UM

– Eu nem acredito que consegui te enfiar dentro de uma saia! – Emma dava pulinhos de felicidade dentro do carro, colocando o cinto de segurança para que o painel parasse de apitar. – Aliás, eu nem acredito que você tem essas pernas bonitas! Tanto tempo morando juntas e eu nunca nem te vi pelada... que tipo de amizade é essa?

– Uma amizade heterossexual? – eu perguntei, fechando a porta do carro e ajustando o banco.

– Por um instante eu pensei que você tiraria a calça e uma aranha sairia correndo do meio dos seus pelos.

– Fico feliz em saber que eu passo esse tipo de impressão para as pessoas – eu comentei com ironia, também afivelando o cinto. – Pernas peludas e viveiro de aranhas. Minha mãe ficaria tão orgulhosa!

– Você vai adorar o Rodrigo – Emma mudou de assunto subitamente, colocando o câmbio na ré e saindo da vaga apertada em que estava estacionada. – Ele tem ombros largos e cheira a primavera.

– Emma, como eu sei que você não tem limites, eu vou precisar impor alguns – a minha melhor amiga colocou o câmbio no automático e saiu da vaga sem maiores dificuldades. – Primeiro: eu não vou cheirar o seu novo namorado. Segundo: eu não vou tomar nada daqueles funis nojentos. Terceiro: se você me apresentar a qualquer homem, eu repito, qualquer homem, a nossa amizade acaba essa noite.

Emma pareceu murchar um pouco no banco do motorista, mas não tirou o sorriso animado do rosto.

– Ai, Hannah... você vai passar pela vida sem ter vivido nada...

– Eu prefiro não viver nada em segurança, sentada na frente do meu computador e sem marcas de abuso pelo corpo, obrigada – eu respondi, observando o meu reflexo pelo retrovisor do I30 de Emma.

Por alguma artimanha do destino – ou talvez a culpa fosse de algum dos cremes caros e cheirosos de Emma – o meu cabelo estava no lugar, ondulado nas partes certas e sem os trilhões de fios arrepiados na raiz. Além disso, os meus olhos, geralmente com olheiras profundas e de um verde pantanoso, estavam iluminados e um pouco mais claros do que o normal.

– Você realmente está por fora do que rolam nessas festas – a minha única e melhor amiga revirou os olhos castanhos lotados de corretivo, base, pó, sombra, delineador e rímel. – Há quanto tempo você não sai da frente daquele computador, aliás?

– Ele me entende e me aquece no inverno. Nós estamos apaixonados e você não tem nada que se meter no nosso relacionamento – eu coloquei os dois pés em cima do porta–luvas. – Vamos nos casar no verão.

Emma gargalhou e ligou o rádio.

Ela era muito pequena para o carrão que dirigia; sumia dentro do esportivo. Eu vivia dizendo a ela que fôssemos de metrô para os lugares, mas ela teimava em dizer que tinha medo do assédio. Eu sabia que não era esse o motivo... Emma simplesmente não poderia ser vista andando de transporte público.

Eu não a julgava. Todo mundo tinha os seus defeitos. Não seria diferente com a minha melhor amiga, por mais que todos a achassem perfeita.

Lembrava–me perfeitamente bem do nosso primeiro contato. Nós estávamos sentadas lado a lado na fila de espera da matrícula. Ela estava de mãos dadas com um senhor de idade que se parecia muito com ela e conversava animada com ele. Mais tarde, eu descobri que aquele era o seu avô, o milionário e dono da rede de farmácias Mills. Descobri também que ele cuidava de Emma desde que ela era pequena, já que os seus pais estavam mais interessados em gastar toda a herança em drogas e festas caras.

A minha mãe estava ao meu lado naquele dia, encantada com tudo na Universidade de São Paulo; as cadeiras, as luzes, a arquitetura, a boa educação das pessoas. Eu estava sentindo o mesmo. Todos os anos de esforço e dedicação finalmente me levaram até aquele momento. Ciências da Computação na USP.

Nós não trocamos uma só palavra naquele dia. Um mês depois, estávamos juntas na frente do mural de apartamentos para locação.

"Eu não pensei que fosse ser tão difícil dividir um apartamento, mas só encontrei gente doida nas poucas visitas que fui fazer, ela comentou, analisando os anúncios no mural.

"Nem me fale, ontem eu fui ver uma república e encontrei um rato morto atrás da pia da cozinha, eu respondi, concordando com a cabeça. Emma apontou para um anúncio e o leu em voz alta. "Apartamento para meninas! Dois dormitórios, cozinha equipada, ampla sala de estar, sacada e banheiro."

Então ela se virou para mim e sorriu. "Eu sou Emma. Prazer em te conhecer. Quer ser minha colega de apartamento?"

E foi daquele jeito que ela se tornou a minha melhor amiga.

– ...e eu acho que vocês se dariam muito bem – eu saí da pequena viagem no tempo em que estava para ouvir o final da sentença de Emma.

– Vocês quem?

– Você e o Oliver.

O meu coração parou um pouco de bater, para depois voltar com força total.

– Não vejo nada de mais nele – eu menti, entrelaçando as minhas mãos e respirando fundo. – Além do mais, ele é o seu ex–namorado.

– Eu não estou sugerindo que vocês namorem, só que você faça alguns amigos – ela deu seta e entrou na rua mais movimentada da Vila Madalena. – Você precisa fazer mais amigos, sair da frente daquele computador!

Os bares estavam lotados de estudantes. Música ao vivo se misturava ao som de artistas de rua e músicas ambiente de bares mais tradicionais. Jovens bebiam cerveja e casais tomavam vinho a luz de velas.

Eu odiava aquela rua.

– Você sabe que não é tão fácil assim, Emma.

– Ok, tudo bem – ela deu seta e entrou sem dificuldades na primeira vaga que encontrou livre. – Não está mais aqui quem falou.


–x–


– Hannah, esse é o Rodrigo. Rodrigo, essa é a minha melhor amiga, Hannah!

Eu apertei a mão calejada do garoto e sorri, pois ele estava sorrindo para mim. Ele então beijou a bochecha de Emma e avisou que iria pegar cerveja para nós três. Ela concordou com a cabeça e esperou ele sumir entre as pessoas para começar a surtar.

– Ele não é um sonho? – ela soltou um gritinho agudo, sentando–se ao meu lado. – Meu Deus, ele é o cara mais lindo com quem eu já fiquei!

– Engraçado, você disse a mesma coisa daquele tal de Lucas semana passada – eu a alfinetei, mas ela só me lançou um olhar de desdém e voltou a observar a bunda de Rodrigo, que estava encostado no bar pedindo as cervejas para o bartender. – Quando é que você vai sossegar, eim, Emma?

– Hannah, eu sou um espírito livre...

– ...e não nasci para ficar presa a ninguém – eu completei o seu bordão, a frase que ela repetia como um mantra e parecia nem perceber. – Eu sei disso. Mas eu acho que os caras não estão mais levando você a sério.

– E isso é ótimo! – Emma tirou um espelho da sua bolsa vermelha de verniz e passou a admirar os seus olhos no reflexo, retocando a sombra marrom. – Eu também não os levo a sério. É uma troca de favores. Sexo por sexo. Não acha justo?

Eu não respondi nada, um pouco desajeitada naquele ambiente. Com certeza Emma me abandonaria em algum momento daquela noite, por mais que sempre jurasse que não iria. Na maioria das vezes, eu conseguia escapar de ter que sair com ela, mas não tinha como naquela noite; o meu notebook estava no conserto e eu não tinha desculpas suficientemente boas para dar a minha melhor amiga.

O novo "parceiro sexual" de Emma retornou a mesa e me entregou uma caneca de cerveja, sentando–se ao lado de Emma e a abraçando pelos ombros.

– Mas me diz, Hannah, o que você estuda na USP?

– Ciências da Computação – eu dei de ombros. – Mas eu juro que eu sou normal!

Rodrigo ficou com cara de quem não havia entendido a piada e logo perdeu o interesse em ser simpático com a melhor amiga esquisita da sua futura transa. Em seguida, os dois estavam se agarrando na mesa e eu sozinha, passando a ponta do dedo indicador na borda da minha caneca de cerveja pela metade.

Eu suspirei e peguei o meu Nexus 6P dentro da bolsa. Ele era o meu protegido; havia trabalhado em um caso particularmente complicado para conseguir compra-lo. Minha mãe ficou muito chateada quando eu apareci com o meu novo celular em casa, já que ela estava economizando para me comprar um como presente por ter entrado na USP.

Eu conectei o 3G e entrei no Chrome. Pensei em acessar a minha segunda conta, mas achei arriscado, levando em conta todas as pessoas a minha volta. Logo, optei só por entrar no Google e digitar "métodos mais fáceis de se matar em um bar".

Eu estava em dúvida entre enfiar uma faca de pão no peito ou entrar em coma alcoólico quando Emma me cutucou no ombro.

– Hannah, eu vou dar uma volta com o Rodrigo – ela sussurrou, apontando para o garoto que já a esperava na porta do bar um tanto quanto impaciente. – Se eu não voltar você arranja carona de volta?

– Claro – eu sorri para Emma, que beijou a minha testa e saiu correndo.

Eu então olhei em volta e me encontrei sozinha no meio da Vila Madalena.


–x–


– Oi Hannah! – Lorenzo Pizcioneri sentou–se ao meu lado assim que Emma me abandonou. – Tudo bom?

Lorenzo era uma das únicas pessoas que sabiam quem eu era na USP. Dentro desse grupo limitado, ele, além de Emma, era o único que sabia o meu nome.

Não me pergunte como.

Não me pergunte o porquê.

– Tudo na medida do possível, Lorenzo. E com você?

– Tudo bom, tudo bom... – ele fez um movimento rápido com a cabeça para ajeitar um cacho loiro de cabelo que estava em cima dos seus olhos. Então sorriu para mim. – Daqui a pouco eu vou fazer stand up. Vai ficar para assistir?

– Não sei – eu respondi com sinceridade. – Talvez eu tenha que pegar o metrô para voltar para casa, antes que ele feche.

– Ah... – ele pareceu um pouco desapontado. – Bom, eu espero que você arranje uma carona e consiga ficar. Eu só não te ofereço uma porque estou no carro com o Oliver e ele já está lotado.

Só de ouvir o nome de Oliver o meu coração deu um salto no peito. Mas eu tentei não deixar muito óbvio que era louca pelo melhor amigo do cara que estava tentando ser simpático comigo.

– Sem problemas – eu tomei um gole da minha cerveja quente. – Se eu não ficar para te assistir, boa sorte!

– Obrigado – Lorenzo olhou em volta, avistando os amigos em outra mesa. – Bom, eu vou nessa. Foi um prazer conversar com você.

– Igualmente – eu sorri e ele sorriu de volta, levantando–se e indo se juntar aos amigos da banda.

Eu olhei com o canto dos olhos para a mesa em que Oliver, Samuel e Caio estavam. Lorenzo juntou–se a eles e os quatro começaram a conversar, ignorando completamente a minha existência.

Os quatro formavam a Shut Up And Smile, uma banda de pop rock. O nome era uma homenagem a banda americana favorita dos quatro, a Bowling for Soup. Dentre os garotos da USP, eles, com certeza, marcavam presença na lista de beldades de muitas garotas.

Lorenzo Pizcioneri cursava Educação Física. Ele jogava futsal pela Universidade e era o atacante titular do time. Nos tempos livres, fazia shows de stand up em bares pela cidade e quase sempre arrancava risadas desde as garotas histéricas que riam de tudo até os fregueses mau humorados. Claro que a sua aparência de anjo querubim ajudava; os olhos azuis e o cabelo cacheado e dourado como ouro conquistava a todos. Talvez por isso ele fosse o cara mais galinha de toda a Universidade. Ele era simpático com todas as meninas, as feias, as bonitas, as ricas, as pobres, as chatas, as legais. E todas elas caíam no seu papo. Esse era um dos motivos pelos quais eu estava sempre na defensiva quando ele vinha conversar comigo. Não que eu realmente achasse que ele fosse dar em cima de mim, mas era melhor prevenir do que remediar. Ele era o baixista da Shut Up And Smile.

Samuel Gomes estava ao seu lado na mesa e batucava distraído, usando os dedos como baquetas. Ele era um tanto quanto esquisito... assim como Emma, cursava Biologia, mas era um ano mais velho que a minha colega de apartamento. Entretanto, mesmo sendo mais velho, ele fazia diversas aulas com ela. Aliás, o garoto parecia onipresente; estava em todas as aulas! Ele cursava algumas comigo em Ciências da Computação e eu podia jurar tê-lo visto entrar em algumas aulas de Administração e Psicologia. O mais baixinho deles, ele tinha mais ou menos a minha altura, não passando dos 1.75m. O que as garotas pareciam mais gostar nele eram os seus olhos escuros e as tatuagens que cobriam o corpo. E o fato dele sempre tocar bateria sem camiseta também era um "a mais" em seu currículo amoroso.

Do outro lado da mesa, de frente para Lorenzo e Samuel, Caio Moore mexia no celular. O favorito das garotas, do tipo militar. Alto, forte, malhado, olhos cor de mel e cabelo raspado. Guitarrista da banda, era do tipo sério e empreendedor. Cursava Direito e deveria assumir os negócios do pai se a banda não decolasse, o famoso escritório de advocacia Gray&Moore. Caio ia de encontro com a maré – tinha tudo para ser o maior pegador ao lado de Lorenzo, mas não curtia ficar só por ficar. Ele só havia ficado com duas garotas da Universidade, como dizia a lenda. Com uma, namorou por dois meses, mas ela se transferiu para a UNICAMP e eles terminaram. Com a outra, namorou por um ano, mas o namoro chegou ao fim. Ele não havia ficado com mais ninguém desde então, mas as más línguas diziam que ele era louco por uma de suas professoras.

Finalmente, Oliver Morais estava ao lado de Caio e completava a banda.

Mas Oliver Morais era indescritível...


–x–


Eu esperei pacientemente por Emma durante 45 minutos. Então, desisti da romaria e me levantei para pagar a única cerveja que havia tomado, afinal, já estava começando a ficar chato; eu sozinha na mesa enquanto grupos de amigos esperavam do lado de fora por alguma vaga para poder entrar.

Fui até o balcão e depositei a caneca vazia ao lado das outras. O bartender sorriu e me agradeceu pela ajuda, antes de voltar a atender outros clientes. Eu sequei as minhas mãos um pouco úmidas na borda da saia de cetim que Emma havia me emprestado e caminhei até o caixa, determinada a não trocar olhares com ninguém. Não que estivesse preocupada em ser reconhecida sozinha em pleno sábado à noite, eu com certeza já havia feito coisas bem humilhantes. Eu só não queria ser notada; sempre tivera a necessidade de passar despercebida.

– Dez reais – a caixa, com mais ou menos 30 anos e cara de estar cumprindo o segundo turno no dia anunciou assim que passou a minha comanda pelo infravermelho. – Cartão ou dinheiro?

– Dinheiro – eu estendi uma nota de vinte reais. Ela guardou o dinheiro no caixa registrador e colocou o troco em cima do balcão.

Seria demais entregar na minha mão?, eu revirei os olhos. Guardei o resto do dinheiro na minha carteira e a coloquei dentro da bolsa. Estava me virando para ir embora quando trombei em algo.

Choquei o meu ombro contra alguém e o segurei com a mão oposta.

– Me desculpe – esse alguém disse.

Eu olhei para cima e encontrei quem já esperava encontrar. Aquela voz não me passaria despercebida nem no meio de um show de Heavy Metal.

Oliver Morais.

Ele era tão alto que eu tinha que olhar para cima para encarar os seus olhos castanhos, que observavam distraídos algum ponto por cima dos meus ombros. De baixo, eu podia ver o sombreado da sua barba loira por fazer que cobria o maxilar. O cabelo era quase da mesma cor da barba, um pouco mais escuro talvez. Emma dizia que era cor de areia, eu teimava no loiro escuro – bom, eu pensava isso, nunca falava em voz alta.

A voz dele era rouca. Amigos de infância diziam que ela sempre fora, mas ele insistia em dizer que o cigarro fizera aquilo com ela.

– Sem problemas – eu respondi sem perder a compostura. Não era do tipo de menina que perdia a razão quando encontrava o amor da sua vida. Claro que por dentro eu já havia me transformado em um mar de nervos, mas era fria e calculista o suficiente para impedir que eles me dominassem. – Eu que não te vi parado aí.

Oliver olhou para baixo, parecendo me perceber pela primeira vez.

– Meio improvável você não reparar em um cara desse tamanho parado atrás de você – ele disse e sorriu para mim.

Toda vez que ele sorria o meu mundo parecia ficar em câmera lenta.

– É por isso que eu ando com dois seguranças para me proteger – eu apontei para um ponto qualquer e Oliver acompanhou o meu dedo. – Ih... eles foram embora...

Ele olhou de novo para mim e riu. Então a moça atrás do caixa chamou o próximo – um tanto quanto irritada, principalmente pela fila que se formava atrás de nós dois – e Oliver colocou uma das mãos em meu ombro nu.

– Minha vez – anunciou. – Tome cuidado com os homens grandes por aí. E prazer em te conhecer.

– Eu vou tomar – eu sorri e deixei ele passar na minha frente.

E, mais uma vez, Oliver Morais não havia lembrado quem eu era.

Acho que aquela era a terceira vez que ele dizia "prazer em te conhecer" para mim. Primeiro, quando ele e Emma começaram a namorar e ela nos apresentou, segundo, quando nos trombamos certa vez nas lojinhas do centro e ali novamente, na Vila Madalena.

Ou ele tinha Alzheimer ou realmente não havia se interessado nem um pouco em mim, como a maioria das pessoas.

Eu gostava de acreditar que ele tinha Alzheimer.


–x–


Eu cheguei em meu apartamento depois de uma longa jornada de metrô e caminhada. Quando o trem apontou na esquina da estação eu quase chorei de felicidade; se Emma visse aquela minha animação de pobre ficaria um tanto quanto decepcionada.

Na maçaneta da porta não havia nenhum aviso de que o apartamento estava "ocupado" – geralmente era uma plaquinha que eu havia feito para Emma que dizia "não entre se não quiser ter que procurar um psicólogo", mas quando ela não achava a plaquinha colocava uma meia qualquer –, então eu a destranquei, fui até o meu quarto e desabei na cama de solteiro.

Olhei para o teto e fiquei escrevendo o nome de Oliver no ar com o dedo indicador.

Se ao menos ele soubesse o quão próximos já éramos...

Eu virei o rosto em direção a minha escrivaninha, onde meu precioso HP estaria se ele não estivesse no conserto. Eu estava sem ele há pouco mais de dois dias e já começava a ficar deprimida. O meu mundo não era na vida real; o meu mundo era na rede.

Online eu não me chamava Hannah Carvalho Knight. Eu era K. Hunter – uma hacker em formação. Com certeza os meus amigos mais próximos da rede já estavam ficando preocupados com o meu sumiço. Eu havia mandando uma mensagem codificada para eles minutos antes de entregar o meu computador nas mãos do meu técnico de confiança, mas eles estavam tão envolvidos em teorias da conspiração que eu não me impressionaria muito se algum deles entrasse no meu quarto a qualquer momento, gritando "eles nunca vão te pegar viva!"

A minha placa de vídeo havia queimado e eu precisei entregar o meu bebê nas mãos do Thiago, o garoto prodígio que consertava as minhas coisas desde... bom, desde sempre. Meus amigos sempre diziam que não se podia confiar em qualquer técnico fundo de quintal, mas o meu computador portátil era muito protegido e eu confiava no moleque.

Eu comecei a me interessar por invasão de sistemas aos 14 anos. Eu já era muito evoluída em questões de conhecimento técnico antes disso, aprendendo quase tudo observando o meu pai e a sua paixão pela informática. Mas foi somente aos 14 anos que eu invadi o meu primeiro computador; o da minha vizinha de frente.

Ela vivia infernizando a minha vida, principalmente após a doença do meu pai, que o impedia de sair de casa. Como eu ficava sempre ao lado dele e quase nunca saia, ela havia espalhado para o condomínio inteiro que eu era um vampiro. Aos 19 anos aquele boato até me pareceria divertido, mas, no princípio da adolescência, afetou muito a minha já abalada autoestima.

A gota d'água aconteceu quando ela jogou ovos na nossa porta de entrada e minha mãe, também doente, teve que limpar, já que não havia mais ninguém em casa no momento do ocorrido. Quando eu voltei do colégio e descobri o que tinha acontecido, passei as horas seguintes tentando acessar o sistema dela, apanhando para os antivírus e para a minha falta de experiência. Porém, uma hora eu consegui, e encontrei uma mina de ouro; o computador da adolescente era lotado de fotos eróticas dela mesma. A pirralha as mandava para o suposto namorado, que tinha 30 anos e morava em outro Estado. Quanto mais eu lia as conversas dos dois, mais enojada eu ficava. Depois de vasculhar todo o seu HD, eu resolvi invadir o do cara, e não pude medir o tamanho da minha indignação ao ver que ele tinha milhares de fotos de outras meninas nuas no computador. Como um rato, salvei diversas conversas entre eles e as mandei aos pais da minha vizinha por e–mail. Aproveitei também para denunciar o cara anonimamente para a polícia federal. Depois desse dia, a garota nunca mais espalhou nada sobre mim, já que estava ocupada demais tentando explicar aos pais porque havia fotos dela pelada no computador de um homem qualquer.

Quanto melhor eu ficava em invasões, mais computadores eu invadia. Comecei pelo os de conhecidos, mas logo estava invadido HDs alheios, de pessoas de outras cidades, estados e países. Mas foi somente quando o meu PC foi invadido, quando eu tinha cerca de 17 anos, que eu conheci a rede de hackers.

A pessoa que invadiu o meu sistema era um tal de L. Love, que, de acordo com ele, estava monitorando os meus passos já havia algum tempo – ele me mandou uma mensagem codificada explicando que estava muito impressionado com as minhas habilidades, apontou os rastros que eu estava deixando para trás nas minhas invasões e me ofereceu ajuda. Depois de alguns meses de lições práticas, ele me adicionou em um fórum secreto com cerca de 500 hackers. Foi nesse fórum que eu recebi o meu primeiro pagamento por uma investigação.

Durante aquela época, a doença do meu pai havia piorado muito; a doença de Huntington se manifestou quando ele tinha cerca de 38 anos. Aos 48, ele já estava em estado terminal. Eu ficava ao seu lado dia e noite, de olho para que ele não caísse da cama em algum de seus acessos.

Antes da doença do meu pai, nós tínhamos um padrão muito bom de vida, mas conforme ele ia piorando, minha mãe ia vendendo os diversos postos de gasolina que ele possuía para pagar os tratamentos, enfermeiras e exames. No final, vivíamos da renda de só um dos postos de gasolina, no qual a minha mãe ficava o dia inteiro, enquanto eu cuidava dele e da minha irmã pequena. Foi nessa época também que a esclerose múltipla de minha mãe piorou – ela havia descoberto a doença antes mesmo de se casar com o meu pai e a controlava muito bem, mas o estresse da situação pareceu piorar os sintomas.

Justamente por estar nessa situação que eu precisava do dinheiro, então nem pensei duas vezes antes de aceitar a proposta; eu teria que invadir o computador de um cara de 40 anos que ainda morava com os pais. Estes estavam preocupados com alguns comportamentos recentes do filho e, por aconselhamento de amigos próprios, entraram em contato com o submundo da Internet. Após a invasão, eu fui obrigada a dar a pior notícia que alguém poderia dar: o cara estava com AIDS e não queria contar aos pais.

Depois do susto logo no primeiro caso, eu comecei a pegar gosto pela coisa. O casal me pagou direitinho e L. Love, já meu amigo e conhecedor de toda a minha história, passou a procurar pequenos trabalhos como esse para mim. Eu ganhava entre 100 e 1000 reais, dependendo da complexidade do caso.

O meu pai era o único que sabia das minhas aventuras. Eu não tinha certeza se ele estava me ouvindo ou não, mas percebia que ele ficava mais calmo quando eu contava as novidades dos casos que estava investigando.

Talvez por isso fosse bastante difícil esquecer a última vez que eu conversei com ele.

Eu estava invadindo o computador de um cara a pedidos de sua namorada, que achava que ele a estava traindo; estava lendo as conversas do homem com a suposta amante quando ouvi barulhos da cama do meu pai. Alarmada, sai correndo e sentei–me ao seu lado para tentar ampará-lo. Segurei a sua mão até ele parar de se debater, e então ele olhou para mim e se acalmou. Eu fiquei olhando para o meu pai e passando a mão em seu cabelo já bem ralo. Ele estava muito magro, bem diferente do homem que um dia eu havia conhecido, cheio de vida e determinação.

– Pai, você não vai acreditar – eu disse, apontando com a cabeça para o meu computador velho em cima da escrivaninha. – Acabei de descobrir que o namorado da minha última cliente realmente tem uma outra namorada! Dá para acreditar? Não existem mais bons homens nesse mundo... não existem mais homens como o senhor.

Então o meu pai sorriu. Eu arregalei os olhos, tomando um susto, já que ele não sorria mais havia muito tempo. A última vez que eu o vira sorrir, ele ainda conseguia falar.

– Pai! Você está sorrindo! – eu sorri de volta, sentindo lágrimas embaixo dos meus olhos. – Você pode me entender, não pode?

Ele não tirou o sorriso do rosto. As lágrimas ficaram mais pesadas, mas eu não as derramei. Era um momento feliz, não um momento triste.

– O senhor sabe que eu te amo, não sabe?

Nós dois estávamos de mãos dadas e eu pude sentir que ele a havia apertado. Eu me curvei e o abracei com força. Ficamos alguns minutos daquele jeito, então ele voltou a dormir.

O meu pai faleceu naquela madrugada. A minha mãe estava ao seu lado na hora e me disse que ele havia ido embora calmo, como um anjo que havia cumprido o seu dever na terra. Eu não duvidava. Algumas pessoas vinham para esse mundo fazer a diferença na vida de alguém e por isso iam embora tão cedo.

O meu pai era uma dessas pessoas.


–x–


Eu acabei adormecendo, e só fui acordar com Emma me chacoalhando.

– Hannah, meu amor – ela sussurrou e eu abri os olhos –, você por acaso teria uma camisinha?

Eu olhei em volta e percebi Rodrigo apoiado no batente da minha porta. Eu olhei então para baixo e vi que ele estava bem animado.

Se é que você me entende.

Eu me levantei e pisquei os olhos com força algumas vezes. Então lancei um olhar assassino para Emma e neguei com a cabeça.

– De todas as pessoas do mundo, você achou prudente pedir uma camisinha para uma virgem? – eu resmunguei, levantando–me, pegando o meu maço de cigarros de dentro da mochila em cima da escrivaninha e saindo do quarto sem nem olhar para o garoto.

– Ei, não precisa ir embora! – Emma ainda tentou, mas eu já estava irritada o suficiente e não queria mais estar ali.

Eu desci as escadas de incêndio, pois sabia que às 2 horas da manhã de uma sexta–feira o hall estaria lotado de estudantes bêbados, já que aquele prédio era basicamente uma moradia estudantil da USP. Saí pelos fundos e sentei–me em um dos bancos de madeira que davam vista para a piscina.

Eu já estava acostumada a acordar no meio da noite com os barulhos de Emma, e sempre reclamava no dia seguinte, sem qualquer tipo de melhoria na situação. Aquilo já estava começando a me deixar de saco cheio. Além disso, eu só poderia voltar para o meu quarto depois de uma hora, mais ou menos, quando os barulhos começariam a diminuir. Por isso, peguei o meu maço de Lucky Strike e acendi um cigarro. Emma me proibia de fumar no apartamento, então aquele era praticamente o meu fumódromo; sempre que passava por ali, eu tinha a necessidade de acender um cigarro.

De longe, como alguma brincadeira cruel do destino, observei Oliver, Lorenzo e uma garota qualquer passarem pela portaria do prédio do outro lado da rua. Os dois também eram colegas de apartamento, já que a banda inteira morava junto, e eu sabia que Oliver iria entrar no apartamento, pegar o notebook e descer para o hall. Iria se sentar em um dos sofás perto da lareira e passar o resto da madrugada no computador.

Conversando comigo.

Eu fumei o meu cigarro inteiro e o apaguei na sola do sapato. Joguei–o em uma lixeira próxima e voltei para o meu prédio.

Eu tinha um encontro marcado com Oliver.


–x–


Oliver C. Morais diz:

Eu estava te esperando, K. Chegou tarde hoje.

K. Hunter diz:

Eu te disse que o meu computador está no conserto. Tive que despistar o porteiro para entrar na sala de jogos do prédio. Desculpe pela demora.

Oliver C. Morais diz:

Sem problemas. O que você fez de interessante hoje?

K. Hunter diz:

Ah... A mesma coisa de sempre...

Oliver C. Morais diz:

Tentou conquistar o mundo?

K. Hunter diz:

Exatamente!

Oliver C. Morais diz:

Não acredito! Nós passamos o dia fazendo a mesma coisa, então!

K. Hunter diz:

Você tem que parar de me copiar, Oliver.

Oliver C. Morais diz:

Você tem que parar de me copiar, K. Hunter.

K. Hunter diz:

Aposto que esse nosso diálogo vai parar na sua história.

Oliver C. Morais diz:

Apostou certo. Por falar nisso, eu finalmente escrevi aquela cena em que o Bruno pega a Jéssica na cama com o irmão. Mas não sei se ficou legal... quer dar uma lida?

K. Hunter diz:

E você ainda pergunta, Oliver? Claro que eu quero!

Eu coloquei os dois pés na cadeira ao lado e olhei para a porta. Até então o porteiro não havia passado pela sala para fazer a habitual vistoria noturna, mas eu duvidava que ele fosse me enxergar mesmo se entrasse na sala com uma lanterna; o coitado era mais míope que uma porta.

Eu estava imaginando Oliver sentado no sofá do hall do próprio prédio, o calcanhar de uma perna apoiado no joelho da outra, um cigarro entre os dedos e a tela do notebook iluminando o seu rosto. Lorenzo provavelmente estava no quarto com alguma garota, Samuel e Caio jogando pôquer na sala e Oliver só conseguiria se concentrar para escrever longe deles. Todas as sextas–feiras de madrugada eram daquele jeito... Ele descia para escrever o seu romance e conversar comigo, enquanto eu ficava na varanda enrolada em um cobertor conversando com ele e analisando as novas ofertas de trabalho. Mas naquela sexta–feira, não como habitualmente, eu estava sendo obrigada a usar o PC lento da sala de jogos.

Odiava quebrar a rotina, mas faria de tudo para não perder uma daquelas sessões com Oliver.

Ele me mandou a cena que estava escrevendo por e–mail e eu a abri.


"Bruno entrou no apartamento cansado após mais um dia de trabalho. Ele só queria abraçar a sua mulher e ter uma noite decente de sono; já não sabia mais há quanto tempo dormia 8 horas seguidas.

Ele jogou as chaves em cima do aparador e marchou até o quarto. Abriu a porta enquanto afrouxava a sua gravata, mas parou de fazê-lo quando percebeu uma movimentação em sua cama.

Ele acendeu a luz e sentiu como se um buraco tivesse se materializado embaixo de seus pés.

Jéssica estava em cima da Bernardo, totalmente nua, olhando para ele com a boca aberta. Bernardo, embaixo dela, tentava cobrir a cena, como se aquilo pudesse apagar o que Bruno estava vendo.

– Mas que porra é essa aqui? – ele perguntou, marchando em direção aos dois.

Com força, empurrou Jéssica para o lado e pegou Bernardo pelos ombros. O irmão, pelado, tentou se livrar do aperto do marido traído, mas Bruno foi mais rápido e desferiu um soco certeiro em sua boca.

Jéssica soltou um grito, mas já era tarde demais, e Bruno retirava a arma do coldre, em uma atitude que o policial federal nunca pensou que fosse ter."


K. Hunter diz:

Ah, meu Deus! Eu sempre soube que a Jéssica não era a mulher certa para ele, mas os dois tinham uma história tão bonita. O Bruno deveria matar os dois... alguma chance de isso acontecer?

Oliver C. Morais diz:

Se ele matar os dois agora eu não tenho mais história!

K. Hunter diz:

Você é bonzinho demais com os seus personagens...

Oliver C. Morais diz:

Sou como uma mãe para eles! Mas acho que talvez eu devesse mesmo começar a mata-los. Todos eles! Quem sabe assim eu não viro um best seller? Deu certo com o R. R. Martin!

K. Hunter diz:

Se você matar o Bruno eu juro que nunca mais falo com você.

Oliver C. Morais diz:

Ah, então é assim que eu me livro de você? "Bernardo, em um súbito acesso de ódio, pegou a arma do irmão e atirou três vezes contra o rosto de Bruno. Ele morreu na hora".

K. Hunter diz:

K. Hunter bloqueou você para sempre.

Oliver C. Morais diz:

Finalmente! Eu estou livre!

K. Hunter diz:

Às vezes eu não sei porque aceitei ser sua amiga.

Oliver C. Morais diz:

Pff, você que implorou para que eu fosse o seu amigo!

K. Hunter diz:

"Alguém aí estaria interessado em dar opiniões sobre uma história que eu estou escrevendo? Estou procurando por opiniões sinceras!" Fala sério, Oliver... durante alguns meses eu achei que você fosse uma mulher naquele fórum!

Oliver C. Morais diz:

Tinha uma foto minha no perfil.

K. Hunter diz:

Exatamente.

Oliver C. Morais diz:

Você é muito engraçadinha para quem nunca me mostrou o rosto. Como eu posso saber que você não é um velho de 40 anos querendo se aproveitar de um jovem estudante de Cinema com 21 anos e sonhos de se tornar um escritor?

K. Hunter diz:

Acho que ninguém nesse mundo possui um fetiche tão específico assim, Oliver. E, de qualquer modo, eu estou aqui para dar opiniões sinceras sobre a sua história, não para tirar a roupa na webcam!

Oliver C. Morais diz:

Eu aposto que você tem as pernas grossas. E aquelas covinhas nas costas.

K. Hunter diz:

Pare com isso, Oliver.

Oliver C. Morais diz:

E a sua barriga deve ser bronzeada.

K. Hunter diz:

Oliver, nem todas as mulheres são perfeitas como as suas personagens.

Oliver C. Morais diz:

Eu aposto que você é. Eu aposto que eu poderia criar uma personagem baseada em você, e no filme do meu livro você seria interpretada pela Scarlett Johansson.

K. Hunter diz:

Eu acho que você deveria segurar um pouco na maconha que já está te fazendo mal.

Oliver C. Morais diz:

Eu ainda vou te conhecer, K. Hunter. E ainda vou te conquistar.

K. Hunter diz:

Tudo bem, Don Juan. Agora eu preciso dormir.

Oliver C. Morais diz:

Já? Mas eu nem te mostrei o próximo capítulo!

K. Hunter diz:

Eu sei, mas amanhã eu preciso acordar cedo e tenho que ir. Nos encontramos na segunda–feira?

Oliver C. Morais diz:

Eu odeio passar o final de semana sem conversar com você.

K. Hunter diz:

Tenho certeza que essa saudade passa assim que você bota os olhos na primeira gostosa que passa pela sua frente.

Oliver C. Morais diz:

Você me conhece tão bem...

K. Hunter diz:

Boa noite, Oliver.

Oliver C. Morais diz:

Boa noite, K. Tenha bons sonhos!

K. Hunter diz:

Você também! Sonhe comigo!

Oliver C. Morais diz:

Eu sempre sonho. Mas em meus sonhos você é a Scarlett Johansson.


O meu rosto estava quente quando eu saí do chat e desliguei o computador. Mas eu não tive muito tempo para saborear aquele pequeno flerte que tive com Oliver, já que o porteiro passou pelo corredor empunhando a lanterna para dentro da sala. Num movimento muito ágil, joguei–me embaixo da mesa e esperei ele ir embora. O senhor de cerca de 60 anos ainda ficou algum tempo tentando descobrir a origem do barulho de cadeira arrastada, mas desistiu ao ouvir os gritos de algumas garotas bêbadas do lado de fora do prédio.

Eu esperava que Emma já estivesse pelo menos apenas conversando com o garoto da vez, porque eu precisava de uma boa noite de sono para enfrentar as quatro horas de ônibus do dia seguinte até Ribeirão Preto para visitar a minha mãe e a minha irmãzinha.

Subindo para o meu quarto, repassei a conversa que tivera com Oliver e pensei em como aquilo estava ficando cada vez mais frequente. Nós conversávamos naquele chat havia pouco mais de seis meses, mas, nas últimas semanas, ele não queria mais apenas saber as minhas opiniões sobre política e economia, adicionando um interesse repentino nas roupas que eu estava usando e nas partes anatômicas do meu corpo.

Claro que aquilo me deixava um tanto quanto constrangida, mas eu precisava admitir que o auge do meu dia era ler sobre como Oliver me imaginava. Quero dizer, se ele me fantasiava bonita, ele provavelmente deveria me achar uma pessoa legal e divertida.

Eu parei em frente ao meu apartamento e não vi sinal de meias ou placas na porta. Sem paciência para especulações, entrei no apartamento como um cavalo e suspirei aliviada quando não encontrei Emma completamente nua em cima do seu novo namorado no sofá. Mas os barulhos de conversa no quarto me irritavam um pouco, já que eu sabia que eles demorariam a cessar.

Cansada, tirei a minha roupa e coloquei o pijama. Deitei–me na cama e me cobri até o pescoço com um lençol fino, para não morrer de calor e também evitar os pernilongos. Com apenas a cabeça descoberta, eu fechei os olhos e dormi no mesmo instante.

Eu sonhei com Oliver aquela noite.

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