MINHA casa nunca pareceu tão longe ou Damon dirige bem devagar, apesar que ele não parecia devagar quando me atropelou.

O couro do seu carro é da cor creme e bem requintado. Tão chique quanto os do meu pai. Talvez ele seja tão rico quanto... Apesar de não exibir nada dessa riqueza. Eu também nunca o vi fora da escola.

Deus, eu o conheço há dois dias!

Fico vermelha ao perceber o cheiro que agora tem o carro. Ainda bem que ninguém me viu assim. Se Brad me visse...

Brad.

Ele deve estar com tanta raiva agora... Nós nos resolvemos e fui atrás de Damon, mesmo com aquela desculpa — aquela maneira — que eu sei que ele vai me pressionar até eu contar a verdade. Pelo menos não fiz nada de errado, só estou ajudando uma amiga.

— Bonita casa. — Damon me tira dos meus devaneios e percebo a casa à minha frente. Tão grande... Os degraus dando para as portas tão imensas...

— Você pode carregá-la? — mordo o lábio, nervosa. Não sei se quero que ele entre, mas é minha única alternativa.

— Não é para isso que eu sirvo? — ele sorri e sai do carro, abre a porta oposta à minha e tira os dois cintos de segurança de Beverly. Cuidadosamente ele a arrasta pelo banco e a pega no colo. Saio em seguida, vendo como o couro de cor creme está marrom em algumas partes e... Fedendo.

Faço uma careta e pego as bolsas. Meus pés queimam no asfalto, mas não calço os saltos.

— Venha... — faço sinal para me seguir. Ele obedece.

Os dois seguranças na porta da casa se entreolham e depois olham minhas roupas sujas e meu cabelo que deve parecer um ninho de passarinho com uma gosma que é meu próprio vômito.

— Vão lá, podem ir contar ao meu pai — reviro os olhos para eles que agora observam Damon — Deixem ele em paz. — aviso quando chego nas portas duplas de carvalho enormes.

Eles obedecem e não dou cinco minutos para ligarem para meu pai. Olho por cima do ombro e vejo Damon observando o saguão dourado. Ele nota meu olhar, mas continua me seguindo quando subo as escadas.

Andamos em silêncio, apenas nossos passos ecoando pelos dois corredores que passamos até chegar ao meu quarto. Abro a porta para ele, que entra sem hesitar, mas para em seguida, sem saber o que fazer.

— Cama?

— Banheira.

Atiro nossas bolsas em qualquer canto e corro para o banheiro. Damon vem atrás, faço sinal para ele colocar minha amiga na banheira. Ele coloca, com a mesma delicadeza.

Me aproximo para tirar sua roupa, mas encaro Damon antes.

— Pode esperar lá fora — minha voz sai mais autoritária do que eu pretendia, então acrescento. — Por favor.

Ele assente e sai.

Começo o processo de tirar a roupa da Beverly ainda desmaiada. Primeiro os sapatos (ela odeia saltos e não a culpo por isso).

Ao tirar a blusa, tomo cuidado com sua cabeça. Olho para ela por um segundo, pensando se vai ficar desconfortável em saber que tirei sua roupa. Chego a conclusão de que ela vai me agradecer, no fim das contas.

Com a banheira cheia, deixo Beverly sozinha depois de me certificar de que ela não escorregue e se afogue.

Dou uma olhada no meu reflexo e faço cara feia. Nunca me senti tão suja. Tem alguma coisa na minha bochecha que tiro com a mão... É... Um pedaço de alface podre? Eca!

Deixo o espelho antes que vomite de novo.

Damon está parado no meio do quarto com as mãos atrás das costas como se isso o impedisse de tocar em algo. Vejo o que ele está olhando: uma foto minha quando criança com uma fantasia de borboleta. Não sei porque mantenho essa foto no espelho... Talvez, talvez para me lembrar que posso ser aquela garotinha de novo se eu quiser.

Damon nota minha presença e se vira, aquele sorriso travesso no rosto.

— Você era fofa. — diz ele. Faço cara feia.

— Obrigada... Você superou minhas expectativas de ser gentil hoje.

— Isso deveria ser um elogio?

— Hm...

— Certo, se é tudo que tem a me oferecer — ele dá de ombros e diminui a distância entre nós, parando a cinco passos de distância. — Você deveria tomar um banho também.

— Você é tão educado... — reviro os olhos e cruzo os braços. Mas ele está mais do que certo. — Você também não está cheirando rosas.

— Está me oferecendo um banho? Hm... Nós três naquela banheira. Interessante. — seu sorriso arrogante toma seus lábios.

— Canalha. — disparo irritada. Damon ri e faz uma reverência patética.

— Esse canalha salvou sua pele hoje.

— Então é isso? Vai esfregar na minha cara que me ajudou? Ah, não, espere. Você quer algo em troca? — arqueio a sobrancelha. Deveria imaginar isso. Ele é igual a Brad, que com certeza usaria essa situação para humilhar Beverly.

— Não. Mas se quiser me pagar com um beijo...

— Saia. — vocifero. Tenho vontade de pegar meu salto jogado no chão e atirar na sua cara para tirar esse sorriso irritante.

— Você é encantadora, sabia?

— Sai-a.

— Como quiser, milady — com outra reverência ridícula, Damon caminha até a porta, mas para, olhando-me por cima do ombro. — Até nosso próximo encontro... Que será logo.

Com isso, ele sai.

Fico parada olhando para o lugar que ele estava e pensando nas suas palavras. Claro que nos veremos logo, em dois dias, na escola. Fora isso, passarei meu fim de semana em casa ou em alguma festa, onde irei me certificar que ele não esteja antes ir.

Beverly está acordada e sã quando volto da biblioteca. Estava terminado aquele livro depois de passar horas na banheira assistindo série enquanto me livrava daquele cheiro.

Eu a vesti com umas roupas minhas que eu não uso há um tempo e já estavam ficando apertadas. Um short rosa e uma camisa com estampa do Bob esponja que Kenan me obrigou a comprar.

— Sua cama é tããão macia. — são suas primeiras palavras para mim. Me jogo nessa mesma cama, sentindo a maciez.

—  Como está se sentindo? — apoio minha cabeça no punho e observo seu rosto. Precisei secar seu cabelo com o secador para não ficar resfriada.

— Um pouco de dor de cabeça... Obrigada pelo remédio e... por todo o resto. — Beverly pode ser transparente como água mas ouvi-la me agradecer por algo é estranho.

— Quer conversar sobre isso? — pergunto cuidadosamente. Somos amigas há anos, mas não compartilhamos segredos ou conversas sérias... Queria saber por quê.

— Por favor, não! Eu estou apenas faminta e muito curiosa para saber como me tirou da escola.

— Ah, isso... É uma longa história.

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