor anunciou a eles, parando o carro entre a estrada e um terreno baldio. — Como podem ver, não é nada demais.

A escuridão do lado de fora intimidava, e as luzes dos faróis só iluminavam um pouco a frente.

— Deveríamos ter vindo durante o dia. — Isabelle olhou em volta, tentando encontrar algo que valesse a pena ser observado, mas o breu não lhe permitiu. — Se fosse mais cedo, poderíamos sair do carro e tirar umas fotos. Confesso que estou com medo.

— Medo? Você não viu nada.

Taylor virou a chave na ignição e andou com o carro lentamente, entrando em uma rua perpendicular à direita. Ele manteve a velocidade baixa até parar em frente a um muro comprido. Os faróis iluminaram as letras de ferro coladas aos tijolos: Meadowbrook Cemetery.

— Ah, não! Pode dar meia volta. — Isabelle arregalou os olhos. — Não me diga que este era o lugar inusitado que disse que nos traria?

— Um ótimo cenário para nos reunirmos e contarmos histórias de terror. — Taylor soltou um risinho. — E bem aos pés da Estrada Mãe! É perfeito!

— Uh... Talvez no Halloween do ano que vem. — Isaac estava certo de que não entraria no cemitério de jeito algum. — Pise no acelerador e vamos dar o fora daqui.

Taylor desligou o carro e tirou a chave da ignição.

— Deixem de ser frescos! — Barbara guardou a garrafa na mochila e abriu a porta ao seu lado. — Vamos!

Isaac não se mexeu, muito menos Isabelle. Taylor, no entanto, abriu a porta do motorista e encarou o frio do lado de fora.

— Tem certeza de que não vêm? — Ele se inclinou para dentro do carro, insistindo para que seu irmão e sua namorada se juntassem a eles.

— Tenho! — Isabelle fechou o rosto. — E você também não vai a lugar algum. Vamos embora para casa.

Barbara se curvou para dentro do veículo e, ao executar o movimento descendente, a cabeça girou pelo efeito do álcool.

— É só um cemitério. — A mais velha enrolou a língua.

— Um cemitério que, nesta hora, está de portas fechadas. Não basta escolherem um programa sombrio, ainda querem invadir o lugar? — Isaac esticou a mão para Barbara. — Invasão de propriedade privada é contravenção. Volte para cá.

— Ike, nós vamos apenas caminhar entre os túmulos, nenhum de nós pretende roubar um cadáver. — Taylor riu.

— E quem vai nos ver? Almas penadas? — Barbara estalou a língua. — Fique tranquilo, aqui o papai Hanson não tem como nos controlar. A menos que saiba se comunicar com os mortos.

— Garota, você é bem insistente. — Isaac riu, mas metade era de nervoso.

— Sim, eu sou. Se não tivesse insistido e ido atrás de você na sua visita ao Rio, arriscando-me a tomar um fora, não estaríamos juntos agora. Vamos, Ike, levante a bunda deste banco.

Isaac foi vencido pelo cansaço, e Isabelle, que não pretendia ficar sozinha ali, juntou-se aos três na aventura macabra.

— Nenhum de vocês tem uma lanterna? — a medrosa perguntou.

— Eu me Lembrei de trazer vários suprimentos, mas lanterna não me passou pela cabeça. — Barbara riu ao mesmo tempo que se esforçava para pular o muro com a ajuda do noivo.

Taylor já estava do lado de dentro, esperando os outros, e colaborou na aterrisagem dela. Isaac ajeitou as mãos para dar impulso à Isabelle, mas, tonta, ela não teve força o bastante para passar para o terreno do cemitério. Irritada por ralar as mãos numa tarefa que ela não queria fazer, berrou que desistiria da missão.

— Que ideia idiota! Voltem para o lado de cá! — Isabelle gritou para Taylor e Barbara.

— Tentem mais um pouco, nós vamos andando na frente, procurando um bom lugar para nos instalarmos. — Taylor viu na lentidão da namorada e do irmão uma oportunidade para ficar a sós com o seu objeto de desejo. O cemitério não era o lugar perfeito, mas escuro o suficiente para tentar conquistar seu objetivo. Barbara bebera demais, talvez estivesse mais propensa a aceitar as suas investidas. — Quando vocês conseguirem entrar, gritem os nossos nomes.

Isabelle não teve voz para contestar o loiro, e seus olhos encheram-se d'água. De medo, de raiva, de ciúme e devido ao enjoo. Mal-estar causado pela vodca e, principalmente, pelos três motivos anteriores. Curvada rente ao muro, ela colocou para fora o embrulho que a incomodava, e Isaac a amparou durante o vômito.

— Eu sabia que não deveríamos ter bebido... — ele resmungou. — Assim como sabia que não era para invadirmos o cemitério.

— Eu e você ainda estamos aqui! — Isabelle berrou. — Seria uma merda invadirmos todos juntos o cemitério, mas aqueles dois, sozinhos... — é muito pior, muito pior, completou o pensamento em sua cabeça. — Eu não confio, não confio!

— Não confia em quê?

— Vamos para o carro. — Ela puxou o ar e desconversou: — Não estou aguentando este frio.

— Uh. A chave está com o Taylor. — Isaac coçou a cabeça. — Embora eu não concorde com o passeio entre os túmulos, se não quisermos ficar aqui, do lado de fora, aguardando eles voltarem, teremos que tentar pular o muro de novo.

Isabelle encarou o tamanho do obstáculo de tijolos.

— Eu vou lhe ajudar. Vai dar certo desta vez. — Isaac uniu as palmas da mão para servirem de apoio para ela.

Enquanto os retardatários tentavam vencer o primeiro obstáculo do cemitério, os outros dois, com os olhos acostumados à escuridão, desviavam de lápides brancas por entre vias estreitas sobre a grama. Para diminuir o frio, Barbara se agarrou à garrafa de vodca, dividindo goles com Taylor.

— Vamos parar por aqui — a garota sugeriu ao alcançarem uma árvore, uma das maiores do lugar. — Este ponto fica bem no centro do terreno, será mais fácil de eles nos acharem depois.

Ela abriu a mochila e estendeu a manta no chão, sentando-se, sem jeito, sobre o tecido felpudo. Taylor jogou-se ao seu lado.

— Eu serei honesto e bem direto: espero que eles não nos encontrem. — O loiro não demorou a enlaçar Barbara pelo pescoço e a puxar o rosto aflito para si. — Não adianta fingir que não deseja algo mais entre a gente, pois não teria me acompanhado até aqui, sozinha, se não quisesse.

— Taylor... — Ela o afastou com as mãos em seu peito. — Desde a festa no clube, você não encheu mais o meu saco, então pensei que tivesse esquecido essa loucura.

— Eu apenas respeitei os dias sagrados.

— Pois deveria respeitar os dias sagrados e a mim, Isabelle e Isaac. Você acha que, só por que chegamos ao fim do Natal, Deus não o culpará pelos seus pecados?

— Não é hora de falar de Deus. — Os olhos de Taylor invadiram os de Barbara. — Vamos falar sobre nós dois.

— Não existe isso, nós dois... — Ela soltou o ar de uma vez pelo nariz. Não havia mais argumentos para fazê-lo desistir. — Olhe, você é atraente e...

— Atraente e? — Os lábios de Taylor se esticaram em um sorriso, e ele enlaçou o pescoço de Barbara novamente. — O que mais?

— E interessante, mas... Não tem nada a ver. Acompanhei você até aqui porque gosto de aventura, de adrenalina, de perigo... Porém, você não é o tipo de aventura, de adrenalina e de perigo que quero para a minha vida.

— Você sabe que quer, sim. — Ele chegou mais perto, quase encostando seu nariz ao dela. — Ninguém ficará sabendo...

— Nós ficaríamos sabendo.

— Então você está admitindo a possibilidade? — A ponta gelada do nariz de Taylor tocou a ponta do outro à sua frente. — Estou louco para provar sua boca, Barbara. A vontade não passou, nem vai passar. Mate o meu desejo, e eu juro que paro com isso.

Os lábios do loiro roçaram os dela por alguns segundos, antes de Barbara se afastar. O toque a eletrizou, e sua cabeça girou, vendo a imagem do garoto duplicada. Cambaleante, ela se levantou e deu um gole na vodca, como se quisesse que o álcool limpasse o caminho por onde os lábios de Taylor haviam passado.

Ele se levantou em seguida e, segurando-a pelo punho, puxou-a para si.

— Olhe só que você fez. — Depressa, o Hanson a envolveu pela cintura e lhe mostrou, roçando seu púbis ao dela, como estava excitado. — Tão duro que chega a doer.

A vagina pulsou em contato com a ereção, porém, ela soltou a garrafa de vodca e usou ambas as mãos para empurrar o abusado pelo peito. Taylor não saiu do lugar e firmou a cintura fina da garota, deixando seu corpo descer, para a manta no chão, trazendo Barbara com ele.

Um berro agudo escapou durante a queda e ressoou longe, alcançando Isaac e Isabelle, que haviam acabado de vencer o muro.

— Aconteceu alguma coisa. — A namorada de Taylor levou a mão ao peito. — Barbara não gritaria à toa.

— Estamos num cemitério, e o intuito do meu irmão era contar histórias de terror. — Isaac continuou caminhando. — Barbara está bêbada, aposto que viu uma assombração.

Taylor é a assombração! Isabelle ardeu em cólera.

No início, antes de pularem o muro, ela pensou em dizer a Isaac sobre sua desconfiança, sobre seu namorado olhar para Barbara de um jeito que a incomodava. Porém, como o mais velho era um bobo apaixonado, e ela, por sua vez, tinha fama de ciumenta e neurótica, achou melhor deixar para lá. O importante era correrem entre as lápides e encontrarem logo os dois.

— Fale a verdade. Você viu a foto do meu pau? Não tem ninguém aqui. Admita que gostou do monumento. — Taylor, prendendo-a pelos punhos, não deixou que Barbara saísse de cima dele. — Não quer sentir a pressão? Eu sei que quer.

Ela se sacudiu, na tentativa de se livrar da insistência, do pênis que crescia debaixo de si, mas, cansada de lutar, deixou o corpo pesar sobre o dele. Seu rosto parou a centímetros do de Taylor, e, soprando o bafo apimentado da bebida perto da boca dele, disse:

— Você tem uma característica muito parecida com uma das minhas; é perseverante. Eu vi a foto, sim. E o seu pau... Hum. Seu pau não é nada mal. Mas não, não quero sentir a pressão. Nem agora e nem depois. — Fez uma pausa, tentando organizar as ideias após tanta vodca. — Isso aqui é o mais perto que você chegará de mim, e pela última vez.

Taylor exibiu a língua e raspou a ponta nos lábios da garota. Barbara sentiu a umidade ali e entre as pernas. Então, como se não tivesse mais controle sobre sua vontade, retribuiu a investida, permitindo que sua língua encontrasse a dele. O movimento de ambos os lábios, em contato intenso, dispararam o coração da garota. Foram as vozes de Isaac e Isabelle, gritando os nomes dos dois, que a trouxe de volta para a realidade.

— Merda! Seu... Seu... — Ela passou o punho do casaco na boca e se levantou.  — O que foi que você fez?

— Que eu fiz? Você também fez... E como fez!

Barbara pegou a garrafa de vodca no chão, bebeu o restante antes de jogá-la longe, e colocou a mochila nas costas.

— Ike! Estamos aqui! — gritou para o noivo. — Na árvore, na árvore grande do centro.

Taylor recolheu a manta do chão e a entregou à garota, que guardou o pano embolado depressa na mochila.

— Você não abra a sua boca sobre o que aconteceu aqui, ouviu? Até porque não aconteceu nada. Nada — sussurrou, aflita, intimidando Taylor. — Não sei como pude me deixar levar pelo seu encanto barato.

— Nem preciso lhe dizer o motivo, preciso? — Ele riu e apertou o membro sobre a roupa. — Isto aqui deixa você doidinha. E olhe que ainda nem o provou.

— E nem vou! — Barbara continuou andando e berrou de novo: — Ike! Ikeee!

A voz dela se aproximou das do noivo e de Isabelle, e os casais se reencontraram no meio do caminho.

— Meu amor, ouvimos o seu grito. Está tudo bem? — Isaac abraçou Barbara.

— Tomei um susto ao ver um vulto, sinta o meu coração. — Barbara levou a mão dele ao seu peito, mas claro que as batidas desenfreadas se davam pela troca do beijo com Taylor, e não por medo de alguma coisa sobrenatural.

— Vimos um fantasma, uma sombra, perto daquela árvore enorme — dissimulou Taylor, pois a única sombra era ele próprio, e enorme era o seu pênis. — Acho que não somos bem-vindos aqui.

Isabelle olhou torto para o namorado, achando estranha aquela história de fantasma. No entanto, ao ver sua amiga aos beijos com o noivo, concluiu que estivesse exagerando nos seus pensamentos cheios de desconfiança.

— Vamos para casa. Eu vomitei antes de entrar neste lugar, e estar aqui não me faz me sentir melhor. — A garota segurou a mão de Taylor ao marchar de volta para entrada do cemitério.

— Você vomitou? — Compadecido, ele a puxou para si, dando-lhe um beijo terno na cabeça.

— Bastante. No caminho eu lhe contarei nossa saga para pular o muro. Mas agora, por favor, me prometa que, daqui para frente, não terá mais ideias estúpidas, como perturbar o descanso dos mortos.

— Dou minha palavra. Nada de ideias estúpidas, e não perturbarei ninguém. — Taylor beijou a mão de sua garota.

O grupo pulou o muro com dificuldade, e Isaac, o menos alcoolizado, ofereceu-se para levar o carro para casa.

Isabelle, ao aninhar-se a Taylor no ambiente fechado do veículo, notou o cheiro de Barbara no casaco dele, trazendo de volta a cisma de que os dois ficaram mais próximos do que deveriam. Escondendo o rosto no peito do loiro, exatamente onde o perfume estava mais forte, ela deixou uma lágrima escorrer, esforçando-se para reprimir todas as outras que viriam depois.

Alheio à tristeza da namorada, o Hanson do meio não parou de olhar para o seu objeto de desejo, quase desfalecida no banco do carona. Não desistiria enquanto não alcançasse seu propósito, ainda mais agora que chegara tão perto.

Barbara, por sua vez, não desviou a atenção da paisagem escura, enjoada, pensando em como havia sido idiota ao se deixar levar pelo charme de Taylor. Sua consciência, antes pesada por ocultar de Isaac e Isabelle o que ocorrera na Disney, agora era esmagada por uma tonelada. Não deveria ter permitido que rolasse um beijo. No entanto, já que o encontro dos lábios acontecera, ela enterraria a sete palmos as sensações provocadas, assim como os mortos, de modo que jamais voltasse a pensar naquilo.

A casa estava escura quando eles chegaram. Então não se preocuparam em esbarrar em Walker na garagem, na sala ou em qualquer outro lugar. Beberam água ao passarem na cozinha e seguiram escada acima, em direção aos quartos.

— Durma bem, meu amor. — Isaac se despediu de Barbara no corredor. — Este dia, apesar do encerramento no cemitério, foi mais um maravilhoso ao seu lado.

Barbara o abraçou depois do beijo, e a desonestidade pesou sobre os seus ombros. A boca salivou em excesso quando ela pensou em dizer que o amava, em lhe desejar bons sonhos, e, assim, mais do que depressa, a garota correu para o banheiro. Isaac a amparou, segurando sua cabeça curvada na privada, e, chorando, ela colocou para fora o jantar, a bebida, e o remorso.

Walker acordou com a barulheira perto da porta de seu quarto, e logo sentiu o cheiro da vodca misturada ao vômito.

— Nem precisam me dizer o que aconteceu. Beberam mais uma vez. — Walker puxou Taylor, que observava a confusão no banheiro, virando-o para si. Os olhos vermelhos do filho reafirmaram sua desconfiança, e o segundo vômito de Barbara deu-lhe a certeza de que o passeio de carro saíra do controle. — Enfie essa garota no chuveiro, ela está quase desmaiando — ordenou ao mais velho. — Por onde vocês andaram?

— No cemitério — respondeu-lhe Taylor, dando de ombros.

— Eu quero a verdade! — esbravejou.

— No cemitério, é verdade — Isaac confirmou ao pai.

Barbara soltou uma gargalhada sinistra, parecendo incorporar uma entidade, e caiu entre a privada e a banheira.

Walker encarou o riso como deboche, e o seu sangue ferveu, fazendo pulsar as têmporas. Aquela brasileira definitivamente não era a noiva que ele sonhara para o filho; libertina, beberrona e atrevida demais. O general estalou a palma da mão na porta do banheiro e ordenou:

— Banho e cama! Amanhã nós teremos uma conversa séria sobre comportamento de risco e álcool.

— De novo? — Taylor ousou rebater o pai.

— Até vocês entenderem quem manda aqui.

Isabelle saiu de fininho para o quarto de hóspedes e, cheia de tudo que acontecera naquela noite, deixou as lágrimas caírem. Taylor esperou o pai voltar para o seu quarto e foi atrás da namorada. Apesar de suas atitudes insidiosas, feitas às escondidas, não queria deixar a garota mal. Por mais que isso soasse contraditório.

— Ei, Belle. — O loiro deitou-se de lado junto ao corpo dela, encaixando-se às suas costas. — Não fique assim. Desculpe por ter inventado essa história de caminhar pelo cemitério. Não era para o dia terminar deste jeito.

— Você deveria ter desistido quando lhe falei que não entraria naquele lugar. Eu e Isaac queríamos voltar para casa. — Fungou.

— Você está certa, deveríamos ter voltado para cá. E também não deveríamos ter bebido. — Ele deu um beijo na altura da orelha dela. — Quer que eu durma aqui com você?

— Quero ficar sozinha — pediu, após fungar mais uma vez. — Minha cabeça está girando, seu pai está irritado...

Okay, entendi. — Taylor estalou os lábios na bochecha de Isabelle e se levantou. — Durma bem então, amanhã será um novo dia.

Isaac cuidava de Barbara no banheiro. Para amenizar o efeito do porre, ele fez o que o pai sugeriu e a enfiou debaixo do chuveiro. Sem jeito para segurá-la pelo lado de fora, retirou a roupa e entrou sob a água morna.

— Hmm. — Rindo, ela agarrou o pênis flácido. — Quero um pouco disto aqui...

— Não vai rolar, Barbara. — Negou o carinho, embora o membro crescesse nas mãos dela. — Você nunca ficou tão alterada pela bebida, e não faremos nada de que possa se arrepender depois.

— Não vou me arrepender de trepar com o amor da minha vida. — Ela tentou se enganchar a ele, chupando os seus lábios molhados.

— Barbara... — Gemeu com a pegada mais firme, seguida do encaixe na cavidade encharcada. A garota não desistiria de ter o que desejava, e ele se rendeu à excitação. — Não podemos gritar, ouviu? — sussurrou em seu ouvido. — Devagar...

Taylor, na cama superior do beliche, sem se importar com a presença de Zac, que dormia logo abaixo, terminou a noite dando prazer a si mesmo.

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[ Notas ]

Músicas citadas:
"Erguei às mãos" (PADRE MARCELO ROSSI, 1998)
"Silent Night" (HANSON, 1997)

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