36°

ESTOU em casa, finalmente. Descobri que minha mãe não pôde ir me ver porque sua pressão caiu quando ela soube o que aconteceu comigo, então meu pai a manteve em casa, com medo que ela passe mal de novo.

Eles sabem que eu perdi um pouco da memória, mas o médico disse que isso era normal e que poderia voltar... Ou não. Para falar a verdade, não sei se quero minha memória de volta. Me envolver com Sebastian Blackwood é o suficiente para eu querer continuar assim. Quer dizer, como eu pude deixar Theodore? Ainda mais pelo Sebastian?

— O que a senhorita está pensando? — Laura pergunta, massageando meu cabelo com o shampoo.

— Por que Theodore não veio me ver? — Brinco com a água, balançando os pés. Eu esperava mesmo que ele viesse.

— Vocês não namoram mais, menina... É normal ele não querer ver você — Laura diz, com sua tranquilidade casual.

— Mas não somos nem amigos? — o que aconteceu para ele nem mesmo se preocupar em vir me ver?

— Você não tem me contado muitas coisas... Talvez devesse perguntar ao Sebastian.

Eu suspiro alto. Vi nos olhos de Sebastian, a  emoção que eu não soube identificar, quando ele percebeu que eu não lembrava do que quer que tenha acontecido entre nós. Existiu mesmo um nós? Isso não faz sentido...

— Você deixou ele entrar — Laura diz de repente. Abro os olhos, franzindo as sobrancelhas.

— Entrar onde?

— Em seu quarto... Você o deixou entrar, menina.

Eu me afasto, virando para ela, espantada.

— Sebastian entrou aqui... No meu quarto? — Como eu o deixei entrar? Nem mesmo Theo...

— Sim e talvez... — Ela me olha de um jeito cauteloso.

— Talvez o quê?

— Talvez você o deixou entrar aqui também... — ela aponta para o meu peito. — Em seu coração.

~•~

Segundo o Google, concussão é: "caracteriza-se pela presença de sintomas neurológicos sem nenhuma lesão identificada, mas com danos microscópicos, dependendo da situação, reversíveis ou não. Podem ocorrer perda da consciência, prejuízo da memória, cefaleia, náuseas e vômitos, distúrbios visuais e da movimentação dos olhos."

O médico disse que os sintomas da concussão persistirão por um tempo, por isso vomitei há cinco minutos, quando acordei. É compreensível terem pensado que eu estava grávida, mesmo que isso seja impossível. Tudo bem que estão dizendo que eu me envolvi com Sebastian, mas tenho traumas demais, que nem mesmo Theo me ajudou a superar, então dúvido que Sebastian tenha.

— ... mas foi o que médico disse, Valentin. — Sigo a voz da minha mãe, vinda da cozinha.

— Sabe como nossa filha é. Madelaine não vai aceitar isso — meu retruca e eu enrijeço ao ouvir meu nome.

— As férias de inverno já estão chegando. Só vamos antecipar isso. Ela precisa de repouso ou esse sangramento pode muito bem piorar!

— Pai, mãe... O que está havendo? — Ne aproximo deles, assustando ambos. Meu pai suspira, passando a mão pela cabeça e minha mãe estende o braço para mim. Vou até ela, lhe abraçando.

— Nós sabendo o quanto você é concentrada nos estudos e sua posição no Grêmio, mas ficará em casa pelas próximas semanas.

— O quê? — Encaro minha mãe. Eu não posso. Os estudos, os planejamentos...

— Mas papai disse que não foi grave... — Olho para ele, que desvia o olhar.

— Não era, até percebermos que perdeu a memória... Isso é um caso grave. E você precisa de repouso. Se sofrer outra pancada na cabeça ou se esforçar demais, o sangramento pode piorar... Pode ser fatal, querida.

Eu pisco. Nunca achei que uma concussão pudesse ser algo grave assim. Achei que era apenas uma pancada, nada mais. Bom, nada mais não, já que perdi a memória, mas a preocupação da minha mãe...

— Mas como vão ficar meus estudos? Se eu não estudar... Sabem que meu sonho é entrar em Stanford. — Estou mesmo apreensiva. Sacrifiquei a maior parte da minha vida para poder estudar...

— Serão apenas algumas semanas, até você estar totalmente pronta — ela promete.

Pela primeira vez algo é mais importante que os meus estudos: minha saúde.

Então anuo para minha mãe.

— Tudo bem... — Suspiro, sabendo que não ia poder convencê-los do contrário. Minha mãe sorri com a resposta.

— Vou fazer um bolo, por que não me espera lá em cima? — Ela beija meu rosto, me dispensando. Aceno para o meu pai e deixo eles sozinhos, subindo para o andar de cima.

Paro no meio do corredor, olhando para o quarto de Max. Meu irmão não falou comigo e não preciso da nossa ligação de gêmeos para saber que tem algo errado.

Então vou ao quarto do meu irmão e bato na porta.

Passos, então a porta é aberta e estou encarando uma versão masculina de mim.

— Oi. — Escondo as mãos nos bolsos de trás da calça jeans e sorrio. — Posso entrar?

— O que você quer? — uma pergunta fria, sem emoção. Esse não é o Maximilian que eu conheço.

— Conversar. Você não fala comigo desde que saímos do hospital... Há algo errado? — É claro que há, não preciso da sua confirmação.

— Não. — Max mente. Ele nem pisca.

— Está mentindo para sua irmã gêmea? — Semicerro os olhos, moldando um sorriso nos lábios.

— Quer falar de mentiras? — Max cruza os braços, na sua pose de pronto para a batalha.

— Não sei se você percebeu, mas eu meio que perdi a memória, então você não pode falar comigo como se eu soubesse o que está acontecendo. — Também cruzo os braços. Estava tentando ser legal, mas se não está dando certo, tudo bem.

— Acho melhor você descobrir sozinha. — Ele bate a porta na minha cara. Eu esperava que ele tivesse mais consideração pelo meu estado atual. Mas parece que nós brigamos pra valer, se ele não se importa comigo.

Suspirando mais uma vez, eu faço o trajeto para o meu quarto, atravessando aquela linha invisível que pelo visto só Sebastian conseguiu me fazer apagar, por mais que ela não exista de verdade.

Sebastian. Tudo sempre volta para ele. Eu esqueci apenas o último mês, mas parece que foi uma vida inteira. Não achei que as coisas podiam mesmo mudar em um mês.

Sento na minha escrivaninha, ignorando a pintura acima e pego a pasta com meus desenhos. Eu costumo desenhar tudo. Se eu vejo uma flor, eu desenho essa flor. Se chove, eu desenho a chuva. Então pego todos os desenhos datados do último mês e monto o mapa. Desde o dia que me lembro, até o último desenho.

Para minha surpresa, eu não os entendo. Há um desenho de uma garota chorando no ombro de um garoto, onde parece ser um quarto. Então outro de uma menininha com asas abraçando a mesma garota.

Há outro desenho da garota e o garoto, no que parece ser uma cabine. Ela veste um vestido florido e eles estão se olhando. Se olhando mesmo.

Sempre consegui retratar bem os meus desenhos, de modo que sei que nesse desenho sou eu e Sebastian.

Corro os olhos pelos outros e a maioria é de nós dois, há um desenho único só dele, um retrato perfeito do seu rosto bonito, mas os outros... É como se eu tivesse desenhado a nossa história. Porque olhando para isso, eu sei que houve mesmo algo entre nós. Algo tão profundo que eu desenhei.

Sebastian e eu temos uma história.

~•~
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2bjs môres ♥

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